Aconselhamentos aos casais ― módulo II | Ana Elisa Ribeiro | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 27/3/2009
Aconselhamentos aos casais ― módulo II
Ana Elisa Ribeiro
+ de 9000 Acessos
+ 4 Comentário(s)

Conforme prometido, os conselhos da revista O Cruzeiro aos maridos, em 1935, pelo "chronista" Luiz Raymundo, amplamente divulgados para uma classe média que vivia entre guerras e saudava Getúlio Vargas. Interessantes os maiôs da época, os campeões de natação dos clubes urbanos e os cabelos das "coquettes" nas colunas sociais, em sua maioria, respeitáveis senhoras casadas.

Na seção "Conselhos ao esposo", Raymundo afirma que um homem deve estar sempre barbeado "de fresco", coisa pela qual sempre lutei pela vida afora. Deve haver mulher que goste de lamber pelos, mas nunca foi meu caso, nem sob os disfarces do terrível cavanhaque.

O cronista continua o texto indicando que o marido não se irrite quando a mulher pedir dinheiro, e nem mesmo que o cônjuge peça satisfação sobre os gastos dela. Isso é coisa de mulher. Que a deixe livre para resolver os gastos da casa e, eventualmente, os da perua.

Dentro de casa, homem não deve andar de pijama e chinelos. Deve deixar sempre os "objectos em ordem" e jamais se esquecer: ela não é uma das criadas. "Você já passou da idade em que necessitava de uma ama." Ora, vejam só! Enquanto ela põe o café, ele deve fingir que isso não é tarefa da criada. Um equilíbrio que exige inteligência. Nada se diz, no manual, sobre se homens têm aptidão para pôr, eles mesmos, a mesa e o café. Não sei se em pouco mais de oito décadas deu tempo de aprender. Acho que sim.

Leitor, tome nas mãos (ou nas telas) o texto da coluna passada e coloque lado a lado com este aqui. É que Raymundo oferecia ao leitor do Cruzeiro duas colunas para cada um dos elementos do casal. Se ele mencionava aspectos do silêncio e do relacionamento para a mulher, também o fez, dando puxões de orelha nos rapazes. Segundo o cronista, um homem não deve chegar em casa e, imediatamente, pôr-se a ler os jornais. Também não será apreciado pela esposa se for muito "taciturno". É necessário que ele fale um pouco, especialmente se for de assuntos que ela tenha a capacidade de entender. "Por mais fatigado que se encontre ao voltar ao lar deve contar a sua esposa qualquer cousa interessante ou nova." Afinal, completo, a moça fica ali sem ver o mundo, sem ler jornais e sem saber de nada.

O marido não deve fazer recriminações sobre a lavagem das roupas ou porque estejam mal passadas ou sem botão. A esposa adivinha tudo. Não se deve atrasar para o almoço e nem chamar amigos para comer sem avisar. Quando sentado à mesa, é preciso não demonstrar pressa e comer sem exagero. "A refeição commum é o repouso da família." É preciso evitar assuntos desagradáveis, tais como doenças, dinheiro e, arrisco eu, outras mulheres ou piadinhas de esposa. Ou eu é que preciso aprender a escutar? Acho que ando precisando de um manual mais atualizado.

Não havendo muito o que comer, leve-se a esposa a um restaurante. Isso diz o cronista na década de 1930. Se puder dirigir até lá, melhor ainda, digo eu. Se for mesmo insistir em fumar, despeje as cinzas no cinzeiro que ela pôs aí ao lado dos seus talheres. Não use, para isso, os pires herdados de vovó ou as xícaras de porcelana que sua tia deu no casório. Não obrigue sua esposa a mentir, não diga que ela abusa no "rouge", não abra as correspondências que chegarem para ela, não fume na cama, nem durante o almoço, nem no quarto das crianças. Não durma depois do almoço. Não importune sua mulher quando ela disser que está cansada. Depois de um dia como este, quem não estaria? Deixe que ela se vire para o lado de lá e se encolha na beirada da cama. Aproveite e se espalhe (isto é por minha conta). Satisfaça os pequenos prazeres e caprichos de sua cônjuge, diz Raymundo, e não mostre a ela o que sabe fazer em casa. Deixe que ela lave, passe, cozinhe e cuide das crianças, é o que diz o cronista.

A mulher também deve ter um dia só para ela, mas o cronista não entra em detalhes sobre este item. Melhor não dar muita corda, não é mesmo? Passa o autor então a descrever o que chama de "um esposo fidalgo".

A mulher admira o valor nos homens. O esposo não deve, nunca, se mostrar tímido, assustado ou, "o que é peior", chorando! "As lágrimas são a arma da mulher, armas que ella não cede a ninguém." Vê se vou emprestar o que me restou? As mulheres "admiram os homens que triumpham". Não conte os aborrecimentos e os fracassos da profissão que escolheu. Conte os mais insignificantes sucessos como se fossem imensos. Disso ela gostará. Seja, "em qualquer emergencia, o heroe, para que nunca se acabe o romance cuja protagonista é sua esposa". Corteje sua mulher, principalmente se ela "diaria e heroicamente desempenha as funções de uma cosinheira". Isso não é razão para que "você deixe de tratá-la como senhora". (Nem todo mundo lê esta parte, acho).

No caso de ir a festas e bailes, esposo, não se esqueça de convidá-la "para a primeira contradança" (pelo menos esta). Se tiver carro, não a deixe em qualquer esquina quando levá-la em casa. Leve-a aonde ela deseja ao menos de vez em quando. Seja amável com outras mulheres, claro, e também com sua esposa querida. E "não demonstre, em presença da sua [mulher], uma visível preferencia" por outras fêmeas. Ao menos não diante dela.

Elogie bastante a "toilette" de sua esposa. Não deixe de reparar nela. Foi tudo muito bem-montado. Não "escasseie em elogios". Se você deixar barato, pode ser que ela fique desleixada. De vez em quando, dê um presentinho a ela, especialmente flores. Quando ela cair doente (algo que tentará não fazer), "mostre-se atento e paciente; a mulher gosta de ser lastimada".

Na rua, não seja "parco em cumprimentos" aos outros. Não demonstre excessivo interesse por outras mulheres. Se sua esposa for olhar uma vitrine, não encha o saco mostrando uma loja de rádios. Melhor deixá-la vendo roupas. Se forem tomar um trem (ou qualquer coisa mais nova), não ande na frente, algo "descortez e contraproducente". Não fale com ela em tom autoritário, "seja-o de facto, mas não com palavras", entendeu? Não discuta com sua esposa se ela estiver "enervada". Mude de assunto. Não conte a ela nada dos seus segredos profissionais. "Lembre-se que a indiscrição feminina tem sido causa de muitas catastrophes historicas."

Na seção "Não seja idolatra", os conselhos são interessantíssimos para homens realmente apaixonados. "Não considere sua mulher como um ídolo, por mais que ella o mereça." Em 1935, Luiz Raymundo dizia: "O objectivo de sua existencia [do marido] é a pátria, a affirmação de sua individualidade e, não, 'servir uma formosa dama'". É preciso ser condescendente com as fraquezas da esposa, satisfazer-lhe as curiosidades (nem todas, claro), confiar desconfiando (para não ser o último a saber das estripulias dela). É preciso ser o chefe do lar desde as primeiras semanas de casado, "em caso contrário, verá frustradas, mais tarde, todas as tentativas para estabelecer seu domínio".

Na presença de estranhos, não critique sua esposa porque ela gosta demais de dança, canto ou música. Resolva problemas sempre a sós com ela, o culpado dos problemas, não se esqueça, será sempre você. (Confesso que gostei desta parte, fiz mal?).

Não seja ciumento. "Os ciumes agradam a mulher quando não são justificados." Diz o cronista que as moças curtem uma cena injustificável. As justificáveis garantem muito mais aos maridos traídos, não é mesmo? Raymundo dá a dica (mas tomei a liberdade de atualizar os termos): Se a mulher ficar irritada, é porque tem coelho no mato. "Observe attentamente esses phenomenos e poderá prevenir muito passo em falso de sua esposa." E mais: "Porque ela fala com enthusiasmo de outro homem, não é motivo para ciumes. O perigo é maior quando, em sua presença, ella se abstem de falar nesse homem".

"Sobre as sogras e as amigas" é a última seção da crônica "A difficil arte do matrimonio", de 1935. Não podia faltar esse item para a boa sorte do casamento. Diz Raymundo que o marido não deve ser "parco" em elogios aos pais da esposa, especialmente à mãe. Ter boa nota com a sogra é de suma importância. E se discutir com ela, melhor dar-lhe sempre razão.

Em relação às amigas da esposa, é melhor tratá-las bem. O trato com elas, no entanto, é sempre mais difícil do que com a própria esposa. Segundo o cronista, isso, no entanto, pode ser simplificado. "A mulher jamais escolhe amiga mais bonita do que ella." Vou pensando nisso durante a semana.

Para finalizar, diz o cronista sabichão: o otimismo é indispensável em um casamento, além do "saber freiar as exigencias". Sem isso, nada feito, afinal, isto digo eu, as chances de dar tudo errado são obviamente muito maiores. "Não ha casamentos infelizes: ha pessôas infelizes", diz Raymundo, numa tirada de autoajuda que venderia livros ainda hoje. De maneira geral, acho que estas crônicas ainda seriam um sucesso.

Nota do Editor
Leia também "Aconselhamentos aos casais ― módulo I".


Ana Elisa Ribeiro
Belo Horizonte, 27/3/2009

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
27/3/2009
08h17min
Os maridos e as mulheres do princípio até a metade do século XX nada têm com os maridos e as mulheres do século XXI. Pois agora há uma compreensão e até maridos que ajudam-as nas tarefas do lar. O que mudou foi isto, e o que permanece arcaico nas relações conjugais talvez seja a estupidez, como assassinatos de companheiras, ciúmes, agressões... É o eterno machismo. Coisas do mundo doméstico, casos de polícia.
[Leia outros Comentários de Manoel Messias Perei]
29/3/2009
08h51min
Com exceção da ortografia, principalmente agora com a "nova" ortografia, o texto de Luiz Raymundo está bem atual. Ao contrário do que afirmou o Manoel, no comentário anterior, acredito que dá para contar nos dedos - e deviam até ser citados para efeito de exemplo e constatação - os casais em que o marido é compreensivo e ajuda nas tarefas do lar. Já crimes passionais e agressões o cronista se exime de comentar - será que em 1930 isso era incomum? De toda forma, o texto é ótimo, assim como os comentários irônicos da Ana Elisa, e não é preciso ir muito longe para comprovar a existência dos casais "advindos" da revista "O Cruzeiro": basta dar uma boa olhada em nossos pais ou nos pais de nosso amigos.
[Leia outros Comentários de Nelson Sá Fortes]
29/3/2009
23h14min
Delícia de texto, Ana Elisa! Vou ler parte I e reler a II! Com um aperitivo inigualável: deixando "rolar" no vídeo o inesquecível e sempre atual "Meu Tio" do genial Jacques Tati! Eu penso que essa dicotomia indecorosa jamais será superada: evolução x involução (humanas). Abs do Sílvio Medeiros.
[Leia outros Comentários de Sílvio Medeiros]
30/3/2009
11h34min
O que fazer com a tampa do vaso aberta?
[Leia outros Comentários de Renato]
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