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Quinta-feira, 13/9/2007
A Literatura na poltrona
Luiz Rebinski Junior
+ de 6100 Acessos

O escritor e crítico José Castello fez da profusão de gêneros literários a marca de sua escrita. Em A Literatura na poltrona - Jornalismo Literário em tempos instáveis (Record, 2007, 204 págs), mais uma vez o escritor constrói textos que trafegam entre a ficção e a crítica, ainda que oficialmente o livro seja uma coletânea de ensaios sobre o fazer literário. O termo jornalismo literário aqui ganha outra conotação, diferente daquela consagrada por Truman Capote e os escritores da famosa revista The New Yorker. Castello utiliza a expressão para descrever o trabalho do jornalista que se dedica à cobertura da cena literária e seus desdobramentos.

Ao longo dos 15 textos que compõem o livro, o autor deixa de lado a crítica crua e rápida dos cadernos culturais para dar vazão a textos em que a análise literária se funde, por exemplo, às impressões pessoais do autor sobre determinado escritor, livro ou mesmo lugar, como é o caso de "Viagens literárias", em que desvenda a Praga de Franz Kafka e o Chile de Pablo Neruda.

O texto híbrido do autor fica evidente logo nas primeiras páginas. Em "O repórter depõe as armas", o escritor recorre a uma entrevista, permeada por um clima noir, com a filósofa francesa - e especialista na obra de Clarice Lispector - Hélène Cixous, para falar sobre como os livros lêem as pessoas, e não o contrário, conforme ensina o senso comum. Aqui o autor abre parêntese para criticar a hiperespecialização da literatura, que muitas vezes restringe ou mesmo desencoraja leitores a alçar vôos mais altos dentro da ficção. Para Castello, a literatura está muito mais para o "não saber" do que para o conhecimento específico. Ou seja, na literatura não se trata apenas de conhecer, mas sim de sentir, permitir-se ser invadido justamente pelo desconhecido e pelo que é estranho. Para ler Joyce ou Guimarães Rosa não é preciso anos de estudo, mas sim que o leitor permita que o livro lhe desnude e abra, assim, novas perspectivas.

Seja escrevendo sobre o barco de Hemingway ("A Literatura na poltrona") ou sobre a alucinação de Luis da Silva no famoso romance de Graciliano Ramos ("Literatura e crime"), Castello está sempre discutindo o papel da literatura na vida cotidiana e seu lugar como manifestação artística no mundo. No entanto, não se priva de assuntos espinhosos. Coordenador de oficinas de criação literária em Curitiba - que prefere chamar de "oficinas de imaginação" -, o autor discute a contribuição desse tipo de oficina na formação de um aspirante a escritor. Contrário às formulas e receituários, Castello acredita que as oficinas não formam ou transformam o indivíduo em escritor, mas apenas, no máximo, incitam e provocam inquietação. Em outras palavras, literatura não se ensina, é o que deixa claro. E aqui o autor dá vazão a uma de suas principais convicções, a de que todo escritor precisa, necessariamente, encontrar "voz própria" na literatura, o que, alerta Castello, não pode ser confundido com o que muitos chamam de "estilo". A "voz do escritor", diz ele, "não é uma escolha, uma voz é uma maneira inconsciente - e autônoma - de soar". Este é um pensamento que tem permeado os escritos e reflexões do autor há bastante tempo, seja na crítica a livros de novos ou veteranos escritores.

Já a difícil tarefa de julgar, imposta diariamente ao crítico ou jornalista literário, é discutida abertamente em "Crítica e Impureza". O crítico, segundo Castello, está sempre na berlinda, já que, goste ou não de determinada obra, sempre estará, ele próprio, exposto a julgamento, ora acusado de complacente ora de corrosivo e mal-humorado. Luta inglória que, defende ele, nenhum crítico tem o direito de se esquivar. Discussão que se encaixa muito bem no que o autor escreve páginas depois em "Jorge Amado, autor do Brasil". Fenômeno de público no país, Amado nunca foi acolhido plenamente pela crítica, que depois de lhe colocar a pecha de escritor socialista, acusou-o de populista e autor de uma literatura que reforça os clichês sobre o país. Em um texto sóbrio, Castello revê os dois lados da moeda e explica como o escritor baiano se tornou uma "marca" nacional, assim como Pelé e Carmen Miranda.

Crítica e Impureza
Desde os anos 80 se dedicando à literatura, Castello tem sido um dos críticos mais ativos de sua geração. Colunista do jornal literário Rascunho, o escritor é responsável pela seção "Cartas de um aprendiz", em que, em formato de missiva, tem a difícil tarefa de comentar a produção de novos autores. Missão delicada, diga-se de passagem, já que é sempre muito mais fácil falar de escritores consagrados, aqueles que têm carreira sólida e a quem uma crítica negativa não importa tanto quanto para um novato. E, a se tomar por base suas últimas colunas no Rascunho, o autor tem sido coerente com o que escreveu em "Crítica e Impureza", não deixando de dizer "o mais difícil e desagradável".

Entre uma discussão e outra, A Literatura na poltrona traz textos em que Castello se permite entrar diretamente no relato, aproximando-se, aí sim, daquele outro jornalismo literário, em que o jornalismo funde-se à literatura, tal como fez Gay Talese em seus inúmeros perfis. É o caso dos já mencionados "O repórter depõe as armas" e "Viagens literárias", textos que poderiam facilmente estar no belíssimo Inventário das sombras, livro em que Castello traça o perfil de escritores brasileiros e estrangeiros e cujos textos mais se aproximam da fusão entre o ensaio e o conto. Talvez a maior diferença entre os dois títulos seja mesmo a preocupação com a crítica mais formal feita em A Literatura na poltrona, ainda que os textos de Inventário das sombras guardem a mesma profundidade e análise crítica da literatura e seus autores. Tal diferença pode ser explicada em grande parte também porque muitos dos textos do novo livro foram antes publicados em periódicos literários e com o objetivo explícito da crítica - incluindo aí "Um pastor para o século XXI", ensaio sobre Fernando Pessoa reproduzido no Digestivo Cultural.

Seja falando sobre assuntos mais ou menos polêmicos e espinhosos, Castello tem sempre uma original e coerente análise a relatar. Isso faz com que o leitor encontre ensaios inusitados ao longo livro, em que o autor faz analogias pouco prováveis, como no texto em que cruza as visões literárias de João Cabral de Melo Neto e Edgar Allan Poe, ainda que as duas biografias estejam separadas por um século de existência. A única ressalva que se faz é que Castello trafega sempre por um grupo fechado de autores (quase sempre cânones), com especial destaque para Clarice Lispector, uma de suas obsessões. Ótimo para quem é grande admirador da autora de A Paixão segundo G.H., mas nem tanto para quem não é lá muito fã da prosa enigmática da escritora.

Longe do academicismo, mas sem abdicar do pensamento, A Literatura na poltrona traz à tona discussões importantes acerca do fazer literário em textos envolventes que oferecem ao leitor análises originais e que, de certa forma, desmitificam a própria literatura. Mas o grande êxito da obra reside principalmente nas visões singulares que Castello oferece ao leitor sobre os temas discutidos, detalhe crucial quando se trata de um livro de (e sobre) crítica literária.

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Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 13/9/2007

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