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Quarta-feira, 16/8/2006
Blog
Redação
 
Mozarteum 2006 para iniciantes

Os números da tradicional associação cultural brasileira são impressionantes. Em seu 25º ano, a associação Mozarteum, que já trouxe para o país a Filarmônica de Viena, Munique e Nova York, além da inglesa Royal Philharmonic, já realizou 894 espetáculos, 539 com artistas internacionais e 355 com nacionais, para um público que já soma quase dois milhões de pessoas. Sua temporada de 2006, que começou em maio e irá se estender até outubro, já teve 16 apresentações nas principais capitais do país.

Entidade sem fins lucrativos, apoiada por leis de incentivo a cultura e empresas privadas, visa contribuir para a difusão da música clássica em um país carente dela. Seus concertos são, por vezes, apresentados ao ar livre, o que amplia o seu acesso. Além disso, há matinês de ballet para crianças e jovens e os Concertos do Meio-Dia, realizados no MASP, ambos com entrada franca. O festival comumente também doa bolsas de estudos de cursos internacionais de verão para jovens músicos, dá cursos de história e interpretação e promove um intercâmbio entre músicos nacionais e internacionais através das master classes, onde músicos de grandes orquestras dão aulas a estudantes de música brasileiros.

A programação, mesmo focada na música clássica, é diversificada: são orquestras, solistas, grupos de música de câmara, óperas e companhias de dança. Após as alemãs Orquestra Sinfônica WDR de Colônia e Orquestra Filarmônica de Câmara de Freiburgo, esta composta por estudantes e cujo coro tocou em parceria com o Coro Barroco da Bahia; além dos grupo norueguês Solistas de Trondheim, também composto majoritariamente por jovens músicos, foi a vez do Quarteto Mitchell-Tomter-Poltéra-Leschenko se apresentar no Theatro Municipal de São Paulo nos dias 31 de julho e 1º de agosto.

O quarteto apresentou músicas de câmara, consideradas as de mais difícil deglutição por ouvidos virgens à música clássica. Ao invés de uma grande orquestra, com muitos ápices musicais que levantam e impressionam qualquer platéia, há, basicamente, o som do violino, violoncelo, viola e piano. Ficou difícil? Quem é leigo no universo regido por gênios como Mozart, Bach & Cia., mas adora este som transcendental não apenas no bip do celular, pode relaxar. O Mozarteum tem, desde 2001, o Clube do Ouvinte, uma série de palestras educativas gratuitas que são ministradas antes dos concertos da Temporada Internacional, destinadas à platéia de cada apresentação.

O maestro, compositor e pianista Sérgio Igor Chnee já logo nos situa, nos introduzindo à composição da música de câmara. Ela é, no máximo, executada por cinco músicos, todos com a mesma importância musical, ao contrário de uma grande orquestra sinfônica, onde cada um é reforçado por um conjunto musical. Esta equidade reflete até mesmo no nome do grupo. Composto por jovens músicos, a voz de sua experiência reside no violista norueguês Lars Anders Tomter, considerado um dos maiores violistas atuais. O Gigante da Viola Nórdica já se apresentou nas maiores orquestras sinfônicas mundiais e em famosos festivais. Mas, ao lado de Priya Mitchell, uma jovem violinista que toca um Balestieri de 1760, há o contraste que cria a sintonia, complementado pelo diligente violoncelo de Christian Poltera e o ágil dedilhado do piano de Polina Leschenko.

Depois de terem executado obras de Mahler, Mozart e Dvorák, em sua 2º apresentação o quarteto tocou três compositores muito diferentes entre si. O austríaco Franz Joseph Haydn é o pai do classicismo e seus trios são considerados a 2º parte mais importante de sua obra, caracterizada por contrastes sonoros. Já o alemão Johannes Brahms fazia parte do romantismo e está mais próximo de fontes clássicas como Bethoveen. Por fim, Gabriel Fauré, compositor francês, encontrou abertura para o experimentalismo, o que faz com que suas obras sejam entrecortadas de vazios sonoros propositais. Fica fácil perceber as características do minueto do quarteto ao ouvirmos CD guiados por Chnee. Ele é composto por um movimento rápido, um lento, uma dança e um segundo rápido, o gran finale.

Após a palestra, eis o concerto em si. Haydn nos é apresentado através de seu Trio nº 39 para piano, violino e violoncelo, em sol maior. Com seu violino em embate com o violoncelo e tendo o piano como fio condutor, encontramos em um mesmo movimento humor e agressividade. Já Brahms é dramático no primeiro movimento de seu Trio para piano, viola (clarinete) e violoncelo, op.114, em la menor. Há contrastes, uma conversa entre violoncelo e viola para depois se fazer presente a leveza, seguida por uma dança com muitos ápices e um final raivoso expresso pelo piano. Por fim, há o virtuosismo e melodia do Quarteto com Piano nº1, op.15, em dó menor de Fauré. Nele, o piano é o ator principal e o que vemos são fragmentos difusos, que sobem e descem para acabarem em uma fúria sóbria. E esta sobriedade se perpetua em nossos sentidos após este gran finale do quarteto.

A partir do dia 17 de setembro, a temporada que celebra os 25 anos do Mozarteum continua. Desta vez, o Parque do Ibirapuera, a Sala São Paulo, Blumenau e Rio de Janeiro receberão o violinista com trinta anos de carreira e reputação mundial Gidon Kremer. Em outubro, Rudolf Buchbinder terá apresentação única na Sala São Paulo, onde mostrará um pouco de sua extensa obra de cerca de cem discos e, por fim, a soprano inglesa Dame Felicity Lott, que já trabalhou com quase todas as maiores orquestras e festivais mundiais, se apresentará em dois dias, também na Sala São Paulo*.

*programação sujeita a alterações

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Postado por Marília Almeida
16/8/2006 às 23h17

 
Molloy, de Beckett

Pensemos em espaços parcamente falados, nas companhias teatrais parcamente criticadas ou espetáculos pouco valorizados no concorrido circuito teatral de São Paulo. A Cia ânima Dois, o Viga Espaço Cênico e o espetáculo Molloy são apenas um deles.

Em uma apresentação no injusto horário de domingo à noite para uma peça outsider, o denso monólogo é baseado no romance de mesmo nome do aclamado escritor e dramaturgo irlandês Samuel Beckett, cujo centenário foi comemorado mundialmente este ano. Ele faz parte de uma trilogia escrita no período pós-guerra, o que talvez explique seu extremo niilismo.

O espetáculo surpreende ao se revelar uma pantomima, onde os gestos corporais e sons guturais tomam o lugar da voz do ator. "O fim está no começo e, no entanto, continua-se" é o mote de Molloy, que busca um diálogo inovador para um texto não teatral ao utilizar recursos como bonecos, animação de objetos e máscaras. Estes recursos, além da boa atuação do protagonista, conseguem tencionar indefinidamente, sem entediar, uma narrativa pesada e repetitiva.

Seu cenário consiste apenas em uma cadeira de onde brota uma pequena árvore, além de bagagens de onde Molloy retira suas lembranças infantis e objetos toscos que ganham status de idolatria. E quem é este protagonista? Um velho louco? Ou apenas um saudosista que foi engolido pela triste realidade mundana? Nada pode ser afirmado com certeza no teatro do absurdo beckettiano.

O ator Alexandre D'Angeli é responsável por, nada mais, nada menos, que o roteiro, direção, confecção do boneco, máscara, manipulação, iluminação e interpretação solo. Destaque para sua preparação corporal, feita por Carlos Gomiero, além da sonoplastia, essencial ao espetáculo e feita pelo próprio Alexandre em parceria com Andréa Amparo. Uma mistura de sons eletrônicos modernos com músicas clássicas teatrais que muda constantemente, de acordo com o humor inconstante de Molloy.

A montagem estreou em outubro de 2003 e já fez três temporadas em São Paulo, participou de vários projetos que investigam experimentos e o desenvolvimento de novas linguagens nas artes cênicas. Além disso, recebeu três prêmios no IX Festival de Monólogos da Bahia e recentemente esteve na VII Mostra Cariri das Artes. Em abril, participou de Samuel Beckett - 100 Anos, no Sesc Santana.

Inaugurado em novembro de 2003, o Viga Espaço Cênico apresenta propostas diferenciadas de teatro, dança, música e artes plásticas. Situado em um antigo galpão do bairro de Pinheiros, tem como objetivo receber idéias instigantes e atuais. Ele é atingido com a apresentação de Molloy. Sua Sala Porão, destinada a espetáculos intimistas, com lotação máxima de 20 pessoas, contribui muito para a eficácia do espetáculo.

Para ir além

De 04 a 27 de agosto
Sextas e sábados às 21hs (domingos às 19hs)
Preço: R$ 20,00 (meia: estudantes, idosos e classe teatral)
VIGA Espaço Cênico
Rua Capote Valente, nº 1323 (próximo ao metrô Sumaré)
Telefone: (11) 3801-1843

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Postado por Marília Almeida
15/8/2006 à 01h06

 
Uma história de amor

Histórias de amor não saem de moda, não têm fronteiras, não se esgotam. Histórias de amor não são privilégio do romantismo, da burguesia, do regionalismo. Autênticas histórias de amor, como diria Pessoa das cartas de amor, são ridículas, têm de ser ridículas, mas ainda mais ridículo é quem nunca leu - ou escreveu - uma história de amor.

A história de amor de Fernando e Isaura (José Olympio, 2006, 176 págs.), é o que se pode chamar de uma história de amor autêntica. Escrita por Ariano Suassuna em 1956 como laboratório para seu Romance d'A Pedra do Reino, permaneceu inédita até 1994, quando foi publicada no Recife, e só neste ano ganha uma edição nacional.

A história é uma versão nordestina do mito de Tristão e Isolda, lenda de origem celta imortalizada por Joseph Bédier e com versão cinematográfica bem recente. Suassuna, ao invés de fazer pastiche ou paródia, consegue de forma belíssima "traduzir" a história celta para o nordeste da primeira metade do século XX, transformando o rei num rico proprietário de terras, os navios em barcos de cabotagem, os mares europeus em rios, a poção mágica em desejo carnal. Numa linguagem simples e lançando mão de recursos originários do cordel, a obra funciona dentro de seu universo particular mas não ousa ir além do que uma autêntica história de amor iria: se Isaura trai, arrebatada pela paixão, o narrador ocupa-se em dois ou três parágrafos para desculpar essa falha de caráter; se Fernando hesita em seu amor, o narrador logo joga-o nos braços de sua amada e eles se amam loucamente sob o pé de um cajueiro. Assim deve ser: apenas o amor move os homens, um amor inabalável, romântico, lendário, trágico.

Sim, bem como a lenda, a história de Suassuna também termina em tragédia, tragédia que não queremos antecipar, mas lembra a mais célebre obra shakespeariana (talvez a mais autêntica das histórias de amor).

Se o leitor estiver apaixonado, é possível que suspire em diversos momentos do texto. Não o estando, é possível que ache graça. Nessas passagens de certo se lembrará do Alencar dos amores impossíveis e inevitáveis, do Goethe do suicida apaixonado Werther, talvez dos franceses até a vida tumultuada de Julien Sorel. E Ariano Suassuna não apenas sabia disso como temia que sua história não fosse compreendida num tempo em que as relações perderam a solidez, numa geração em que, segundo palavras do próprio Suassuna, "os educadores procuram fechar os olhos até para a realidade monstruosa do crime, contanto que não sejam forçados a admitir a verdade de qualquer norma moral".

Esta preocupação levou o autor a começar a história com uma advertência, isso mesmo, um capítulo titulado "Advertência". Nele o autor quase que se desculpa por fazer uma autêntica história de amor, e mais do que isso sente a necessidade de relembrar, mais uma vez - pois os editores já o fizeram na contracapa e na orelha - que se trata de um romance de estréia e escrito em 1956:

"Lembro, então, aos eventuais leitores desta história que, narrada em 1956, sua ação decorre em ano ainda mais recuado. Por isso, encarem com indulgência os arcaicos escrúpulos de seus personagens, perdoando remorsos e hesitações que, menos do que a eles, pertencem ao co-autor contemporâneo desta história tão antiga."

Não fosse em 1956 que Guimarães Rosa tivesse lançado Grande Sertão: Veredas e apenas dois anos mais tarde Carlos Heitor Cony estreasse com O Ventre, até acreditaríamos que as personagens agissem movidas por valores da época do texto, não se caracterizando numa opção do narrador. Mas não. Riobaldo, no momento da luta, age muito mais com razão e fúria do que amor e sensibilidade, arrependendo-se apenas ao ver sua Diadorim morta. Também o protagonista sem nome de O Ventre reprime qualquer relação com sua amada, Helena, ainda que isso cause sua perdição psíquica e social.

Sendo assim, Fernando e Isaura agem nesta história de amor movidas pelo amor das lendas celtas, das tragédias gregas, das autênticas histórias de amor shakespearianas. E não há problema algum nisso. Problema há, talvez, em acusar toda uma sociedade para defender um texto que não precisa de defesa: se às vezes parece ridículo, o é como as cartas de amor.

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Postado por Marcelo Spalding
14/8/2006 às 08h02

 
FLIP 2006 V

Como percebeu quem me leu no fim de semana, não cobri 100% o último dia da Flip 2006, pois era, justamente, o Dia dos Pais e eu voltava para São Paulo. Mas o Daniel estava lá - na Adélia Prado e no encerramento -, então, muito gentilmente, escreveu os dois trechos abaixo e enviou para mim. A cobertura fica, agora, completa. Reproduzo aqui na íntegra. E dou todos os créditos ao Daniel Bushatsky. Obrigado, Daniel, mais uma vez. - JDB

* * *


Foto de Walter Craveiro

A última palestra da FLIP, denominada Livro de Cabeceira, poderia não ter existido. Eu sei que a frase é pesada, mas os autores não mereciam a platéia animada que os prestigiavam e esperavam ansiosa uma profunda discussão literária para finalizar a festa.

A regra, nesta apresentação, era clara: cada um dos autores, eram sete, deveriam falar sobre o livro que escolheriam para levar a uma "ilha deserta", pelo tempo de cinco a oito minutos. Ainda dentro deste tempo deveriam ler o trecho mais representativo da obra escolhida.

Infelizmente para os organizadores e para a platéia, os escritores não estavam preparados. Não conseguiram cumprir a simples instrução. Alguns não trouxeram sequer uma parte da obra para leitura, outros confessaram que pensaram em cima da hora sobre o tema proposto e não sabiam muito bem sobre o que falar.

Nesta imensa decepção, a única que se salvou foi Adélia Prado que, mesmo substituindo Carlos Heitor Cony, na véspera, trouxe seu livro de cabeceira, explicou o motivo de sua escolha e terminou seus 8 minutos mais uma vez aplaudida pela pelos ouvintes (da mesma forma que ocorreu durante e depois de sua apresentação [trecho a seguir]) .

Uma pena que isto ocorreu. O tema é interessante tanto para o público quanto para os profissionais da área, iniciantes ou não, saberem como seus ídolos se inspiram e qual é a obra que para eles deve sempre ser consultada independentemente de que hora for.

* * *


Foto de Walter Craveiro

Simbolismo. Fantástico. A primeira palavra define o objeto da palestra ministrada pela poetisa Adélia Prado, na Flip - Festa Literária Internacional de Parati - no domingo, ensolarado, de dias dos pais, 13 de agosto de 2006.

A segunda palavra diz respeito às emoções que a escritora despertou nos ouvintes, que os levaram a arrepios, lágrimas, risos, contagiosos aplausos e um fanático, mas vibrante, grito de liiinda!

Adélia, de início, estava nervosa. Recitou alguns poemas para se acalmar. Ficou mais emocionada, menos nervosa e à vontade, paradoxalmente. O público incentivava a leitura de mais obras e enchia o mediador de questões sobre a criação de obras literárias, caminhando sobre temas desde "o que é arte" até "se é necessário uma terceira margem para o desenvolvimento literário".

A autora acredita que a terceira margem é essencial para nos distanciarmos do cotidiano, da rotina e vermos no ordinário o especial, mistificando e desmistificando os símbolos que nos acompanham pela vida.

A artista, porque Adélia é uma artista, ressaltou que vivemos em um mundo sem valores onde até um copo de água e limão é considerado arte e falta-nos uma utopia para lutar, o que ela poeticamente chamou repetidamente de "muro".

Realmente em um mundo em que nascemos carentes, apoiamo-nos em símbolos para sobreviver, nada mais gratificante do que coroar a mineira que encantou Parati com seu jeito humilde de ser e simples de entender o mundo, como a melhor palestra da Flip.

[1 Comentário(s)]

Postado por Daniel Bushatsky
14/8/2006 à 00h27

 
FLIP 2006 IV

Está acabando, está acabando. Sala de imprensa praticamente vazia neste domingo de manhã. O sábado foi de balada forte. Eu e a Carol ficamos só na pizza. Na verdade, eu quase esqueço de dizer que a Flip, em si, é só uma parte de toda a movimentação que se organiza na cidade nesta época. O Off Flip, por exemplo, - que não é uma gozação, nem um protesto, apenas um evento paralelo - hoje cresceu a tal ponto que já tem sua própria assessoria e sua própria sede. Muitos eventos giram em torno da pousada Villas de Paraty, que estava no nosso caminho e que sempre vimos movimentada, principalmente à noite. Também muitas coisas acontecem na Casa de Cultura onde, na verdade, começou a Flip em 2003. Ontem à tarde, um monte de crianças cantavam e dançavam o maior rock'n'roll zoológico sob o olhar embevecido de Paulo Roberto Pires e sob a proteção das mamães, também embaladas pelo som.

* * *

Existe um desejo de participação muito forte em toda a Flip, em toda a Off Flip, em toda a Flipinha e em todo o Off-Off Flip. Eu até quero escrever mais longamente sobre isso. As mesas, da Flip, acabam meio orientadas quase que para uma grande oficina de textos. Muitas perguntas no sentido de: "como você escreve?"; "como você cria seus personagens?"; "quando você dá um livro por terminado?". Perguntas meio sem sentido, conforme apontaram muitos dos próprios perguntados. Eu, Julio, tenho meu método de escrever, mas será que ele interessa a mais pessoas? O Jonathan Safran Foer, por exemplo, respondeu que, na verdade, não tem método. Lê todo o livro todos os dias, antes de começar. Mesmo que esteja na página duzentos e não sei quantos, ele volta na primeira página, lê tudo e (re)começa a escrever de onde parou. Isso me interessa, porque eu escrevo. Mas isso não interessa à Carol, por exemplo.

* * *


Foto de Walter Craveiro

Jonathan ainda disse que um romance é uma espécie de obsessão. Como é que você vai conviver com idéias que devem durar, sei lá, cinco anos? Quando casamentos, ele disse, não duram, hoje, três, quatro anos... Do romance, ele concluiu, fica apenas o que você tem de mais entranhado dentro de você, porque o resto, a cinco anos, não sobrevive. Eu admirei a calma e aparente ordem que emanava na figura do Jonathan: ele parecia tão centrado, tão seguro de si... E eu tinha visto, nestes dias todos, os jornalistas descabelados, desarrumados, ansiosos e mal dormidos. Ser escritor, eu pensei, é muito melhor. Muito mais calmo. O problema é que a Ali Smith não parecia muuuito mais calma. Ela andou aqui, pra cima e pra baixo da Flip, com a mesma calça, com a mesma blusa preta, com um cabelo que não parecia lavar desde a Escócia... Ela não era mais calma e mais "ordenada".

* * *

Essas reflexões interessam a mim, mas interessam às outras pessoas? Às vezes parece que, sutilmente, a organização da Flip "empurra" as pessoas para o ofício de escritor. E, depois, vamos ter de agüentar esses milhares de escrevinhadores que pensam que são escritores, porque viram uma determinada mesa e acharam, de repente, a coisa excitante - mas não é, não. Como disse o Paul Auster, na Flip 2004, é terrivelmente boring. Ir todo dia ao escritório, sentar e escrever. Tardes inteiras, manhãs inteiras. Sempre igual. Chato pra burro. As pessoas estão preparadas para essa conclusão? Não, não estão. Eu acho que não estão. Ontem, de manhã, foi também engraçada uma declaração do André Sant'Anna. Hoje ninguém vai escrever uma Quinta Sinfonia, ele garantiu. Ninguém tem mais cinco, seis horas para passar escrevendo. Telefone, internet, televisão, celular, rádio - são muitas as interrupções. Segundo ele, ninguém mais se concentra. Então escreve só migalhas (blogs?). Eu não sei se concordo, mas é uma boa observação...

* * *


Foto de Walter Craveiro

"Nem vai pelo lado da Quinta Sinfonia, que não é uma boa...", aconselhou o Lourenço Mutarelli. Meio na base da brincadeira, porque ser como Beethoven era - no seu linguajar - uma piração. A mesa deles, mais o Reinaldo Moraes, foi quase uma mesa lisérgica. Eu anotei algumas declarações (ou leituras de "obras" deles): "uma balada de pó", "orgias junk-putanhescas", "estrangulando uma loira" e "refrescando o saco no rasinho". Foi uma mesa meio catártica, cheia de palavrões, expressões chulas - um pai de família, um dos poucos que aparecem na Flip, se acabava em gargalhadas. Subitamente, alguém no palco protagonizava todas as baixezas que ele identificava mas não tinha coragem de praticar (ou de pensar). Deu a impressão de que o Mutarelli e o Moraes não vão sobreviver muito tempo a si próprios. Já o André, no seu jeito mineiro, mais calmo, vai viver cem anos. Lembrei, ainda, do texto da Andrea Trom sobre O natimorto. A Carol quer ler O cheiro do ralo. Eu quero ler o Sant'Anna desde que o Daniel Galera me indicou.

* * *

E por falar em mineiros, eu vi poucos. É muito longe; é muito caro - eu entendo. Parece que tinha mais gente do Rio do que de São Paulo neste ano. Principalmente socialites na fila da Tenda dos Autores. Algumas com os maridos a tira-colo (ou tiracolo?). Como as pessoas se cumprimentam na fila da Tenda dos Autores...! Parece que, nas classes altas, se você for e não vir os outros (e não for visto) é como se não tivesse valido. "Você estava lá? Mas eu não vi você lá...! Vi fulano, vi beltrano, vi até sicrano mas não vi você lá. Você foi mesmo?" Muitas Cicaréias, como diz o Paulo Lima, de "boca nova". Com aquele brilho na boca. Fazendo bico como se mascasse(m) chiclete. Aperta o bico, arrebita o bico, volta pra trás, mastiga... Que trabalho pra ser bonita! Pobres mujeres, como eu digo sempre pra minha mãe. Mas isso não tem nada a ver com a Flip. Ou tem? Não sei. Me perdi.

* * *

Eu conversava com a Renata, da assessoria, e ela acha que, por ser agosto, a Flip está mais calma. E eu acho que, por ser agosto, tem menos paulistas. Os cariocas até podem vir e passar o fim de semana, mas os paulistas vão pagar caro por isso. Não só em dinheiro, claro. Parece que, na Flip 2006, teve menos oba-oba, menos gente que veio porque estava sem nada pra fazer... Universitários; de férias. A assessoria estava mais calma como um todo. E a sala de imprensa. Apesar do Hitchens. Alías, ele não apareceu mais por aqui. Ele não apareceu mais em Parati. Deve ter saído de helicóptero. Não sei como deu os autógrafos ontem. Até tive pesadelos com aquela mesa... "Why don't go and buy the fucking book?", ele bradava no final. Não sei se de brincadeira, não sei se a sério. Faz diferença? Seu ídolo, Oscar Wilde, teria sido mais condescendente com os americanos... Como foi.

* * *

Quê mais? Uma mesa que eu sempre esqueço de mencionar mas que foi muito legal. A do Miguel Sanches Neto, com Ignácio de Loyola Brandão e Wilson Bueno (no lugar do Cony, adoentado). Foi uma mesa exemplar; com a mediação exemplar da Beatriz Resende (continuo sem saber se é com "s" ou com "z"...). Gosto das crônicas do Loyola. Mas os livros dele me parecem todos de crônicas (também); não me parecem literatura. Pessoalmente, ele é simpático, magnético e fala bem para platéias. O Sanches Neto foi uma boa surpresa, porque admiro sua crítica, atualmente na Carta Capital, gostei de seu primeiro romance e tenho mais vontade de lê-lo em livro. Foi bom vê-lo pessoalmente, em resumo. Mas o Wilson Bueno dominou a mesa, porque sempre alguém tem de dominar... Destruiu, com uma sátira a Machado e ao século XIX. O momento de humor mais inteligente e refinado da Flip. O livro é Amar-te a ti nem sem sei com carícias (um decassílabo perfeito!). Ótima aquisição para a Flip. Até parabenizei a Ruth na saída. (Ela estava preocupada com a saúde do João em São Paulo. Melhoras ao João!)

* * *


Foto de Walter Craveiro

Para encerrar, eu gostaria de dizer que foi uma honra para a Festa Literária de Parati ter, em 2006, o maior poeta brasileiro vivo. Ferreira Gullar. Era a literatura viva. A nossa literatura. (Todos os clichês valem aqui...) E ninguém vai esquecer o momento em que ele leu, mais uma vez, o Poema Sujo (1975). Também a participação de Mourid Barghouti - tão grandiosa quanto. Evocando a novilíngua de Orwell, disse que o mainstream transformou o sentido das palavras. Hoje, "matar pessoas" são "danos colaterais"; "ocupação" é "auto-defesa"; "guerra" é "preparar as pessoas para a democracia"; "bombardeio" é "modernização"; e "resistência" é "terrorismo". Estava se referindo, logicamente, ao conflito atual no Extremo Oriente... E eu fiquei com vontade de ler Eu vi Ramallah. Qualquer dia conto, para vocês, as minhas experiências literárias com os banheiros de Parati. Fica, para terminar, meu agradecimento ao restaurante Ganges, em que almoçamos todos os dias da Festa. Até a próxima! (As imagens vão melhores porque eu descobri um esquema com o Flickr...)

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Postado por Julio Daio Borges
13/8/2006 às 12h11

 
FLIP 2006 III


Foto de Walter Craveiro

Meu colega de e-mail, Christopher Hitchens, se portou muito mal na mesa que acabou de acabar, com Fernando Gabeira. Já resolvi que vou dar uma bronca nele, quando ele chegar aqui, logo mais, na sala de imprensa (para checar suas mensagens - e ser vaiado...). Realmente, não foi legal: chamou Gabeira de terrorista e tal. "I know some people", insinuou para ele, quando Gabeira revelou que não entrava nos Estados Unidos, porque estava proibido, mas que não se importava, porque podia entrar de outras formas - culturalmente falando... Depois, ironizando, finalizou: "I know some [other] very nice terrorists...". Merval Pereira, o jornalista que mediava, com toda a experiência de participação no Roda Viva (é com hífen?), ficou gelado... E ignorou o Hitchens quando este tentou "elevar o nível do debate" evocando as questões de ontem, na outra mesa em parceria com a Revista Piauí: "Não haverão perguntas sobre jornalismo e/ou reportagem? Eu adoraria discutir se a reportagem é uma forma de arte...!". Mas já era tarde demais.

* * *

A Carol, apesar do calor do debate, "desmaiou" (de sono) depois do almoço e seguiu para a pousada. Eu saí sozinho, no fim da mesa, sem saber se eu tinha entendido direito. Parece que sim: o Hitchens chamou o Gabeira de "terrorista", no sentido mais absoluto da palavra, ignorando toda a sua trajetória política posterior, e deixou no ar a impressão de que "discutir (ou debater) com terroristas" é sempre uma perda de tempo. Como discutir com fundamentalistas (com essa parte eu concordo). A impressão geral foi de que o Hitchens apelou para a ignorância, quando não precisava... Engrossou no debate sobre a atual guerra do Líbano e se recusou a responder a perguntas da platéia porque as considerava muito "naïf" (em francês) ou "naive" (é assim que se escreve em inglês?): inocentes, ingênuas. Tudo bem que algumas das perguntas da platéia da Flip, efetivamente, não são lá muito elaboradas, mas não precisava se irritar tanto. ("Eu não sou tão apaixonado por essas questões", o Gaberia, de repente, ponderou...) Hitchens, não contente, disparou contra a audiência: "Don't be so fucking sure" (sobre os palestinos quererem a paz...). Classificou, ainda, um argumento de simplesmente "idiota".

* * *

Então eu resolvi colocar Tom Jobim no meu iPod para escrever aqui. Toca muito "Bonita" na Flip. Não sei por quê. Acho que ficaria legal se tocasse também "Surfboard", que combinaria bastante com o clima meio circense da Flipinha. Mas, enfim, com "Bonita" eu lembrei da Candice Bergen (é assim?), para quem, dizem, o Jobim fez a canção depois de cantá-la (e conquistá-la?) num avião. A Elis Regina gravou mas não gostou do seu sotaque (em 1974). Tinha razão. Hoje, a maioria das cantoras não liga muito por "gravar em inglês errado". ("Eu canto em português errado/ Acho que o imperfeito não participa do passado/ Troco as pessoas, troco os pronomes...") Pensei, ainda, no Tarso de Castro. Outro dia, eu e a Carol tentamos lembrar do nome daquela beldade que ele dividiu com Roberto Carlos... Alguma coisa com "Amélia" no meio... Diz a lenda que eles disputavam a moça e o Rei, a tendo conquistado (sei que o pronome soa estranho nesse lugar), compôs "Detalhes", com a seguinte ameaça a Tarso, o rival: "Se um outro 'cabeludo' aparecer... A culpa é sua!".

* * *

E por falar em "Bonita", todas as mulheres ficam meio desmontadas (o termo é da minha família) na Flip. Muito calor, as ruas sem calçamento (vale repetir: qualquer cronista vagabundo menciona as "ruas sem calçamento") de Parati... Aqui, você encontra aquela temível assessora de imprensa toda mansa, porque resolveu andar de chinelo, seu pé está todo sujo de terra (marrom, com as unhas vermelhas - uma beleza), seu cabelo está todo grudento (em gomos), e sua roupa já está toda amassada ou pregada no corpo. Em Parati, no calor e no corpo-a-corpo (o mesmo dos políticos), ninguém permanece impune. Você tromba com os amigos e desvia, sempre que pode, dos inimigos. Amigos me reconhecem na rua e gritam: "Eu sabia que você estaria aqui!". Tentei combinar, outras vezes, com vários, mas não consegui. Em compensação, já vi o Mirisola uma dez vezes, ele vive pegando e-mail na sala de imprensa. E o Marcelino Freire vive acompanhando as "notícias". Quem montasse um site tipo Caras (ou Babado) de literatura, durante a Flip, iria faturar alto...

* * *


Foto de Walter Craveiro

Voltando às mesas, a da Lillian Ross e do Philip Gourevitch (ontem) foi boa, mas não foi ótima. Ela um pouco impaciente pela idade avançada; ele tentando explicar em minúcias coisas que as pessoas deviam procurar em seus livros e, não, numa palestra... A introdução foi do João Moreira Salles, com toda a pompa e circunstância, frisando a parceria com a revista Piauí, que sai em outubro, mas que já estava sendo distribuída em forma de "numero zero" na cadeira das pessoas. Carlos Graieb, da Veja, na mediação bolou uma espécie de entrevista, em inglês, mas achei que eram figuras muito distintas para responder às mesmas perguntas; e, freqüentemente, não concordavam. Lillian Ross, conforme foi mencionado, ingressou na New Yorker em 1945; Gourevitch ingressou na mesma revista, só que em 1995 - 50 anos entre uma pessoa e outra... já dá uma idéia da diferença. Não sei se foi erro da organização, talvez - o Daniel Piza acha que não. E eu concordo: sua entrevista prévia, no Estadão, com a senhora Lillian, ficou melhor.

* * *

Muita gente querendo saber sobre Hemingway, que Lillian Ross perfilou, quando tinha 20 e poucos anos (hoje é uma velhinha simpática, que não consegue caminhar sem a ajuda do filho). "He was one of a kind" - alguém como nunca nasceu antes e como nunca nascerá mais. Palavras dela. Falando e escrevendo. Depois, o Graieb pediu para ela definir "talento", "genialidade", não só em Hemingway, mas em um texto jornalístico (sua especialidade). A senhora Ross perdeu a paciência e falou que essas coisas não se definem com fórmulas, você apenas lê e sabe. Gostei! O relativismo, nessas discussões, geralmente parte de quem não tem talento, não tem gênio e fica teimando em dizer que é tão bom quanto fulano, beltrano, sicrano... Não se conforma e fica procurando argumentos "lógicos"... Como disse o Ferreira Gullar hoje (já havia dito em uma entrevista): alguns nascem poetas; outros simplesmente não nascem - o que não é nenhum demérito, o mundo precisa de todas as pessoas, de todos os tipos... "É moda, hoje, falar que todo mundo é artista (ou pode ser), mas não é verdade" - Gullar encerra.

* * *


Foto de Walter Craveiro

Ontem à noite, saímos finalmente para jantar com amigos. É interessante ver a Flip pelos olhos das pessoas de fora. Já expliquei muitas e muitas vezes como funciona aqui; muito pouca gente entende. E, mesmo que entendesse, quando visse, perceberia que nem sempre bate com a explicação. Também já desisti de explicar. Dou linhas gerais; dou exemplos. As pessoas também querem saber dos "famosos". "Já viram alguém famoso?". Ficamos pensando... Quem, por exemplo? A Maria Bethânia? Perdemos o show dela na quarta-feira... "Ah...! Mas tem também aquela jornalista velhinha..." A Lillian Ross? "Siiim!". A imprensa (impressa ou não) ainda tem força para indicar, para as pessoas, quem são os "famosos" (mesmos que elas nunca tenham ouvido falar)... Para essas pessoas, antes da Flip, a Lillian Ross era uma completa desconhecida. Enfim... E todo mundo abre o jornal no dia seguinte para "se situar". As pessoas vêem as mesas mas não conseguem julgar por elas próprias, têm de conferir, no dia seguinte, a repercussão...

* * *

E por falar em imprensa (impressa ou não), o Sérgio Rodrigues, do No Mínimo, acaba de sair daqui do meu lado, xingando... Não, eu não fiz nada. Acontece que ele digitou um post inteiro para o blog dele, Todo ou Toda Prosa, e perdeu. Quem nem o Christopher Hitchens naquele dia (ou não). Eu sugeri o Gmail, mais uma vez (o Google devia me pagar por isso), mas ele estava tão nervoso que não quis me ouvir... O interessante é que ele falava mal do Hitchens (tá, eu li um pouco do post...). Começava dizendo que Hitchens fez o que se esperava dele: polemizou, xingou a platéia, defendeu Israel, atacou a Palestina... Não, infelizmente, não li, nem decorei, o resto do post. Última coincidência de hoje: antes dele, estava sentada aqui ao lado a Sônia Rodrigues. Desconfio que é a mesma sobre a qual escreveu a Adriana... A filha do homem! Devia ter perguntando, como perguntei em 2005 ao Jabor, o que teria dito Nélson sobre tudo isso?! Sérgio e Sônia, para terminar, têm sobrenome "Rodrigues" e a primeira parte do e-mail dos dois é igual: srodrigues... Agora coloco os links [poucos hoje].

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Postado por Julio Daio Borges
12/8/2006 às 18h21

 
FLIP 2006 II

Escrevo da sala de imprensa, esperando que a luz não caia como ontem. O Daniel Piza acaba de sair daqui depois de dividir comigo suas opiniões sobre o número zero da Revista Piauí - o projeto secreto de João Moreira Salles, para tentar dominar o mundo, imitando, claro, a New Yorker. O site em construção não diz nada. A mim me parece (vou ser bem pessoal agora), uma derivação do No Mínimo, com direito a Paulo Roberto Pires, o eterno darling da Flip, mais geração 00: Galera, Antonia Pellegrino (que eu sempre combino de encontrar mas nunca encontro), Antonio Prata... O resto deixo com a imaginação de vocês. Ah, eu sabia um outro segredo sobre o Ivan Lessa, que também está lá, mas não vou contar. (Daqui a pouco nem é mais segredo...)

* * *

Ontem fiquei impressionado com a multidão de mulheres, na verdade, senhoras de meia-idade pra cima, que resolveram "se liberar", vindo a um evento em que os maridos nunca iriam acompanhá-las: a Flip. Algumas separadas, outras viúvas - geralmente bem resolvidas na parte financeira, de repente podem até adotar um escritor falido desses da Geração 90... Alguém se habilita? Ontem, enquanto eu tomava uma cerveja e olhava o rio, entre uma mesa e outra, entre duas passadas do Milton Hatoum (eu ainda o cumprimento pelo novo Jabuti!), uma mulher de uns quarenta anos dividia seu espanto com outra, desconhecida, que logo chegou: "Mas esse povo todo por conta de um evento de li-te-ra-tu-ra? Eu nunca pensei... Mas... literatura?" - ela se beliscava depois de ter conhecido um médico no almoço.

* * *

A mesa em homenagem a Jorge Amado, a terceira, de ontem ainda, me surpreendeu. A Zélia não pôde vir, disseram que iam trazer o João Jorge, mas não deve ter sido ontem... Enfim: o embaixador (respeito, agora) Alberto da Costa e Silva foi muito divertido, com uma barba à la República Velha, defendendo Jorge Amado das acusações de exotismo: "Exótico, pra nós, é esquiar na neve!". Contou de vários parentes dele que são verdadeiros personagens de Jorge Amado: um tio que gostaria de ter entrado para a marinha, mas que não conseguiu e que, na sua obsessão, montou um barco inteiro na garagem de casa. Depois, não satisfeito, montou uma casa em forma de barco; que existe até hoje. Depois, ainda, contou de um primo que tinha uma relação de inimizade "pessoal" com Deus. Fazia versos fesceninos, mostrava a todos os religiosos que aportavam em sua cidade e nomeou uma fazenda sua de "Inferno" e outra de "Purgatório".

* * *

O Eduardo de Assis Duarte fez um discurso emocionado sobre o deputado comunista cuja maior contribuição para a constituição federal (da época) foi instituir a liberdade de culto religioso. Jorge Amado. Fez um paralelo entre o romancista baiano e seu personagem Quincas Berro D'Água: também morreu para a elite européia (usou a expressão "elite branca", de um certo governador...), e para o marxismo, a fim de renascer para a cultura afro e para o feminismo. Terminou sua preleção - estou lendo a biografia de Machado de Assis pelo Daniel Piza - com um trecho de Capitães da Areia, em que o "Professor" fazia mágicas com suas histórias e seus livros, construindo uma casa de volumes e não de tijolos. A Myriam Fraga falou do feminismo de novo, de Tereza Batista, embora esteja já um pouco esquecida, confundindo nomes... Depois dos elogios de Oswald de Andrade ("uma Ilíada negra"), Albert Camus (em francês, of course) e Antônio Cândido - embora todos nutrissem simpatias (interessadas) mais à esquerda -, fiquei com vontade de ler Jubiabá.

* * *

Agora, no iPod, estou ouvindo Dorival Caymmi. Para quem - no meu texto - sempre me pergunta "pra quê tanta música?", aí está a resposta. Quando você ia lembrar de trazer sua caixa Caymmi Amor e Mar para a Flip? Nunca! Pois com o iPod, aí está... Ontem tocava muito a Família Caymmi na praça da Matriz. Também na Tenda dos Autores. Principalmente Nana e algum Danilo. Mas eu também fiquei com vontade depois de ver o Jorge com aquele seu "olhar de picardia", conforme a expresão do Caymmi Pai, na exposição que a Folha de S. Paulo preparou na Tenda da Matriz. O Jorge também forra as paredes da Livraria da Vila com as capas de seus livros e, em forma de poster (não sei se é "pôster"), "benze" os autores que vão dar autógrafos. Não vi o show da Maria Bethânia, que foi bem falado na quarta, mas lembrei mesmo foi da Terça Insana (sei que a Grace G. assina a nossa Newsletter), da "Maria Botânica", porque, no site da Flip, seus cabelos estavam verdes...!

* * *

Já ganhei dois livros de autores que estão "lançando" (ou "se lançando") aqui na Flip. Ia dizer que já sofri dois atentados poéticos, porque é farta a distribuição de livros aqui, se você bobear... Principalmente se os autores souberem que é você quem faz as resenhas. Na minha primeira Flip, a de 2004, uma moça muito simpática da revista Simples tirou da bolsa tão rápido o seu volume que eu não tive como recusar. A Carol se comoveu com o gesto, mas, na hora de ler, também não leu. E por falar em livros, ontem, à noite, lançavam um especial da Bravo! com 100 livros que se deve ler na Literatura Brasileira (coloquei em maiúsculas, gostou?). Era no Café Margarida, mas eu estava tão cansado que não fui. Encontrei o Michel Laub, ex-Bravo!, hoje de manhã mas esqueci de perguntar como é que foi... A Bravo! também preparou um bom especial, em formato jornal, sobre a Flip em si. Li ontem.

* * *

Outra mesa muito boa ontem foi a quarta, De onde vem as palavras, com David Toscana e Mário de Carvalho. A mediação, muito bem escolhida pela Ruth, foi do Agnaldo Farias, que é conhecido por sua crítica de artes plásticas. Eu não sei se, pessoalmente, concordo com os seus pontos de vista muito de "vanguarda" (muito "Tunga"), mas admiro-o por seus óculos. Ontem, verdes. Sem brincadeira agora: ele se preparou, leu os livros e fez perguntas pertinentes. Chamou, no fim, os escritores de artistas... Aproveito para elogiar a escolha da mediação deste ano que, ao contrário da do ano passado (que parecia improvisada na última hora), foi coerente - muitos jornalistas. Hoje, a Beatriz Resende (não sei se, agora, é Rezende com "z"), por exemplo: ela fez praticamente uma palestra sobre cada autor; outra palestra sobre o tema. Se alongou um pouco, mas foi muito feliz no todo. E nas intervenções.

* * *

O David Toscana, que é mexicano, veio cheio de graça, "falando português", de um curso que fez antes de chegar, e fez questão de ler seus livros (para o público) em edições brasileiras. Quando fizeram perguntas cabeludas, no entanto, confessou: "Meu português só dá pra pedir feijoada. Para responder a essas perguntas, eu precisaria fazê-lo em espanhol". E o fez muito bem. (Tô elogiando muito? Tô, né. É que eu gostei de verdade dessas duas mesas... À última nem assisti para não estragar.) Já o Mário Carvalho começou muito circunspecto. Até que não se controlou - eu adoro quando as pessoas perdem o controle na Flip - e emendou um discurso contra o comércio, a economia, as finanças... que não tem nada a ver com os livros, disse, com a literatura. Eu até anotei, veja só: "[Os livros, a literatura...] são uma construção antropológica que supera, em muito, a realidade do comércio". Quero ler Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde e Santa Maria do Circo

* * *

Eu sei que vocês não vão acreditar mas o Christopher Hitchens acaba de se sentar aqui do meu lado de novo. (Não tenho nem mais assunto com ele... Ontem falamos mal de Deus - seu novo livro se chama God is not Great - até umas horas...!) "E aí, perdeu mesmo seu artigo (de ontem)?", perguntei. "Não, eu não tinha nem começado, na verdade...". Aconselhei então: "Você precisa usar o Gmail, ele grava as mensagens enquanto você digita, aí você não perde". "É, eu sei. Muita gente me fala que o Gmail é bem melhor...". Para quem acha que eu estou mentindo, o e-mail dele, na AOL, é chitch8003. (Teste, depois me fale...) Bem, falta quinze minutos para a próxima mesa. (Estive à beira de perder todo este Post, então vou postar, tá?) Depois completo com links, imagens, essas coisas todas.

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Postado por Julio Daio Borges
11/8/2006 às 16h40

 
FLIP 2006 I

Quarta (ontem). Tentei sair mais cedo do escritório do Digestivo. Quando digo "cedo", digo antes do horário do rush. Colunas, Digestivos, Ensaios, Newsletters - não consegui. Saí às 18h30, mais ou menos. Eu sei: saí no pior horário possível e imaginário para uma cidade como São Paulo. Mas eu não agüentava mais: queria ir embora. Fui.

* * *

Deu 20 horas, eu estava no posto BR em que costumo parar com a Carol (quando vamos para Angra). Tomei um café de caminhoneiro (no copo), comi um pedaço de pizza e um bauru. Comprei a Istoé Dinheiro. Algumas matérias sobre internet; o "ocaso" de Jack Welsh (é assim?)... (Isso me interessa? Desde que eu comecei a colaborar com a GV-executivo, e comecei a encarar a Web como business me interessa, oras.) Mas estou perdendo o foco.

* * *

Por alguma razão que agora me escapa, estão dando uma "geral" na estrada perto de Taubaté, onde eu sempre desço a serra. Rodovia Oswaldo Cruz (não sei se é com "v" ou com "w" agora). Estava previsto para eu descer, em direção a Ubatuba, lá pelas 22 horas, mas o caminho me pareceu tão diferente que eu não reconheci as placas e voltei (!). Até o posto Aster (a Carol vai reconhecer essa referência). Na brincadeira, perdi entre 15 minutos e meia-hora. Cheguei a Parati à meia-noite.

* * *

Para chegar na pousada, que era do outro lado do rio, tive de pegar a "beira-rio" conforme o garçom vesgo e disléxico do "Porta Fortuna" (agora em outro estabelecimento) me indicou. Não sei se é porque eu estava cansado, mas as vagas me pareceram apertadas, não achei cabide, nem cadeira, nem lugar para deixar as roupas... Para completar, a pia do banheiro entupia um pouco, eu ouvia o barulho do outro quarto, fui deitar com a cabeça girando, tomei uma aspirina e dormi.

* * *

No dia seguinte, hoje de manhã, a pousada continuou com alguns defeitos. A porta do banheiro foi mal colocada ("colocador" bom de porta é coisa difícil, meus parentes arquitetos, e engenheiros, me ensinaram...), assim eu tentava fechar e ela abria sozinha. Fora isso, a porta do quarto estava com a maçaneta torta, pois o trinco não encaixava direito no buraco feito para isso, então todo mundo que deve ter tentado fechar antes de mim, puxava mais um pouco entortando sempre (mais) a maçaneta.

* * *

Mas vamos à Flip. No café da manhã (o café da manhã é bom, o que deve compensar as falhas da pousada, acho), duas senhoras, do Rio, reclamaram do corre-corre com relação à compra dos ingressos que, parece, neste ano, se repetiu. Outra senhora, ao meu lado durante a primeira mesa a que assisti, foi simplesmente a primeira da fila quando abriu a Fnac (quando abriram a venda dos ingressos). A Flip, me parece, é o único evento em que ir pessoalmente ao guichê pode resultar mais eficaz do que tentar comprar pela internet...

* * *

A primeira mesa, Invenções do Interior, foi, por ordem de entrada, de André Laurentino, Maria Valéria Rezende e Juliano Garcia Pessanha. Mas o que me espantou, às 10 da manhã, foi a aparição do Marcelino Freire como mediador. Tudo bem que ele ganhou o Jabuti na categoria conto, então, depois disso, nada mais me espanta. Mesmo assim, me espantou porque ele esteve na Flip de 2004, não esteve na de 2005, se "revoltou" e ajudou a criar a Flap!, que, segundo os criadores (ele incluido), é uma resposta à Flip, contra esse evento de "elite" em Parati. Aí, então, abre a Flip, e quem está logo na primeira mesa? Marcelino Freire!

* * *

O André Laurentino é um cara legal. Foi meu colega de Milton Hatoum na Casa do Saber. Depois, na mesa, contou que fez a oficina com ele na Flip 2004, conheceu o Paulo Roberto Pires, que quis editar o seu livro, teve um trecho do mesmo analisado na Flip 2005 e agora, para coroar o processo, foi autor convidado da Flip 2006. Confesso que folheei A paixão de Amâncio Amaro, quando recebi, mas não me interessou. Foi para alguém do Digestivo. Enfim, ele falou razoavelmente bem das três personagens do livro, com muito conhecimento de causa (técnica, psicanálise, essas coisas).

* * *

Depois veio a Maria Valéria Rezende. Uma freira simpática, falou pouco de religião, parece ter um trabalho bonito em educação (mesmo) e detesta a expressão "pessoas carentes"... Mas quem me surpreendeu, por incrível que pareça, e ao público também, foi o Juliano Garcia Pessanha. Não sei se se fingindo de bêbado, não sei se no meio de uma ressaca mesmo, quando ele falou, eclipsou todos os outros. A moça ao meu lado comentou: "Acho que ele tá meio alterado...". O que sai do script é sempre o melhor da Flip.

* * *

Anotei algumas pérolas do Juliano: "Quando convidam você para a Flip, tem uns que dizem: eu vou; outros que dizem: ah, eu não vou. Eu disse: eu vou, mas eu não sei, não... Então, quando a Ruthinha me convidou [Ruth Lanna, organizadora da Flip], eu trouxe um plano A, um plano B e um plano C. Se o plano C não funcionar, eu uso o plano D: eu saio"; "Vou ler o que escrevi ontem [para a mesa], de corpo presente, porque a minha alma já não sei mais onde tá..."; "Me deram umas coisas para eu beber ontem. Há muitos anos que eu não bebo. Eu nem posso beber, então hoje eu tô muito estranho..."; "Estou aqui à base de corticóide(s)"; "[No meio da leitura...] Essa parte é meio chata mesmo, mas depois melhora. É que nem no colégio, quando eu ia em palestra e pensava: tudo bem, eu vou mas eu não vou prestar a menor atenção..."

* * *

O texto dele não era - realmente - bom, e eu acho que não gostaria dele como escritor. Coisas como "humanidade longe da linha de eclosão" ou "combate para encontrar um lugar no acolhimento". Ou ainda "sem olhos para ver o alastramento do sinistro", ou então "interromper o fluxo de sentimentações" (esse "sentimentações", ele confessou que pegou da Clarice - às vezes eu penso que a Clarice fez um enorme estrago nas gerações futuras...). Enfim, era um sujeito inspirado. Mas não para escrever. Talvez para viver. Um artista da vida, como dizia Oscar Wilde. E não um "artista da arte".

* * *

A segunda mesa, Vozes em Verso, foi um pouco mais desanimada, apesar da mediação do Paulo Henriques Britto. Mesmo balanço do ano passado: dois poetas de mentira e um de verdade. No ano passado, não sei se vocês se lembram, mas o poeta de verdade era o próprio Paulo Henriques Britto, que arrancou até assobios da platéia. Neste ano, era o Carlito Azevedo, que é meu colega de edição - no caso dele, das revistas Inimigo Rumor e Ficções. A Astrid Cabral vinha com coisas como "amor como tremor de terra", "nas entranhas da minha alma", "ruínas, cinza, lama" - que, convenhamos, parece poesia de colégio. Depois, o Marcos Siscar, com coisas como "o peixe é um ser mudo que desliza", "coreografia muda de espanto" e "escamas de dois gumes"... (Nem preciso comentar.)

* * *

Vê se você não acha o Carlito muito melhor: "lilases da estação passada", "curto-circuito na grama", "leões marinhos dançando ritmos agilíssimos" e "parangolés de brumas". Fora que ele falou, sabiamente, que nossos dois modelos estão mortos: a crítica e a língua. Atualizou, ainda, "Uma passante" de Baudelaire - enquanto os outros ficavam em "meu coração era do tamanho do mundo" (sub-Fernando Pessoa) e "a água doce não é tão doce, antes fosse" (sub-qualquer-coisa-muito-básica). Carlito encerrou suas leituras com a bela tradução que fez para um poema, francês, descrevendo um beijo.

* * *

Acho que está bom para o primeiro dia. Senão, vocês não agüentam ler. Amanhã repercuto mais algumas coisas de hoje, OK? Vou tentar colocar agora algumas imagens, mas não garanto. Nem links... Tudo muito precário aqui. A luz, na sala de imprensa, acabou algumas vezes. Se eu não estivesse no Gmail, tinha perdido tudo. Como o Christopher Hitchens, do meu lado, no Hotmail (quem mandou?), acha que perdeu... O pior é que ele tinha de mandar hoje para um paper (jornal) em London (Londres). E agora? O Jonathan Safran Foer estava lá fora quando saimos. Estava escuro. Eu e Chris quase trombamos nele. Sério! Na Flip, é assim.

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Postado por Julio Daio Borges
10/8/2006 às 20h00

 
Salão do Livro de BH

Começa dia 10 o Salão do Livro de Belo Horizonte, que acontece na Serraria Souza Pinto e traz, além dos estandes de livrarias, oficinas, mesas-redondas e noites de autógrafos. O tema deste ano é a literatura no Mercosul. A série de entrevistas "Encontro Marcado" também está de volta e trará Luís Fernando Veríssimo, Bartolomeu Campos de Queirós, João Gilberto Noll, entre outros. Vale a pena conferir a oficina da Memória Gráfica e entrar nas mesas para discutir. Não é tão badalado quanto outras festinhas literárias, mas é bacana.

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Postado por Ana Elisa Ribeiro
9/8/2006 às 23h57

 
4 anos da Revista Coyote

Por que a comemoração após quatro anos de vida? Há sempre que se comemorar a teimosia e a insistência de uma revista literária, num país em que a maioria das publicações não passa do segundo ou do terceiro número. Acho que contribuímos com a formação de jovens autores publicando textos radicais, com uma abordagem radical, do Brasil e de outros países. E abrindo espaço para autores que ainda não alcançaram repercussão com seu trabalho. Mas não estamos muito preocupados com a "formação" de jovens autores. Estamos preocupados em fazer uma revista que gostaríamos de ler. Acho que é essa a razão do sucesso da Coyote. Porque há mais pessoas que gostam de ler os autores que publicamos. Costumo dizer que a Coyote é uma revista autoral. Os editores funcionam como maestros, regendo uma orquestra de autores e textos que consideramos importantes dar voz e vez.

Ademir Assunção, escritor e editor da revista de poesias Coyote, após uma noitada no ABC regada a álcool, música e muita, mas muita, poesia.

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Postado por Marília Almeida
9/8/2006 à 01h01

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