Excessos | Marta Barcellos | Digestivo Cultural

busca | avançada
74109 visitas/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> O escultor Renato Brunello participa do SCOGLIERAVIVA - Simpósio Internacional em Caorle (Veneza)
>>> “DESIGN versus DESIGUALDADES: Projetar um mundo melhor”
>>> “O Tempo, O Feminino, A Palavra” terá visita guiada no Sérgio Porto
>>> Marés EIN – Encontros Instrumentais | Lançamento Selo Sesc
>>> renanrenan e Os Amanticidas
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
Colunistas
Últimos Posts
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
>>> Claude 4 com Mike Krieger, do Instagram
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Para que o Cristianismo?
>>> Intervenção militar constitucional
>>> O nome da Roza
>>> As redes sociais e a política
>>> Escrevo deus com letra minúscula
>>> A proposta libertária
>>> Ao Sul da Liberdade
>>> Wikipedia: prós e contras
>>> 10 coisas que a Mamãe me ensinou
>>> A filosofia fruto do tédio
Mais Recentes
>>> Livro Nas Brumas Da Mente Quando As Atitudes Tornam- Se Consequências de Rafael De Figueiredo pela Boa Nova (2008)
>>> Memórias do subsolo de Dostoiévski pela Pauliceia (1992)
>>> Guerra Nas Estrelas a Batalha dos Caçadores de Recompensa de Ryder Windham pela Manole (1996)
>>> Livro O Efeito Sombra Encontre O Poder Escondido na Sua Verdade de Deepak Chopra, Debbie Ford e outros pela Leya (2020)
>>> A Banalização Da Violência a Atualidade Do Pensamento De Hannah Arendt de André Duarte e outros pela Relume Dumará Editora (2004)
>>> Livro College Essay Essentials: A Step-by-step Guide To Writing A Successful College Admissions Essay de Ethan Sawyer pela Sourcebooks (2016)
>>> Livro Mulher-maravilha Volte Para Mim de Conner pela Panini Comics (2020)
>>> A Linguagem Esquecida: Uma Introdução Ao Entendimento Dos Sonhos Contos De Fada E Mitos de Erich Fromm pela Zahar (1983)
>>> Livro Yvonne Pereira Uma Heroína Silenciosa de Pedro Camilo pela Lachâtre (2014)
>>> Livro O Primado Do Espírito de Rubens Romanelli pela Lachatre (2000)
>>> Livro JK Caminhos Do Brasil de Médium Woyne Figner Sacchetin, inspirado pelo espírito de Juscelino Kubitschek pela Lachâtre (2006)
>>> Livro Aniquilação 2 A Conquista Surge o Espectro Volume 3 de Keith Giffen pela Panini Comics (2008)
>>> Livro Portugal: Geoguide de Varios Autores pela Gallim Loisirs (2008)
>>> As Cinco Linguagens Do Amor de Gary Champman pela Mundo Cristão (2006)
>>> Livro História Social Da Criança E Da Família de Philippe Ariés pela Guanabara (1981)
>>> Livro Minúsculos Assassinatos e Alguns Copos de Leite de Fal Azevedo pela Rocco (2008)
>>> Marvel Max 54 – Guerra Civil – Nao Faz Parte de um Evento Marvel Comic de J. Michael Straczynski/ Outros pela Panini Comics (2008)
>>> Indian Heritage and Culture de Madanlal Malpani / Shamshunder Malpani pela kalyani Publisher (2004)
>>> Livro Uma Questão De Tempo... de Marcial Jardim pela Aliança (2008)
>>> Livro Matemática Temas e Metas Conjuntos Numéricos e Funções Volume 1 de Antonio dos Santos Machado pela Atual (1988)
>>> Livro Dietoterapia Na Medicina Tradicional Chinesa Uma Abordagem Energética Dos Alimentos de Wilson Marino Marques pela All Print Editora (2015)
>>> Livro Testemunhos De Amor de Maria Salvador, Espírito Amaral Ornellas pela Lachâtre (2014)
>>> O Diario De Marise de Vanessa De Oliveira pela Matrix (2006)
>>> Livro Star Wars Jango Fett Mercenário de Ron Marz pela Dark Horse (2002)
>>> Livro Gerenciamento de Projetos Estabelecendo Diferenciais Competitivos de Ricardo Viana Vargas pela Brasport (2002)
COLUNAS

Sexta-feira, 6/5/2011
Excessos
Marta Barcellos
+ de 4400 Acessos
+ 1 Comentário(s)

O bullying sempre existiu, palmada sempre existiu, assédio no trabalho sempre existiu, violências nas relações amorosas sempre existiram, e vamos deixar assim. Ah, dessa forma se molda o caráter, as defesas do homem. E também da mulher. Traumas moderados são bons, fortalecem; temos que cuidar apenas dos excessos. E se o moderado para um for fatal para outro?

Penso nisso depois de ler "Preciosidade", conto de Clarice Lispector. Sempre Clarice para nos lembrar de alguma coisa esquecida na alma feminina. Algo ainda não nomeado, e que perderá um pouco de sua intensidade depois que o for, e puder ser incluído na lista acima. O conto está na internet, acho que não oficialmente, e se você quiser parar agora para ler, será um prazer esperar.

Ele mostra uma menina de 15 anos, que talvez tivesse 13 nos dias de hoje. Nesta idade, é provável que não se ande só pelas ruas do Rio de Janeiro, como antigamente. Não por causa daquela, ainda não nomeada, mas de outras violências mais óbvias. Mas suponhamos que ela hoje caminha, sim, apenas pequenas distâncias, em ruas tranquilas. Minha filha, de 11 anos, tem orgulho de se parecer com a criança que ainda é, mas algumas amigas da mesma idade aparentam bem mais. Talvez 13 anos ― os 15 da época de Clarice. Outro dia, observando uma delas brincar lá em casa, pensei, distraída: nossa, já parece uma moça. Se caminhar sozinha, ou pegar um ônibus sem a escolta de um adulto, coitada, poderiam... E mudei rápido de pensamento.

Mudei, mas Clarice me lembrou: "poderiam lhe dizer alguma coisa". A adolescente de "Preciosidade" saía sozinha de casa, bem cedo, enlevada pelo despertar de algo precioso, recém descoberto dentro dela. "Ela." Até chegar à escola, teria sorte de "ninguém olhar para ela". Precisava ser séria como uma missionária por causa dos operários no ônibus. Por dentro, ela se venerava, mas o coração batia de medo. É que eles "sabiam". A adolescente de Clarice anda na rua como um soldado, enquanto faz jogos mentais da criança que também é ainda. O conto segue nebuloso, dando conta do rito de passagem e da perda da inocência. Um ritual no qual faz parte a violência praticada por marmanjos contra meninas novas o suficiente para se intimidar.

Esqueça o "fiu-fiu" das histórias em quadrinhos. Ou a cantada criativa de outro jovem para a "moça bonita" que seria "a nora que mamãe pediu a deus". Não é disso que falo. Falo da experiência de quem já teve 15 anos e sentiu vontade de chorar diante da covardia de assédios praticados por homens mais velhos. Assédio: lá fui eu me escorar na nova nomenclatura que diagnostica males antigos. Talvez precisemos, sim, nomear, ou renomear, para criar um distanciamento em relação às tradições sombrias do passado. Daí o termo bullying, que chegou aqui estrangeiro, ainda por cima ganhando as páginas dos jornais logo depois de uma tragédia com cara de importada.

Já ouvi várias pessoas dizerem que tudo isso é frescura. Crianças são más mesmo, e por isso humilham a mais fraca do grupo. Sempre foi, sempre será. Todos aprendem e sobrevivem. E passam sua "sabedoria" adiante. Sobre isso, achei genial a tirinha do cartunista Bruno Drummond, da série Gente Fina, publicada na Revista do Globo. O menino franzino e de óculos comunica ao pai, distraído e brutamontes: "Papai, fui vítima de bullying no colégio." "Vítima de quê?", se irrita ele. O garoto repete o termo estrangeiro e o pai retruca: "Fala que nem homem, quatrolho!"

Não tenho lembranças de ter sofrido bullying (vou usar, já foi nomeado) na escola, mas é provável que eu me fizesse de invisível, como a jovem do conto de Clarice, já que eu também não era "popular". Mas me surpreendo com as lembranças despertadas agora pelo conto ― provavelmente relido, porque faz parte de um livro que adorava na adolescência, Laços de família. Comento com a minha professora Giovanna, que se solidariza. "Não sei como uma mulher pode não ser feminista, se um homem passa por uma menina na rua e diz para ela: queria te chupar todinha".

Sim, as adolescentes passam por esta violência e outras ainda piores, como insinua "Preciosidade". Ninguém fala sobre isso. Talvez existam graduações de assédio aceitáveis, alguém vai argumentar. Certamente as "quatro mãos difíceis" do conto extrapolam este limite. No colégio onde minha filha estuda, um caso foi extraoficialmente chamado de bullying quando uma menina pagou a outra para cuspir numa terceira. Entre meninos, olhos roxos costumam ser parâmetros mais precisos. Acontecem sempre, em todos os colégios.

No filme Amor?, de João Jardim, somos confrontados com histórias de relacionamentos amorosos nas quais é difícil detectar quando a violência foi entendida ― e nomeada ― como violência (e não como "excesso de amor"). O filme partiu de uma série de depoimentos, mas as histórias reais foram recriadas pelo diretor e pelos nove atores com a delicadeza de um conto de Clarice. Entre uma história e outra, a tensão nos é aliviada pela água. No final, com o distanciamento de expectadores que não viveram aquelas vidas, percebemos o quanto a violência pode ser suportada por jogos de poder e sentimentos de culpa. E o quanto ela se reproduz pela familiaridade. Sempre existiu, sempre existirá. Será?


Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 6/5/2011

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Meus melhores livros de 2009 de Rafael Rodrigues
02. Gilberto Gil, revisitado de Fabio Silvestre Cardoso


Mais Marta Barcellos
Mais Acessadas de Marta Barcellos em 2011
01. A internet não é isso tudo - 14/1/2011
02. Entre livros e Moleskines - 11/2/2011
03. Somos todos consumidores - 8/4/2011
04. Em busca da adrenalina perdida - 4/3/2011
05. Cinema de autor - 26/8/2011


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
21/5/2011
11h37min
Realmente a linguagem muda com o tempo. Na minha infancia eu ouvia falar, "aquele menino bolinou", "vai bolinar outro", "vive bolinando", entao o termo e o "ato" bolinar sempre existiu. Porque agora tanto "alarde" por isso. Toda vez que se fala muito de uma coisa ela soh aumenta.
[Leia outros Comentários de Maria Anna Machado]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Ensaios 1
Michel Eyquem de Montaigne
Hucitec
(1987)



The Wonderland Collection
Lewis Carroll
Season
(2020)



A marcha
E. L. Doctorow
Record
(2008)



Livro da Mitologia, o (livro de Bolso)
Thomas Bulfinch, Luciano Alves Meira
Martin Claret
(2006)



Conceitos Jurídicos Interminados e Atos Administrativos
Meire A. Furbino Marques
Arraes
(2017)



A Louca de Maigret
Georges Simenon
L&Pm Pocket
(2009)



X-men, Vol. 10
Hickman
Panini Comics
(2021)



Revista do Archivo Publico Mineiro
Aurelio Pires
Imprensa Oficial
(1927)



Quality Quotes
Hélio Gomes
Mc Graw Hill Trade
(1996)



Uma Mente Inquieta
Kay Redfield Jamison
Martins Fontes
(2012)





busca | avançada
74109 visitas/dia
2,0 milhões/mês