Machado de Assis: assassinado ou esquecido? | Jardel Dias Cavalcanti | Digestivo Cultural

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Segunda-feira, 2/6/2008
Machado de Assis: assassinado ou esquecido?
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 6100 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Machado de Assis tem servido para tudo, menos para ser comentado por seu valor maior: o de literato, de escritor, de artista. Não adianta fugir de uma questão: Machado é amplamente estudado nas universidades e, pior para ele, até em departamentos que não têm nada a ver com literatura, mas discutido sempre de pontos de vista irrelevantes. Estes estudos, na sua maioria, têm servido para explicar tudo, menos o caráter literário de sua obra. Na verdade, essas análises não servem para nada, se não para nos desviar do essencial de Machado.

Conhecer um escritor deste porte exige leitores amplamente qualificados, no caso de leitores acadêmicos, que sejam, no mínimo, informados pela vasta cultura que alimentou o próprio Machado. Isso, afinal, é para poucos. Exigiria uma vasta cultura sobre obras literárias, nacional e estrangeira, sobre teorias literárias e sobre o Bruxo do Cosme Velho. Exigiria tempo e envolvimento de uma ordem que o tempo mercadológico/profisisonalizante de uma tese não daria jamais conta.

Depois dos estudos de Roberto Schwarz sobre Machado, Ao vencedor as batatas e Um mestre na periferia do capitalismo e as pesquisas de outros historiadores e sociólogos menos inteligentes, Machado de Assis acabou servindo de álibi para se explicar as "contradições da sociedade brasileira", e menos, insisto em dizer, sua literalidade, seu valor enquanto obra de arte. A contaminação sociológico-histórica não tem fim e estudantes desavisados sobre o que é arte numa obra de arte têm cometido o que eu chamaria, com certa delicadeza, de "o assassinato de Machado de Assis".

Sim, exatamente isso que falei acima, assassinato. Condenar um escritor genial como Machado de Assis a ser lido apenas por este viés superficial é denegrir seu aspecto mais rico, mais instigante, mais sólido, mais eterno: sua qualidade artística. E esta qualidade não tem nada a ver com o fato de que pode haver em sua obra referências a contextos históricos. O contexto é apenas a superfície, a arte é o oceano profundo. Quem mergulharia como bom nadador neste mar sem fim de ousadas construções literárias, que de miméticas não têm nada?

Quantas gerações de estudantes contaminados pelo sociologismo e historicismo vagabundos serão necessárias para, depois de pisotear o Bruxo do Cosme Velho, enterrá-lo de uma vez por todas? Melhor do que ler Machado como documento histórico é não lê-lo, eu sugiro. Para quem quer conhecer História do Brasil, há tratados que dão conta do recado melhor do que o nosso amado escritor. Agora, usar um escritor de qualidade única apenas como documento histórico é simplesmente lamentável, é burrice, é esquizofrenia intelectual.

Sabemos que, de uma forma geral, historiadores não entendem patavina de arte, salve-se raros casos, evidentemente. Sociólogos muito menos. Isso porque na base de suas intenções e interesses tudo pode ser desejado, menos a compreensão do fato estético em si mesmo. Para essa turminha o que interessa é o acontecimento histórico, mesmo que seja um acontecimento histórico de merda, desprezível, insignificante. Qualquer realidadezinha medíocre tem mais valor para eles que um memorável fato estético.

Dito isso, o que fazer diante da complexidade de uma obra de arte? Colocar uma confortável (?) camisa-de-força teórica sobre ela, amordaçar suas subterraneidades metafóricas e suas potencialidades subjetivas que falam da vida numa instância onde a racionalidade verbal de um pensamento descritivo e razo não conseguem dar conta, e matar sua intenção primária que é a de ser um fato plástico/estético e não um discurso sobre a realidade?

Entendam de uma vez por todas: uma obra de arte é uma realidade tanto quanto tudo o que vocês chamam de realidade. Uma obra de arte é um organismo tanto quanto nós somos organismos. Uma obra de arte tem vida própria, respira por seus próprios órgãos e mesmo que se relacione com outros órgãos não perde os seus próprios movimentos e muito menos sua vida. E sua vida, a chama que a alimenta, se chama "fato estético".

Uma obra de arte é uma realidade de uma natureza diferente e que se acrescenta à nossa realidade, se assim o quisermos. A realidade da obra de arte é mais rica que nossa banal e corriqueira realidade, justamente por ser outra e ser de ordem não corriqueira. Como dizia Fassbinder, a obra de arte é mais quente que a vida. Quem já experimentou, sabe disso.

Por isso, salvemos o Machado de Assis destes rasteiros pensadores que só conseguem ver na obra de um gênio o reflexo banal de uma realidade que se parece mais com seus próprios cérebros do que com outra coisa.

Machado é maior porque é melhor literatura do que qualquer outra coisa. Não percam tempo com interpretações, a vida é curta e o melhor é curtir diretamente toda a obra de Machado. O conhecimento que advém disso é um conhecimento de uma ordem que palavra alguma daria conta.

É no silêncio gritante das páginas de Machado que ele se encontra. Fora disso, a vida continua... banal.


Jardel Dias Cavalcanti
Campinas, 2/6/2008

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
4/6/2008
16h10min
Você tocou num ponto que sempre, sempre, me incomoda. A avaliação da arte literária sob todas as óticas, menos a artística. Sociologismo e historicismo, aquele mais que este, são absurdos quando limitados por seus, digamos, limites epistemológicos (e esses limites geralmente se impõem, sei lá por quê). Infelizmente, esse é um traço própria do nosso meio intelectual: se for literatura, o que menos importa é a estética e o que mais importa é o contexto.
[Leia outros Comentários de Guilherme Montana]
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