Estevão Azevedo e os homens em seus limites | Guilherme Carvalhal | Digestivo Cultural

busca | avançada
76843 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Teatro do Incêndio mergulha no mito para ritualizar a dor em nova montagem
>>> SESI São José dos Campos apresenta exposição de Dani Sandrini com temática indígena
>>> Livro 'Autismo: Novo Guia' promete transformar a visão sobre o TEA
>>> Dose Dupla: Malize e Dora Sanches nos 90 anos do Teatro Rival Petrobras nesta quinta (3/10)
>>> Com disco de poesia, Mel Duarte realiza espetáculo na Vila Itororó neste sábado
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
Colunistas
Últimos Posts
>>> MBL sobre Pablo Marçal
>>> Stuhlberger no NomadCast
>>> Marcos Lisboa no Market Makers (2024)
>>> Sergey Brin, do Google, sobre A.I.
>>> Waack sobre a cadeirada
>>> Sultans of Swing por Luiz Caldas
>>> Musk, Moraes e Marçal
>>> Bernstein tocando (e regendo) o 17º de Mozart
>>> Andrej Karpathy no No Priors
>>> Economia da Atenção por João Cezar de Castro Rocha
Últimos Posts
>>> O jardim da maldade
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
>>> A ESTAGIÁRIA
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Pierre Seghers: uma exposição
>>> O Cabotino reloaded
>>> Papel, tinta, bluetooth e wireless
>>> Monticelli e a pintura Provençal no Oitocentos
>>> Nelson ao vivo, como num palco
>>> O novo frisson da Copa
>>> Vale ouvir
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Editor, corrija por favor!
>>> O grande livro do jornalismo
Mais Recentes
>>> Martini Seco - Rosa dos Ventos de Fernando Sabino pela Ática (1996)
>>> A Nova Califórnia e Outros Contos de Lima Barreto pela Unesp (2012)
>>> Textos e Redaçãocom Word 2007 de Diversos pela S/a (2008)
>>> E o Dente Ainda Doía de Ana Terra pela Dcl (2012)
>>> Os Guerreiros do Tempo de Giselda Laporta Nicolelis pela Moderna (1994)
>>> Robin Hood - Coleção Elefante de Howard Pyle pela De Ouro
>>> A Páscoa e Seus Símbolos de Neri Pereira da Silva pela Paulinas (1982)
>>> Extraterrestres Eles Estão Aqui de Luiz Galdino pela Ftd (1997)
>>> Seeds Of Love de Eduardo Amos pela Richmond Publishing (2004)
>>> Clique e Descomplique - Excel 2 / 2007 de N/d pela Gold (2009)
>>> Na Curva das Emoções de Jorge Miguel Marinho pela Biruta (2005)
>>> Finais Mundi de Laura Gallego García pela Sm (2004)
>>> Economia de Empresas Aplicações Estrategia e Táticas de James Mcguigan ;charles Moyer pela Thomson (2007)
>>> Andreia: Flor que Desabrochou no Lodo de Hugo Penteado Teixeira pela Do Autor (1972)
>>> Cromoterapia-dicas e Orient de Como as Cores Podem Mudar Sua Vida de Elaine Marini pela Nova Era (2002)
>>> O Destino de Perseu - Aventuras Mitológicas de Luiz Galdino pela Ftd (1990)
>>> Tiradentes e a Inconfidência Mineira de Carlos Guilherme Mota pela Ática (2005)
>>> O Jovem Lê e Faz Teatro de Gabriela Rabelo pela Mercuryo Jovem (2007)
>>> Clique & Descomplique - Diversão e Entretenimento de Vários Autores pela Gold (2008)
>>> O Analista de Bagé de Luis Fernando Verissimo pela Circulo do Livro
>>> Divórcio Nao e o Fim do Mundo de Evan Stern; Zoe Stern pela Melhoramentos (1997)
>>> How i Met Myself - Level 3 de David a Hill pela Cambridge University Press (2001)
>>> Fundamentals Of Financial Accounting de Flenn A. Welsch And Robert N. Anthony pela Richard Irwin. Illinois (1981)
>>> O Menino e a Caboré de Francisco Mibielli pela Sophos (2005)
>>> Brincando com os Números de Massin e Outros pela Cia das Letrinhas (1995)
COLUNAS

Quinta-feira, 10/8/2017
Estevão Azevedo e os homens em seus limites
Guilherme Carvalhal
+ de 3000 Acessos



Pensar a literatura brasileira sempre foi perceber uma produção que se associou aos panoramas da sociedade de sua época. O ímpeto pela construção de um sentimento nacionalista levou a obras ufanistas como O Guarani e Iracema. O prenúncio de uma cidade complexa e repleta de conflitos como o Rio de Janeiro ficou estampado em O Cortiço. O modernismo e sua antropofagia igualmente mostravam uma busca por um modelo artístico nacional, condizente com as características do país, em consonância com os questionamentos artísticas que surgiam pela Europa.

Um movimento literário de grande força e que marcou a literatura nacional foi o chamado regionalismo. Marcado através de nomes como José Lins do Rêgo, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Autran Dourado, e cujas influências se estenderam até autores mais atuais como João Ubaldo Ribeiro, esse movimento primou por mostrar o Brasil pelo seu viés rural, aspecto majoritário dessa época, muitas vezes se referindo a problemas de caráter social do país.

O processo de urbanização do país provocou mudanças na literatura. À medida em que a população das cidades crescia e a realidade nacional migrava da fazenda para os prédios, o foco da literatura também mudou. Tanto que nos tempos atuais, majoritariamente a nossa literatura não é apenas urbana, como também globalizada, com muitas obras apontando personagens que moram no exterior ou até mesmo se passando em outros países (como no caso da série Amores Expressos).

Assim sendo, Tempo de Espalhar Pedras, de Estevão Azevedo, é uma grata surpresa ao resgatar esse estilo que, apesar de representar uma importantíssima parte da nossa literatura, perdeu bastante espaço nos últimos tempos. E some a isso duas outras qualidades. Uma delas é o estilo de prosa do autor, brilhantemente desenvolvida. A outra, por retratar um ambiente bastante presente na nossa história e não retratada pela literatura: o garimpo.

A história se passa em uma vila cuja única sustentação econômica é o garimpo de diamantes. No período abordado, as pedras escassearam e a falta de perspectivas começa a afetar as pessoas. As relações jurídicas carecem de instituições formais e as pendengas são resolvidos pelo coronel, que possui direito de juiz e de vida ou morte sobre as pessoas. O coronel também detém o comércio local, tornando todos os garimpeiros seus dependentes, além de proibir através da força que vendam diamantes a outros compradores que não ele.

É nesse ambiente que um núcleo variado de personagens interage entre si. Homens desesperados atrás de pedras, esposas, filhas e outras mulheres que vivem em torno deles, um modelo de justiça inteiramente baseado no princípio da honra pessoal e toda forma de relação que advém desse tipo de sociedade. O fim de sua sustentação econômico torna essa rede de relações cada vez mais tensa, incitando a desconfiança e a violência.

O marco maior que guia sua narrativa são as restrições que envolvem todos os personagens. Faltam possibilidades de ganho financeiro, e isso leva a contendas violentas, desconfianças e inimizades. Falta o poder público, e isso cria um relativismo de regras que termina sempre na palavra do coronel.

Nesse meio de tantas restrições que Rodrigo tenta provar seu valor para o pai e em que o rezador Silvério conquista corações desafortunados com suas pregações. É o ser humano posto em uma situação um tanto quanto limítrofe, onde há cada vez menos alternativas e o desespero toma conta de todos.

A prosa de Estevão Azevedo remete à oralidade interiorana. Ele reconstrói, com qualidade poética, os modos de falar regionalistas, e nesse aspecto remete bastante a autores do modernismo, como Autran Dourado. Se vemos em muitos prosistas contemporâneos a busca pelo linguajar de periferia e outros modelos de dialetos urbanos, aqui encontramos a valorização de outra expressão calcada na fala, uma que tem se tornado mesmo expressiva nos tempos modernos.

O resgate realizado por Estevão proporcionou uma bela pérola literária para os tempos atuais. Em termos do que o brasileiro lê e do que temos em produção literária, ele foge da onda de autoficções e de literaturas urbanizadas que muitas vezes dão as costas para o Brasil e tentam ser mais estadunidenses e europeias do que brasileiras (sem contar o sonho da tradução). Ele resgata um pedaço precioso de nossa literatura e o faz com um livro rico e bem atual em seus dilemas, colocando o ser humano em seus limites.


Guilherme Carvalhal
Itaperuna, 10/8/2017

Mais Guilherme Carvalhal
Mais Acessadas de Guilherme Carvalhal em 2017
01. Sabemos pensar o diferente? - 21/9/2017
02. Aquarius, quebrando as expectativas - 6/4/2017
03. A pós-modernidade de Michel Maffesoli - 8/6/2017
04. Mais espetáculo que arte - 16/3/2017
05. Literatura, quatro de julho e pertencimento - 20/7/2017


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Infanto Juvenis Uma Rua Como Aquela
Lucia Junqueira de Almeida Prado
Record
(1975)



Un Mortel Air de Famille
Ross Macdonald
Jai Lu
(1964)



Livro Literatura Brasileira O Aleph
Paulo Coelho
Sextante
(2010)



Rioja negro - pratique seu espanhol de forma divertida...
Andrew Ridley; Alison Romer
Escala
(2009)



Felicidade Ou Morte
Clóvis de Barros Filho ; Leandro Karnal
Papirus 7 Mares
(2016)



Introdução a sociologia
Reinaldo Dias
Pearson
(2006)



Helinho e a Cegonha
Bandeira Pedro
Seed



Livro Psicologia Névrose, psychose et perversion
Sigmund Freud
Presses
(1973)



Fundamentos da Responsabilidade Civil Estatal
Márcio Xavier Coelho
Oab
(2005)



Livro Literatura Estrangeira Penguin Classics The Epic Of Gilgamesh A New Translation
Penguin Classic
Penguin Classics
(2000)





busca | avançada
76843 visitas/dia
1,7 milhão/mês