A literatura de Giacomo Casanova | Guilherme Pontes Coelho | Digestivo Cultural

busca | avançada
44126 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Teatro do Incêndio e Colmeia Produções convidam o público a partilhar saberes no ciclo Incêndios da
>>> ZÉLIO. Imagens e figuras imaginadas
>>> Galeria Provisória de Anderson Thives, chega ao Via Parque, na Barra da Tijuca
>>> Farol Santander convida o público a uma jornada sensorial pela natureza na mostra Floresta Utópica
>>> Projeto social busca apoio para manter acesso gratuito ao cinema nacional em regiões rurais de Minas
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Aproximações políticas, ontem e hoje
>>> Surf em cima do muro
>>> E não sobrou nenhum (o caso dos dez negrinhos)
>>> Semana da Canção Brasileira
>>> Cartas@de.papel
>>> 24 Horas: os medos e a fragilidade da América
>>> Ai de ti, 1958
>>> Cultura, técnica e uma boa idéia
>>> Aqui você encontra?
>>> Desvirtualização no Itaú Cultural
Mais Recentes
>>> Entenda o Direito de Thaméa Danelon pela Cedet (2022)
>>> Jesus O Servo Poderoso de Clark Peddicord pela Candeia (1992)
>>> Como o Corpo Humano Funciona de Globo pela Globo (1992)
>>> As Armas Da Persuasão 2.0: Edição Atualizada E Expandida de Robert Cialdini pela Harpercollins (2021)
>>> Empresas Familiares. Seus Conflitos Clássicos E Como Lidar Com Eles de Grant Gordon pela Disal (2008)
>>> Uma Aventura de Asterix o Gaulês - os Louros de César de Uderzo - Goscinny pela Record (1985)
>>> Uma aventura de Asterix o gaulês - O presente de César 21 de Goscinny - Uderzo pela Record (1985)
>>> Guia Completo Sobre Diabetes de American Diabetes Association pela Anima (2002)
>>> Manual De Farmacoterapia de Barbara G. Wells; Joseph T. DiPiro, outros pela Amgh (2006)
>>> Uma aventura de Asterix o gaules - Asterix entre os Belgas 24 de Uderzo - Goscinny pela Record (1985)
>>> Ayrton Senna: Um Tributo Pessoal de Keith Sutton pela Siciliano (1994)
>>> Host Defense Dysfunction In Trauma, Shock And Sepsis: Mechanisms And Therapeutic Approaches de M.d. Faist, Jonathan L. Meakins Eugen pela Springer Verlag (1993)
>>> A Vida Não É Justa de Andréa Pachá pela Harper Collins (2017)
>>> Nazismo: As Grandes Reportagen de Aventuras Na Historia pela Caras (2015)
>>> Germinal de Émile Zola; Silvana Salerno(Adp.) pela Seguinte (2016)
>>> História Econômica Do Brasil de Caio Prado Jr. pela Brasiliense (2025)
>>> A Cruz E O Graal de Ellwood pela Cultrix/pensamento (1999)
>>> Método Silva De Control Mental de Jose Silva, Philip Miele pela Editorial Diana, S.a. (2005)
>>> Daniel e as Bactérias de Flavio Alterthum e Fernando Vilela pela Binah (2025)
>>> A Indústria e a água de David Veiga Soares pela Do autor (2023)
>>> O caminho do mago de Deepack Chopra pela Rocco (1987)
>>> Mitologia Grega 3 Volumes de Junito de Souza Brandão pela Vozes (1989)
>>> Ximlóp de Gustavo Piqueira pela Joaquina (2025)
>>> A Alegria Espera Por Voce de Upile Chisala pela Leya (2023)
>>> A era do escândalo de Mário Rosa pela Geração (2012)
COLUNAS

Quarta-feira, 19/5/2010
A literatura de Giacomo Casanova
Guilherme Pontes Coelho
+ de 15100 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Desde a primeira vez em que ouvi "Casanova", o significado deste nome foi claro e simples. Talvez não lembre os detalhes da ocasião, mas sei que foi em algum desses eventos ingênuos, anteriores à adolescência, que envolvem coleguinhas de sala, na clandestinidade do recreio, e uma professora chata que interrompe a brincadeira, dá sermão, ameaça levar a sem-vergonhice à diretoria e, para terminar, alerta a garota do perigo que é aquele "projeto de casanova".

Algum tempo depois, descobri que casanova, ora elogio, ora xingamento, mas sempre bem-vindo, paga tributos a Giacomo Casanova, um conquistador veneziano do século XVIII, um homem irresistível, deflorador de centenas de virgens e amante de milhares de mulheres, um homem que, em meu teatro mental, por causa de Federico Fellini, sempre associei, na fisionomia e na indumentária, ao canadense Donald Sutherland. Isso era tudo o que sabia sobre Casanova ― e era tudo o que me parecia necessário saber. Foi um conquistador, desses de dar orgulho ao sempre carente, e muitas vezes inseguro, gênero masculino.

Hoje, porém, eu conheci Casanova. Graças a Ian Kelly, autor de Casanova ― Muito além de um grande sedutor (Jorge Zahar, 2009, 370 págs.). As milhares de mulheres que, dizem, ele conquistou são fabricações de terceiros; e o personagem que virou substantivo em várias línguas é unidimensional e medíocre quando comparado ao verdadeiro Giacomo Casanova, que, de uma ideia sexista, de proezas numéricas e rarefeitas, ganhou vida e narrativas próprias numa leitura que foi uma das melhores do ano, até agora.

Esta biografia (ótima edição da Jorge Zahar Editora), além de escrita na consagrada forma fluida e lúcida que caracteriza as melhores obras do gênero, fala da Europa pré-revolucionária, a época ideal para ser o palco onde a história da vida de Casanova seria encenada.


Peter Kemp © (http://www.peterkemp.nl/)


Ele nasceu em 1725, 2 de abril, em Veneza ― cujo carnaval se estendia por meses (de outubro à Quarta-Feira de Cinzas) e durante o qual o uso de máscaras era obrigatório a todas as idades e a todas as classes. O anonimato que as máscaras conferem e a permissividade em que isso implica alimentam as vontades mais secretas e pungentes de uma sociedade rigidamente dividida e de um Estado tão policialesco como o de Veneza. Um ambiente como este é capaz de gerar libertinos por cissiparidade. Este era o mundo do pequeno Giacomo. Sua família, aliás, representava parte da essência do Estado veneziano, o apelo estético e mascarador da vida e o comportamento sexualmente espúrio entre classes: sua mãe, atriz da commedia dell'arte, seu pai de registro, ator e dançarino, ambos os possíveis pais biológicos, patrícios que se ocupavam empresariando o teatro. Casanova vivia o jogo das máscaras desde pequeno.

O autêntico filho de Veneza, no entanto, viverá a vida que o consagrou fora de sua cidade natal. Viajará por toda a Europa e será um dos melhores autores do Gran Tour, a literatura de viagens.

Sua vida "adulta" começou como seminarista. Nada mais impróprio. Não demoraria a fugir do seminário. Claro, antes da fuga, ele havia de aprontar uma das suas, ao causar um enorme rebuliço por conta de visitas noturnas pouco ortodoxas a outros seminaristas. Contudo, no futuro ele seria habitué de conventos, onde freiras lascivas o esperavam e madres de muitos amigos realizavam abortos. Serviço este que Casanova solicitou algumas vezes.

O próximo papel de Casanova será o de militar. Depois, o de curandeiro, personagem graças ao qual terá um suporte financeiro fixo por décadas. A lista continua: diplomata, cabalista, empresário (criador de loterias), espião, chef, bibliotecário, romancista e outros. Eu teria dor na consciência em lhe contar mais do que isso. Roubaria de você o prazer da leitura.

Prazer na leitura foi, inclusive, um dos mais queridos por Casanova, leitor ávido, bibliófilo terminal, traduziu a Ilíada e tudo.

A beleza literária (estética) das coisas talvez seja o mais fascinante em Casanova. Não só ele viveu tudo aquilo, como teve o prazer da experiência multiplicado por narrar sua vida e saber que ler sua história seria o prazer literário de alguém.

História da minha vida, um colosso memorialístico de 12 volumes, é o livro no qual ele narra fracassos no amor e nos negócios, doenças venéreas de todo o tipo e seus tratamentos mais eficazes (e os nem tanto), conquistas amorosas de todo o gênero (inclusive incestuosas), os segredos místicos da cabala e seus usos menos probos, riquezas ganhas e perdidas, tudo.

No fim da vida, Casanova foi um grafômano soberbo. Suas memórias são narrativas prolixamente detalhadas, o volume de sua correspondência é ociosamente alto, a extensão dos seus romances é enfadonhamente longa.

Tinha de ser assim.

Casanova foi um sensualista, um dos maiores da História. Ninguém fez sexo tão bem quanto Casanova, inclusive porque ― que curioso! ― o sexo com amor era sua especialidade. Era incômoda a ele a ideia de sexo sem envolvimento emocional (mas ele fez este e outros sexos). Ninguém soube como ele apreciar o prazer à mesa, nem que fosse para comer um biscoitinho de Murano. E ninguém, é claro, soube unir com tanto requinte o sexo e a comida (preparava iguarias, a serem consumidas antes, durante e depois, com saliva e cabelos das amantes). E só ele soube unir ambos à literatura, ao nos deixar relatos tão preciosos de suas aventuras notáveis.

Tinha de ser assim porque, ainda jovem, Casanova, como você lerá na narrativa de Ian Kelly, experimentou, mesmo que numa dose pequena e pelos critérios de uma mente pouco vivida e autocentrada como a sua, o prazer da "glória literária". Ao final de sua vida, o escritor teve à sua pena um personagem extraordinário, ele mesmo, Giacomo Casanova.

Para ir além






Guilherme Pontes Coelho
Brasília, 19/5/2010

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Pressione desfazer para viver de Ana Elisa Ribeiro
02. Hebreus e monstros, parte II de Guilherme Pontes Coelho
03. Essa Copa de caneladas... de Vicente Escudero
04. A nova queda da Bastilha de Gian Danton
05. Ao vivo do Roda Viva, pelo Twitter de Verônica Mambrini


Mais Guilherme Pontes Coelho
Mais Acessadas de Guilherme Pontes Coelho em 2010
01. Nas redes do sexo - 25/8/2010
02. A literatura de Giacomo Casanova - 19/5/2010
03. O preconceito estético - 29/12/2010
04. O comerciante abissínio II - 28/4/2010
05. O retorno à cidade natal - 24/2/2010


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
24/5/2010
08h18min
Hoje com toda a sociedade libertina que vivemos, Casanova seria o gatinho de armazém dormindo num saco de estopa.
[Leia outros Comentários de Manoel Messias Perei]
24/5/2010
09h54min
Li até o quinto volume das Memórias de Casanova, de uma edição em dez volumes que possuo. A obra se divide em doze partes. Não me parece digna de crédito, mas sim produto da fantasia. Por quê? Porque o autor narra com minúcias de fazer lembrar a inverossimilhança de Proust, não sendo razoável que alguém guarde tantas lembranças com tal exatidão; porque alguns episódios referidos são simplesmente fantasiosos demais; porque tomando um período curto qualquer de sua vida acontecem mais aventuras do que nos gibis do Zorro. Casanova até pode ter sido um grande conquistador, mas foi também um tremendo mentiroso.
[Leia outros Comentários de Gil Cleber]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro A Mão Invisível
Adam Smith, traduzido por Paulo Geiger
Penguin, Companhia das Letras
(2013)



Depois de Auschwitz
Eva Schloss
Universo dos Livros
(2013)



Flower Arrangement the Ikebana Way (capa Dura)
Senei Ikenobo
Shufunoyomo
(1988)



Raios de luz espiritual - Ensinos esotéricos
Francisco Valdomiro Lorenz
Pensamento



Livro Obra Reunida
Rachel De Queiroz
J. Olympio Editora
(1989)



O Manual da fotografia digital 464
Doug Harman
Escala
(2013)



Livro Infanto Juvenis Pollyanna Moça Biblioteca das Folhas Volume 93
Eleanor H. Porter
Companhia Nacional
(2002)



Buenos Aires Gtb Guia do Turista Brasileiro
Lucio Martins Rodrigues / Bebel Enge
Conteudo
(2011)



Faz Chover
Fernandinho
Thomas Nelson
(2015)



O Bar do Ponto
Luis Góes
Luis Góes
(2000)





busca | avançada
44126 visitas/dia
1,7 milhão/mês