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Quinta-feira, 8/5/2014
Vaidade, inveja e violência
Carla Ceres
+ de 5600 Acessos

Aos vinte e seis anos, o conde Liev Tolstói abandona a vida ociosa da alta nobreza russa e parte como militar voluntário, para a guerra da Crimeia. Serve em um regimento de cavalaria, na cidade Sebastopol, sitiada pelas forças francesas. Em 1855, simultaneamente ao combate, escreve e publica, no jornal O Contemporâneo, três narrativas sobre o conflito. Esses relatos, reunidos em livro sob o título Contos de Sebastopol, diferem dos demais textos da época que retratavam a guerra como a oportunidade perfeita para demonstrações de bravura e heroísmo que levariam à rápida ascensão na hierarquia militar. Além de evidenciar os horrores da guerra, Tolstói descreve as oscilações morais dos personagens, seus momentos de pavor, bravura, alegria e desespero. Tomando a verdade como o herói de seus contos, acaba por se confrontar com a corrupção, a inveja e a vaidade.

"Vaidade, vaidade e vaidade por toda parte - mesmo à beira do túmulo e entre pessoas que se preparam para morrer por alguma alta convicção. Vaidade! Ela deve ser o traço característico e a doença particular do nosso século. Por que motivo não se ouvia falar desse horror, como se ouvia falar da varíola e da cólera? Por que motivo no nosso século há apenas três tipos de gente: os que recebem o princípio da vaidade como fato consumado e necessário, portanto, justo, e se submetem voluntariamente a ele; os que o recebem como infelicidade, mas como condição inevitável; e os que inconscientemente agem de forma servil sob sua influência...? Por que motivo os Homeros e Shakespeares falavam de amor, de glória e de sofrimento, e a literatura do nosso tempo não passa de uma interminável novela de 'Esnobismos' e 'Vaidades'?"

Talvez o choque de perceber que a vaidade se evidencia até diante da morte tenha levado o autor a subestimar sua presença em outras épocas, esquecendo-se, por exemplo, do vaidoso rei Lear, de Shakespeare. Quem nos dera que a vaidade fosse um mal particular do século XIX! Infelizmente, o Eclesiastes já alegava que "nada há de novo sob o sol" e que "tudo é vaidade". Até nas artes plásticas o tema se fez presente. Vanitas ("vaidade", em latim), um tipo de natureza-morta muito comum nos séculos XVI e XVII, no norte da Europa, retratava relógios, caveiras, fumaça, alimentos em decomposição, motivos ligados à brevidade da vida e à insignificância das realizações humanas.

Com rádio, cinema, televisão e revistas, o século XX transformou a vaidade em estrelato mundial. Artistas angariavam legiões de fãs ávidos por seguir seus passos e assemelhar-se a eles através da imitação e do consumo de seus produtos. As pequenas vaidades cotidianas, tão velhas quanto a civilização, receberam novo impulso. Não bastava mais ser bonito, forte, bem-sucedido ou amado dentro das possibilidades de uma pessoa comum, em comparação com outras pessoas comuns de sua própria comunidade. O novo objetivo era ser deslumbrante, poderoso, zilionário e idolatrado como um astro internacional. Quem chegasse mais perto do padrão inatingível liderava um séquito de admiradores que o defendiam dos invejosos de fora enquanto tramavam destroná-lo.

Vaidade, admiração e inveja andam juntas, até no meio de uma guerra, como Tolstói percebeu:

"A disciplina, e a condição para que ela exista, ou seja, a subordinação, só é agradável, como todas as relações fixadas por regulamentos, quando está fundada ao mesmo tempo no reconhecimento recíproco da sua necessidade e na cegueira por parte do subordinado, que deve acreditar na superioridade, experiência, méritos militares ou simplesmente no alto valor moral do chefe. Porém, se a disciplina se funda, como ocorre frequentemente entre nós, em eventos aleatórios ou no princípio da riqueza, ela leva sempre, por um lado, à sobranceria, e por outro, a uma secreta inveja e despeito, e em lugar de produzir um efeito útil de coesão das massas como um todo, atinge o resultado inverso."

No começo do século XXI, o discurso religioso que prega a humildade continua perdendo terreno para teologias da prosperidade e esoterismos materialistas. A ostentação tornou-se uma forma de louvor a Deus muito praticada nas redes sociais. "Papai do Céu me preferiu. Vejam o que eu tenho e invejem à vontade!" A inveja deixou de ser um efeito colateral do sucesso. Provocá-la agora é um prazer (sádico) a se almejar abertamente.

A sensação de injustiça persegue boa parte dos que se divertem acompanhando a vida alheia na internet. Como se não bastassem as grandes diferenças reais de fortuna, beleza, saúde, inteligência e oportunidade, criou-se uma festa à fantasia onde muitos exibem, como verdadeiras, as vidas que apenas gostariam de levar. Alguma dúvida de que isso contribua para o aumento da violência?

Nota do Editor
Carla Ceres mantém o blog Algo além dos Livros. http://carlaceres.blogspot.com/


Carla Ceres
Piracicaba, 8/5/2014

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