Defesa dos Rótulos | Alexandre Soares Silva | Digestivo Cultural

busca | avançada
133 mil/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> DR-Discutindo a Relação, fica em cartaz até o dia 28 no Teatro Vanucci, na Gávea
>>> Ginga Tropical ganha sede no Rio de Janeiro
>>> Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania abre processo seletivo
>>> Cultura Circular: fundo do British Council investe em festivais sustentáveis e colaboração cultural
>>> Construtores com Coletivo Vertigem
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Ah, essa falsa cultura...
>>> Teoria dos jogos perdidos
>>> United States of Brazil
>>> The Search, John Battelle e a história do Google
>>> Europeus salvaram o cinema em 2006
>>> 10 sugestões de leitura para as férias
>>> Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
>>> O que mata o prazer de ler?
>>> Um poema de Yu Xuanji
>>> Fotografia
Mais Recentes
>>> Jane, A Raposa E Eu de Isabelle Arsenault pela Wmf Martins Fontes (2016)
>>> Panoramas Ciências - 6º Ano de Leandro Godoy pela Ftd - Didáticos (2019)
>>> Contraseña Libro Del Alumno - Volume 2 de Marilia Vasques Callegari pela Moderna (2015)
>>> Literatura Brasileira - Tempos , Leitores E Leituras de Maria Luíza M. Abaurre pela Moderna (2005)
>>> Box Conecte Matemática - Volume 3 de Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce, David Degenszajn, Roberto Perigo, Nilze De Almeida pela Saraiva Didáticos (2018)
>>> A Sutil Arte De Ligar O Foda-se de Mark Manson pela Intrínseca (2024)
>>> Sociologia Em Movimento - Parte I - Volume Único de Moderna pela Moderna (2017)
>>> Gabriel. Esperança Além da Vida de Nilton Cesar Stuqui pela InteLitera (2011)
>>> Box Conecte Biologia 1 - LIVRO DO MESTRE de Saraiva pela Saraiva
>>> Educação fiscal, financeira e empreendedorismo de Munera pela Munera (2021)
>>> Contabilidade Financeira: Uma Introdução Aos Conceitos, Métodos E Usos de Clyde P. Stickney pela Atlas (2001)
>>> Matemática E Realidade - 7º Ano de Gelson Iezzi pela Atual Didático (2018)
>>> Quarto de Despejo - Edição Comemorativa de Carolina Maria de Jesus pela Ática (2020)
>>> Teláris - Língua Portuguesa - 7º Ano de Ana Trinconi Borgatto pela Ática Didáticos (2020)
>>> O Drama da Linguagem - uma Leitura de Clarice Lispector de Benedito Nunes pela Ática (1995)
>>> Le Grand Album De Franklin, Volume 2 de Deux Coqs Dor pela Deux Coqs Dor
>>> O Homem Mais Rico da Babilônia de George S. Clason pela Ediouro (2005)
>>> Voo Cego de Ivan Santanna pela Objetiva (2017)
>>> O Triângulo das Bermudas de Charles Berlitz pela Nova Fronteira (1974)
>>> Os 5 Desafios das Equipes de Patrick Lencioni pela Sextante (2015)
>>> Descubra Seus Pontos Fortes 2.0 de Don Clifton pela Sextante (2019)
>>> Mudança de Rumo de Richard Simonetti pela Ceac (2008)
>>> Dogmática Cristã - Um Manual Sistemático dos Ensinos Bíblicos de John Theodore Mueller pela Concordia (2004)
>>> Mulheres do Brasil - a História Não Contada de Paulo Rezzutti pela Leya (2022)
>>> Taça de Prata de 1970 de Roberto Sander pela Maquinaria (2010)
COLUNAS

Sexta-feira, 30/5/2003
Defesa dos Rótulos
Alexandre Soares Silva
+ de 27200 Acessos

O ódio à simplificação é uma forma de imbecilidade. Você chama um esquerdista de esquerdista e logo aparece alguém para dizer, isso é um reducionismo, ele é muito mais do que uma pessoa de esquerda, ele faz macramé também, aos sábados, e é muito boa pessoa. São pessoas tão sutis que (insistem) não são nem de esquerda, nem de direita, nem de centro; não são crentes em Deus, nem ateus, nem agnósticos; e se calhar não são nem homens, nem mulheres, nem hermafroditas. Isso são rótulos! E eles foram ensinados que rótulos são feios. Devem tirar os rótulos dos potes de maionese, achando isso um reducionismo absurdo, a maionese é muito mais do que uma maionese, é uma coisa muito complexa, ao mesmo tempo gosma e alimento.

Olha, rótulos existem por um motivo. Há pessoas de esquerda. Há pessoas de direita. Há pessoas de centro. Uma pessoa só pode não ser nem de esquerda, nem de direita, nem de centro, se estiver em coma, ou for uma menininha linda de nove anos fazendo desenhos de pôneis num caderno. Uma outra possibilidade ainda é que a pessoa mude tão rapidamente de opinião política, que nunca possa ser flagrada na esquerda, na direita ou no centro - algo como um elétron ideológico. Para o resto da humanidade, rótulos são ok, pare com essa frescura. E me deixe dizer, a expressão ficar rotulando (você fica rotulando, ou pior ainda, você fica aí rotulando) é quase sempre dita por idiotas (outro rótulo mui útil).

Mas passa a simplicidade por burra, sempre, sempre. Esse é o mal de aprender a sutileza muito tarde na vida, que se passa a ficar fanático por ela; de tal forma que qualquer constatação simples, como a de que aquele homem ali é japonês, passa a ser encarada com desprezo. Não é bem assim, diz o amante da sutileza, arqueando os lábios com desdém; você acha mesmo que a vida é simples assim, que ela cabe nos seus parâmetros simplórios? Mas ué, aquele homem é japonês. Japonês como? Ele nasceu no Japão? Liv Ullman nasceu no Japão, você sabia? Você diria que Liv Ullman nasceu no Japão? Ou você quer dizer que aquele homem ali é filho de japoneses? É isso? Mas como você sabe que é filho e não neto? Em que sentido você usou o rótulo "japonês"? Não é simples assim, percebe? Você tem que ver a vida de modo mais inteligente, mais aberto. Não existem japoneses, Alexandre.

Atribuo o ódio aos rótulos ao descobrimento repentino de que nem todos os rótulos foram colocados no vidro certo; e daí a pessoa, toda empolgada, passa a tentar tirar os rótulos de todos os vidros do mundo. Ah, Alexandre, mas você acha mesmo que as pessoas são potes de maionese, para merecer rótulos? Ué, acho. Noto que ninguém reclama de ser rotulado de ser humano, por exemplo. Ninguém reclama de ser rotulado de alto. As pessoas reclamam sobretudo dos rótulos que consideram ruins, como impotente ou fanho. No caso político, especificamente, a pessoa reclama do rótulo que colamos nele porque o rótulo que ela quer ter, o mais cobiçado de todos, é o rótulo de complexo. De esquerda? De direita? De centro? Acha mesmo que eu sou tão simplório? Eu sou muito complexo.

O que a literatura não é: séria
O que escritores não querem dizer, sobretudo os mais pomposos, é que o que fazem é uma variante de moleques brincando com bonequinhos, fazendo o som do soco, pshhhhh; as histórias podem ter ficado mais complexas e menos físicas, os bonequinhos passaram a existir só mentalmente, pode ser que não haja soco, mas é isso. Ana Karênina era um bonequinho que se atirou debaixo de um trem, piuiiiii, tchrammm...., fez Tolstoi na sua escrivaninha, só que de modo mais sutil; e é isso, escritores vestem ternos e enchem o peito e falam em simpósios, e se metem a falar de política, mas basicamente são brincadores de bonequinhos internacionais, que brincam tão bem que foram arrastados de seus quartos em Trinidad Tobago ou de Mensk ou de Tatuí, e se tornaram conhecidos; mas por mais fátuos e pomposos que sejam, por mais que falem da identidade européia ou da narrativa metalingüística, ainda têm os bolsos cheios de bonequinhos. Durante os simpósios intermináveis, em que homens solenes se caceteiam em tcheco, os melhores metem as mãos nos bolsos para sentir que os bonequinhos ainda estão ali, e dizem olá.

Antipatiquices
1) Me parece haver algo de moralmente errado nessas pessoas que vão ao supermercado e fazem amizades no corredor de laticínios. São pessoas simpáticas que não colocam cercas no próprio espírito; e a qualquer momento você encontra dois jardineiros, uma manicure e dois borracheiros dormindo na cozinha de sua psique. Ser simpático é bom, mas respeitar o próprio mistério é melhor ainda. Cada pessoa devia ser reservada e misteriosa como uma mulher de véu. Era para isso que o véu existia; uma lembrança de que as pessoas devem ser sociedades secretas, não clubes de bingo. Coloque cercas. Coloque muros.

2) No paisagismo (li não sei onde) se busca um elemento de surpresa: que depois de um caminho despretensioso de cascalho, ao virar uma curva se veja, de repente, um lago. O charme perfeito devia ser assim: você conhece uma mulher, e ela é antipática; dias depois, ela é gentil, mas fria; e meses depois ela sorri quando você se aproxima, e só quando você se aproxima. O contraste entre a frieza com que ela trata os outros e a alegria que ela reserva para você é o charme mais intenso que existe. Antipatia é necessária; a antipatia é o vison do charme.

3) Um sotaque leve é charminho; pesado é boçalidade. Paulistas ouvem certos atores cariocas com nojo; cariocas ouvem certos apresentadores paulistas com nojo; e todos têm razão. Não é xenofobia - é o reconhecimento instintivo da boçalidade alheia. Ninguém que tenha lido mais de cem livros tem sotaque forte.

Nota do Editor
Alexandre Soares Silva assina hoje o soaressilva.wunderblogs.com, ondes estes textos foram originalmente publicados.


Alexandre Soares Silva
São Paulo, 30/5/2003

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Ao Abrigo, poemas de Ronald Polito de Jardel Dias Cavalcanti
02. A pomba gíria de Ana Elisa Ribeiro
03. Senhores turistas, apressem-se! de Carla Ceres
04. Sexo, drogas e rock’n’roll de Marcelo Spalding
05. A internet e as comunidades virtuais de Julio Daio Borges


Mais Alexandre Soares Silva
Mais Acessadas de Alexandre Soares Silva em 2003
01. Defesa dos Rótulos - 30/5/2003
02. Que espécie de argumento é uma bunda? - 2/5/2003
03. Breve História do Cinismo Ingênuo - 11/4/2003
04. A Mente dos Outros - 23/5/2003
05. As Quatro Salas - 9/5/2003


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Café da Manhã dos Campeões
Kurt Vonnegut
Intrínseca
(2019)



Livro Didáticos A Nova Guerra do Vietnã o Desafio de um País para Superar a Pobreza
Jaime Spitzcovsky
Ática
(1995)



Livro Comportamento Confissões de um Torcedor Quatro Copas e uma Paixão
Nelson Motta
Objetiva
(1998)



Pesquisa Visual - Introdução às Metodologias de Pesquisa em Design Gráfico
Ian Noble, Russell Bestley
Bookman
(2007)



Comunicação Global - a Mágica da Influência
Dr. Lair Ribeiro
Objetiva
(1993)



A senhora das velas
Walcyr Carrasco
Arx
(2007)



Crimes Imperceptiveis
Guillermo Martínez
Planeta do Brasil
(2004)



A Economia da Cadeia Produtiva do Livro
Fabio Sá Earp / George Kornis
Bndes
(2005)



Crianças Seguras
Harris Clemes; Reynold Bean
Gente
(1995)



Aventura Da Imagem
Lia Zatz; Diana Zatz Mussi
Moderna
(2013)





busca | avançada
133 mil/dia
2,0 milhão/mês