Pressione desfazer para viver | Ana Elisa Ribeiro | Digestivo Cultural

busca | avançada
77819 visitas/dia
1,3 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Hospital São Paulo recebe orquestra em iniciativa da Associação Paulista de Medicina
>>> Favela Sounds celebra a cultura periférica até 15 de fevereiro
>>> Espaço cultural inovador será inaugurado próximo à Av. Paulista – Lacerdine Galeria de Arte
>>> Livro 'Incontornáveis', de Antonio Manuel
>>> Vox Sambou clama por união e luta em seu novo single: “Kriminèl”
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
Colunistas
Últimos Posts
>>> All-In sobre o DOGE e o USAID
>>> Steve Vai e os 30 anos da Ibanez JEM
>>> All-In sobre DeepSeek
>>> L'italiana in Algeri par Georges Prêtre
>>> Le siège de Corinthe par Solti
>>> DeepSeek by Glenn Greenwald
>>> David Sacks no governo Trump
>>> DeepSeek, inteligência que vem da China
>>> OpenAI lança Operator
>>> Um olhar sobre Frantz Fanon
Últimos Posts
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
>>> Editora lança guia para descomplicar vida moderna
>>> Guia para escritores nas Redes Socias
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Orquestra Sinfônica da Galícia com Josep Colom
>>> A discreta crise criativa das novelas brasileiras
>>> A importância do nome das coisas
>>> Em defesa dos roteiristas de quadrinhos
>>> Alguns momentos com Daniel Piza
>>> A internet e o fim do no.
>>> Sem música, a existência seria um erro
>>> Mecanismos Internos: Ensaios sobre Literatura, de J.M. Coetzee
>>> Minha tarefa é escrever, e não ensinar
>>> As deliciosas mulheres de Gustave Courbet
Mais Recentes
>>> Foucault - Ou o Niilismo de Cátedra de José Guilherme Merquior pela É Realizações (2021)
>>> An Outline Of American Literature de High Peter pela Longman (1997)
>>> Livro Poesia Fora Da Estante de Vera Aguiar pela Projeto (2021)
>>> Livro Gone Girl A Novel de Gillian Flynn pela Broadway Books (2012)
>>> Livro É Duro Ser Cabra Na Etiópia de Maitê Proença pela Agir (2013)
>>> Cálculo um curso universitário vol II de Edwin E. Moise pela Mec (1972)
>>> Livro Não Se Iluda, Não de Isabela Freitas pela Intrinseca (2015)
>>> Livro de Bolso The Psychology Of Moral Behaviour a Pelican Books de Derek Wright pela Penguin Books (1973)
>>> Livro A República de Platão Plato pela Lafonte (2017)
>>> Livro As Crônicas De Nárnia. O Leão, A Feiticeira E O Guarda-roupa de C.S. Lewis pela WMF Martins Fontes (2009)
>>> Livro Eiffel A História De Amor Que Mudou Paris Para Sempre de Nicolas D Estienne D Orves pela Vestígio (2021)
>>> 30 Anos de arte pela Igualdade 500 de Pestana pela Sem (2010)
>>> Livro Operação Abutre de Stephen Frey pela Best Seller (2003)
>>> Tomie Ohtake de Tomie Ohtake pela Moderna (2002)
>>> Livro As Religiões Do Mundo de Cláudio Blanc pela Camelot Editora (2021)
>>> Livro A Arte De Assessorar Executivos de Maria Ester Cambreá Alonso pela Pulsar (2002)
>>> Livro Cartas A Um Jovem Poeta Coleção L&pm Pocket Volume 530 de Rainer Maria Rilke pela L&pm Pocket (2019)
>>> Aprender E Ensinar Na Educação Infantil 500 de Eulália Bassedas pela Artmed (1996)
>>> Livro Pálido Ponto Azul de Carl Sagan pela Companhia Das Letras (2019)
>>> Controvérsias e Dissonâncias 500 de Maurício Segall pela Boitempo Editorial (2001)
>>> Livro How to Be an Assertive (not aggressive) Woman in Life, in Love, and On The Job A Total Guide to Self-assertiveness de Jean Baer pela Signet (1976)
>>> Livro Noturno De Havana de T. J. English pela Seoman (2011)
>>> Livro Uma Breve História Do Tempo de Stephen Hawking pela Intrínseca (2015)
>>> Livro de Bolso Neuroses Série Princípios Volume 76 de Manuel Ignacio Quiles pela Ática (1986)
>>> Alfredo Volpi de Nereide S. Santa Rosa pela Moderna (2000)
COLUNAS

Sexta-feira, 17/6/2011
Pressione desfazer para viver
Ana Elisa Ribeiro
+ de 6600 Acessos
+ 3 Comentário(s)

Algumas ações que a gente pode executar no computador me fazem morrer de inveja. Talvez a mais relevante delas seja o "desfazer" (que em alguns programas está em inglês "undo" e que pode ser similar ao delete e ao "back"). Eu morro de inveja daquela possibilidade de "desexecutar" uma ação, de retroagir, de me arrepender do escrito, desenhado ou testado e simplesmente apagar tudo. Mas não é apenas apagar. É desfazer. É voltar ao ponto zero, àquele momento em que decidi fazer algo. É como não viver aquilo.

Mas mesmo no computador aquela ação e aquela sensação são enganosas, meus caros leigos. A interface gráfica (que é com o que a gente lida) na verdade esconde uma operação mais complexa. Nos bastidores do computador, lá onde os códigos e as linguagens não são mais legíveis para pessoas leigas como eu, o computador gravou o caminho que eu fiz ao me decidir por uma ação, ao me arrepender dela (ou ao avaliar mal seu resultado) e ao apertar o "desfazer". Na verdade, nada se desfaz. Os indícios, os rastros e as pistas ficam lá, para quem sabe ler. O que importa, no entanto, para uma leiga é que parece que eu desfiz tudo, sem deixar marcas e mágoas, e que poderei começar de novo, em especial, fazendo melhor.

Não é para morrer de inveja? É claro que é. Inveja de poder desistir sem me macular com escolhas erradas; inveja de poder zerar a conta; de poder optar por refazer, mas muito melhor, com resultados muito mais felizes e satisfatórios. Vejam que maravilha esta máquina pode ser.

O "undo" é uma espécie de botão mágico. Na vida, esses dispositivos não existem. A decisão errada de sete ou oito anos atrás, que inclusive nem parecia um decisão (camuflada que estava pela negligência e pela irresponsabilidade), faz um imenso estrago nas ações posteriores e nas possibilidades que passarão a não existir. Mas, é claro, existirão outras. Mas serão bacanas?

Sem o "desfazer", as pessoas precisam viver de acertos. A ideia é acertar, não é? Ou alguém já se prontifica a errar, sem pudor? Não é meu caso, muito embora eu tenha deixado de ouvir meus "instintos" e mesmo as pessoas mais sensíveis do que eu várias vezes. Uma lástima. Eu, que sempre me esforcei por me ouvir antes de agir (talvez seja o famoso "ouvir seu coração"), consegui errar desastradamente muitas vezes. E não existe "undo", constato, cheia de cicatrizes pela alma afora.

Como acertar sempre? É algo da ordem do inviável, não é? Não é possível acertar sempre. Os alvos são móveis e imprevisíveis. Não nos favorecem frequentemente. E viver acertando não depende apenas de nós, de nossas vontades individuais. É claro que vamos errar, mesmo quando achamos que estamos na direção do acerto. Quantas vezes me enganei com isso! Erro de avalição, erro de trajetória, erro desde o início, quando algo me dizia para não continuar.

Bem, mas o computador permite coisas que deixam a vida da gente no chinelo. O computador me sinaliza coisas que só posso fazer depois das outras. São como pré-requisitos, para me ajudarem a acertar na operação. O computador também permite que eu tenha várias experiências ao mesmo tempo e que fique apenas com aquela que me parecer mais satisfatória. E como isso seria bom. Seria como viver no mundo do "se", como fazemos quando as coisas vão mal na vida real, em que não se pode decidir de novo por caminhos que já ficaram para trás.

O computador me permite desenhar sem ter talento. O computador me permite colorir e simular o resultado, dando-me a opção de remodelar tudo, se eu quiser. E com rapidez, sem muita resistência. O computador me testa e eu nele testo meus desejos. Não é assim com a vida, ao menos geralmente. Nela eu me vejo de cara com meus medos, claro, coisa que perdi quando lido com a máquina. Mas na vida as decisões são booleanas. E pior: não se pode dimensionar que efeito as decisões terão de fato. Atropelar um pombo e matar uma abelha podem ter efeitos catastróficos tanto quando decidir sequestrar um avião. Não será gratuito se o leitor se lembrar de uns filmes que tratam de algo assim, como "O efeito borboleta" e assemelhados. Essa ausência do "desfazer" e a sequência desencadeada por nossas ações (inclusive na linguagem) são intrigantes desde sempre, e principalmente no cinema.

Se eu pudesse, eu juro, eu apertaria o "undo" para algumas coisas nesta vida. O problema é que nenhuma ação traz consequências apenas boas ou apenas ruins. O problema é que um ou dois dos efeitos grandes dessas decisões que eu queria apagar são deliciosos, experiências e resultados importantes, relevantes e fundamentais para a vida que se seguiu. Como apagar uns itens e não outros? Existiria um "desfazer" seletivo? O que está posto que pode ser positivo, mesmo nesta lama? O "undo" do computador é mais simples porque parece relacionado a apenas uma ação, sem maiores consequências.

Mas se eu pudesse eu deletaria algumas partes desta história. Tenho certeza. Seria como matar o que me agride hoje. Seria como me poupar, uma espécie de presente que eu me daria. Há, certamente, coisas que a gente dispensa viver, não é mesmo? E o que fazer com essas coisas senão instalar-lhes uma tecla "desfazer"?

O computador me deixa ansiosa pelas analogias que ele permite com a vida. Não bastasse dizer que "processo" informações, como as máquinas, eu também me ressinto de não poder deletar sem deixar vestígio. Ou ao menos uma ilusão de que nada foi registrado de um evento indesejável. No entanto, o sistema do computador executa ações ilegais e se fecha, repentinamente. E eu, viva que estou, consigo me ressignificar, isto é, corrigir meu próprio software quando me vejo em apuros. E vamos nos invejando para lá e para cá: eu porque não desfaço; o computador porque não experimenta.


Ana Elisa Ribeiro
Belo Horizonte, 17/6/2011

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Esporte de risco de Luís Fernando Amâncio
02. Cidades do Algarve de Elisa Andrade Buzzo
03. Sexo e luxúria na antiguidade de Gian Danton
04. Do outro lado, por Mary del Priore de Ricardo de Mattos
05. O tipo que faz promessa de Ana Elisa Ribeiro


Mais Ana Elisa Ribeiro
Mais Acessadas de Ana Elisa Ribeiro em 2011
01. É possível conquistar alguém pela escrita? - 21/1/2011
02. Meus livros, meus tablets e eu - 15/4/2011
03. Você viveria sua vida de novo? - 18/2/2011
04. À primeira estrela que eu vejo - 7/10/2011
05. Bibliotecas públicas, escolares e particulares - 20/5/2011


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
2/6/2011
10h27min
Na minha vida, já aconteceu da mesma situação aparecer com outra aparência, e eu pude fazer nela o que me arrependi de não ter feito na anterior. Houve uma anulação, compensação, substituição, ou seja lá o nome que se quiser dar.Não deu para apagar a anterior, mas houve uma nova e melhor.
[Leia outros Comentários de Ricardo]
18/6/2011
12h56min
Ter a ferramenta "desfazer" é o desejo de todos. Entretanto, como saber o momento certo de acioná-la? Que caminhos, decisões escolher depois de acionado o "desfazer"? Continuaríamos precisando viver de acertos. Precisaríamos ter também o "refazer", isto é, voltar ao ponto atual. Mas nessas idas e vindas a vida não ficaria parada? E essa paralização seria um acerto ou um erro?
[Leia outros Comentários de José Frid]
28/6/2011
08h03min
Ana, acho interessante que comigo é exatamente o contrário. Adoro as teclas Ctrl + Z onde posso "refazer" o meu texto apagado da tela.
[Leia outros Comentários de Manoel Amaral]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




A Menina que não sabia ler
John Harding
Leya
(2010)



Uma Prova De Amor
Emily Giffin
Novo Conceito
(2013)



Bem-estar da Mulher: a Essencia da Vida
Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi & Cia
Lavida Press
(2006)



É Proibido Miar
Pedro Bandeira
Moderna
(1983)



Estudos Sobre a escravidão Negra 1
Leonardo Dantas Silva organizador
Massangana
(1988)



Livro Literatura Estrangeira A Cidade e as Serras Coleção Clássicos Melhoramentos
Eça de Queirós
Melhoramentos
(2013)



O Mistério Da Múmia
Martin Widmark
Callis
(2016)



O Amanha A Deus Pertence
Zibia Gasparetto
Vida E Consciencia
(2007)



Raptado
R. L. Stevenson
Ediouro
(1971)



Como Fazer Estantes Práticas
Arnaldo Belmiro
Ediouro
(1992)





busca | avançada
77819 visitas/dia
1,3 milhão/mês