Juventude alquebrada | Bruno Garschagen | Digestivo Cultural

busca | avançada
51116 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Curso - audiodescrição para redes sociais
>>> Afeto, arte e transformação social: Luna Maggalhães lança livro “Vai Pintar” em Jacarepaguá
>>> Série Vozes de Marias, do Festival das Marias, traz depoimentos sobre criação feminina
>>> Evento: Escritora e artista paulistana Kênia Marangão lança obra no FLIM no dia 17, sábado
>>> CCBB RIO ÚLTIMOS DIAS DA MOSTRA INDÍGENA
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
Colunistas
Últimos Posts
>>> Drauzio em busca do tempo perdido
>>> David Soria Parra, co-criador do MCP
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Dentro do contexto
>>> A contradição de João Gilberto
>>> Distribua você também em 2008
>>> Olga e a história que não deve ser esquecida
>>> Bar ruim é lindo, bicho
>>> Os filmes de Frederico Füllgraf
>>> A conversa
>>> Nomen est omen
>>> Um novo olhar sobre o cotidiano
>>> O Valor da Ideia
Mais Recentes
>>> Trois Upanishads (isha, Kena, Mundaka) (collections Spiritualites) (french Edition) de Aurobindo Shri pela Albin Michel (1949)
>>> Gilles Deleuze de Catherine Clément pela Éditions Inculte (2005)
>>> Como Escrever Com Facilidade de Various pela Nobel (1992)
>>> La place de l'étoile de Patrick Modiano pela French And European Publications Inc (1968)
>>> Como Escrever Na Rede de Leonardo Moura pela Record (2002)
>>> O Poder da Aura de Mark L Prophet e Elizabeth Clare Prophet pela Summit Lighthouse do Brasil (2001)
>>> Alices Adventures in Wonderland & Through the Looking Glass de Lewis Carrol pela Collier Books (1975)
>>> Chroniques de jazz de Boris Vian; Lucien Malson pela Edit 1018 (1967)
>>> Favela High-tech de Marco Lacerda pela Scritta Editorial (1994)
>>> 20th Century Boys: Edição Definitiva, Vol. 1 de Naoki Urasawa pela Panini (2025)
>>> Antropologia Do Brasil de Manuela Carneiro Da Cunha pela Brasiliense (1986)
>>> Pocket Guide e Map Rome de Reid Bramblett pela Dorling Kinders (2008)
>>> A Normalista de Adolfo Caminha pela Escala (2009)
>>> Coming Back To Life: The After-effects Of The Near-death Experience de P.M.H. Atwater pela Ballantine Books (1989)
>>> Amor Corrompido - Twisted Love de Ana Huang pela Essência (2023)
>>> Electra Alceste Hipólito de Eurípedes pela Ediçoes de Ouro (1963)
>>> Linguagem Do Corpo: Aprenda A Ouvi-lo Para Uma Vida Saudável de Cristina Cairo pela Mercuryo (1999)
>>> O Cerco de Jerusalém. Cruzada e Conquista em 1099 de Conor Kostick pela Biblioteca do Exército (2020)
>>> Amon: Meu Avo Teria Me Executado de Jennifer Teege pela Ediouro (2014)
>>> Somos Cidadãos Reflexivos: filósofos por natureza de Silvio Wonsovicz pela Sofhos (2011)
>>> O Medico E O Monstro Robert Louis Stevenson de Robert Louis Stevenson pela Melhoramentos (2007)
>>> O Controle de Constitucionalidade no Direito Brasileiro de Luis Roberto Barroso pela Saraiva (2016)
>>> Hipercrescimento: Venda 10 Vezes Mais Com O Modelo Salesforce de Aaron Ross; Jason Lemkin pela Hsm (2016)
>>> O Máscara De Ferro de Carlos Heitor pela Pnbe (2002)
>>> Madame Bovary - Coleção Clássicos de Ouro de Gustave Flaubert pela Edições de Ouro (1980)
COLUNAS

Terça-feira, 16/4/2002
Juventude alquebrada
Bruno Garschagen
+ de 2700 Acessos

Dia desses fui surpreendido por um colega de jornal com um questionário (que não é o do Proust). O cabra precisava de respostas para compor um trabalho da escola. Cursa o segundo ano do ensino médio. Reticente, fiz a ele mais perguntas do que ele havia me pedido para responder. Não é por nada não. É precaução simples e pura que a faculdade de direito nos cobra e vicia. Depois de devidamente respondido, respondi, de pronto, com a seriedade que Zeus me deu:

Na sua visão, como você, sinteticamente, faria uma análise do jovem de ontem?
Além de um dia mais velho, o mesmo pulha de hoje, com a vantagem de que no passado as drogas tinham mais graça, a inexistência de variados meios de comunicação obrigava-os a, pelo menos, ler o jornal, e não havia a desculpa de que a camisinha tinha furado.

E o jovem de hoje?
De certa forma, pior do que o de ontem, apesar de considerar o jovem, no geral, um pulha em qualquer época. O que fascina no jovem é, justamente, a juventude e a curiosidade em querer saber as coisas pelo simples desconhecimento. Quando adulto, vemos claramente que certas coisas são para não serem descobertas. A fascinação pela juventude é algo efêmero, claro, até porque o elixir da longa vida ainda está para ser descoberto e o último que tentou ficar jovem para sempre envelheceu no quadro (leiam "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde). Então, a juventude é algo que se esvai no tempo (perdoem-me o óbvio, mas, por vezes, é necessário esteticamente). É impossível conservar o vigor físico com o passar dos anos e as drogas que invariavelmente consumimos. A curiosidade e ingenuidade, geralmente, são características admiradas pelos adultos porque, não raro, perdem-nas em busca de uma pretensa responsabilidade chata. Então, o normal é crescer e virar um chato de galocha. Por isso, o alto consumo de álcool (droga com muita graça) e outras drogas menos sofisticadas (e, por isso, sem graça) entre a população adulta. Chega-se a um incômodo tal que se torna impossível suportar-se a si mesmo e a quem está em volta.

O que essas gerações têm em comum?
A vontade quase uníssona em conquistar a garota mais bonita da turma; perder a virgindade antes dos colegas (no caso dos homens); ficar com um garoto mais velho e de outra escola (caso das mulheres); parecer adulto; falar gírias; ser imortal e jovem, sempre.

Quais foram os conflitos do jovem de ontem?
Para determinar uma época, fiquemos na juventude dos anos 50 e suas perturbações quase existenciais:
1) Quando terei dinheiro para comprar uma Levi's?
2) Será que minha namorada será igual a Marilyn Monroe?
3) Será que meu topete será igual ao do James Dean?
4) Será que trago ou sopro a fumaça do cigarro?

E quais os conflitos do jovem de hoje?
1) Será que troco o cano de descarga da minha Biz?
2) Será que tiro o retrovisor da minha Biz?
3) Será que o pessoal da escola vai gostar da minha Biz?
4) Será que, finalmente, aquela gata lá da sala vai querer dar uma voltinha na minha Biz?

Qual é a parcela de culpa da sociedade que "vê o jovem como problema" e não abre caminho para ele ser do jeito que sonhou?
Apesar de não ter entendido bem a pergunta, vou elaborar uma resposta no mesmo nível, o que corresponde a falta de. A culpa, se que é que existe, é pela necessidade de renovar a tropa de burros de cargas para o mercado de trabalho; inveja por ter crescido; esperança que ao atribuir responsabilidades ao jovem ele deixe de ser o chato que é; falta do que fazer.

Ascensão e queda de uma província capixaba

É difícil alguém da minha geração (1975) imaginar Cachoeiro de Itapemirim como a principal cidade do Espírito Santo. Nesta terra desolada culturalmente, com essa elite refrigereco e arquitetura feita a reboco, soa a gozação ouvir alguém dizer que o município manteve durante décadas o poder político, um reconhecimento intelectual e uma força econômica invejável nestes tempos em que o esvaziamento da economia é assunto recorrente quando daqui se fala. Mas a Cachoeiro do final dos anos 20, tinha comércio forte, serviços, agricultura em pleno desenvolvimento, pecuária, companhia de construção civil, cinemas e um banco fundado por cachoeirenses. E uma cena cultural tão viva que parecia levada à base de energéticos. É o que mostra o livro "Memórias de Cachoeiro de Itapemirim - Encontros com que viveu o século 20", do jornalista colaborador do caderno Prosa e Verso, de O Globo, escritor e biógrafo de Rubem Braga, Marco Antonio de Carvalho, que negocia com editoras cariocas o lançamento de sua obra para este ano.

Nas 25 entrevistas com personalidades que viveram as histórias do início do século passado, feitas entre 1994 e 1999 para a biografia de Rubem, Marco, um entrevistador refinado, conseguiu extrair confissões (como a de que Rubem namorou Tonia Carrero), desabafos (Nelson Sylvan: "sou o último integralista de Cachoeiro"), histórias curiosas (Roberto Carlos era levado pela mãe para Rádio Cachoeiro, onde iniciou sua carreira), engraçadas (Maninho Leal, soldado que foi à guerra na Itália, conta que os brasileiros gritavam que vinha tiro só para ver o general Dutra se jogar na lama), trágicas (a morte de duas pessoas no tiroteio entre comunistas e integralistas na estação ferroviária) e melancólicas (Hélio Atahayde: "quando volto a Cachoeiro, não encontro um conhecido nas ruas. Estão todos no cemitério ou em cadeira de balanço").

A que mais me comoveu nem trata da cidade. Foi com a irmã do Rubem, Yeda Braga, onde ela conta sua convivência com a intelligentsia do Rio de Janeiro, e o encontro com Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade entre outros.

Da música à política no início do século passado; do ambiente cultural no Rio e sua influência em Cachoeiro de Itapemirim; da convivência nada amistosa entre integralistas e comunistas; da personalidade de Rubem e Newton Braga; das bandas de música da cidade; dos bailes no Caçadores Carnavalescos Clube que ouriçavam a elite; os entrevistados falam de tudo, inclusive do porquê da importância da cidade no início do século 20. "Cachoeiro teve uma superioridade cultural no estado desde o final do século XIX. (...) Toda a região de Cachoeiro teve estrada de ferro, energia elétrica, telefone, antes da capital do estado. E Cachoeiro se ligou mais ao Rio que a Vitória. Vitória só se tornou uma cidade importante a partir dos anos 60", disse o cronista e romancista Ormando Moraes, um dos entrevistados.

Só ficou faltando no livro informações de alguns personagens citados, essenciais a quem não conhece esse período da história de Cachoeiro (como algumas datas e pequenas biografias de alguns políticos) e o corte de algumas perguntas que soaram repetitivas ao longo do trabalho. Mesmo assim dá gosto ler as indagações que obrigam o entrevistado a conceder respostas inteligentes (o que é raro no jornalismo daqui).

Trata-se de uma obra de leitura rápida, pela disposição em perguntas e repostas, mas fundamental àqueles que desejam saber como uma pequena cidade ao Sul do Espírito Santo conseguiu ascender e ruir de forma tão grave. Ou para o lamento inócuo ou para perceber que é possível um desenvolvimento econômico e intelectual íntegro numa terra aparentemente estéril. Cachoeiro de Itapemirim anda cheia de choramingas.

Eufemismo
Espirituoso é como chamamos o chato que pretende em cinco minutos, numa festa, se tornar um amigo de infância.

Máximas
Algumas das grandes descobertas, com o tempo, se tornam artigos tão óbvios que nos fazem duvidar dos gênios que as conceberam com a máxima simplista de que eles estavam à frente de seus tempos.


Bruno Garschagen
Cachoeiro de Itapemirim, 16/4/2002

Mais Bruno Garschagen
Mais Acessadas de Bruno Garschagen em 2002
01. O romance da desilusão - 6/8/2002
02. Eu quero é rosetar - 12/2/2002
03. Niilismo e iconoclastia em Thomas Bernhard - 26/2/2002
04. Paz é conto da Carochinha - 28/5/2002
05. Anauê - 21/5/2002


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Como Andar de Salto Alto - o Guia da Cinderela Moderna
Camilla Morton
Matrix
(2007)



Traça Que Traça Traça
Hildebrando Pontes Neto; Humberto Borem
Mercuryo Jovem
(2000)



10 Questões Sobre Volproato e Epilepsia
Dra. Elza Márcia Targas Yacubian
Liga Brasileira de Epilepsia
(1996)



Escarceu dos Corpos
Jorge Mmiguel Marinho
Brasiliense
(1984)



Manual de Direito Processual Civil - Volume 2
Ernane Fidélis dos Santos
Saraiva
(1999)



Diário de Larissa Manoela
Larissa Manoela
HarperCollins
(2016)



Os Sete Sapatos da Princesa
Sonia Junqueira
Atual
(1998)



Livro Comunicação Vitrinas em Diálogos Urbanos
Sylvia Demetresco
Anhembi Morumbi



O Dragão da Praça da Matriz
Maria Beatriz Papaleo
Ftd
(1990)



Choque de Tropicalismo: Cinema e Tv
Newton Cannito; Cacá Diegues ( Prefácio )
Nversos
(2013)





busca | avançada
51116 visitas/dia
2,5 milhões/mês