A literatura de Giacomo Casanova | Guilherme Pontes Coelho | Digestivo Cultural

busca | avançada
95668 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Nouveau Monde
>>> Agosto começa com música boa e grandes atrações no Bar Brahma Granja Viana
>>> “Carvão”, novo espetáculo da Cia. Sansacroma, chega a Diadema
>>> 1º GatoFest traz para o Brasil o inédito ‘CatVideoFest’
>>> Movimento TUDO QUE AQUECE faz evento para arrecadar agasalhos no RJ
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
Colunistas
Últimos Posts
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Necrológico da Biblioteca
>>> Twitter ultrapassa NYT e WSJ
>>> Por que os livros paradidáticos hoje são assim?
>>> A Mentira, de Nelson Rodrigues
>>> Uma norma para acabar com os quadrinhos nacionais?
>>> Em Londres, à caça do mito elementar
>>> Cenas de um casamento
>>> A vida subterrânea que mora em frente
>>> A morte da revista Set
>>> O Original de Laura
Mais Recentes
>>> How To Remember Jokes And 101 Drop-dead Jokes To Get Started de Philip Van Munching pela Workman Publishing Company (1997)
>>> Sindrome do Estrangeiro [1998] Málu Balona de Málu Balona pela Instituto Internacional de Projeciologia (1998)
>>> O Mundo Agradece! Coisas do Japão de Nippon Saihakken Club pela Nikkey Shimbun (2019)
>>> Na Hora do Testemunho de Francisco Cândido Xavier / J. Herculano Pires pela Paideia (1978)
>>> O Caminho da Vida Perfeita de Vernon Howard pela Record
>>> Lançamento Tributário de Eurico Marcos Diniz de Santi pela Max Limonad (1999)
>>> Ensinar A Viver: Manifesto Para Mudar A Educacao de Edgar Morin pela Sulina (2015)
>>> Como Ensinar Seu Bebê a Ler A Suave Revolução de Glenn Doman pela Artes e Ofícios (1990)
>>> História do Turismo de Massa de Marc Boyer pela Edusc (2003)
>>> Tai Chi Chuan A Alquimia do Movimento de Wu Jyh Cerng pela Mauad (1998)
>>> Um Milagre, Um Universo O Acerto De Contas Com Os Torturadores de Lawrence Weschler pela Companhia Das Letras (1990)
>>> Livro Temas Da Conscienciologia Waldo Vieira 1997 de Waldo Vieira pela Fisicalbook (1997)
>>> Seducidos Por El Accidente de Paul Virilio; David Barro, Stéphanie Jennings; Annick Prévot (tr.), David Barro; Agar Ledo pela Fundacion Luis Seoane (2005)
>>> As Cinco Pessoas Que Você Encontra no Céu de Mitch Albom pela Sextante (2004)
>>> A Boa Sorte: Criando as Condições de Sucesso na Vida e nos Negócios de Fernando Trías de Bes pela Sextante (2004)
>>> As Aventuras de Tintim - os Charutos do Faraó ( Capa Dura ) de Hergé pela Flamboyant
>>> Tintim no país do Ouro Negro - 22 de Herge pela Record (1970)
>>> As aventuras de Tintim - as joias da castafiore - 20 de Herge pela Record (1972)
>>> Oh La La! Level 1 - methode de français de C. Favret - M. Bourdeau - I. Gallego pela CLE International (2003)
>>> O Tempo É Uma Ilusão de Chris Griscom pela Siciliano (1989)
>>> Fire And Blood (hardcover) de George R.R. Martin pela Harper Voyager (2018)
>>> Caim (lacrado na embalagem plastica) de José Saramago pela Companhia Das Letras
>>> Ensaio sobre a cegueira (60º reimpressão) de Jose Saramago pela Companhia Das Letras (2011)
>>> Ensaio sobre a cegueira (49º reimpressão) de Jose Saramago pela Companhia Das Letras (2008)
>>> A Cancao De Aquiles de Madeline Miller pela Planeta Minotauro (2021)
COLUNAS

Quarta-feira, 19/5/2010
A literatura de Giacomo Casanova
Guilherme Pontes Coelho
+ de 15200 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Desde a primeira vez em que ouvi "Casanova", o significado deste nome foi claro e simples. Talvez não lembre os detalhes da ocasião, mas sei que foi em algum desses eventos ingênuos, anteriores à adolescência, que envolvem coleguinhas de sala, na clandestinidade do recreio, e uma professora chata que interrompe a brincadeira, dá sermão, ameaça levar a sem-vergonhice à diretoria e, para terminar, alerta a garota do perigo que é aquele "projeto de casanova".

Algum tempo depois, descobri que casanova, ora elogio, ora xingamento, mas sempre bem-vindo, paga tributos a Giacomo Casanova, um conquistador veneziano do século XVIII, um homem irresistível, deflorador de centenas de virgens e amante de milhares de mulheres, um homem que, em meu teatro mental, por causa de Federico Fellini, sempre associei, na fisionomia e na indumentária, ao canadense Donald Sutherland. Isso era tudo o que sabia sobre Casanova ― e era tudo o que me parecia necessário saber. Foi um conquistador, desses de dar orgulho ao sempre carente, e muitas vezes inseguro, gênero masculino.

Hoje, porém, eu conheci Casanova. Graças a Ian Kelly, autor de Casanova ― Muito além de um grande sedutor (Jorge Zahar, 2009, 370 págs.). As milhares de mulheres que, dizem, ele conquistou são fabricações de terceiros; e o personagem que virou substantivo em várias línguas é unidimensional e medíocre quando comparado ao verdadeiro Giacomo Casanova, que, de uma ideia sexista, de proezas numéricas e rarefeitas, ganhou vida e narrativas próprias numa leitura que foi uma das melhores do ano, até agora.

Esta biografia (ótima edição da Jorge Zahar Editora), além de escrita na consagrada forma fluida e lúcida que caracteriza as melhores obras do gênero, fala da Europa pré-revolucionária, a época ideal para ser o palco onde a história da vida de Casanova seria encenada.


Peter Kemp © (http://www.peterkemp.nl/)


Ele nasceu em 1725, 2 de abril, em Veneza ― cujo carnaval se estendia por meses (de outubro à Quarta-Feira de Cinzas) e durante o qual o uso de máscaras era obrigatório a todas as idades e a todas as classes. O anonimato que as máscaras conferem e a permissividade em que isso implica alimentam as vontades mais secretas e pungentes de uma sociedade rigidamente dividida e de um Estado tão policialesco como o de Veneza. Um ambiente como este é capaz de gerar libertinos por cissiparidade. Este era o mundo do pequeno Giacomo. Sua família, aliás, representava parte da essência do Estado veneziano, o apelo estético e mascarador da vida e o comportamento sexualmente espúrio entre classes: sua mãe, atriz da commedia dell'arte, seu pai de registro, ator e dançarino, ambos os possíveis pais biológicos, patrícios que se ocupavam empresariando o teatro. Casanova vivia o jogo das máscaras desde pequeno.

O autêntico filho de Veneza, no entanto, viverá a vida que o consagrou fora de sua cidade natal. Viajará por toda a Europa e será um dos melhores autores do Gran Tour, a literatura de viagens.

Sua vida "adulta" começou como seminarista. Nada mais impróprio. Não demoraria a fugir do seminário. Claro, antes da fuga, ele havia de aprontar uma das suas, ao causar um enorme rebuliço por conta de visitas noturnas pouco ortodoxas a outros seminaristas. Contudo, no futuro ele seria habitué de conventos, onde freiras lascivas o esperavam e madres de muitos amigos realizavam abortos. Serviço este que Casanova solicitou algumas vezes.

O próximo papel de Casanova será o de militar. Depois, o de curandeiro, personagem graças ao qual terá um suporte financeiro fixo por décadas. A lista continua: diplomata, cabalista, empresário (criador de loterias), espião, chef, bibliotecário, romancista e outros. Eu teria dor na consciência em lhe contar mais do que isso. Roubaria de você o prazer da leitura.

Prazer na leitura foi, inclusive, um dos mais queridos por Casanova, leitor ávido, bibliófilo terminal, traduziu a Ilíada e tudo.

A beleza literária (estética) das coisas talvez seja o mais fascinante em Casanova. Não só ele viveu tudo aquilo, como teve o prazer da experiência multiplicado por narrar sua vida e saber que ler sua história seria o prazer literário de alguém.

História da minha vida, um colosso memorialístico de 12 volumes, é o livro no qual ele narra fracassos no amor e nos negócios, doenças venéreas de todo o tipo e seus tratamentos mais eficazes (e os nem tanto), conquistas amorosas de todo o gênero (inclusive incestuosas), os segredos místicos da cabala e seus usos menos probos, riquezas ganhas e perdidas, tudo.

No fim da vida, Casanova foi um grafômano soberbo. Suas memórias são narrativas prolixamente detalhadas, o volume de sua correspondência é ociosamente alto, a extensão dos seus romances é enfadonhamente longa.

Tinha de ser assim.

Casanova foi um sensualista, um dos maiores da História. Ninguém fez sexo tão bem quanto Casanova, inclusive porque ― que curioso! ― o sexo com amor era sua especialidade. Era incômoda a ele a ideia de sexo sem envolvimento emocional (mas ele fez este e outros sexos). Ninguém soube como ele apreciar o prazer à mesa, nem que fosse para comer um biscoitinho de Murano. E ninguém, é claro, soube unir com tanto requinte o sexo e a comida (preparava iguarias, a serem consumidas antes, durante e depois, com saliva e cabelos das amantes). E só ele soube unir ambos à literatura, ao nos deixar relatos tão preciosos de suas aventuras notáveis.

Tinha de ser assim porque, ainda jovem, Casanova, como você lerá na narrativa de Ian Kelly, experimentou, mesmo que numa dose pequena e pelos critérios de uma mente pouco vivida e autocentrada como a sua, o prazer da "glória literária". Ao final de sua vida, o escritor teve à sua pena um personagem extraordinário, ele mesmo, Giacomo Casanova.

Para ir além






Guilherme Pontes Coelho
Brasília, 19/5/2010

Quem leu este, também leu esse(s):
01. As palmeiras da Politécnica de Elisa Andrade Buzzo
02. Margeando a escuridão de Elisa Andrade Buzzo
03. Marcel Proust e o tempo reencontrado de Jardel Dias Cavalcanti
04. Em busca da adrenalina perdida de Marta Barcellos
05. Ad Usum Juventutis de Ricardo de Mattos


Mais Guilherme Pontes Coelho
Mais Acessadas de Guilherme Pontes Coelho em 2010
01. Nas redes do sexo - 25/8/2010
02. A literatura de Giacomo Casanova - 19/5/2010
03. O preconceito estético - 29/12/2010
04. O comerciante abissínio II - 28/4/2010
05. O mundo pós-aniversário - 3/2/2010


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
24/5/2010
08h18min
Hoje com toda a sociedade libertina que vivemos, Casanova seria o gatinho de armazém dormindo num saco de estopa.
[Leia outros Comentários de Manoel Messias Perei]
24/5/2010
09h54min
Li até o quinto volume das Memórias de Casanova, de uma edição em dez volumes que possuo. A obra se divide em doze partes. Não me parece digna de crédito, mas sim produto da fantasia. Por quê? Porque o autor narra com minúcias de fazer lembrar a inverossimilhança de Proust, não sendo razoável que alguém guarde tantas lembranças com tal exatidão; porque alguns episódios referidos são simplesmente fantasiosos demais; porque tomando um período curto qualquer de sua vida acontecem mais aventuras do que nos gibis do Zorro. Casanova até pode ter sido um grande conquistador, mas foi também um tremendo mentiroso.
[Leia outros Comentários de Gil Cleber]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




A Última Gota
Vanessa Barbosa
Planeta
(2014)



Teláris - História - 8º Ano - LIVRO DO MESTRE
Cláudio; Vicentino Vicentino
Ática Didáticos
(2019)



O Punho de Deus
Frederick Forsyth
Record
(2004)



Comentários ao Código de Processo Penal*
Heráclito Antônio Mossin
Manole
(2005)



Homens São de Marte Mulheres São de Vênus
John Gray
Rocco
(1997)



Do It Yourself Car Care
Larry W. Carley
Tab Books
(1987)



Armadilho
William Boyd
Rocco
(2000)



Livro The Vocal Vision
Applause
Applause
(2000)



A Voz da Mudança: Série Pensamentos Liberais
Caio Rizk... [et. al.]
Iee
(2018)



1943 - Roosevelt e Vargas Em Natal
Roberto Muylaert
Bussola
(2012)





busca | avançada
95668 visitas/dia
2,1 milhões/mês