Inútil, o filme e a moda que ninguém vê | Elisa Andrade Buzzo | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 22/1/2009
Inútil, o filme e a moda que ninguém vê
Elisa Andrade Buzzo
+ de 7500 Acessos
+ 1 Comentário(s)


Foto: Magaly Bátory

Comprei duas roupas (pelo correio, olha que facilidade) com design e acabamento brasileiros. Vejam só, elas não foram fabricadas na China, como tantas peças que encontramos por aí, geralmente as mais baratas. Também já comprei outras, chinesas, sim, mas também indianas, paquistanesas, romenas, búlgaras. Sabe-se lá onde o tecido foi produzido, provavelmente, China. Reparei outro dia que na etiqueta escondida dentro da carteira estilosa da Imaginarium está escrito: "Made in RPC". Ninguém se engana que se trata da República Popular da China. Mas para quê camuflar a origem de um produto têxtil?

As relações da indústria da moda que fazem da China um pólo replicador e sem muitos estilistas reconhecidos internacionalmente, assunto árido, são exploradas num viés crítico e poético por Jia Zhangke no documentário Inútil (2007). Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, ele havia estreado no Brasil na 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Finalmente o documentário entrou em cartaz nos cinemas daqui.

Nascido em 1970, Jia Zhangke é um dos cineastas chineses mais ativos de sua geração. Seu estilo realista e minimalista procura retratar, diz a crítica, a China atual sem idealizar sua sociedade. Caso de Inútil, que nos imerge num ambiente cravejado pelo ruído de máquinas de costura, ventiladores e vapores de ferros. A câmera não é óbvia, antes passeia na bela sequência de abertura revelando, às escondidas, o trabalho dos costureiros. Roupas são produzidas em série numa fábrica no Cantão, aquelas mesmas que podemos encontrar nas araras de muitas lojas e mesmo em nosso armário.

Inútil é um documentário feito de ausências e existências, de closes e planos originalíssimos. O diretor mostra o refeitório da fábrica vazio; depois, cheio, cada operário com sua marmita nas mãos. Mesmo quando o foco está em algum entrevistado, logo a câmera se distancia, em silêncio, para algum detalhe ― seja uma lâmpada, um ventilador, cabides, ou a geometria dos locais retratados.

Não é uma câmara vigorosa, mas de uma precisão e simplicidade de foto. Não é à toa que o mesmo diretor também é responsável, com Nelson Yu Lik-wai, pela fotografia. São muitos minutos, desde o início, em que não há falas, o tema moda não é explicitado com um discurso óbvio, os planos são relativamente demorados. É o que algumas pessoas acham quando acaba a sessão. No entanto, o ritmo não é tão lento assim, o que se percebe neste documentário é a sutileza com que o diretor encaminha o assunto.

Desta maneira, desde os objetos, até os costureiros de uma pequena cidade cuja economia gira em torno de uma mina de carvão, são todos protagonistas desta história real. Assim como a estilista chinesa Ma Ke. Ela é responsável pela famosa Exceptional e também pela marca Wu Yong ("Inútil"). As roupas desta última, que aparecem numa espécie de instalação na Semana de Moda de Paris de 2007, são mostradas no documentário. Ma Ke expõe sua filosofia às avessas, já que é o público que se movimenta para apreciar a coleção; cada modelo está numa pose estática em cima de cubos iluminados. As peças foram previamente enterradas, assim, a natureza deu seu toque final às vestimentas.

Como vestir algo que não sabe quem costurou? As roupas rústicas de sua grife experimental são, desde o tecido, fabricadas artesanalmente. Ma Ke, estilista com uma atitude reflexiva diante da indústria da moda, diz que os objetos manufaturados, diferentemente dos industrializados, em série, têm uma história afetiva. Ainda segundo ela, objetos que passam de geração em geração nas famílias têm uma história, uma memória, e por isso não são descartáveis. Mesmo que estejam "quebrados", você não os jogará fora. Aquilo que pode ser inútil hoje, como as roupas repletas de terra, pode reencontrar uma utilidade.

Se as situações mudam com o passar do tempo, da mesma forma se passa com o potencial de uso em cada objeto. Lembrei que era exatamente o caso de uma nova escrivaninha que precisava. Para que comprar uma nova se havia uma outra, do meu pai, que ninguém mais usava, nem mesmo ele, e que parecia inútil...? De madeira escura, quase negra, pernas e gavetas ornamentadas, pequenos pilares nas bordas, como ameias protegendo um forte esquecido, no qual a batalha dos anos e dos fatos já se consumiram.

Os móveis antigos também ressurgem, como parentes ressuscitados ou roupas desenterradas e parecem, talvez não necessariamente melhores, mas diferentes das coisas novas, estas geralmente em série, compensadas. Ou caríssimas, de grife. Evito fazer perguntas a respeito da procedência do móvel, pois as respostas parecem vagas demais, imprecisas. Ninguém mais sabia ao certo quando ele havia sido comprado, nem onde. Só uma pista carcomida no fundo do tampo, um adesivo "cx. post".

Histórias se entrelaçam neste mundo desorientado e globalizado que o cineasta Jia Zhangke documenta e que a estilista Ma Ke confronta. Confiro as costuras das minhas roupas novas, sempre é bom ter certeza de que não há um defeito de fábrica... e nunca me esquecer de, além de examiná-las, lá imaginar uma mão em movimento, empunhando uma agulha, domando ou girando a máquina com os pés.


Elisa Andrade Buzzo
São Paulo, 22/1/2009

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
2/2/2009
12h13min
O bom hoje é que quem faz a moda é quem usa. Os estilistas têm estilo próprio para a indústria, por outro lado, ninguém segue o processo indusatrial, há quem copie, a liberdade é total. Mas os desfiles ocorrem é para isso. Há estilistas observando e estudando as ruas para suas criações.
[Leia outros Comentários de manoel messias perei]
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