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Sexta-feira, 6/2/2015
Quem é o abutre
Marta Barcellos
+ de 3900 Acessos

Durante muito tempo, em conversas onde eu não era conhecida como jornalista, lancei mão de uma espécie de piada particular: quando o assunto descambava para reclamar da "imprensa sensacionalista", eu rapidamente engrossava o coro: "Jornalista? Ô, raça. Mataram a Lady Diana." Alguém sempre achava que aí eu estava exagerando.

Não que eu defenda a tal imprensa carniceira. Longe disso. Na verdade, sempre acreditei que o papel do jornalista profissional deve ser exercido com responsabilidade, e pensando na sociedade, não na audiência fácil. No entanto, me irritava com a hipocrisia de não se reconhecer o interesse que existe pelo sensacionalismo (muitas vezes, naquela própria roda), como se ele fosse apenas fabricado por jornalistas inescrupulosos.

Dezoito anos depois da morte da Lady Di, o assunto continua em pauta, e voltou a ser explorado em dois filmes que disputam prêmios do Oscar de 2015, cerimônia que será transmitida no próximo 22 de fevereiro. Tanto em O abutre, de Dan Gilroy, como em Garota exemplar, de David Fincher, as tramas violentas só se desenvolvem graças à existência de câmeras e jornalistas ávidos por transformar notícias em entretenimento popular.

Os filmes não ignoram que já se foi o tempo em que se podia culpar apenas a imprensa formal pela baixa qualidade do noticiário ou da audiência - o tempo antes da internet e dos gadgets, quando não seria possível a qualquer um, como hoje, viralizar qualquer baixaria captada por um celular. Em Garota exemplar, por exemplo, não falta a perua sem noção que quer tirar selfie sorridente tendo como pano de fundo a tragédia. Em O abutre, qualquer um consegue vender sua filmagem chocante para a emissora de TV decadente. Ou seja, a massa de mídias, ao invés da mídia de massas, não aumentou o senso de responsabilidade nesta intermediação - muito pelo contrário.

Mesmo assim, nos dois filmes, a tradicional imagem de jornalistas "abutres" e sem escrúpulos, invasivos e munidos de câmeras implacáveis, é explorada à exaustão. Porém, o desenrolar das histórias acaba revelando uma complexidade maior por trás do fenômeno, no qual ninguém parece ser inocente.

A primeira dica de que sequer se trata de fenômeno novo está em um improvável casal de vilões escondido por trás da intrincada trama de suspense de Garota exemplar. São os pais de Emy - de semblante imperturbável e marketing afiado - quem há décadas exploram a imagem da filha (Rosamund Pike, candidata a melhor atriz). Desde antes da TV ou da internet sensacionalista, eles já escreviam livros infantis sobre a personagem "Emy exemplar", garotinha loira, talentosa e perfeita que substituía com ganhos a filha real - que logo aprendeu a ser feliz apenas parecendo feliz. Isso tudo antes dos selfies, dos reality shows ou do Facebook. Nada mais natural, portanto, que ela tentasse aplicar a fórmula ao seu casamento: "Fomos felizes fingindo ser outras pessoas: o casal mais feliz que conhecíamos", diz Amy, sobre a relação com o marido vivido por Ben Affleck.

Do outro lado, como fãs atentos ao desempenho da Emy perfeita, sempre estiveram os ávidos leitores, que compravam livros e enriqueciam sua família, gratos por lhes proporcionar tal "entretenimento do real". Com o desenrolar da trama, porém, este mesmo público inocente mostrará seu viés carniceiro, e dará audiência às especulações sensacionalistas em torno do desaparecimento da personagem - personagem que é percebida como "do público" e por isso acaba radicalmente retribuindo a essa expectativa.

A reflexão sobre quem de fato é o abutre - o jornalista, o público ou o mesmo o personagem que vibra com sua imagem transformada em carniça frente às câmeras - continua no filme estrelado por Jake Gyllenhaal, injustamente não indicado na categoria de melhor ator.

Assim como Emy encarna de forma radical a "personagem-espetáculo", o Louis Bloom de O abutre assume o papel extremo de "mestre-do-espetáculo", com a desconcertante cumplicidade de toda a sociedade a sua volta. E com o endosso de um discurso econômico, tecnológico e corporativo, que tudo justifica.

Como um impessoal empreendedor, Bloom sequer aparenta ser o abutre do título, tamanha sua frieza diante da dor alheia. Afinal, a carniça não é para consumo próprio: será servida aos outros.



Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 6/2/2015

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