Metade da laranja ou tampa da panela? | Débora Carvalho | Digestivo Cultural

busca | avançada
54850 visitas/dia
2,4 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Última peça de Jô Soares, Gaslight, uma Relação Tóxica faz breve temporada em São José dos Campos
>>> Osasco recebe o Teatro Portátil gratuitamente com o espetáculo “Bichos do Brasil”
>>> “Sempre mais que um”, de Marcus Moreno, reestreia no Teatro Cacilda Becker
>>> #LeiaUmaMãe: campanha organizada pela com.tato promove a diversidade na literatura materna
>>> Projeto Experimente inicia sequência de eventos para comemorar 10 anos
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Scott Galloway sobre o futuro dos jovens (2024)
>>> Fernando Ulrich e O Economista Sincero (2024)
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
Últimos Posts
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Geração abandonada
>>> Entrevista com Ryoki Inoue
>>> Medir palavras
>>> Suicídio da razão
>>> Como escrever bem – parte 3
>>> Está Consumado
>>> 23 de Dezembro #digestivo10anos
>>> As Três Adolescências do Cinema
>>> Greatest hits em forma de coluna
>>> Irracionalidade coletiva
Mais Recentes
>>> Livro Ciências: Ensinar E Aprender de Marta Bouissou E Maria Hilda pela Dimensao - Paradidatico (2009)
>>> Livro Novos Desafios da Convivência - Desatando Nós da Trama Familiar de Lidia Rosenberg Aratangy pela Rideel (2010)
>>> Bartleby, Ou Da Contingncia de Gilson Iannini pela Autentica (2015)
>>> Gestao Estrategica De Pessoas Com Scorecard de Brian E.Becker pela Campus (2001)
>>> O Doente Imaginario de Molière pela Global (2004)
>>> O Primeiro Ano De Vida de René A. Spitz pela Martins Fontes (1998)
>>> Fenomenologia Da Percepção de Maurice Merleau pela Martins Fontes (1996)
>>> Escrita E Leitura Na Educação Matemática de Adair Mendes Nacarato pela Autêntica (2009)
>>> Vivendo A Arte de Richard Shusterman pela 34 (1998)
>>> Memória do Cinema de Henrique Alves Costa pela Afrontamento (1977)
>>> 50 Contos De Machado De Assis de Machado De Assis pela Companhia Das Letras (2007)
>>> O Esoterismo de Jean Pierre Laurant pela Paulus (1995)
>>> Memórias, Sonhos, Reflexões de C. J. Jung pela Nova Fronteira (1963)
>>> O Português Da Gente de Rodolfo, Basso, Renato Ilari pela Contexto (2017)
>>> Reiki Para Iniciantes de David Venells pela Madras (2021)
>>> Fundamentos de Psicologia Analítica de C.G. Jung pela Vozes (1991)
>>> Momentos de Luz de Lúcia Moreira Klein pela Da Autore (2010)
>>> A Rússia no Início da Era Putin de Gerd D. Bossen Lenina Pomeranz Streptova Kriashkov pela Konrad Adenauer Siftung (2000)
>>> A Saga dos Kennedy de Rose Fitzgerald Kennedy pela Artenova (1974)
>>> Lendas Do Ceu E Da Terra: Capa DUra de Malba Tahan pela Círculo do Livro (1983)
>>> Entre A Terra E O Céu de Francisco Cândido Xavier pela Feb (2005)
>>> Missionários Da Luz - A Vida no Mundo Espiritual de Francisco Cândido Xavier pela Feb (2007)
>>> Evolução Em Dois Mundos de Francisco Cândido Xavier pela Feb (2012)
>>> Libertação - A Vida no Mundo Espiritual de Francisco Cândido Xavier pela Feb (2008)
>>> No Mundo Maior de Francisco Candido Xavier pela Feb (2024)
COLUNAS

Terça-feira, 13/7/2010
Metade da laranja ou tampa da panela?
Débora Carvalho
+ de 12200 Acessos
+ 6 Comentário(s)

O que você prefere ser? Metade da laranja, tampa da panela ou panela da tampa? Esse foi o tema de uma conversa que tive com minha irmã caçula um dia desses.

- Eu discordo dessa ideia de que a gente precisa de alguém para ser feliz, que sem fulano eu não sou vivo... essa coisa de você me completa, de nunca mais vou amar outra pessoa... . Eu acho que a gente tem que ser inteiro de verdade primeiro para depois escolher alguém para compartilhar o que você é. Tem que ser alguém com quem você vai estar ao lado porque quer e não porque precisa. Não é justo jogar a responsabilidade da sua felicidade nas mãos de outra pessoa. Sufoca o outro enquanto esvazia você . Eu já fui sufocada várias vezes. A reação não é sustentável. É constrangedora. Demorei para encontrar alguém completo como eu... quando encontrei, não hesitei em aceitar o pedido de casamento. Foi aí que entendi a insegurança nos pedidos anteriores: é que eu não queria assumir a responsabilidade de ser tudo aquilo que queriam que eu fosse. Eu não queria preencher o vazio dos namorados incompletos.

- Mas o mundo inteiro acredita que é incompleto e precisa de uma alma gêmea. As pessoas falam que estão procurando "a metade da laranja". Tem até uma música que fala... "as metade da laranja..." . Só que se você for ver, a laranja já nasce inteira e só é partida ao meio na hora de fazer o suco. E como é que a gente faz um suco de laranja? A gente usa o sumo e joga o bagaço fora. É ou não é? Eu, hein! Tô fora de ser laranja. Fala sério. Quem é que sonha em ser a metade de uma laranja procurando a outra metade?

- Pode crer. Essas metades nunca mais vão se juntar para fazer a laranja inteira. Só dá pra juntar mesmo o sumo no suco. Deve ser por isso que os relacionamentos baseados nas metades da laranja não dão certo.

- Também tem a tampa da panela. Mas você prefere ser a tampa ou a panela?

- Boa pergunta. A panela é quem recebe os ingredientes que são admirados e consumidos. A tampa só serve para ajudar a reter o calor que serve para acelerar o cozimento ou manter o conteúdo aquecido por mais tempo. Ou ainda, para evitar que caia pó ou o acesso das moscas e impedir que caiam respingos de óleo ou molho no fogão ou no cozinheiro. Ninguém dá importância à tampa. Só na hora de procurá-la para tampar a panela. Ninguém escolhe primeiro a tampa e depois a panela, e sim, a panela e depois a tampa. Quando o arroz fica pronto e se destampa a panela, a tampa já era.

- Se for comparar com a cultura que a gente tem de que o homem é o provedor financeiro e a mulher é a auxiliadora doméstica, então a panela é o cara e a tampa é a mulher. Caramba! Viajando na maionese, dá pra imaginar porque é tão difícil achar um homem que seja de uma mulher só: quando uma panela tem tampa, ela é projetada e fabricada junto. Já vem com o par. Só que para tampar uma panela, não precisa necessariamente ser aquele par. Cabe outras tampas do mesmo tamanho, e até outras maiores. Só não dá pra usar uma tampa menor. E tem mais. Pode até existir a tampa do conjunto da panela. Mas qualquer outra tampa também pode servir. Inclusive a tampa de outro conjunto.

Eu e minha irmã demos muita risada ao recordar os namorados "metade da laranja", pessoas incompletas que jogam a responsabilidade da felicidade nos outros, os namorados "panela" — pessoas que puxam toda a responsabilidade pra si mas que precisam de alguém para ajudar, e os "tampa de panela" — que só servem para dar aquela ajudinha mas não conseguem assumir algo mais grandioso.

Como hoje estou numa outra fase (casada e com uma filha de um mês em casa), e como todo mundo que é feliz acho que essa alegria toda pode servir de exemplo para alguém, me atrevo a dar alguns conselhos (baseados no bate-papo com a irmã caçula):

Cara, pense bem antes de dizer a uma garota que ela é a metade da laranja que você estava procurando. Será que é isso o que ela quer ser? Uma pessoa partida ao meio e cujo bagaço será jogado fora depois que o caldo do seu suco for retirado dela? Ser metade da laranja é ser incompleto para sempre, pois as laranjas jamais voltam a se unir às suas metades arrancadas. Só prossiga nesse papo se seu lance for honestidade e você estiver realmente à procura de alguém para tirar um caldo e sair fora.

Quando os caras falam em tampa da panela, acham que estão sendo caseiros, aquele cara bem família. Tudo bem. Pode até ser, já que a relação de significado é coerente. Mas é importante lembrar que uma pessoa tampa de panela é um tipo de auxiliar para qualquer coisa que não mereça destaque. É a pessoa que nunca será destaque para nada. É alguém que jamais recebe uma grande responsabilidade. Algumas mulheres se encaixam nesse perfil como uma tampa na panela, literalmente. Outras querem mais, muito mais do que isso.

Pra ser feliz com alguém, primeiro a gente tem que ser inteiramente feliz com a gente mesmo. Aí vai poder compartilhar essa felicidade. Até porque ninguém pode dar a alguém aquilo que não tem. E, como dizem os poetas, a felicidade é uma estrada e não um destino, é possível sim ser feliz sozinho. Mas é muito melhor ter alguém com quem compartilhar a alegria de viver e de ser quem se é — inteiro, com alguém que também é inteiro. Assim, só haverão somas e não subtrações de felicidade.


Débora Carvalho
São Paulo, 13/7/2010

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Conservadores e progressistas de Gian Danton


Mais Débora Carvalho
Mais Acessadas de Débora Carvalho em 2010
01. Choque de realidade no cinema - 23/2/2010
02. Por que comemorar o dia das mães? - 4/5/2010
03. Metade da laranja ou tampa da panela? - 13/7/2010
04. Orgasmo ao avesso - 22/6/2010
05. Desperte seu lado Henry Ford - 17/8/2010


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
31/7/2010
23h01min
Não sei se devo, ou se posso falar diretamente com a Débora, mas vou mandar. Débora, boa noite! Achei excelente o diálogo que teve com a sua irmã caçula, porém farei alguns questionamentos. Quantas mulheres, como você, têm essa compreensão e convicção de qual é o seu real papel "nessa laranjada"? Já lhe ocorreu que muitas pessoas estão nessa situação por aceitarem o que nos foi ensinado e até imposto pelas gerações anteriores? E você também não acha que várias pessoas estão nesta condição por pura conveniência? Bem! De uma forma ou de outra, independente da escolha de cada um, quero lhe dar os parabéns, não só pelo texto, mas também por você estar passando esse pensamento que, com todo respeito, e se você me permitir, compartilho nesse momento. Não sou machista nem feminista, mesmo porque acho que esses dois rótulos não são necessários para um bom relacionamento entre homens e mulheres (salvaguardando e respeitando as pessoas com outras escolhas de relacionamentos), não é competição...
[Leia outros Comentários de Célio José Ramiro]
1/8/2010
22h12min
Olá, Célio. Quantas mulheres têm a mesma compreensão que eu? Posso garantir que muitas amigas e amigos que já vieram buscar conselhos... rs. Sim, eu sei bem o que é o peso do ensinamento da geração anterior. E também sei a delícia que é libertar-se desses conceitos que só nos trazem infelicidade. Sim, a grande maioria se permite ser infeliz por pura conveniência, porque a felicidade tem o seu preço. Ser alguém completo exige um alto preço de reflexão, autoconhecimento, e até mesmo o preço de "botar" algum conhecimento dentro da "cuca", seja por meio de leitura, por vivência, conhecer pessoas que tenham uma bagagem legal de vida - um psicólogo, por exemplo. Duas leituras me ajudaram muito: "Como se livrar de pessoas tóxicas" e "Para sempre a menininha do papai". E vamos defender a pessoa INTEIRA!!!
[Leia outros Comentários de Débora Carvalho]
4/8/2010
12h27min
Muito bem escrita essa sua pequena novela. Concordo com essa coisa de pessoas inteiras se "completando". Se sou completo, o que acrescento ao outro o faz incompleto ou podemos ensinar aprendendo, nos tornando inda mais cheios? Acho que somos dependentes das experiências dos outros e temos vontade de passar-lhes as nossas. Esta soma para mim é até matemática 1+1=2 (prefiro esta do que a 0,5+0,5=1). A "troca" de experiências é mais frutífera do que o simples "passar experiência" ao outro. Gostei, mas tive uma reflexão a esse respeito: quando sabe realmente quando está cheio, completo, pronto? Há um limite então para nós?
[Leia outros Comentários de Carlos Patez]
4/8/2010
13h46min
Carlos, adorei "1+1=2" é melhor que "0,5+0,5=1". Não creio que exista um limite. Amadurecer é algo que não acaba nunca. E, falando sério, a cada experiência que vivemos, algo muda dentro da gente. Eu, por exemplo, a cada ano me sinto diferente, mudo de opinião e até de gosto por comida. Tem coisas que eu não gostava e passo a gostar, e vice-versa. Mudamos os hábitos, as crenças, os sentimentos. Acho que sabemos que somos completos quando não necessitamos que alguém nos faça feliz. É quando estar sozinho não incomoda tanto. É quando eu posso sair para ir à festa só, na boa, mas prefiro ir com você ou te encontrar lá. Se não tiver a sua companhia, posso ter a de uma amiga ou amigo. Acho que é isso. Não vou deixar de ir porque você não vai comigo. E viva a felicidade inteira!!!
[Leia outros Comentários de Débora Carvalho ]
4/8/2010
16h26min
Débora, pois é justamene isso que faz com que nunca completemos esse jarro. Ganhamos experiências novas, descartamos as de outrora, nos renovamos, somos camaleões, mutações nos acometem a todo momento... O fato é que nossa necessidade dos outros nos é passada desde nossos antepassados. Na realidade, necessitamos do outro apenas quando nossa solidão já nos é um fardo. Mas reconheço que unir forças com alguém é prazeroso e como pessoas sociais que somos vem bem a calhar a presença do outro, desde que este respeite o momento de nossa "solidão". O problema existe quando achamos que dependemos de outras pessoas para nos sentirmos íntegros (acho que é isso que quer dizer com inteiro). Sair dessa cadeia de dependência é mui difícil, mas quando se consegue, enxergamos a vida por um ângulo diferente, e então teimamos em sermos felizes, integralmente felizes!
[Leia outros Comentários de Carlos Patez]
4/8/2010
16h38min
Carlos, é exatamente assim que eu penso. A dependência exagerada sufoca o outro. Precisamos, sim, de outras pessoas, de alguém em especial... mas não podemos jogar a responsabilidade da nossa felicidade nesse outro. Aí fica muito fácil achar um bode expiatório para tudo que dá errado na minha vida: eu sou infeliz por sua culpa, você não me faz feliz... você, você, você... e nunca eu. A gente tem que assumir a responsabilidade de muita coisa. Claro que alguém pode nos gerar algum sofrimento por determinado período de tempo. Mas não é tudo responsabilidade do outro. Tenho que assumir meus fracassos e frustrações... e até mesmo minhas conquistas e qualidade. Na minha visão, isso é ser inteiro.
[Leia outros Comentários de Débora Carvalho ]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Dostoievski- Ambiguidade e Ficção
Rodolfo Gomes Pessanha
Civilização Brasileira
(1981)



A Grande Marcha da Luz
Walter Ivan
Salesiana
(2008)



Os Donos do Futuro
Roberto Shinyashiki
Infinito
(2000)



O Jogo Da Vida
Vinicius Caldevilla
Moderna
(2003)



Livro Biografias Adeus, China O Ultimo Bailarino de Mao
Li Cunxin
Fundamento
(2011)



O novo acordo ortográfico: soluções, dúvidas e dificuldades para o ensino
Manoel P. Ribeiro
Metáfora
(2008)



Livro Infanto Juvenis A Reforma da Natureza
Monteiro Lobato
Globo
(2008)



Lideranca E Cultura Organizacional Para Inovacao
Jaap Boonstra; João Brillo
Saraiva
(2019)



México
Érico Veríssimo
Globo
(1987)



Manual Merck Edição Centenária
Mark H. Beers; Robert Berkow
Roca
(2000)





busca | avançada
54850 visitas/dia
2,4 milhões/mês