O Ira! na formação do adulto contemporâneo | Adriana Baggio | Digestivo Cultural

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Segunda-feira, 16/4/2001
O Ira! na formação do adulto contemporâneo
Adriana Baggio
+ de 4600 Acessos

Nem lembro quando comecei a gostar do Ira!. Na época dos primeiros sucessos deles, no início dos anos 80, eu tinha somente um disco de adulto, da Rita Lee. Lembro que as rádios tocavam umas músicas muito loucas, como Mamma Maria, Vamos a la Playa, etc. Era tudo muito ingênuo e divertido.

Enquanto o Ira! ia se dando bem no rock brasileiro, eu curtia o RPM. Fiz meu pai me levar a um show lotadíssimo no ginásio do Tarumã, em Curitiba. Enquanto estávamos na fila, ele ia me dizendo que aquilo não prestava, que o que estava acontecendo de bom era Paralamas do Sucesso. Bem, mas isso é outra história.

No segundo grau, tendo contato com outras cabeças, outros estilos, começo a gostar de coisas diferentes. Nessa época tinha uma rádio maravilhosa em Curitiba, a Estação Primeira. Só tocava rock, música boa, dos novos e dos velhos tempos. Foi uma injeção de experiência musical, concentradíssima. Tudo que eu poderia ter conhecido sobre música desde o começo da adolescência foi despejado em cima de mim naquela época. A rádio me proporcionou um leque de bandas e músicos para eu gostar, amar, falar, ir em shows. E toda noite eu gravava minhas fitinhas cassete com as músicas de um programa de música brasileIra. Mas e o Ira!? Bom, o Ira! entra nessa fase. Tocava muito na Estação. Isso já era início dos anos 90, ou seja, a banda já estava há tempos na estrada. Eu adorava Pobre Paulista! Ficava arrepiada toda vez que escutava! Foi o hit dos hits das minhas cassetes!

Quando ouvi Pobre Paulista e amei, e ouvi outras músicas do Ira! e amei, não tinha nenhum motivo racional para amar. Não amei o Ira! porque eles tocavam assim ou assado, porque os solos de guitarra eram isso ou aquilo, ou por qualquer outro argumento lógico-crítico. Amei porque amei. Gostei do peso, da força, das letras. Gostei na energia que me chacoalhava quando começava a música. Gostei de sentir que podia tomar emprestado um pouco do "punkismo" daqueles caras. Ah, me deu uma vontade de ter meus 18 anos na década de 80... Por mais normal, até careta que eu fosse, de repente me senti vibrando com punk rock! As coisas que eles falavam eram as coisas que eu sentia, mas nem sabia que sentia. Eu queria pular, cantar, gritar, dar mosh (nem sei se é assim que escreve), ficar toda roxa de tanto me bater com os outros. Eu queria ser punk, mas estava só uns 10 anos e uma discoteca atrasada!

Fui acompanhando de longe a carreIra dos caras, nunca comprei um disco, ficava esperando aquele frisson que me dava quando, de surpresa, ouvia o comecinho de Pobre Paulista. Por causa do Ira!, conheci e aprendi a gostar de outros punks rockers, como Ramones, Sex Pistols, The Clash.

Até que, no ano passado, em Curitiba, estava eu no meio de vários dilemas adultos e extremamente sacais quando chega o Ira!. Fazia séculos que não ia num show. Fui. Foi o máximo. Me senti transportada no tempo. Primeiro porque a faixa etária tinha subido misteriosamente naquele ponto da noite curitibana, e eu não era mais velha do que as pessoas que estavam do meu lado. Olhávamos desconfiados uns para os outros, avaliando nossas idades e experiências, se estávamos deslocados ou não. Observávamos nossas roupas, e tentávamos descobrir as referências de cada um. Por que você está aqui? Por que ele está aqui? Por que eles estão aqui? Por que nós estamos aqui? O ponto máximo antes do show foi observar uma dupla que estava por perto. Dois caras, altos e magros. Braços cruzados, cabeça levantada, cara emburrada. Nada interessava, nada chamava a atenção deles. Eles eram... fleumáticos! Essa é a palavra! Vestiam botas, roupas escuras, mas nada que impedisse que saíssem na rua à luz do dia. Só se dignaram a balançar um pouco os pés quando tocou um Smiths enquanto a gente esperava o Ira!. Fiquei ao lado deles durante o show. Enquanto eu pulava, me esgoelava, chacoalhava minha garrafa de cerveja, eles assistiam o show impassíveis, na deles.

Acabou o show. A turba de dispersou. Entre os que ficaram, começaram a aparecer os conhecidos, as pessoas da sua faixa etária, aqueles que você nunca mais tinha encontrado. Estavam todos lá, no show do Ira!. Engenheiros, advogados, jornalistas, publicitários. Pessoas "normais" no dia-a-dia, mas que, naquela noite, graças ao Ira!, tiveram a oportunidade de liberar seu lado punk. Isso não significa necessariamente que eles pularam, berraram, chutaram. Significa que puderam curtir uma noite de bom rock, que puderam sentir aquela raiva rebelde contra as coisas que estão erradas, que puderam ser melancolicamente românticos e nada práticos.

No dia seguinte, restou a nostalgia que as coisas "do nosso tempo" provocam. E uma tremenda dor no corpo, de tanto ficar pulando. Ficou um pequeno travo na garganta, de saudades de um jeito que você era e nunca mais será. Da maneIra como o mundo se apresentava. E da possibilidade de ter outras bandas como o Ira!, que tornem nossa vida um pouco mais punk.


Adriana Baggio
Curitiba, 16/4/2001

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Práticas inconfessáveis de jornalismo de Adriana Carvalho
02. Guimarães Rosa no Museu da Língua Portuguesa de Tais Laporta


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