Vivendo de brisa | João Ubaldo Ribeiro

busca | avançada
122 mil/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Trio Mocotó
>>> O Circo Fubanguinho - Com Trupe da Lona Preta
>>> Anaí Rosa Quinteto
>>> Chocolatte da Vila Maria
>>> Ed Motta
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Pecados, demônios e tentações em Chaves
>>> Brasil, o buraco é mais embaixo
>>> Olavo de Carvalho: o roqueiro improvável
>>> 7 de Novembro #digestivo10anos
>>> Carandiru, do livro para as telas do cinema
>>> Livros de presente
>>> Guerras sujas: a democracia nos EUA e o terrorismo
>>> A Arte da Entrevista
>>> Daniel Piza by Otavio Mesquita
>>> Prática de conversação on-line
Mais Recentes
>>> Trauma Informatics (health Informatics) de Kimball I. (kimball Ivan), Augenstein, Jeffrey S. Maull pela Springer (1998)
>>> Long-term Mechanical Ventilation (lung Biology In Health And Disease, 152) de Nicholas S.a Hill pela Crc Press (2000)
>>> Organisation And Management Of Intensive Care de Hans Flaatten, Rui Moreno, Christian Putensen, Andrew Rhodes pela Mwv Medizinisch Wissenschaftliche Verlagsgesellschaft (2010)
>>> Kuby - Imunologia de Richard A. Goldsby; outros pela Revinter (2000)
>>> Reumatologia - Diagnóstico e Tratamento de John Imboden; David Hellmann; John Stone pela Mcgraw-hill (2008)
>>> Obstetrícia Fundamental de Rezende pela Guanabara Koogan (2011)
>>> Diagnóstico Diferencial em Tomografia Computadorizada de Francis A. Burgener; outros pela Revinter (1998)
>>> Pulmonary Rehabilitation de Bach Md, John R. pela Hanley & Belfus (1996)
>>> Cardiopulmonary Critical Care de David Dantzker Outros pela W. B. Saunders (1998)
>>> Update One: Pulmonary Diseases And Disorders de Alfred Fishman pela Mcgraw-hill (1982)
>>> Manual Rotinas de Humanização Em Medicina Intensiva de Raquel Puxh de Souza e Outras (org) pela Do Autor (2004)
>>> Street Fighter. Alpha - Volume 1 de Masahiko Nakahira pela Newpop (2013)
>>> A Arte Da Sabedoria de Baltasar Gragián pela Faro Editorial (2018)
>>> Batman: O Impostor - Volume Único (capa dura) de Tomlin; Sorrentino; Bellaire pela Panini (2022)
>>> A Turma do Perere - 365 dias da Mata do Fundão de Ziraldo pela Globo (2006)
>>> Zerois do Brasil de Ziraldo - Colegio Visconde de Porto Seguro - Caio Machado Pedreira pela E Educacional (2011)
>>> Ziraldo e Os Meus Direitos de Ziraldo - Colegio Estacio - Giovanna Oliani Martinez pela E Educacional (2002)
>>> Vida depos da Vida de Dr. Raymond A. Moody Jr. pela Nordica (1979)
>>> O Maior Milagre do Mundo Parte 2 de Og Mandino pela Record (2009)
>>> Garotas Da Pérsia de Nahid Rachlin pela Rocco (2007)
>>> Garota Replay de Tammy Luciano pela Novo Conceito (2012)
>>> Mulheres Mitos E Deusas - O Feminino Atraves Dos Tempos de Martha Robles pela Goya (2019)
>>> Crônicas (Vol. 5 Obra jornalística) 1961 - 1984 de Gabriel Garcia Marquez pela Record (2006)
>>> Duelo final (capa dura) de Elmore Leonard pela Círculo do Livro
>>> Amar é assim (capa dura) de Carol Hill pela Círculo do Livro
ENSAIOS

Segunda-feira, 25/4/2011
Vivendo de brisa
João Ubaldo Ribeiro
+ de 7700 Acessos
+ 4 Comentário(s)

Costuma-se pensar que artistas de modo geral, inclusive os escritores, são ricos. Volta e meia sai uma reportagem que diz quanto um astro de TV famoso ganha e daí se difunde a crença de que artista é rico, quando, na verdade, matar cachorro a grito é atividade das mais exercidas pela maioria deles, mundialmente. Os escritores aparecem em notícias sobre como um romancista antes desconhecido vendeu para Hollywood, por zilhões de dólares, seu premiado best-seller. Ai de nós ― escritor, quando é pago, recebe entre cinco a doze por cento do preço final do livro. E, não só aqui como no mundo todo, se vira em jornalismo, no ensino, na publicidade e em outros campos, já que de livro mesmo poucos conseguem sobreviver e ainda menos ficar ricos.

Paralelamente, cultiva-se como bela a imagem do artista faminto e penurioso, agasalhando-se do inverno com um casaco puído e esburacado pelas traças, afogando-se em álcool e desprezado por uma musa tão formosa quanto ingrata. Antigamente ele com frequência ficava tuberculoso e morria esquecido, num asilo para indigentes. Para o artista, esse ser privilegiado e superior, não são importantes as preocupações materiais e querer ganhar dinheiro com o que faz beira o sacrilégio, além de mercantilizar odiosamente o talento.

Se é verdade que a maior parte dos artistas é apenas remediada e olhe lá, a batalha por dinheiro sempre foi a regra e não a exceção. A lista é infindável. Balzac, Dickens e Dostoiévski, por exemplo, passaram a vida disputando uns trocados e há quem diga que os dois primeiros morreram de trabalhar. A arte da Renascença era toda feita de encomenda. Os dramaturgos gregos escreviam suas peças para ganhar concursos, em meio a generalizada baixaria, como a difamação ou a ridicularização de concorrentes. Mozart era empregado da cozinha imperial e recebia encomendas do tipo "quero um concerto para piano e orquestra daqui a duas semanas e não me venha com repetições". Bach escreveu os concertos de Brandemburgo para adular um governante, que, aliás, parece nunca ter chegado a ouvi-los. Shakespeare vivia catando histórias que dessem público e faturando o que podia como empresário.

E por aí vai, mesmo depois da implantação quase universal do direito autoral. O artista, seja ele escritor, compositor, pintor ou o que lá for, precisa e gosta de dinheiro tanto quanto qualquer outra pessoa. Mas os novos tempos aparentemente querem trazer a eliminação do direito autoral, ou impor-lhe severas restrições. Há muito que meus livros, incluindo versões em áudio abomináveis, estão disponíveis em dezenas de sites na internet, sem que eu seja nem comunicado, quanto mais pago. Agora também sei que títulos meus estão sendo baixados em leitores eletrônicos, outra vez sem que nem eu nem meus editores tenhamos sido consultados.

Já estava resignado a essa pirataria, mas dizem que vêm mais novidades por aí. Li uma entrevista com um desses gênios da informática em que hoje o mundo abunda, na qual ele previu não somente o inexorável fim do livro impresso como a abolição dos direitos de autor. Perguntado como, neste caso, o escritor viveria, ele a princípio pareceu não saber ou não dar importância a pormenores dessa natureza, mas depois sugeriu que o escritor sobrevivesse fazendo apresentações públicas, leituras, performances pagas e coisas assim.

Não chegou ao ponto de outro, sobre cujas ideias também li não lembro onde, que recomendou que, com suas obras à disposição de graça, os escritores façam voto de pobreza como os franciscanos, ou arranjem, vendendo a alma ao demo como possam, um mecenato que os sustente. Pelo menos o primeiro ainda vê as apresentações como um reduto em que o escritor poderá refugiar-se. Claro, se este for gago ou tímido demais para exibir-se em público, vai ser um problema. Mas há maneiras de superar tais limitações e os escritores, em breve, estabeleceriam animada concorrência, um aprendendo mágicas para alternar com leituras, outro estudando sapateado e ainda outros, como o Verissimo, pegando pesado com seu saxofone. Estou pensando em reagir aproveitando minha condição de baiano e montar uns shows casadinhos. Não conheço Daniela Mercury, Ivete Sangalo ou Margareth Menezes pessoalmente, mas tenho a esperança de que, com jeito, elas aceitem encaixar um número meu em seus shows, na base do "ajuda teu irmão".

Pode ser que se esteja pensando também numa forma de remunerar o escritor que não dependa de vendas. O Governo faz uma seleção dos nomes qualificados para receber algum pagamento e dá a eles, por exemplo, uma bolsa romance. Mas receio que para conseguir essa bolsa, ou qualquer outro estipêndio do Estado, será necessário arrumar um pistolão. Ou entrar para um partido político que disponha de quotas da bolsa, como parte do tudo a que tem direito por aderir ao governo. Ou talvez seja melhor a realização de concursos públicos. Quem quiser ganhar alguma coisa como escritor será obrigado a fazer uma espécie de vestibular e os aprovados terão direito a uma carteirinha e a receber dois salários mínimos por mês para seu sustento, além de uma eventual bolsa romance, bolsa poema ou bolsa ensaio.

Seja o que Deus quiser, não se pode deter o progresso. Progresso este que faz um interessante revertério para o tempo em que o artista morria indigente. Ao que tudo indica, a moda está de volta e acho que vou procurar logo uma boa sarjeta e começar a treinar. Tenho, entretanto, um comentário final: tudo bem, são os novos tempos, mas os bens culturais "gratuitos" não são produzidos sem custos, pois não existe produto (ou almoço) de graça.

Muita gente ganha dinheiro com essa produção, em todos os seus estágios, muita gente é paga. Por que só quem não deve ser pago é o autor?

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no jornal O Globo.


João Ubaldo Ribeiro
Rio de Janeiro, 25/4/2011
Mais João Ubaldo Ribeiro
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
4/5/2011
19h01min
Quanta verdade no contexto do texto do Ubaldo Ribeiro! - Poucos são os escritores, falo deles porque penso que sou um, que sobrevivem com livros;... muitos até são bons, nas nunca publicarão nada, a não ser em editoras por demanda,... quer dizer,... paga pelo autor ou parentes. Entretanto,... e sempre há um entretanto, alguns ganham uma nota 'morena',...(estou tentando ser politicamente correto), como o senhor Paulo Coelho, abençoado pelo deus da leitura, (quem é mesmo?) e vende livro como se vende passe de trem,... vai vender livro assim lá longe! Outros escrevem séries intermináveis, quase sempre sobre o Vaticano e seus segredos, e ganham muita grana! - E os que escrevem livros de mágicos, então,... nossa, esses ficam riquíssimos. -...Agora, se o Ubaldo reclama, imagine eu!!!
[Leia outros Comentários de I. Boris Vinha]
5/5/2011
18h10min
Pois é, imagina nós, que pretendemos seguir, por puro deleite, essa dita "profissão". E as novelas, as editoras e todos que "trabalham" no ramo? Afinal os milhões gastos (gastam sim, as editoras lançam mais de quatro milhões de livros por ano, no Brasil) pela população em livros tem que ir para algum bolso. De quem? E por que não se ajuda ao escritor criando um Ministério do Livro? Somente do Livro, nada mais do que dessa maneira. Aqui está o meu livro. Quero publicar. Ele entra na sala, imprime, o governo paga a conta e ele sai, com a tiragem que acha razoável, para vender, por conta própria. E as gráficas e editoras? Então, "chumbo trocado" não mata. Só esculhamba. Comentários não precisam ser, necessariamente, equilibrados, honestos e honrados. Talvez até "sérios". Nada. Como a vida, ele é assim tamém. E o Ubaldo reclama, outros também, imagina nós. É verdade! Abraços!
[Leia outros Comentários de Cilas Medi]
8/5/2011
17h59min
Embora ninguém por aqui dê muita bola p/ meus comentários, insisto, persisto e resisto, pois os nordestinos, como eu e Ubaldo, são, antes de tudo, uns fortes. O escritor independente, como essa que vos fala, já conhece muito dessa penúria. Pensa o livro, paga para editar, recebe, pena para divulgar e colocá-lo nas livrarias. Gasta sola de sapato, mas aqui custa barato, como diz outro baiano, esse um pouco melhorzinho, pois acabou ministro ou combustível. Paga o cocktail do lançamento; e as palestras que dá são gratuitas. Vocês já repararam que, desde Machado, a maioria dos nossos escribas foram (ou são) funcionários públicos? Ou têm outra profissão? É duro, cara pálida. O talento nunca é recompensado. Precisamos de muito axé. Que ora repasso para vocês...
[Leia outros Comentários de Miriam de Sales Oliv]
11/6/2011
12h02min
Bem feito! Por que não faz uns livros de auto-ajuda? Ou você acha que o autor do livro de a-a está em apuros? Pense em algo tipo: Como vencer o estresse pelo método baiano; O poder de cura do axé. Por essas bandas recomendo outros temas de a-a: Como vencer pela autofagia curitibana; e, um bestseller com certeza: As panelas como estratégia de marketing, mas acho que foge do filão da a-a. Quem sabe se possa tentar alguma consultoria com o Paulo Coelho...
[Leia outros Comentários de josé marins]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Economia e Ciências Sociais
Edwin R. A. Seligman e Outros
Zahar editores
(1969)



O Enigma Maria Madalena
Gerald Messadie
Bertrand Brasil
(2003)



Os Lugares Que nos Assustam
Pema Chodron
Sextante
(2003)



Judy moody quer a fama
Megan Mcdonald
Salamandra
(2004)



Jogando e Aprendendo a Jogar
Marilda Pierro de Oliveira Ribeiro
Educ
(2008)



A Síndrome E 502
Franck Thilliez
Intrínseca
(2013)



Livro Literatura Brasileira Doce Perigo Bem-Vindos A Máfia Cooper
Valeria Veiga
Lit Owl
(2020)



Livro Pedagogia How to Have Your Second Child First 100 Things That Would Have Been Good to Know The First Time Around
Kerry Colburn
Chronicle Books
(2010)



Português Através de Exercícios
Fernando dos Santos Costa Telmo Correia Arrais
Atica
(1970)



Lampião
Billy Jaynes Chandler
Paz e Terra
(1986)





busca | avançada
122 mil/dia
2,0 milhões/mês