O Wunderteam | Celso A. Uequed Pitol | Digestivo Cultural

busca | avançada
58851 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Turnê O Reencontro, da Banda O Teatro Mágico, chega a Ribeirão Preto no dia 24 de maio
>>> “Aventuras no Havaí”: peça inspirada em novo live-action chega ao Atrium Shopping
>>> Maio no MAB Educativo: tecnologia, arte e educação na 23ª Semana Nacional de Museus
>>> Espetáculo Há Vagas Para Moças de Fino Trato promove programa educativo no Teatro Yara Amaral do Ses
>>> Fios que resistem: projeto reconecta a história das bordadeiras no litoral paulista
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
Colunistas
Últimos Posts
>>> Jony Ive, designer do iPhone, se junta à OpenAI
>>> Luiz Schwarcz no Roda Viva
>>> Pedro e Cora sobre inteligência artificial
>>> Drauzio em busca do tempo perdido
>>> David Soria Parra, co-criador do MCP
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Arte eletrônica? Se liga!
>>> Game of Thrones, Brasil e Ativismo Social
>>> Aos nossos olhos (e aos de Ernesto)
>>> Um brilhante guitarrista
>>> Direita, Esquerda ― Volver!
>>> Sartre e a idade da razão
>>> O Fel da Caricatura: André de Pádua
>>> Teleguiado S/A
>>> A fragilidade dos laços humanos
>>> Contra um Mundo Melhor, de Luiz Felipe Pondé
Mais Recentes
>>> Rete! video Videocorso di italiano per stranieri de Marco Mezzadri; Paolo E. Balboni pela Guerra Edizioni (2006)
>>> Viagens Na Minha Terra de Almeida Garrett pela Ateliê Editorial (2012)
>>> New Quick Crosswords (v. 1) de Daily Mail pela Octopus (2008)
>>> Bento vento Bia Ventania de Dani Fritzen; Nando Santos pela Imaginart (2019)
>>> O Pequeno Príncipe (ed. De Bolso) de Antoine De Saint-exupéry pela L&pm (2015)
>>> Garfield 6 - De Bom Humor de Jim Davis pela L&pm (2009)
>>> Frações Sem Mistérios de Luzia Faraco Ramos pela Ática (2001)
>>> A Head For Business: How Britain's Top Business Leaders Continue To Succeed de Corinne Simcock pela Kogan Page (1992)
>>> Preta, Parda E Pintada de Helena Gomes pela Berlendis (2014)
>>> Beyond B2 Wb de Andy Harvey pela Macmillan Elt (2015)
>>> Matemática Paiva. 2º Ano de Manuel Rodrigues Paiva pela Moderna (2009)
>>> Big English Ame 2nd Edition 5 Workbook With Audio Cd Pack de Mario Herrera pela Pearson Education Limited (2017)
>>> Now I Know 2 Student Book de Jeanne Perrett pela Pearson (2019)
>>> Governanca De Dados de Carlos Barbieri pela Starlin Alta Books (2019)
>>> As Aventuras De Odisseu de Hugh Lupton pela Wmf Martins Fontes (2008)
>>> Stopwatch 1 Students Book de Simon Brewster pela Moderna (2018)
>>> Influence Students Book4 de Catherine Mcbeth pela Macmillan (2020)
>>> Apoema Geografia 9 de Claudia Magalhaes pela Editora Do Brasil (2018)
>>> A Loving Gentleman: The Love Story Of William Faulkner And Meta Carpenter de Meta Carpenter Wilde, Orin Borsten pela Simon & Schuster (1976)
>>> Market Leader: Upper Intermediate Market Leader Business English Practice File With Audio Cd de Cotton & Falvey pela Pearson Education Esl (2011)
>>> Geração Geek- PokéMon. Dicas, Segredos E Truques de Fábio Kataoka pela Geek (2016)
>>> Gente Hoy 1 Libro De Trabajo: Gente Hoy 1 Libro De Trabajo de Ernesto Martín Peris, Pablo Martínez Gila, Neus Sans Baulenas pela Difusion (2013)
>>> Rezar É Um Santo Remédio de Larry Dossey pela Cultrix (1998)
>>> Market Leader Business English Course Book de David Cotton, David Falvey Simon Kent pela Pearson Education Esl (2011)
>>> Romeu E Julieta Em Cordel de William Shakespeare pela Nova Alexandria (2011)
COLUNAS

Terça-feira, 5/9/2017
O Wunderteam
Celso A. Uequed Pitol
+ de 4600 Acessos

A Eurocopa de 2008 não foi boa para as anfitriãs. Áustria e Suíça não conseguiram passar da primeira fase e nenhuma das duas mostrou um futebol particularmente inspirador. Da Suíça nem poderíamos esperar grande coisa: seleção tradicionalmente identificada com esquemas retranqueiros mais fechados que os seus célebres cofres de bancos, o máximo que poderia aspirar era chegar ao final da competição com três empates e garantir a honra de sair invicta, embora eliminada. Dos austríacos a maioria pensaria o mesmo. Porém, quem prestou atenção nas arquibancadas do Estádio Ernst Happel, onde a seleção alvinegra mandava seus jogos, notou uma grande faixa com a inscrição “Das Wunderteam” nas arquibancadas superiores. Quem não sabe alemão mas conhece algo de inglês sabe, por analogia, que “Wonder team” significa “O time das maravilhas”. Mas não havia maravilha alguma do lado austríaco. Havia, isso sim, muitos cruzamentos desordenados para a área, muitos passes errados e, sim, muito espírito de luta, mas nada que um time de bairro do Brasil não faria se jogasse contra o Real Madrid – nada , enfim, de encher os olhos. Nada maravilhoso. Mesmo assim, aquela faixa continuava lá, orgulhosamente estendida, para os adversários saberem quem estavam enfrentando.

O “Wunder” (maravilha, em alemão) presente na palavra bem se poderia referir não à seleção austríaca, mas ao país Áustria. Faltam linhas para citar todos os nomes que os austríacos legaram à cultura ocidental e sobram estatísticas positivas sobre as condições de vida daquela pequena nação encravada nos Alpes. O futebol não parece ser uma das áreas em que os austríacos mais se destacam, ainda mais se tivermos em mente o elevadíssimo nível que atingiram em outras. De Mahler a Kafka, de Freud a Robert Musil, os austríacos ilustres enchem uma enciclopédia inteira. A Áustria definitivamente não precisa do futebol para elevar sua auto-estima. Mas o “Wunder” ainda está lá – e precisamos descobrir o porquê.

Vamos conferir então pelos números. Quando é que a Aústria fez algo pelo futebol? O país participou de nove Copas do Mundo. Não participa de uma desde 1998. Retrocedemos o olhar a partir daí e vemos resultados medíocres – eliminações na 1a. fase – e uma ou outra campanha um pouco melhor – 7o. lugar em 1978, 8o. em 1982 – até que, lá por 1934, vemos um surpreendente 4o. lugar, um solitário bom resultado numa história de derrotas. Coloquemos a nossa lupa por ali, então, e descobrimos que a equipe austríaca daquele ano, comandada por Hugo Meisl, estava simplesmente encantando o mundo inteiro com um futebol coletivo, veloz, onde os onze jogadores participavam das jogadas de defesa e de ataque com idêntico vigor. Quatro décadas depois, esse tipo de futebol seria chamado de “futebol total”, e a seleção que o praticaria seria chamada de “Laranja Mecânica”, entrando para a história do futebol como um dos maiores times de todos os tempos. Naquela época, aquele futebol deu ao time que o praticou um nome mais singelo e, talvez por isso, mais belo, de “Wunderteam” – o time das maravilhas.

Os austríacos eram uma grande potência do futebol dos anos 30. Conquistaram a medalha de prata nas Olimpíadas de 1936 e a Copa Europeia de 1932, antecessora da Eurocopa. Quem viu aquele time jogar disse que pareciam uma grande orquestra, onde cada elemento tinha um papel determinado pelo treinador Hugo Meisl – denominado “O Mozart do Futebol” – e cujo solista era Mathias Sindelar, “O Homem de Papel”, um rapaz magérrimo que, incapaz de dar um chute forte na bola, precisava conduzi-la pelo campo todo, tabelando pelos companheiros, até o gol adversário. Em sua brilhante história não faltou sequer um elemento de tragédia: recusando-se a vestir a camisa alemã após a anexação da Áustria por Hitler, morreu no seu apartamento em 1939 em circunstâncias nunca esclarecidas. Sindelar virou um mito na luta contra o nazismo.

A trajetória de Sindelar foi mais ou menos a trajetória histórica da Áustria, nação-tampão entre o Oriente eslavófilo e islâmico e a cultura ocidental como hoje a conhecemos, destinada a resistir com toda ao acossar dos inimigos levantinos . A “missão européia da Áustria”, como a denominou Otto Maria Carpeaux em um escrito de juventude, era garantir a unidade católica do Ocidente diante dos inimigos que, naquela época, pareciam mais poderosos, como o comunismo, o nazismo, o fascismo e os materialismos de todos os tipos. Já haviam feito isso no passado: quando o Império Otomano parecia indestrutível e caminhava velozmente do Levante em direção à Europa, foi em Viena, do lado de fora dos seus muros, que eles finalmente capitularam, diante de um pequeno exército do Sacro Império Germânico. Não fossem os austríacos, provavelmente todo o Ocidente hoje seria islâmico. Não fossem os austríacos, provavelmente hoje não haveria Ocidente.

A bela homenagem que este torcedor austríaco deixou no youtube –clique aqui – à seleção de seu país revela, ao mesmo tempo, um sentimento de saudade pelos bons tempos que se foram e um certo desdém diante dos ídolos fugazes do futebol de hoje. É o estranho proceder dos países que já foram grandes no futebol. Assumem diante do jogo atual a postura altiva dos antigos aristocratas falidos, que, mesmo sem dinheiro, mantém os brasões familiares e os títulos de nobreza. Os uruguaios não ganham nada há décadas e continuam chamando a sua seleção de Celeste Olímpica – competição da qual não participam há exatos oitenta anos – e crêem firmemente que podem vencer qualquer seleção do mundo em qualquer tempo. A Irlanda do Norte, outrora grande celeiro de futebol das Ilhas Britânicas com participações muito boas nos Mundiais nos anos 50 e 80, continua cantando “We´re Not Brazil, We´re Northern Ireland” nos gramados encharcados daquele país em guerra. Os austríacos, por sua vez, colocam trapos no estádio para todos lembrarem que, antes da ESPN, dos contratos milionários, das entrevistas cínicas, do jogo de resultados, das retrancas e dos falsos beijos nos distintivos, havia um futebol digno de ser elevado à categoria de arte e praticado por artistas que, como todo verdadeiro artista, não se curva ao dinheiro. Assim como Sindelar e seus compatriotas austríacos, que nunca se curvaram às demais formas de barbárie.


Celso A. Uequed Pitol
Canoas, 5/9/2017

Quem leu este, também leu esse(s):
01. A pós-modernidade de Michel Maffesoli de Guilherme Carvalhal
02. iSummit 2006, Creative Commons e Cory Doctorow de Cristiano Dias
03. Mino Carta e o romance de idéias de Fabio Silvestre Cardoso
04. Outro fim de mundo é possível de Marcelo Barbão


Mais Celso A. Uequed Pitol
Mais Acessadas de Celso A. Uequed Pitol em 2017
01. Oswald de Andrade e o homem cordial - 14/2/2017
02. Um caso de manipulação - 11/7/2017
03. Thoreau, Mariátegui e a experiência americana - 14/3/2017
04. O Wunderteam - 5/9/2017
05. O Natal de Charles Dickens - 10/1/2017


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




A Romana
Alberto Moravia
Abril Cultural
(1982)



Canalha!
Carpinejar
Bertrand
(2008)



Como Evitar Olho Grande
Carlos Francisco Xavier
Eco



O Banquete Canibal
Maria José Justino
Ufpr
(2002)



Estudos de Fonética do Idioma Português
Regina Célia Pagliuchi da Silveira
Cortez
(1982)



Práxis Cristã III - Opção pela Justiça e Liberdade
Ildefonso Camacho; Raimundo Rincón
Edições Paulinas
(1988)



Finish Big
Bo Burlingham
Portfolio Penguin
(2014)



Enfermagem pratica - Manual de Quimioterapia antineoplasica
Reichman e Affonso
Reichman e Affonso
(2000)



Ofício de Professor Aprender Mais para Ensinar Melhor 8
Júlio Groppa Aquino e Outros
Victor Civita
(2003)



A República Explicada à Minha Filha
Régis Debray
Via Lettera
(2001)





busca | avançada
58851 visitas/dia
2,5 milhões/mês