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Sexta-feira,
1/1/2021
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O que fazer com este corpo?
>>> Temos falado tanto em morte neste último ano e já ouvi, mais de uma vez, alguém dizer que tem medo de morrer sem ar, justamente uma das possibilidades assustadoras da covid-19. Quando me lembro dos meus avós, me vem a ideia de que uns morreram "bem", outros, nem tanto. Uns ficaram morrendo por anos e anos... outros levaram horas, minutos e nem souberam a causa. Que felicidade, penso.
por Ana Elisa Ribeiro
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Jogando com Cortázar
>>> Ler Julio Cortázar é um ato único, mesmo quando o relemos. Há sempre algo que nos escapou nas leituras anteriores, há sempre novos significados nos seus textos, há sempre um mistério que não foi e nem será desvendado. Ler Julio Cortázar é um jogo entre escritor e leitor, em que ambos ganham. O escritor, por ludibriar o leitor. Este, justamente por ser ludibriado.
por Cassionei Niches Petry
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Os defeitos meus
>>> Das três recomendações que a mãe de Drummond deixou a ele - não guardes ódio de ninguém; compadece-te sempre dos pobres; cala os defeitos dos outros -, é essa última que não sai da cabeça. É um conselho inesquecível, que deveria ser grifado por todas as gerações que vêm pela frente. Você não acha? Mas há um problema: e nossos defeitos, o que vamos fazer com eles? Pense bem nisto: quem vai nos alertar sobre eles?
por Renato Alessandro dos Santos
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Confissões pandêmicas
>>> Sou meio hipocondríaco, eu admito. Quando a Aids apareceu, no final dos anos 80, assisti a um Globo Repórter e já imaginei que estava contaminado. Impossível; já que eu era um pré-adolescente imberbe, não era hemofílico e o mais perto que passei de uma transfusão de sague foi, aos dezoito anos, quando, dispensado do serviço militar, fui obrigado a doar.
por Julio Daio Borges
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Na translucidez à nossa frente
>>> Há uma curiosa sorte que acomete a um pensamento pandêmico. Nada começa, nada termina, em última instância. Existe uma continuidade de situações e ações consistindo em um início sem pedidos de licença, e términos de ações esmorecidas. Ou seja, são situações sem situacionamento e ações inativas. No entanto, tais coisas têm um pico e é exatamente este momento de altura que dá a marca da realidade preponderante.
por Elisa Andrade Buzzo
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A Velhice
>>> A velhice me angustiava quando era criança. Imaginava que os velhos vivessem em agonia, apenas esperando a morte. Mais do que a degeneração da idade, me amargurava pensar que os velhos tinham um futuro curto pela frente e sabiam disso! Pois sofri à toa, como acontece quando se sofre antecipadamente. Não é assim! Nossa perspectiva também muda à medida que vamos envelhecendo.
por Marilia Mota Silva
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Casa, poemas de Mário Alex Rosa
>>> A casa é habitada por objetos, seres e as próprias sensações do morador-poeta. Tudo isso liquidificado em substâncias poéticas: do voo rasante de um pernilongo ao passeio de uma formiguinha num grão de açúcar ou a sensação da água e do sabão no momento de se lavar as mãos. Além dos objetos, há o espaço e há também o tempo, transformados em imagem, sejam as horas do dia ou as horas da noite, seja o efeito da luz ou dos sons, ou as estações do ano transformadas em espera do tempo futuro.
por Jardel Dias Cavalcanti
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Doutor Eugênio (1949-2020)
>>> “A morte é o único ato perfeito”, já dizia Gustav Mahler. “Porque não precisa ser refeito; não precisa ser remendado...”. Quem me falava isso era o Doutor Eugênio, no meio do enterro da minha avó, em meados da década passada. Mais adiante, começou a discorrer sobre estruturalismo - “porque somos todos estruturas”, completou. “Era uma cabeça”, foi minha conclusão para o Fê - quando ele me contou da morte do Doutor Eugênio, que, parece, foi em Julho deste ano.
por Julio Daio Borges
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Coisa mais bonita é São Paulo...
>>> Segundo turno de eleições municipais em São Paulo. As más línguas chamam um candidato de radical, o outro de elitista... Como ambos são de minha geração, é interessante acompanhar essa renovação na política. De um deles, eu poderia ter sido colega de turma, se eu tivesse ido para o Bandeirantes (ou ele ido para o Etapa, colégios concorrentes e próximos na Vila Mariana); com o outro, posso ter cruzado nos corredores da FFLCHUSP ou dividido uma mesa no bandejão central.
por Elisa Andrade Buzzo
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Cuba E O Direito de Amar (2)
>>> Por toda a cidade, vimos cartazes, outdoors já gastos, homenageando Cienfuegos, um homem jovem, bonito, carismático. No Museu de Revolucion aprendi quem era ele: Comandante Camilo Cienfuegos, amigo de Fidel e de Guevara, um dos líderes da revolução, que morreu em um acidente aéreo, pouco tempo depois da vitória. E Che, como sabemos, foi sozinho levar a revolução para o resto da América Latina e acabou morto na Bolivia.
por Marilia Mota Silva
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Cuba e O Direito de Amar (1)
>>> Sem sair de casa por causa da pandemia, comecei a reler velhos cadernos de viagem. Um deles trazia notas de uma semana em Cuba, no século passado, quando não havia celular, nem e-mail, nem Google. O muro de Berlim e a União Soviética ainda estavam em pé: 1989, pré-história. O Banco Nacional de Cuba (BNC) faria um seminário sobre câmbio; o país começava a incentivar o turismo, a se abrir para o estrangeiro, e precisava aprender sobre operações cambiais. Fomos para esse seminário.
por Marilia Mota Silva
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Aos nossos olhos (e aos de Ernesto)
>>> Aos olhos de Ernesto é um filme brasileiro lançado em 2019, dirigido por Ana Luíza Azevedo, também autora do roteiro em parceria com Jorge Furtado, protagonizado pelo ator uruguaio Jorge Bolani. Contracenam com ele Júlio Andrade, Gabriela Poester, Áurea Baptista e Jorge D'Elia. A vida comum de um idoso estrangeiro radicado no sul do Brasil tem sua graça iluminada justamente por elementos relacionados aos afetos e às limitações que se impõem conforme a idade avança.
por Ana Elisa Ribeiro
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Carol Sanches, poesia na ratoeira do mundo
>>> A linguagem e as imagens de sua poesia mantêm-se basicamente na mesma clave: perscrutar o cotidiano, as relações humanas, os acontecimentos (sejam domésticos ou do mundo social ou existencial) e, com argúcia, transformar essa matéria – ou material – numa forma através da qual os contornos que a cercam possibilitem ver e reconhecer a experiência interior do seu mundo.
por Jardel Dias Cavalcanti
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O fim dos livros físicos?
>>> Estamos prontos para abrir mão dos livros físicos e aderir de corpo e alma aos e-books? Se essa fosse a pergunta de um milhão de dólares, seria a maneira mais fácil de se tornar um milionário. Para mim, a resposta é óbvia e negativa. Não conseguiríamos fazer essa substituição. É só observar os nossos hábitos como leitores. A pessoa que compra um livro não está apenas interessada no conteúdo das páginas em si: é uma relação de amor em diversas camadas.
por Luís Fernando Amâncio
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A sujeira embaixo do tapete
>>> Flui com muita rapidez a leitura de Desonra, de J. M. Coetzee. O que faz pensar que não foi por acaso que esse escritor sul-africano ganhou o Prêmio Nobel de literatura de 2003. O romance conta a história de David Lurie, professor quinquagenário que, desafortunadamente, após se envolver com uma aluna anos-luz mais nova que ele, vê seu emprego na universidade ir para o espaço: denunciado pela garota, seu nome vai parar nas páginas dos jornais, acusado de abuso sexual.
por Renato Alessandro dos Santos
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Julio Daio Borges
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