As fezes da esperança | Luís Fernando Amâncio | Digestivo Cultural

busca | avançada
133 mil/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> DR-Discutindo a Relação, fica em cartaz até o dia 28 no Teatro Vanucci, na Gávea
>>> Ginga Tropical ganha sede no Rio de Janeiro
>>> Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania abre processo seletivo
>>> Cultura Circular: fundo do British Council investe em festivais sustentáveis e colaboração cultural
>>> Construtores com Coletivo Vertigem
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Eu, o insular Napumoceno
>>> Ah, essa falsa cultura...
>>> Teoria dos jogos perdidos
>>> United States of Brazil
>>> The Search, John Battelle e a história do Google
>>> Europeus salvaram o cinema em 2006
>>> 10 sugestões de leitura para as férias
>>> Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
>>> O que mata o prazer de ler?
>>> Um poema de Yu Xuanji
Mais Recentes
>>> O Processo de Franz Kafka pela Principis
>>> Jogos De Poder. Métodos Simpáticos Para Influenciar Pessoas de Henrik Fexeus pela Vozes (2018)
>>> A idade média de Maria Rius pela Scipione (1990)
>>> A idade média de Maria Rius pela Scipione (1990)
>>> A idade contemporânea de Carme peris pela Scipione (1990)
>>> Quimica Caderno De revisão Enem Ed. 2019 de Obra Coletiva Da Editora Do Livro pela Moderna (2020)
>>> Moderna Plus Gramática Texto Aprova enem de Maria Luiza M. Abaurre pela Moderna (2018)
>>> Ciencias da Natureza 8 ano de Armenio Uzunian pela Harbra (2020)
>>> Araribá Plus Português - 6º Ano de Mônica Franco Jacinto pela Moderna (2018)
>>> Biologia - Volume Único Conforme Nova Ortografia de Cézar Sezar pela Saraiva (2011)
>>> Conecte Live - Português - Volume Único - caderno de revisão de William cereja pela Saraiva Didáticos (2022)
>>> Conecte Live - Química - Volume Único - Parte 1 de Quino pela Saraiva Didáticos (2022)
>>> Conecte Live - Física Caderno de atividades de Ricardo Helou pela Saraiva Didáticos (2022)
>>> Geração Alpha Portugues 6 Ed 2019 - LIVRO DO MESTRE de Cibele Lopresti Costagreta Marchetti. pela Sm (2019)
>>> Moderna Plus Física 2 - Parte 3 de Francisco Ramalho Júnior pela Moderna
>>> Minhas Queridas Fábulas de Ciranda Cultural pela Ciranda Cultural (2017)
>>> Moderna Plus Física 2 - Parte 2 de Francisco Ramalho Júnior pela Moderna
>>> Jane, A Raposa E Eu de Isabelle Arsenault pela Wmf Martins Fontes (2016)
>>> Panoramas Ciências - 6º Ano de Leandro Godoy pela Ftd - Didáticos (2019)
>>> Contraseña Libro Del Alumno - Volume 2 de Marilia Vasques Callegari pela Moderna (2015)
>>> Literatura Brasileira - Tempos , Leitores E Leituras de Maria Luíza M. Abaurre pela Moderna (2005)
>>> Box Conecte Matemática - Volume 3 de Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce, David Degenszajn, Roberto Perigo, Nilze De Almeida pela Saraiva Didáticos (2018)
>>> A Sutil Arte De Ligar O Foda-se de Mark Manson pela Intrínseca (2024)
>>> Sociologia Em Movimento - Parte I - Volume Único de Moderna pela Moderna (2017)
>>> Gabriel. Esperança Além da Vida de Nilton Cesar Stuqui pela InteLitera (2011)
COLUNAS

Sexta-feira, 1/7/2022
As fezes da esperança
Luís Fernando Amâncio
+ de 8100 Acessos

Em uma mesma manhã, presenciei duas cenas que me levaram da desesperança à fé em um futuro melhor.

A primeira aconteceu em um supermercado. Eu saía com minhas compras – três itens e três dígitos de desfalque no cartão de crédito, como habitual. E, no sentido contrário, um homem discutia com o segurança.

– Então chama o gerente. É um absurdo me barrarem por não usar máscara! Isso não tem embasamento sanitário ou jurídico. Vocês vão cobrar também a cartela de vacinação?

O nervosinho mentia. Há embasamentos científicos e jurídicos para a abordagem. Em Belo Horizonte, o uso de máscaras em lugares fechados voltou a ser obrigatório desde o dia 14 de junho, através de decreto municipal. Mas, como não tenho paciência para defensores do direito de “expor os outros às gotículas de saliva”, segui o meu caminho. Triste, confesso. Qual a dificuldade em usar uma máscara no rosto?

Metros adiante, presenciei a segunda cena. A da esperança. Ela começa com fezes abandonadas em frente a um prédio em que funcionam duas agências bancárias. Não posso afirmar se eram excrementos humanos. Pela proporção, entretanto, me atrevo a dizer que a matéria não seria proveniente de um cachorro pequeno.


Curiosamente, as duas agências bancárias são especiais. Não integram a categoria daquelas em que você enfrenta fila para se decepcionar com seu extrato nos caixas eletrônicos, ou retira a senha para, uma hora depois, ser assediado com a oferta de títulos de capitalização.

São agências prime. Ou personnalité. Afinal, o requinte só é legítimo quando escrito em língua estrangeira. São filiais exclusivas para os clientes VIPs tomarem um cafezinho enquanto discutem com seus gerentes a sigla da vez para investir. E nenhuma delas é título de capitalização. Isso em um ambiente projetado com muita madeira e plantas artificiais que, diferente das que encontramos nas outras agências, parecem-se muito com as naturais.

Enfim. Voltemos para as fezes. No curto período em que observei a cena – pode não parecer, mas tenho ocupações – vi senhores e senhoras, trajando a elegância que o inverno permite, desviando das fezes com desagravo. Torcendo o nariz para demonstrar repugnância.

E isso me deu esperanças.

É sério. Eu pensava que as pessoas andam anestesiadas demais para sentir asco. Que haviam normalizado, para usar uma palavra da moda, a desgraça. Não se importavam mais com o mau cheiro do que encontravam por aí.

Um exemplo fácil é a gasolina. Anos atrás, um aumento de alguns centavos era o suficiente para se instaurar um clima de guerra civil. Repórteres, direto de postos de gasolina, davam o microfone à voz das ruas, que salivava contra o governo. Hoje, com aumentos bem mais robustos, nada acontece. Ou melhor, pouco. A cada anúncio de aumento, nossos bravos motoristas só lançam mão de uma estratégia: abastecer o máximo possível suas máquinas antes do próximo aumento.

Foi um exemplo banal. As notícias ruins são tantas e as reações, tão tímidas, que eu jurava que o espírito nacional estava morto. Ou, ao menos, adormecido. Os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips são ultrajantes. Um horror. Que se soma a um longo histórico de execuções de ativistas que deveria envergonhar até os bebês que nascem no Brasil. Porém, parece que se revoltar com esse tipo de crime é “ser de esquerda”. Vide a dificuldade do presidente em ao menos manifestar sincero pesar com a brutalidade.

E já que o tema é governo, horror ali é o que não falta. O mais recente escândalo, o dos pastores ditando o destino das verbas no Ministério da Educação, é um retrato da pilhagem em que nos encontramos. Estamos no quarto ano da presidência de Bolsonaro e talvez o MEC seja a pasta que mais concentrou lunáticos no seu comando. Um feito, já que a concorrência é grande. Entre olavistas e pastores, a educação ficou relegada a interesses políticos. O escândalo que rendeu a prisão de Milton Ribeiro é só a ponta de um iceberg de desmontes que atingem também outros ministérios.

Os exemplos poderiam se alongar, mas já extrapolei meu espaço. O importante é que, apesar de tudo demonstrar que o brasileiro atualmente aceitaria as piores desgraças com a mais pavorosa inércia, há um sinal vital. As pessoas ainda se repugnam com fezes. Torcem o nariz. Desviam do caminho.

Logo, há chances do gigante acordar. Afinal, merd* é o que não falta por aí.

Nota do Editor
Leia também "Pelo Fim da Palavra VIP".


Luís Fernando Amâncio
Belo Horizonte, 1/7/2022

Mais Luís Fernando Amâncio
Mais Acessadas de Luís Fernando Amâncio em 2022
01. As fezes da esperança - 1/7/2022
02. Epitáfio do que não partiu - 8/4/2022
03. Mamãe falhei - 11/3/2022
04. A pior crônica do mundo - 23/9/2022
05. Uma alucinação chamada dezembro - 11/2/2022


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Literatura Estrangeira A Intimação
John Grisham
Rocco
(2002)



Aprendi Com Minha Mãe
Cristina Ramalho
Versar
(2006)



Conecte Gramática
William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães
saraiva
(2011)



National Geographic Brasil - Os Outros Humanos
Vários Colaboradores
Abril
(2008)



Livro Ar Com Fuzis Canção de Ninar com Fuzis
Pádua Fernandes
Não Encontrada
(2019)



Amanhã Seremos Mais Bonitos
Ursula Nuber
Cultrix
(2004)



Como conquistar as pessoas
Barbara Pease
Sextante
(2006)



Responsabilidade Civil do Juiz
Moacir dos Santos Costa
Lumen Juris
(2018)



Livro Didático Literatura Brasileira
William Roberto Cereja; Thereza Cochar Magalhaes
Atual
(1995)



Viagem Pela História Do Brasil
Jorge Caldeira
Companhia Das Letras
(1997)





busca | avançada
133 mil/dia
2,0 milhão/mês