Mulheres, homens e outros insetos | Ana Elisa Ribeiro | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 19/9/2008
Mulheres, homens e outros insetos
Ana Elisa Ribeiro
+ de 3800 Acessos
+ 1 Comentário(s)

É questão de mercado. Oferta e demanda, talvez. Questão de nicho ou, como dizem alguns, segmento. Parcelas grandes de população em idade reprodutiva (e nem sempre produtiva) se contentam com pouco, não raro apenas com o exoesqueleto. Sendo assim, basta uma barata e é puro prazer.

Certa vez, minha bela e charmosa amiga, além de tudo bastante inteligente, voltou abalada da cidade onde fora morar. O problema não teria sido nem o clima, nem a comida, mas o casamento fracassado, dizia ela. Chorosa como uma viúva (que deveria estar feliz), minha linda amiga lastimava a tentativa frustrada de unir-se a um gaúcho bonito e bem-sucedido. Ela também era bem-sucedida, conheceram-se, inclusive, em reuniões de trabalho. Bons salários, belos rostos, bons corpos. Adivinharam que se queriam em um beijo intolerado. Namoraram e resolveram se mudar para dentro das vidas um do outro (mais um do que o outro, leia-se, como quase sempre é).

Cada um deles era de uma cidade diferente. Bem longes no mapa, dessas que demandam insuportáveis viagens de ônibus ou caríssimas milhas de avião. Sendo assim, o amor acaba corrompendo a compreensão de ambos e resolveram acelerar a decisão. Ela foi para lá, ele abriu espaço entre as gavetas e prateleiras.

Mês vai, mês vem, os e-mails dela começaram a ficar desanimados. O que antes era graça, agora era força de expressão. Depois de um mês de mudança, ela conseguira compreender a razão do choro soluçante logo no primeiro dia. Só porque esperava uma grande recepção e ele pedira uma pizza em domicílio? A vida é assim, querida. Era isso o que ele queria mostrar.

Sábado vai, sábado vem. A bela moça, cada vez mais linda, mais cuidada, mais poeta, passou a se cansar. Além dos assuntos contábeis do trabalho, vinha ele, todos os dias, lá pelas 18h, como se fosse uma Ave Maria, rezar o terço dos descontentamentos da repartição, do truco com os amigos, do churrascão no domingo e dos compromissos inadiáveis na casa de não se sabe que parceiro de bola. Ela introduzia um livro qualquer, a visita de uma nova amiga, um passeio pela rua, mas não tinha muita coragem para nada. Machão, não? Pensei que seria diferente. Já dizia minha mãe para não levar a Cinderela a sério.

Um dia, minha belíssima amiga se cansou. Admitiu que era tudo uma porcaria e voltou para casa. Sem o peso agudo de um filho, ficava tudo fácil. Consolava-se bem: ao menos não havia feito essa burrice duradoura que é a gravidez numa circunstância como esta. Assimilou umas coisas, rearranjou o guarda-roupas dele, pediu desculpas por qualquer incômodo e voltou. Aqui, ela teve coragem de se confessar umas tantas coisinhas, inclusive que achava que casamento fosse mais bacana. Algumas de nós até sugerimos que existem registros de boas experiências. É necessário só ter alguma paciência para procurar, tarefa que a geração internet não há de estranhar.

Mas minha amiga linda logo logo voltou para a noite da cidade. De vez em quando, encontrava-se conosco num chá mais cedo e logo dizia: deixe eu ir me montar no banheiro. Daqui a pouco vêm me buscar. E tocava para as boatezinhas onde a maior parcela da população em idade reprodutiva (nem sempre, quase nunca, produtiva) deveria estar.

Um dia, minha amiga me perguntou o que eu achava de ela sair para aqui ou para ali. Eu fingi que não escutei. Há perguntas que são retóricas, não é mesmo? Mas ela insistiu. E então eu expliquei: menina, é questão de lógica, análise combinatória, probabilidade. Para outros tantos analistas, é questão de segmento de mercado, nicho. Nesses lugares onde você tem ido, há imensas chances de você encontrar um belo rapaz que não lhe interessa, querida. Um macho padrão, sem qualquer desvio a seu favor. Ele provavelmente se encantará com seu corpinho lindo, seu sorriso escandalosamente bonito, mas não precisará de mais do que isso para compreender os dois ou três sentidos que tem a vida dele. Não é preciso ser muito inteligente para desejar comer uma mulher como você, convenhamos. Talvez seja disso que você precisa neste momento: alguém que a arrebate a alma tecendo elogios às coisas que você visivelmente é. Será preciso que alguém, a esta altura, ainda confirme que você é linda? Talvez. Mas o que você busca não está nesse show e nem nessa boate. Essa pessoa só pode estar em outro lugar. Você precisa se dar as chances que você quer. Certamente seu próximo namorado gostará dos seus seios, sorte a dele, que terá uma menina cheia de atributos. Existe gente com todos os gradientes de belezura (ou não). Mas bem que é gostoso conviver com gente que sabe conversar, não é, não? Para comer a carapaça, basta ser qualquer crustáceo. Se até os zumbis de filmes trash saem à procura de cérebros, deve haver uma mínima parte dos homens (e das mulheres) interessados em biscoito fino. Uma regalia lidar com gente inteligente.


Ana Elisa Ribeiro
Belo Horizonte, 19/9/2008

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
19/9/2008
11h41min
Essa a questão. Encontrar pessoas que saibam conversar até que não é tão difícil. Mas, até quando uma boa conversa pode durar? Algumas se tornam intermináveis, e quando isso acontece, a união pode ser duradoura. Mas, só quando encontramos alguém que quer conversar conosco exatamente sobre aquilo de que gostamos de conversar, é que a união é para sempre. Sua amiga, Ana, não precisa sair por aí, procurando essa pessoa. Ela poderá surgir a qualquer momento, sem que se dê conta disso. Observação pode ser uma boa "dica", mas ela precisa "dizer" sobre o que mais gosta de conversar. Se for Literatura, ela pode passar a frequentar bibliotecas e/ou livrarias. Quem sabe, em uma dessas visitas, não surja o tal bom conversador dos anseios dela? Sei que isso é ficção, que essa sua amiga "não existe", mas como foi legal conhecê-la. Um abraço.
[Leia outros Comentários de Américo Leal Viana]
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