1964: entre o passado e o futuro | Fabio Silvestre Cardoso | Digestivo Cultural

busca | avançada
64082 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> IA 'revive' Carlos Drummond de Andrade em campanha do Rio Memórias
>>> mulheres.gráfica.política
>>> Eudóxia de Barros
>>> 100 anos de Orlando Silveira
>>> Panorama Do Choro
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
Colunistas
Últimos Posts
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Daniel Ades sobre o fim de uma era (2025)
>>> Vargas Llosa mostra sua biblioteca
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Pulga na praça
>>> Arquiteto de massas sonoras
>>> Irmãos Amâncio
>>> Cinema e vídeo em Cuiabá (2)
>>> A morte do disco
>>> Era uma casa nada engraçada
>>> Romário
>>> O mau legado de Paulo Francis
>>> Abraços Partidos, de Pedro Almodóvar
>>> Leituras, leitores e livros – Parte III
Mais Recentes
>>> 1001 Dúvidas De Português de José De Nicola pela Saraiva (2006)
>>> Almanhaque 1955 - Col. Almanaques do Barão de Itararé de Torelly pela Edusp (2005)
>>> Filhos do Édem de Eduardo Spohr pela Verus (2013)
>>> A Cidade E As Serras de Eça De Queirós pela Ática (2011)
>>> Atlas Geográfico. Espaço Mundial de Graça Maria Lemos Ferreira pela Moderna (2013)
>>> Mais Do Que Isso de Patrick Ness pela Novo Conceito (2016)
>>> The Good European: Nietzsche's Work Sites In Word And Image de David Farrell Krell, Donald L. Bates pela University Of Chicago Press (1999)
>>> Arquivologia de Evandro Guedes pela Alfacon (2017)
>>> Cultura e Sociedade Vol. 1 de Herbert Marcuse pela Paz E Terra (1998)
>>> Um Estudo da História de Arnold Toynbee pela Martins Fontes (1987)
>>> Cultura e Sociedade Volume 2 de Herbert Marcuse pela Paz e Terra (1998)
>>> Inferno de Dan Brown pela Arqueiro (2013)
>>> Van Gogh. Obra Completa De Pintura de Ingo F. Walther, Rainer Metzger pela Taschen (2010)
>>> New Moon de Stephenie Meyer pela Atom Books (2006)
>>> France And The Atlantic Revolution Of The Eighteenth Century, 1770-1799 de Jacques Godechot pela Free (1979)
>>> Templários: os cavaleiros de Deus de Edward Burman pela Record (1994)
>>> Box 360 - História - História E Cidadania Volume Único de Alfredo Boulos Júnior pela Ftd (2017)
>>> O Livro Das Virtudes de Willim J. Bennett pela Nova Fronteira (1995)
>>> O Declínio da Cultura Ocidental de Allan Bloom pela Best Seller (1989)
>>> The Servant: A Simple Story About The True Essence Of Leadership de James C. Hunter pela Crown Business (1998)
>>> Kit com 10 livros Charadinhas de Ciranda Cultural pela Ciranda Cultural (2024)
>>> Bel Ami de Guy De Maupassant pela Landmark (2011)
>>> Tá Todo Mundo Mal: O Livro Das Crises de Jout Jout pela Companhia Das Letras (2016)
>>> Brideshead Revisited de Evelyn Waugh pela Penguin Classic (1962)
>>> Prometo Perder de Pedro Chagas Freitas pela Verus (2017)
COLUNAS >>> Especial 1964-2004

Terça-feira, 13/4/2004
1964: entre o passado e o futuro
Fabio Silvestre Cardoso
+ de 7200 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Brasil, 1º de abril de 1964. Com o exército nas ruas, o País estava prestes a conhecer mais a "página infeliz de nossa História". O desenrolar desse triste enredo todos conhecemos. Após o golpe de 1º de abril, houve o golpe dentro do golpe, em 1968, com o AI-5, que provocou um verdadeiro acinte contra as liberdades civis, com torturas, prisões e mortes dos dissidentes políticos. Quem deseja conhecer esses acontecimentos com detalhes, basta encarar os três volumes da até agora trilogia das Ilusões Armadas, de Elio Gaspari. No entanto, o tema ainda não está completamente esgotado. Não tanto pela perspectiva histórica, mas sim pelo presente, pois, se analisarmos de perto, o golpe de 40 anos atrás deixou marcas que ainda são perenes na nossa sociedade, embora muitos tentem negar isso à exaustão.

Que fique de fora a análise política, assim como qualquer pendenga entre os desenvolvimentistas e os conservadores na seara da economia. Falemos sobre cultura. No Brasil pós-64, a produção cultural ficou, para o bem e para o mal, estigmatizada pela repressão. Mesmo quando o País já vivia sob a ordem democrática, a partir de 1985, todas as artes tinham uma espécie de dever para com o passado. Pior do que isso: esse bloqueio não foi superado. Como conseqüência, volta e meia os sobreviventes dos anos de chumbo sentiam-se, e ainda se sentem, compelidos a externar seu engajamento político nas suas obras.

Assim, mais do que expressar qualquer interesse pelo Belo, os movimentos artísticos subseqüentes ao Golpe de 64 tinham como objetivo denunciar a condição sob a qual o país vivia. Foi assim com as artes visuais, destaque para o movimento conceitual (com suas mostras temáticas e instalações) e para o cenário musical (os festivais ficaram marcados pelas canções de protesto), para citar dois exemplos mais diretos. Contudo, ainda hoje, nota-se uma certa ressonância desse período na literatura, por exemplo, com a predileção dos novos autores em abordar a violência, que era exacerbada no país nos anos mais duros de repressão, como tema principal. Tem-se a impressão que a "estética da violência" tornou-se arquétipo necessário para a descrição de qualquer personagem urbano no Brasil.

Com isso, também a análise teórica (teoria crítica?) teve seu ponto de virada. Aliás, ressalte-se que o mote da vez era ruptura, tanto para os criadores quanto para os críticos. Nada mais valeria a pena ser analisado se não fosse quebrado seu elo para com as vanguardas já estabelecidas. Era "proibido proibir", como dizia a canção. O objetivo era rejeitar tudo aquilo que representava um padrão a ser seguido, pois, segundo essa análise, era um modelo estabelecido de maneira não democrática e que perpetuava, ou reproduzia em outras camadas, um regime ditatorial.

Os intelectuais, por sua vez, a partir desse golpe tiveram sua participação supervalorizada no país, muito graças à perseguição de que muitos (?) foram vítima durante a repressão. Desse modo, qualquer posicionamento, por mais estapafúrdio que seja, tende a ser levado a sério pelo seu séqüito. Exemplo disso foi bem anotado por Eduardo Carvalho, também colunista do Digestivo, a respeito da posição de Emir Sader sobre os atentados terroristas na Espanha em 11 de março. Essa é apenas uma das muitas "teses" produzidas pelos intelectuais bruzundangas, que, no fundo, se mostram muito mais apaixonadas do que fundamentadas em teoria. Nota-se, ainda, que não existe neste cenário um intelectual que não se afirme de esquerda. E, num discurso comum, todos bradam contra "o grande capital, personificado pelo imperialismo ianque."

Enquanto isso, na imprensa, nota-se que, apesar da repressão, sobrou muito jornalista para contar a mesma história da Ditadura. Em certa medida, os leitores percebem um fenômeno comum: os mesmos relatos são recontados ano após ano, mas sem qualquer novidade. Talvez o grande mérito dos livros de Elio Gaspari esteja justamente aí: apresentam um arquivo que era desconhecido do grande público e que, com o auxílio de outros livros, dão outro panorama do período. No mais, nada de novo sob o sol. Os jornais até que tentaram, mas trouxeram novidades velhas, conforme escreveu o jornalista Ricardo Setti no "Nominimo". Afora isso, é preciso lembrar, como disse Mino Carta em entrevista ao site da AOL, que a grande imprensa se mostrava favorável ao golpe militar naquela época. Com efeito, é uma página que os jornais preferem deixar de lado, ressaltando apenas sua oportuna participação nas Diretas-Já.

O Brasil ainda não superou de todo o que aconteceu naquele primeiro de abril. E não é por falta de memória, como gostam de acusar alguns. O grande entrave, ao que parece, é a impossibilidade de pensar no futuro sem se ancorar na mitologia que envolve o Golpe. Um grande passo para mudar esse cenário é ouvir com atenção uma das letras de Chico Buarque, que serve, aliás, até hoje como "canção de protesto". "Apesar de você, amanhã há de ser outro dia".

O amanhã já chegou.


Fabio Silvestre Cardoso
São Paulo, 13/4/2004

Mais Fabio Silvestre Cardoso
Mais Acessadas de Fabio Silvestre Cardoso em 2004
01. Desonra, por J.M. Coetzee - 21/12/2004
02. Eleições Americanas – fatos e versões - 9/11/2004
03. Cem anos de música do cinema - 8/6/2004
04. Teoria da Conspiração - 10/2/2004
05. Música instrumental brasileira - 12/10/2004


Mais Especial 1964-2004
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
20/4/2004
10h15min
Belíssimo texto, criticando o periodo da ditadura brasileira. Vou comprar esta trilogia para conhecer um pouco mais e tentar entender este período nefasto da História brasileira. O genial Chico Buarque, além desta música, também é autor de Carolina, meu caro amigo, Cálice e outras perolas da mpb, criticando os uniformizados. Obs: O Digestivo é, sem dúvida, o que nós temos de melhor na net, em todos os seguimentos culturais! Parabéns!!! Um abraco a todos. Milton.
[Leia outros Comentários de Milton Moreira]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Mulheres Cheias de Graça
Fábio de Melo
Ediouro
(2009)



Uiramirim Contra os Demônios da Floresta; 4 Edicao
Antonio Carlos Olivieri
Atual
(1991)



Moderna Plus Matemática 1 - Paiva - Parte III
Manoel Paiva
Moderna



Venise
Cartoville
L'essentiel en un clin d'oeil



O I Ching do Amor
Guy Damian-Knight
Record



A Caixa Magica de Luiz
Rozeli Viana
Prazer de Ler



Leis Penais Especiais Anotadas
José Geraldo da Silva e Wilson Lavorenti
Millennium
(2008)



A Donzela Cristã no Seu Ornato de Virtudes
Pe. Matias de Bremscheid
Paulinas
(1945)



Iniciação Violonística
M. São Marcos
Irmãos Vitale



A Casa Negra
Stephen King e Peter Straub
Suma De Letras
(2013)





busca | avançada
64082 visitas/dia
2,5 milhões/mês