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Segunda-feira, 13/3/2006
Há algo de novo nos prêmios da Academia
Daniela Castilho
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O Oscar vem deixando de ser apenas mais uma premiação de cinema e se tornando cada vez mais um prêmio político - e previsível. As nomeações e premiações têm acompanhado o Golden Globe sempre de perto: muitos dos indicados são os mesmos, muitos dos premiados são os mesmos. A cada ano, os prêmios parecem ser mais e mais "politicamente" distribuídos para agradar à platéia e aos próprios membros da Academia. Não foi à toa que George Clooney, primeiro premiado da noite como ator coadjuvante em Syryana, subiu ao palco, pegou sua estatueta e soltou "isso significa que eu não ganhei como diretor". Todo mundo já conhece as regras do jogo. Não há surpresas.

Na categoria de melhor filme ganhou Crash e não os cowboys gays de Brokeback Mountain. Brokeback Mountain levou o Golden Globe e o Independent Spirit Awards (ISA). Talvez Crash tenha vencido não apenas por ser um belíssimo filme, mas pela temática complexa envolvendo intolerância e preconceito. Crash, basicamente, mostra uma panela de pressão social prestes a explodir da pior maneira possível - e a Academia reconheceu o problema, preferindo esse tema mais amplo aos dramas amorosos e existenciais dos cowboys gays. O tema homossexual tem levado prêmios nos últimos anos - na cerimônia do Golden Globe, o elenco de Will and Grace até fez uma piada sobre isso, dando como fórmula certa de sucesso a presença de gays na história - e talvez esse fator também tenha influenciado na decisão. Ang Lee estava surpreso de seu filme levar prêmio de direção e não levar melhor filme, mas a Academia procurou equilibrar os prêmios entre os dois filmes: cada um levou um prêmio de roteiro, Crash ganhou de montagem e Brokeback Mountain de trilha sonora. Tecnicamente, a Academia empatou os dois filmes.

Ainda na linha do politicamente correto, o prêmio de melhor canção original foi para It's Hard Out Here For a Pimp, literalmente, "o mundo aí fora é duro para um cafetão", a canção tema do filme Hustle & Flow que conta a história de um negro que é cafetão mas quer ser cantor de rap. Será que só eu vi que esse prêmio, ao contrário de ser uma espécie de "correção política" com negros - normalmente ignorados ou paternalizados pela Academia - tem uma ligeira provocação? Corrijam-me se eu estiver errada, mas por que os negros ganharam um prêmio secundário - melhor canção faz parte do pacote de prêmios técnicos que a Academia usa como "prêmio de consolação" para premiar os filmes que não recebem os prêmios principais - com um filme com essa temática? Falta de filmes "negros" melhores? Onde anda Spike Lee? Em Hollywood, até hoje, os negros - e também os latinos - continuam aparecendo na tela como empregados, bandidos, viciados, traficantes, objeto sexual (vejam Catwoman com Halle Berry) e não em "papéis regulares" - todos sempre dados a atores brancos. O apartheid cinematográfico hollywoodiano mudou muito pouco em quase 100 anos de cinema. O prêmio para Hustle & Flow colide de frente com o prêmio de melhor filme que Crash recebeu. Se por um lado, a Academia reconhece os muitos problemas urbanos de conflitos raciais e intolerância, por outro lado, premia um filme onde o negro continua ocupando o papel social que os brancos lhe permitem ocupar: cafetão e cantor de rap. Dá-lhe pão e circo.

Felicity Huffman levou o Golden Globe e o ISA e Reese Witherspoon levou o Golden Globe (o prêmio tem categorias separadas para "drama" e "comédia" e assim, premiou as duas) e o Oscar. Novamente, apesar do brilhante trabalho de interpretação de Felicity, no papel de um homem transexual, eu me pergunto até onde ela foi ou não foi premiada por uma questão política, justamente por causa do personagem. Reese interpretando a esposa de Johnny Cash é muito mais palatável para a Academia - e para a audiência. Laura Jean Reese Witherspoon - seu nome completo - é a americana girl next door, "a vizinha da casa ao lado" no subúrbio de casinhas com gramado e cercas brancas, caucasiana, loira, bonita, saudável, sorridente. Um role model para todas as garotas americanas. Os pais da América devem ter babado de orgulho com o prêmio. É uma pena, porque Walk the Line tem uma linda história real atrás do filme. Johnny Cash e June Carter Cash viveram um romance pela vida toda, foram dois talentos imensos, escolheram quem seriam os atores protagonistas do filme e acompanharam as filmagens até falecerem, pouco depois de iniciada a produção do filme. June faleceu em 15 de maio de 2003, após uma cirurgia de coração e Johnny em 12 de setembro de 2003, de complicações de diabetes. Meses antes de June falecer, Johnny havia gravado uma versão da música Hurt de Trent Reznor (NIN) e feito um videoclip com Mark Romanek (responsável por vários clipes do NIN e os mais belos clipes de Madonna). O videoclip é maravilhoso, mostra Johnny e June em sua casa, cercados por objetos e fotografias de suas vidas e o refrão da letra canta: "What have I become?/ My sweetest friend/ Everyone I know/ Goes away in the end". O vídeo recebeu um Grammy. O impacto da música e do vídeo foram tão grandes que Reznor passou a se referir à canção como "a música que não é mais minha".

O argentino Gustavo Santaolalla levou o Oscar de melhor música original escrita para um filme, o que me pareceu mais uma espécie de "ajuste de contas" da Academia, uma vez que, com Diários de Motocicleta ele levou o prêmio (junto com Jorge Drexler), mas não lhe permitiram cantar a música na festa. É mais um statement dizendo "olha, nós reconhecemos que você é bom, desculpe qualquer coisa".

Philip Seymour Hoffman levou o Golden Globe, o ISA e o Oscar por Capote. É um grande ator, merece reconhecimento, pena que não tenha sido indicado ou vencido anteriormente por filmes magníficos como Magnolia, Punch Drunk Love, Almost Famous, Boogie Nights e Love Liza. Em todos esses filmes suas performances foram muito mais brilhantes e memoráveis do que o caricato Capote. Mas eu ando com a impressão de que um ator, para ganhar um prêmio da Academia, desde 2000, precisa estar mesmo caricato, usando toneladas de maquiagem, travestido, ou ainda, interpretando outra pessoa famosa ou a vítima de uma desgraça. Em 2001 foi o ano do "acerto de contas com os negros": Denzel Washington e Halle Berry levaram o prêmio. Depois disso, Charlize Theron e Nicole Kidman foram premiadas quando disfarçadas de mulheres feias, Jamie Foxx ganhou intrepretando Ray Charles, Hilary Swank ganhou duas vezes, uma travestida de homem e a segunda, como uma boxeadora que se torna tetraplégica, Adrien Brody como um pianista judeu e Sean Penn como o mafioso cuja filha morre. Sem tirar o mérito de nenhum deles - menos de Nicole Kidman, que, como todos sabem, eu penso que possui a dramaticidade de um legume - eu fico desconfiada com os critérios da Academia. Nos mesmos anos, os demais concorrentes ao prêmio eram igualmente brilhantes e vários deles deveriam ter levado: eu preferia que Ed Harris tivesse levado por Pollock, Julianne Moore tivesse levado por End of Affair, Renée Zellweger por Chicago, Tom Cruise levasse por Magnolia, só para citar alguns exemplos.

Tim Burton concorreu em categorias técnicas com a A Fantástica Fábrica de Chocolates e com a Noiva Cadáver e não levou nada. Quem levou foi Wallace & Gromit, com o comentário de que eles mereciam mais porque tinham perdido o estúdio inteiro em um incêndio - é possível mesmo que tenham levado o prêmio por essa razão, a Academia faz essas coisas. Tecnicamente, os dois desenhos possuem a mesma competência e Hayao Miyazaki já tinha levado um Oscar com Chihiro.

George Lucas está em franca decadência com a Academia. Não apenas não foi indicado como perdeu na única indicação: Episódio 3 só recebeu nomeação para melhor maquiagem mas As Crônicas de Nárnia levou o prêmio. A turma de Peter Jackson em King Kong foi indicada para 4 prêmios e levou 3 - é a mesma turma do oscarizado Senhor dos Anéis. A Industrial Light and Magic já foi indicada dúzias de vezes desde sua criação, no total, mais de 100 pessoas que trabalham ou trabalharam para a ILM já levaram a estatueta em diversas categorias associadas à área técnica. Lucas foi indicado duas vezes ao Oscar de melhor diretor, não levou mas já recebeu um "Irving G. Thalberg Memorial Award" por ter sido um talento precoce - talvez não receba mais prêmios, até o ponto que a Academia considere que está velho o suficiente para ganhar um prêmio de mérito, como o que Robert Altman recebeu. Altman fez um delicioso discurso de agradecimento, onde contou que recebeu o transplante de coração de uma jovem de 30 anos de idade e que, por isso, ninguém espere que ele vá morrer logo, não.

Ang Lee levou os três prêmios de melhor diretor: O Golden Globe, o ISA e o Oscar. Teve gente que reclamou que Ang Lee agora é establishment, então, a premiação não vale. Vamos a um reality check: Ang Lee é chinês de Taiwan e aparece nomeado ou premiado com os filmes que fez em terras hollywoodianas ou em co-produção com Hollywood - nenhum dos filmes dele que já foram nomeados ou ganharam Oscars são 100% produção chinesa. Lee é o primeiro asiático a receber um Oscar de melhor diretor, é fato, mas o Oscar é um prêmio estadunidense para filmes estadunidenses. Memórias de uma Gueixa, por exemplo, não é um filme chinês ou japonês, só o tema é que é, é um filme 100% estadunidense com direito a trilha de John Williams (que, por sinal, foi indicado ao Oscar mas não levou). Aliás, mais um reality check para quem "vibrou" com o fato de Rachel Weisz ganhar o Oscar de melhor atriz coadjuvante por The Constant Gardener: o diretor e o cinematógrafo são brasileiros, mas o filme é uma co-produção inglesa/alemã. O prêmio não é "nosso", como já vi algumas pessoas comentarem. É deles, bem deles. O Jardineiro Fiel faturou alguns prêmios bem mais interessantes que o Oscar.

Ao menos, não estamos sozinhos nesses surtos patrióticos movidos pelo prêmio estadunidense: o presidente de Taiwan soltou um comunicado oficial dizendo que "Ang Lee é a glória de Taiwan e estamos muito orgulhosos dele". O reality check de Taiwan aparece na continuação da nota: "Nossas maiores felicitações para Ang Lee por ter injetado vitalidade aos diretores taiuaneses e contribuir grandemente para a indústria cinematográfica mundial". Sim, esse é o feito: abrir caminho para que o talento de diretores de outras nacionalidades que não a estadunidense seja premiado com o prêmio estadunidense, abrir espaço no mercado de cinema estadunidense para os não-estadunidenses. A importância mundial dada ao Oscar reflete uma realidade sócio-econômica que ultrapassa a indústria cinematográfica e que fez com que o Oscar não seja mais um prêmio puramente cinematográfico. Todos queremos que a maior potência mundial - perigosa, que joga bombas nos países dos quais não gosta - reconheça o talento dos cineastas de outras nacionalidades e abra mercado para os outros países em sua eficiente indústria cinematográfica.

Nota do Editor
Daniela Castilho (aka DaniCast) é Diretora de Arte e assina o blog MadTeaParty.


Daniela Castilho
São Paulo, 13/3/2006

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