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Quarta-feira, 17/8/2005
O sublime ridículo
Guilherme Conte
+ de 4600 Acessos

"Eu sou um homem ridículo. Agora eles me chamam de louco. Isso seria uma promoção, se eu não continuasse sendo para eles tão ridículo quanto antes." Assim começa uma profunda viagem aos subterrâneos do inconsciente de um funcionário público. Um homem comum, médio. Um homem ridículo.

Talvez ninguém tenha sido tão bom em traduzir a "alma russa" quanto Fiódor Dostoievski. Sua obra possui consistência e atualidade impressionantes, em uma prosa elegantíssima. É de um conto homônimo seu que nasceu o imperdível monólogo Sonho de um homem ridículo, em cartaz até o dia 18 de setembro. A montagem inaugura o Instituto Cultural Capobianco, no Centro de São Paulo.

É a volta de Celso Frateschi - também responsável pela dramaturgia da montagem -, que completa 35 anos de palco, ao teatro. Nos últimos quatro anos, Frateschi esteve à frente da Secretaria Municipal de Cultura, durante a gestão de Marta Suplicy na capital paulistana.

"Quando passamos por experiências marcantes, como foi o caso da secretaria, conseguimos fazer balanços objetivos muito claros. Mas os balanços subjetivos, para mim, só se realizam na experiência estética", conta Frateschi. Poucos minutos de conversa com o ator são necessários para que ele transpareça o envolvimento despertado por Sonho de um homem ridículo.

Em meio a mensalões e Comissões de Ética, o texto é providencial. Os corrompidos, os descaminhados, a verdade - a associação é imediata.

Um homem cético, descrente. Ocorre um episódio-chave, que o coloca em auto-questionamento. Há um flerte com o suicídio. Ele adormece e sonha. Detalhe: sonha diante do revólver. Ambiente carregado, opressor. O sonho é fantástico, extremamente expressivo. O raciocínio se constrói a olhos vistos: ele mergulha e a platéia mergulha junto. O homem viaja pelas estrelas. Há o vislumbre de uma vida fora da Terra, harmônica, ética. Utópica, de certa maneira.

Em meio à corrupção, ao mal e à mentira, ele vê a verdade. Só ele vê a verdade - é ridículo. Mais; é louco. Embora de postura niilista, extremamente crítica, o texto é no fundo esperançoso, quase otimista. Aí reside sua grandeza humanística. A experiência do público é intensa, mas alentadora. Me veio à cabeça uma passagem de Augusto dos Anjos e seu "Solilóquio de um Visionário": "Subi talvez às máximas alturas/ Mas se hoje volto assim, com a alma às escuras/ É necessário que eu ainda suba mais!"

"O texto coloca questões muito contundentes: a ética, a dimensão humana. É de uma dificuldade extrema", diz Frateschi. "Ao mesmo tempo, houve o trabalho de passagem do texto - originalmente um conto -, das letras no papel ao palco. Foi um desafio fascinante".

Frateschi brilha no palco. Alia profunda maturidade, técnica sólida e talvez o atributo mais notável ao vê-lo em cena ou conversando: a paixão pelo teatro. Atuando, está em casa; isso transparece em cada pequeno gesto, cada interjeição. É um grande ator, perfeito em um grande texto: não tem como dar errado.

Há de se destacar também a competente direção de Roberto Lage, atenta às possibilidades do texto, e aos belos cenários e figurinos assinados por Sylvia Moreira. É um espetáculo impecável, de beleza e sensibilidade raras. Para ir de coração aberto.

Para ir além
Sonho de um homem ridículo - Instituto Cultural Capobianco - Rua Álvaro de Carvalho, 97 - Centro - Quinta à sábado, 21h; domingo, 20h, R$ 30,00. Até 18/09.
Instituto Cultural Capobianco

Tarde demais?

Um homem em uma missa que não começa. Chove, e muito, do lado de fora. Três diálogos se estabelecem: com o antigo sócio de seu pai, com seu próprio pai e com o padre responsável pela celebração. Em pauta, a relação entre pai e filho. Entre eles, as barreiras que impedem o diálogo. Um acerto de contas. Em cartaz, no Teatro Procópio Ferreira, Adivinhe quem vem para rezar, surpreendente texto de estréia do jornalista Dib Carneiro Neto.

É um time de respeito. No palco, Paulo Autran e Cláudio Fontana encarnam uma tortuosa tentativa de diálogo, verdadeira dança de ironias, rancores e afetos sufocados. A direção fica por conta de Elias Andreato, a iluminação é de Wagner Freire e o cenário de Ulisses Cohn. A montagem reúne diversos aspectos interessantes. O mais notável talvez seja o fato de Paulo Autran encarar uma estréia de um jovem autor. Com 82 anos de idade, 55 destes no palco, Autran é um verdadeiro mito, a essência do teatro brasileiro. E seu vigor é invejável: além de Adivinhe, acabou de sair de cartaz com Visitando Sr. Green, terminou as filmagens do longa A Máquina, é responsável pelo programa Quadrante, na rádio BandNews FM (onde interpreta textos de autores brasileiros) e está para lançar um livro.

"Minha avó costumava dizer que macaco que se mexe muito quer chumbo. Mas eu não quero chumbo, não", conta, arrancando gargalhadas. Frio na barriga com a estréia? "Claro! O dia que não tiver, é melhor parar. Tenho dó desses atores que se dizem confortáveis em qualquer papel. Eles se tornam repetitivos", afirma. Ele diz que o texto de Dib lhe chamou a atenção logo de cara. "Me encantei. É uma peça totalmente original, diferente, impactante. Achei que seria um desafio interessante."

Quem também faz bonito é Cláudio Fontana, com uma personagem que não sai de cena um segundo sequer. Não é fácil dividir o palco com Autran; Fontana encara o desafio e se sai muito bem. É um papel arriscado, difícil - corria o risco de se tornar um chato, insosso: o que não ocorre. Muito pelo contrário: ele encarnou o papel com extrema competência.

"Quando li a peça, topei de frente com uma questão que não me dava trégua: por que ele não perguntou, o que o impediu?", conta Fontana. Ele também confessa ter ficado "fascinado" e tocado com o texto. "Assim que acabei de ler telefonei para o meu pai."

O texto de Dib é inclassificável pelos rótulos convencionais. Não chega a ser uma comédia, embora arranque, por vezes, gargalhadas. Tampouco é um drama. "Não a concebi como uma comédia, mas tive consciência dos momentos de humor", relata o autor. A cura pela palavra. A peça coloca questões difíceis, com grandes ressonâncias no público. "Quis mostrar como pode ser desastroso não conseguir conversar ou, pior, tentar conversar na hora errada", continua Dib. Ele partiu da premissa de que homens têm muito mais dificuldade para conversar do que as mulheres - ponto que aparece diversas vezes no texto.

As recorrências, aliás, são muito interessantes. Diversas frases se repetem na boca de diferentes personagens. Passado e presente se chocam. O tempo resolve tudo? Ainda faz sentido, é necessário abordar certas questões? "Afinal de contas, vai ter missa?"

Vale, e muito, a ida ao teatro. Uma experiência catártica, questionadora, mas com uma dose de alento. Melhor não deixar para amanhã.

Para ir além
Adivinhe quem vem para rezar - Teatro Procópio Ferreira - Rua Augusta, 2823 - Jardim Paulista - Quinta e sexta (R$ 60,00), 21h30; sábado (R$ 80,00), 21h; domingo (R$70,00), 20h. Até 18/12.


Guilherme Conte
São Paulo, 17/8/2005

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01. Por que a discussão política tem de evoluir de Julio Daio Borges
02. O Candomblé de Verger e Bastide de Ricardo de Mattos


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