Tapa na cara | Ana Elisa Ribeiro | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 23/3/2012
Tapa na cara
Ana Elisa Ribeiro
+ de 5500 Acessos

Outro dia tinha uma menina batendo na cara de uma professora na TV. Era um vídeo ruim, filmado por um celular, numa sala de aula. Era um flagrante de falta de educação, de arrogância, da formação de uma delinquente. Não sei o que era aquilo. Mas eu não acho que fosse novidade alguma. Lembro de estagiar em uma escola privada da moda, em Belo Horizonte, e de ver um garoto atirar um sapato no professor, quando este virou as costas para sair da sala. Não acertou. Se não acertou, ninguém fez nada. O ato não se consumou, não é mesmo? Mas aí isso era todo dia. E todo estudante deve ter essas vontades um dia. Raiva da prova, raiva da nota, raiva das proibições.

Outro dia, eu estava almoçando e assistindo a um desses programas sensacionalistas regionais (cuja fórmula é copiada em todos os estados). E, de repente, uma menina bateu na professora, dentro da sala de aula. Apuraram lá que foi por causa de um bilhete que a professora confiscou. Mas a aluninha não pode ser contrariada, certamente se acha poderosa demais. Quem é aquela professora chulé (que só deu pra ser professora na vida) para proibir alguma coisa? Então ela vai lá e dá um tapa na docente. E não há reação. A professora não bate de volta. A professora se contém, claro, porque o sangue deve ter fervido.

Já levou um tapa da cara? Ferve tudo, esquenta a ossatura. Dá uma espécie de dormência no rosto inteiro, uma vergonha enorme, uma vontade imensa de reagir. Ninguém gosta de tapa na cara. Levei tapa na cara, sim, mas do meu pai. Naquela época, isso era um negócio assim meio comum. Pais e filhos eram uma espécie de antagonistas naturais. Não era como hoje, que você negocia, conversa e resolve como se a relação fosse simétrica.

Ah, me desculpem aí os empolgados de plantão, mas não é. Essa relação não é simétrica. Pais são pais. Filhos são filhos. E eu não digo que não possam aprender uns com os outros. É claro que podem. No entanto, uns são autoridades, outros, não. Já dizia alguém que li por aí: estamos vivendo o filharcado.

Eu fiquei estarrecida com aquela adolescente doentiamente arrogante batendo na professora. Eu fiquei impressionada com a cena e com a facilidade com que a coisa ocorreu. Fiquei perplexa com isso. Mereceu "mídia" e tudo, pois é. Não sei o que mais merecerá. A garota ficou sob os cuidados do conselho tutelar ou sei lá eu. Mas e a professora? Aos cuidados de quem?

O Estado sai de tudo o que ele pode. Saiu da educação e da saúde há tempos. Saiu da segurança pública. Retirou-se de tudo quanto pode. E vai se retirar mais. Vez ou outra me pego pagando em dobro qualquer coisa: meu oftalmologista ou a escola do meu filho. Bem, mas fico pensando: há coisas que se ensina a uma criança dentro de casa. O respeito aos outros, por exemplo. E o respeito ao professor, então.

Aquela menina me fez sentir uma espécie de ódio generalizado. Como assim? Eu me imaginei me levantando para estapear meu professor, em qualquer série que fosse. Também não acho que a assimetria nessa relação deva abrir espaços para o contrário. Levei reguada na cabeça de professora irritada. Não admiro os tempos da palmatória e da decoreba. Nada disso. Mas não entendo que a vara se tenha curvado para o lado tão oposto.

Como são difíceis estas relações. Se a guria se atreve a bater na professora, fico me perguntando, o que faz com os pais? Os tem? Bate neles? E com os colegas? E se fosse um professor? O que aconteceria naquela sala de aula? O que faz um professor?

Meu colega Edvaldo Couto dizia, no Twitter, que se sente meio irritado com essa história de que as relações na escola, entre alunos e professores, devam se dar na base da amizade, do afeto e discursos semelhantes. Dizia Edvaldo, em menos de 140 caracteres, que a relação docente/discente se funda no conhecimento. Demos o aval eu e outros participantes daquela rede. Mas como chegar a essa conclusão? Como fundar relações no conhecimento se ele está relegado ao segundo ou terceiro ou quarto plano?

Nunca me disseram direito em que consiste a profissão de professora. Fiz lá aquelas disciplinas na Faculdade de Educação, inclusive Didática e Práticas de Ensino. Nunca me descreveram direitinho o que eu deveria fazer. Pus os pés na escola de verdade, um dia, e levei o mesmo susto que sei que muitos de meus colegas levaram. Essa é uma fase crítica, em que muita gente se decide por mudar de profissão. Sim, era um choque chegar à escola real, em funcionamento. Talvez tenha sido assim em qualquer época, mas sabe-se que as coisas mudaram, e mesmo para melhor, em muitos aspectos. Mas as coisas também pioraram, em outros.

O poder da juventude, o acesso à informação e às tecnologias, a agilidade, uma espécie de inteligência coletiva, o culto ao jovem como se ele fosse a referência para tudo... inclusive o culto estético. Tudo isso me dá uma imensa preguiça. A arrogância que isso causa não tem precedentes. Estapear uma professora é um fenômeno contemporâneo. Bom, vamos lembrar: alunos sempre ameaçaram professores. Muito antes do computador, lembro-me dos carros arranhados no pátio e dos alunos que falavam em esvaziar pneus. Sim, o professor sempre foi alvo de amor e ódio. O professor não foi sempre a figura amada, mas também não aquela mais digna de piedade. O professor já foi respeitado e já, inclusive, teve salário digno, mesmo trabalhando em escolas públicas.

Mas esse tempo do prestígio foi apagado. Completamente, penso. A representação que se faz do docente hoje é outra, bem outra. Lastima-se abertamente o calouro aprovado em curso de licenciatura no vestibular. Lamenta-se a carreira ingrata daquele que lecionará, ao menos na escola básica. A "elite" do professorado, se der conta, alcançará o ensino superior, onde as condições parecem, friso que apenas se parecem, um tantinho melhores.

A garota bateu na professora. Eu senti aqueles dedos impertinentes na minha cara. Mas a maioria das pessoas não se preocupará com isso. Talvez por um segundo, ali, enquanto almoçam pensando nas cenas do Big Brother. É assim. Peso quase algum para as questões do professor.

Um professor deveria, em primeiro lugar, estudar. Deveria ser um estudioso de seu tema. Um leitor voraz de sua bibliografia (que não para de crescer). Um escritor contumaz de seus textos específicos. Um professor deveria preparar suas aulas, pensar no que dizer, saber como organizar o conhecimento e a informação. Um professor deveria dar suas aulas, ler e avaliar os trabalhos dos estudantes, orientar pessoas. Um professor deveria fazer tudo isso em doses cabíveis. E, ao final do mês, deveria receber por seu trabalho essencial um salário que comprasse suas boas férias, sua viagem de lazer, os uniformes de seus filhos e as despesas de sua residência digna.

Mas isso está muito além dos sonhos. Isso é piada diante do que realmente ocorre à maioria dos colegas. Além de não comprar livros e de não ter tempo de preparar suas aulas, o professor precisa ainda lidar com um calendário de esforços infinitos. Aqueles que pretendem produzir e se preparar para os cursos que darão gastam suas férias e seu lazer cumprindo o que não consta de seus horários de trabalho. E lastimam a indecência de suas contas bancárias e talvez se arrependam de suas escolhas no vestibular. Bem, aquelas pessoas jocosas tornam-se profetas.

As meninas que batem em professoras, assim como os meninos, proliferam por aí e pensam ter razão. Aliás, elas têm certeza de sua razão. Elas serão qualquer coisa, menos professoras. Isso é coisa de quem não teve boas oportunidades na vida, não é mesmo?


Ana Elisa Ribeiro
Belo Horizonte, 23/3/2012

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