Para amar Agostinho | Andréa Trompczynski | Digestivo Cultural

busca | avançada
119 mil/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> DR-Discutindo a Relação, fica em cartaz até o dia 28 no Teatro Vanucci, na Gávea
>>> Ginga Tropical ganha sede no Rio de Janeiro
>>> Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania abre processo seletivo
>>> Cultura Circular: fundo do British Council investe em festivais sustentáveis e colaboração cultural
>>> Construtores com Coletivo Vertigem
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Cabeça de Francis
>>> Jornalistossaurus x Monkey Bloggers
>>> A alma boa de Setsuan e a bondade
>>> A alma boa de Setsuan e a bondade
>>> A alma boa de Setsuan e a bondade
>>> Primavera dos Livros do Rio 2005
>>> Processo de Eliminação
>>> Ensaio de interpretação do Orkut
>>> Falho e maléfico
>>> Casa de espelhos
Mais Recentes
>>> O Alienista - serie bom livro, texto integral de Machado de Assis (com edição critica do INL) pela Ática (1994)
>>> Agosto - romance de Rubem Fonseca pela Companhia das Letras (1990)
>>> O Epicurismo e Da Natureza de Lucrecio (contem antologia de textos de Epicuro) coleção universidade de Bolso de Lucrecio( prefacio, notas e tradução de Agostinho Silva) pela Ediouro
>>> Os Aventureiros da Terra Encantada de Luis Antonio Aguiar( ilustrações Lielzo Azambuja) pela Terra Encantada
>>> Sidarta - Col. O globo 8 de Hermann Hesse pela O Globo (2003)
>>> Risco Calculado de Robin Cook pela Record (1996)
>>> Marcador de Robin Cook pela Record (2007)
>>> 007 O Foguete da Morte de Ian Fleming pela Civilização Brasileira
>>> Duas Semanas em Roma (capa dura) de Irwin Shaw pela Círculo do Livro
>>> Textbook Of Critical Care de Mitchell P. Fink, Edward Abraham, Jean-louis Vincent, Patrick Kochanek pela Saunders (2005)
>>> A Inquisição na Espanha de Henry Kamen pela Civilização Brasileira
>>> So O Amor E Real de Brian L. Weiss pela Salamandra (1996)
>>> Shike - O Tempo dos Dragões livro 1 de Robert Shea pela Record (1981)
>>> A Revolução Russa ( em quadrinhos) de André Diniz pela Escala (2008)
>>> O Pimpinela Escarlate do Vaticano de J. P. Gallagher pela Record
>>> Dicionário das Famílias Brasileiras - Tomo II (volumes 1 e 2) de Antônio Henrique da Cunha Bueno e Carlos Eduardo pela Do Autor (2001)
>>> Todas as Faces de Laurie de Mary Higgins Clark pela Rocco (1993)
>>> Toxina de Robin Cook pela Record (1999)
>>> O Fortim de F. Paul Wilson pela Record (1981)
>>> A Fogueira das Vaidades (capa dura) de Tom Wolf pela Círculo do Livro
>>> O Canhão de C. S. Forester pela Círculo do Livro
>>> Grandes Anedotas da História (capa dura) de Nair Lacerda pela Círculo do Livro
>>> Um Passe de Mágica (capa dura) de William Goldman pela Círculo do Livro
>>> Livro Sagrado Da Família - histórias Ilustradas Da Bíblia para pais e filhos de Mary Joslin, Amanda Hall e Andréa Matriz pela Gold (2008)
>>> O Magnata de Harold Robbins pela Record (1998)
COLUNAS

Quinta-feira, 26/5/2005
Para amar Agostinho
Andréa Trompczynski
+ de 9700 Acessos
+ 4 Comentário(s)

Andei pela vida como Diógenes, com uma lanterna nas mãos. Ele, procurando um homem justo, eu, um homem santo para seguir. Muitos tentavam abrir-me os olhos dizendo ser aquilo algo impossível; outros viram em mim a loucura quando afirmei já não ter mais a fúria da liberdade com que num dia remoto declamei o "Cântico Negro", de José Régio. Outros ainda, com boas intenções, mostraram-me seus santos, canonizados, mas não me serviam, eram perfeitos demais.

Meu Santo de adoração seria essencialmente humano. Do gênero masculino, porque nos homens há menos superficialidades. De acordo com meu egoísmo, eu descobriria com ele não haver coisas em demasia a mudar em mim mesma. De acordo com minha vaidade, ele seria justo e piedoso com o gênero humano. Quando confessasse sua própria alma, a analisaria francamente, e, não tão francamente, se a questão fosse justificar seus erros. Cantaria a superioridade do espírito em relação ao corpo e a perfeição divina, sem esquecer as belezas da natureza humana. Sua inteligência iria sobressair nos racicíonios que levariam às respostas, e em alguns casos, nos que levariam à ausência delas. Um santo escritor e filósofo, que buscasse a Deus sem medo ou vergonha -há nos homens comuns vergonha em buscar a Deus.

Exigências demais? Pois saiba, leitor, que encontrei-o há cerca de um mês: seu nome é Aurelius Agustinus, natural de Tagaste, da província romana da Numídia. Apesar de algumas dimensões, como tempo e distância, me separarem de Santo Agostinho, sinto-me mais próxima dele do que de alguns homens meus contemporâneos.

(Quem poderá explicar o poder da afinidade das almas? Ela vence distâncias e séculos para que possam os espíritos conversar.)

Leio Confissões sorrindo. Agostinho se parece a um menino, tentando pedir desculpas a Deus por seus desregramentos passados, com explicações para toda e qualquer torpeza: se em criança, era um egoísta que apenas desejava os seios da mãe e satisfação, argumenta com versículos bíblicos que nem mesmo a alma de um recém-nascido é inocente "fui concebido em iniquidade e em pecado me alimentou, no ventre, minha mãe", e corrobora a impureza de todas as crianças dizendo ter sido testemunha ocular de uma que nem sequer falava, já olhando invejosa para o irmão. Se usou de retóricas maniqueístas e disso se arrependeu, diz que a culpa não é das palavras "vasos escolhidos e preciosos" mas do "vinho do erro que por eles nos davam a beber os mestres embriagados". Também não é dele a culpa das próprias opiniões que no passado formou, e sim de "ler aqueles livros dos platônicos e de ser induzido por eles".

Durante todas as suas Confissões, implora por humildade e promete a Deus o despojamento do orgulho, para depois trair-se num arroubo de vaidade, quando diz que fosse o Gênesis de autoria dele e não de Moisés, o escreveria com "uma tal arte de expressão e uma tal modalidade de estilo que até esses que não podem compreender como é que Deus cria se não recusassem a acreditar nas minhas palavras, por ultrapassarem as suas forças".

Todo o problema do mal, para ele, se resume em que se fomos ou estamos corrompidos, é porque somos bons, somente o bem pode ser corrompido. O mal é apenas ausência do bem, como a obscuridade é carência de luz. Mas como pode Agostinho contradizer-se tanto, até o ponto de se tornar "meia-luz" ou "meio-corrompido"? Poderia a ausência de luz dar-se pela metade, e o homem que se diz humílimo em reconhecer os grandes mistérios conhecidos só por Deus pedir a ele o conhecimento do passado e do futuro, como ele mesmo fosse Deus? Pois Agostinho tem o descaro de pedir a seu Deus o conhecimento do passado e do futuro, em ambição desmedida.

O seu amor a Deus é paixão e temor, como se teria por um amante possessivo e vingativo, a quem se ama e agrada por um fundo de medo, foi a Ele prometido como a uma noiva e fugiu do grande compromisso por 32 anos. Sabia que a noiva exigia fidelidade e vida casta, e buscou antes de se voltar a ela, todos os prazeres mundanos. Um dia, num jardim em Milão, no ano 386, a liberdade enfim cobrou seu preço em milhões de culpas. Agostinho chorava angustiado quando teve a revelação que o converteu ao cristianismo: ouviu uma voz infantil cantando "toma e lê, toma e lê". Avistou a Bíblia sobre uma mesa, aberta nas palavras de Paulo de Tarso: "Não caminheis em glutonarias e embriaguez, não nos prazeres impuros do leito, não em contendas e emulações, mas revesti-vos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não cuideis da carne com demasiados desejos". Mônica, a mãe, exultava com a salvação do filho.

A mãe exercia sobre ele enorme influência e era, na visão do filho, um ser intocável, sem nenhuma falha, somente "testemunhos de santidade". Que mágicas há nas doces -e algumas vezes não tão doces- manipulações maternas que fazem os filhos a tudo mais cegar? Agostinho volta à ela com mais fervor do que voltaria sua alma a Deus. E só se voltou a Deus por que ela assim o desejou.

Agostinho provou-me que somos, em essência, somente vaidade e temor de sermos castigados por causa desta. Aprendeu que apenas a devemos usar no caminho certo. Que é a vaidade usada nas "casas de perdição", e nas mesquinharias do mundo, perto da vaidade usada nos caminhos de Deus? A vaidade abençoada pela própria mãe ou justificada por versículos bíblicos, é para Agostinho, a boa vaidade. Esta passa desapercebida aos doutos e grandes senhores da Igreja, que o classificam como o grande pensador do cristianismo e o rotulam de coisas tantas que nem me interessaram saber -e era antes meu costume ler as opiniões dos doutos antes de obras da importância de Confissões.

Ah, senhores doutos, espero pelo dia em que deixem de classificá-lo, como Grande Isso ou Grande Aquilo na história da Igreja, para amá-lo como homem. Fariam então para ele um altar desavergonhado, com flores tão vaidosas quanto Agostinho, e velas de medo dos horrores do inferno pregado pela mãe. E iriam devagar com o andor, que os santos, olhados com calma, são de barro tal qual os homens.


Andréa Trompczynski
São Mateus do Sul, 26/5/2005

Quem leu este, também leu esse(s):
01. A fotografia é um produto ou um serviço? de Fabio Gomes
02. A Marcha da Família: hoje e em 1964 de Humberto Pereira da Silva
03. Sobre política e políticos de Rafael Rodrigues
04. Strindberg e o inferno de todos nós de Guilherme Conte


Mais Andréa Trompczynski
Mais Acessadas de Andréa Trompczynski em 2005
01. A Auto-desajuda de Nietzsche - 13/10/2005
02. Há vida inteligente fora da internet? - 9/6/2005
03. O lado louco de Proust - 22/9/2005
04. Se o Lula falasse inglês... - 28/7/2005
05. Para amar Agostinho - 26/5/2005


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
27/5/2005
13h56min
Olá, Andréa! Há tempos não lia nada escrito por vc... fiquei surpreso com o teor deste texto. Para amenizar um pouco, pesquise Michel Onfray, "Deus está nu", O filósofo francês que diz que as três grandes religiões monoteístas vendem ilusões e devem ser desmascaradas como o rei da fábula de Andersen. Um beijão do seu amigo!
[Leia outros Comentários de Marcelo Zanzotti]
28/5/2005
01h16min
Andréa, Vez por outra acompanho teus textos. Também sou fã de Agostinho.
[Leia outros Comentários de Jose]
28/5/2005
13h05min
Será que faz diferença para eles serem de barro ou não? Acho que não. É como pensar que faz diferença para um Gauss se ele é considerado um gênio ou não... Mas para os alunos da universidade faz muita diferença conhecer um Gauss, do que conhecer as idéias da minha tese de mestrado... Por isso ele é um santo :).
[Leia outros Comentários de Ram]
29/5/2005
10h55min
Andrea, Certos temas estão sempre atuais desde que sejam abordados com competência. É o caso do polêmico SANTO AGOSTINHO. A Veja de hoje publica uma matéria com o escritor irlandes Peter Brown sobre ELE. Mais uma vez meus cumprimentos pela sensibilidade do seu artigo no Digestivo.
[Leia outros Comentários de Fernando Lyra]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Guerra Relâmpago + A História da SS
Richard Grunberger; Uri Paz
Record; VGT
(1970)



Thieves in the Night
Arthur Koestler
McMillan
(1946)



O Livro do Boni
Casa da Palavra
Casa da Palavra
(2011)



Organizaçoes Exponenciais
Michael S. Malone, Salim Ismail
Alta Books
(2019)



A Beira Do Corpo
Walmir Ayala
Circulo Do Livro



O monopólio do crime - Os estranhos lapsos de Larry Loman
Edgar Wallace
Francisco Alves
(1993)



Moisés - Um Príncipe Sem Coroa - Volume I
Gerald Messadié
Bertrand Brasil
(2001)



Sobre o Desenho no Brasil
Claudio Mubarac
Eec
(2020)



Educação e favela
Leticia de Luna Neiva Vieira
Faperj
(2022)



Atletismo Regras Oficiais de Competição 2008-2009
Confederação Brasileira de Atletismo
Phorte
(2008)





busca | avançada
119 mil/dia
2,0 milhão/mês