Mínimos, Múltiplos, Comuns, de João Gilberto Noll | Ricardo de Mattos | Digestivo Cultural

busca | avançada
68515 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Nouveau Monde
>>> Agosto começa com música boa e grandes atrações no Bar Brahma Granja Viana
>>> “Carvão”, novo espetáculo da Cia. Sansacroma, chega a Diadema
>>> 1º GatoFest traz para o Brasil o inédito ‘CatVideoFest’
>>> Movimento TUDO QUE AQUECE faz evento para arrecadar agasalhos no RJ
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
Colunistas
Últimos Posts
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> As deliciosas mulheres de Gustave Courbet
>>> A arte contemporânea refém da insensatez
>>> O turista imobiliário
>>> O assassinato e outras histórias, de Anton Tchekhov
>>> Choque de realidade no cinema
>>> O silêncio e o segredo na Literatura
>>> A crise dos 28
>>> Cidades do Algarve
>>> E Foram Felizes Para Sempre
>>> Inesquecíveis aventuras
Mais Recentes
>>> Legislação Penal Especial - Volume 24 de Victor Eduardo Rios Gonçalves pela Saraiva (2025)
>>> Box Rio - Capital da Beleza - 3 Volumes de Geza Heller, Bruno Lechowski e Peter Fuss pela Casa da Palavra (2001)
>>> Turismo E História Em Perspectiva de Vários autores pela Faperj (2024)
>>> Moby Dick de Herman Melville pela Abril
>>> Dylan: A Biografia de Howard Sounes pela Conrad (2002)
>>> Três Mulheres de Lisa Taddeo pela Harpercollins (2019)
>>> Histórias (Re)Veladas - Narrativas ficcionais de uma mulher real. de Sandra Koelling pela Caravana (2024)
>>> Bruce Dickinson de Joe Shooman pela Gutenberg (2013)
>>> CIrce Dreawings Based on James Joyce's Ulysses de Erwin Pfrang pela David Nolan Gallery (1991)
>>> A Colonização Explicada A Todos de Marc Ferro pela Editora Unesp (2017)
>>> Granta Em Português - Vol 2: Longe Daqui de Vários Autores pela Alfaguara - Grupo Objetiva (2008)
>>> Madame Satã de Barro Preto de Sylvio Fausto de Oliveira pela Gráfica 3 Pinti Uberaba - MG (2016)
>>> Ocio Criativo de Domenico de Masi pela Editora Sextante (2000)
>>> The Camera - Volume 1 - The Ansel Adams Photography de Ansel Adams pela Little, Brown (2020)
>>> Fortaleza De Inverno de Bascomb pela Objetiva (2017)
>>> Depois Daquela Viagem de Valéria Piassa Polizzi pela Atica (1998)
>>> Em Nome Dos Pais de Matheus Leitão pela Intrínseca (2017)
>>> Elogio Da Mentira de Patricia Melo pela Companhia Das Letras (1998)
>>> Breve Retrato Do Brasil (Coleção Cartas De Um Terráqueo Ao Planeta Brasil - Vol.7) de Olavo De Carvalho pela Vide Editorial (2017)
>>> Siddhartha de Hemann Hesse pela Dom Quixote (2021)
>>> Liberais E Antiliberais. A Luta Ideológica Do Nosso Tempo de Bolívar Lamounier pela Companhia Das Letras - Grupo Cia Das Letras (2016)
>>> Tudo Começa Com A Comida de Dallas Hartwig pela Editora Sextante
>>> A Riqueza De Poucos Beneficia Todos Nós? de Zygmunt Bauman pela Jorge Zahar
>>> Programa De Caminhada E Corrida de Marcos Paulo Reis pela Abril (2009)
>>> O Velho E O Mar de Ernest Hemingway pela O Velho e o Mar (2003)
COLUNAS

Quinta-feira, 1/7/2004
Mínimos, Múltiplos, Comuns, de João Gilberto Noll
Ricardo de Mattos
+ de 12600 Acessos

Creio que Mínimos, Múltiplos, Comuns (2.003), de João Gilberto Noll (1.946), é o livro mais difícil que recebi não para ler, mas para comentar. Primeiro porque o essencial a ser falado sobre o volume já consta da apresentação de Wagner Carelli e da introdução, que à falta de assinatura pressuponho ser d'ele mesmo. Segundo porque posso dar uma ideia da excelência do todo, mas ser negligente com a excelência da parte. Falar demais a respeito dele é assumir o comportamento do visitante que narra pelo telefone celular cada fotografia ou tela vista n'uma boa exposição. Primeira sugestão, portanto, é o silêncio durante a apreciação.

O volume é composto por 338 textos escritos para publicação na Folha de São Paulo entre Agosto de 1.998 e Dezembro de 2.001. Por opção do escritor, cada texto deveria ter o máximo de 130 palavras. Não faço grande questão de classificar um texto como novela, ensaio ficcional, conto, miniconto, romance. Nome por nome, prefiro o escolhido pelo próprio autor para classificação dos pequenos textos: instantes ficcionais. Tidos por ele mesmo como um "franco hibridismo entre a prosa e a poesia", não deve ser grande pecado apresentá-los, em suma, como prosa poética.

Os textos não foram publicados em jornal na mesma ordem constante do livro. O critério para o agrupamento posterior visou formar cinco conjuntos sucessivos seguindo uma "cronologia da Criação: Gênese, Os Elementos, As Criaturas, O Mundo e O Retorno". Estes conjuntos subdividem-se em outros subconjuntos, tornando a coesão perceptível e apreciável d'estes "microcontos poemáticos em que você suspende por agudos momentos o fluxo normal de uma narrativa, a princípio mais extensa e que parece correr pelo livro todo. Essa narrativa, é claro, só vai aparecer na ponta de icebergs de cada peça de escrita. Então a coerência do título: Mínimos, Múltiplos, Comuns" (entrevista concedida ao jornal O Estado de São Paulo de 27 de julho de 2003).

Algumas narrativas parecem recortadas de uma situação. Outras são uma síntese, uma conclusão, e há ainda as possuidoras de começo, meio e fim. Alguns d'estes minicontos tratam de pontos do cotidiano sem grande expressão temporal - Fôlegos. Outros, pelo contrário, referem-se àquele instante em que o homem dá-se conta da totalidade d'uma situação, o momento da conclusão de uma meditação paralela inconsciente - O Não. Ou um quadro trazido inteiro pela memória - Sarça Ardente. São mínimos na expressão do tempo, múltiplos pois corriqueiros - salvo exceções - e comuns, tão comuns que podemos vivenciá-los imperceptivelmente. Recomendo a leitura vagarosa, pausada e atenta, não o pantagruelismo que cometi.

Fúria, de Salman Rushdie.

Se Versos Satânicos colocou o escritor indiano Salman Rushdie (1.947) entre as personae non gratae do islamismo, seu romance Fúria (2.001) não provoca sustos sequer na velhinha mais sensível.

O personagem principal d'este romance é Malik Solanka, professor universitário e artesão de bonecos. O argumento é fraco: Solanka criava bonecos como passatempo. Um d'estes, "Little Brain", ganhou um programa de televisão cuja finalidade inicial era apresentar os grandes filósofos ao público. A boneca torna-se uma celebridade e foge do seu controle, desencadeando-lhe uma neurastenia que, muito mal conduzida, quase culmina na morte da mulher e do filho. Dificilmente o professor ganhará um lugar entre os famosos mal-humorados da literatura universal.

Após o quase homicídio, o personagem refugia-se nos Estados Unidos da América. Parece uma contradição, pois o anti-americanismo é o vinagre amaríssimo a encharcar as páginas. Se possui pavor indescritível pelo país, por que o escolheu como refúgio? A resposta demora um pouco, mas é presente. Espezinhado pelo remorso, reflecte durante uma conversa com o amigo Jack Rhinehart: "Como dizer a América é a grande devoradora, eu vim à América para ser devorado?". A intenção da viagem é sua própria aniquilação, como penitência pela ameaça infligida à família.

Em Fúria, Rushdie destaca-se pela prolixidade. Diz em dez páginas o que poderia resumir em apenas uma. Repete-se tanto que se pularmos alguns parágrafos, e mesmo algumas páginas, a compreensão da narrativa não é prejudicada. Daí duas perguntas. A primeira: se for para ler aos saltos, para que ler? A segunda: é realmente interessante uma estória que admite tanta superficialidade em sua leitura? Eis um dano causado pelo escritor a si mesmo. O que é uma pena, pois enxuto e bem ordenado o texto, teríamos um livrete interessante. Tenho para mim que a prolixidade, se contaminada pela repetição, revela pressa e falta de revisão. No geral, talvez indiferença da pessoa com seu trabalho. Por isso temos uma obra onde impera o "quase". "Quase" romance de ideias; "quase" ficção policial; "quase" romance psicológico. O personagem é "quase" ateu e "quase" politicamente correto.

As duas principais referências do professor Solanka têm verniz de ilustração. Para iniciar a confeição de bonecos, não lhe serviu um fantoche qualquer, mas precisou maravilhar-se com a exposição de casas de bonecas vista no Rijksmuseum de Amsterdan. Para explicar sua fuga de Londres a New York, e apesar de reconhecer a contradição, recorreu à filosofia indiana e proclamou-se adepto d'um tipo mui pessoal de sanyasi. O sanyasi pode ser entendido como o quarto estágio evolutivo da vida humana, caracterizado pela renúncia à totalidade dos bens materiais e pela busca solitária da divindade. Já foi mencionado com maior precisão n'O Fio da Navalha, de Maughan. O professor Solanka, contudo, renunciou à família e ao meio social em que vivia e esta renúncia é mero eufemismo para abandono. De mudança para New York, continuou recebendo seus direitos pela criação da boneca "Little Brain". Não se tornou mendicante nem abandonou o conforto habitual. Além disso, o estágio sanyasi pressupõe três anteriores: o brahmacharya, o grehasta - ou grhastha - e o vanaprastha. Mal e mal mencionando aquela quarta etapa, Rushdie perdeu a oportunidade de apresentar-nos mais de sua cultura original através d'uma obra mais consistente. Contudo, acaba descrevendo a situação de quem nem abandonou completamente as origens e nem foi completamente aceito pelo novo meio.

Para ir além









Ricardo de Mattos
Taubaté, 1/7/2004

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Literatura e caricatura promovendo encontros de Diogo Salles
02. A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito de Jardel Dias Cavalcanti
03. Outros cantos, de Maria Valéria Rezende de Ana Elisa Ribeiro
04. O cavalo branco de Elisa Andrade Buzzo
05. Uma nova forma de captação para projetos culturais de Marcelo Spalding


Mais Ricardo de Mattos
Mais Acessadas de Ricardo de Mattos em 2004
01. A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón - 9/9/2004
02. O Livro das Cortesãs, de Susan Griffin - 4/3/2004
03. Equador, de Miguel Sousa Tavares - 29/7/2004
04. História e Lenda dos Templários - 1/4/2004
05. Mínimos, Múltiplos, Comuns, de João Gilberto Noll - 1/7/2004


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Antonio Citterio - Vol.7 - Colecao Folha Grandes Designers
Folha de S. Paulo
Folha De São Paulo
(2012)



A empresa voltada para o cliente
Richard Whiteley
Campus
(1999)



Administração de Materiais e Logística
Petrônio Garcia Martins; Paulo R. Campos Alt
Saraiva
(2009)



Word War II
Ronald Heiferman
Octopus Books
(1973)



O Evangelho Segundo o Espiritismo
Allan Kardec (1804-1869)
Boa Nova
(2012)



Nova Reunião 23 Livros de Poesia - Vol. 1
Carlos Drummond de Andrade
Best Bolso
(2009)



Processo Penal para Concurso-polícia Federal(série Concursos Públicos)
Emerson Castelo Branco
Método
(2014)



Noções de Medicina Legal
Carlos Haroldo Gomes
Do Autor
(1973)



A Ilha da Energia
Allan Drummond
Nova Fronteira
(2017)



Curso De Biofísica
Carlos Alberto Mourão Júnior e Dimitri Marques Abramov
Guanabara Koogan
(2009)





busca | avançada
68515 visitas/dia
2,1 milhões/mês