A análise da narrativa | Gian Danton | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 24/1/2003
A análise da narrativa
Gian Danton
+ de 16300 Acessos

Estamos cercados de narrativas. Das novelas aos grandes romances, passando por lendas e histórias em quadrinhos, as narrativas acompanham o homem há milênios e são um item cultural importante na distinção entre humanos e outros animais. Foi para ajudar a explicar essas histórias que Yves Reuter escreveu A Análise da Narrativa - o texto, a ficção e a narração.

A análise à qual se refere Reuter tem duas características. A primeira delas é interessar-se pelas narrativas como objetos lingüísticos. Assim, a forma como foram construídas ou a sua forma de comunicação não são objetos de análise. A segunda é a idéia de que, apesar da diversidade de histórias, há formas básicas e princípios de composição que podem ser percebidos.

Achar esses núcleos comuns, essas formas nas quais são feitas todas as narrativas foi objetivo de vários pensadores, a começar por Aristóteles em seus textos sobre o teatro grego.

Mas Reuter restringe seu resgate a autores mais modernos, como Umberto Eco, Roland Barthes, Claude Brémond e Vladmir Propp.

A teoria de Propp, por exemplo, parte da idéia de que existem 31 funções que constituem a base comum sobre qualquer história.

Para quem leu os livros de Harry Potter, ou assistiu aos filmes, algumas funções são facilmente identificáveis nessa história:

1 - Afastamento - um dos membros da família parte ou morre (a saga de Potter começa com a morte dos pais).

2 - Marca - o herói recebe uma marca provocada normalmente por um ferimento. Essa marca o ajudará posteriormente (Potter recebe uma marca na forma de raio).

3 - Partida - o herói deixa sua casa (as aventuras de fato começam quando Potter parte do lar dos tios em direção à escola de magia).

4 - Interdição - o herói se defronta com uma ordem ou uma proibição (quem já leu os livros de Potter sabe que sempre há algum tipo de proibição: não entrar em uma sala, ou não andar pelos corredores à noite).

5 - Recepção do objeto mágico - o herói recebe um ou mais objetos mágicos.

6 - Transgressão - a ordem não é atendida (a insistência de Potter em desobedecer proibições e a tendência do diretor da escola de perdoá-lo tem sido, inclusive objeto de crítica. Muitos pais têm dito que o bruxinho é um incentivo à desobediência).

7 - Engano - o agressor tenta enganar a vítima para apoderar-se dela ou de seus bens (Essa é fácil. Valdemort sempre se disfarça de alguém bom para prejudicar Potter).

8 - Cumplicidade - a vítima se deixa enganar e involuntariamente ajuda seu inimigo (se você leu Harry Potter, não há mais o que dizer).

9 - Descoberta - o falso herói é desmascarado.

10 - Vitória - o agressor é vencido.

Claro que pulei 21 funções e tirei outras do lugar, mas é surpreendente como elas se encaixam na história do bruxinho inglês. Das duas, uma: ou Rowling leu toda a obra de Popp e escreveu sua história baseando-se na teoria do narratólogo russo, ou Propp realmente conseguiu alinhavar algumas características comuns a muitas histórias. A primeira hipótese é muito pouco provável. É mais certo que existam certos arquétipos, certos princípios básicos das histórias que sejam compartilhados por nós através do inconsciente coletivo e apareçam nas histórias que lemos ou vemos nas telas do cinema.

Além dos interessantes capítulos sobre a teoria da narrativa, o livro de Reuter ganha fôlego ao falar do texto e suas relações com o mundo e outros textos.

Todo texto remete ao mundo. Por mais ficcional que seja uma narrativa, ainda assim, ela remeterá a categorias e objetos que já conhecemos. Mesmo um escritor de ficção científica, ao descrever um extraterrestre, o fará comparando-o a animais ou objetos por nós conhecidos. Reuter dá como exemplo as descrições de ETs feitas por H.G. Wells, em A Guerra dos Mundos: "Dois grandes olhos sombrios me examinavam fixamente. O conjunto da massa era redondo e possuía, por assim dizer, uma face: sob os olhos havia uma boca, cujas bordas desprovidas de lábios tremiam, agitavam-se e deixavam escapar uma espécie de saliva".

O realismo é uma das formas mais constantes da relação entre o texto e o mundo. Aqui não se fala da escola literária (em específico), mas da tentativa de fazer o leitor acreditar naquilo que está lendo, comum a quase todas as escolas literárias.

A forma de dar realismo ao texto muda de geração para geração e o que é realista hoje pode parecer totalmente irreal daqui a algumas décadas (uma forma de perceber isso é assistir filmes de ficção científica do início do século XX). Mas existem alguns recursos interessantes, levantados por Reuter, para criar o realismo.

Um deles, naturalizar a narração, foi muito usado no século XVIII. Consistia em justificar a origem da história. Geralmente isso era feito com um preâmbulo ao leitor, no qual se explicava que o livro havia sido escrito por outra pessoa e muitas vezes detalhava a forma como se teve acesso aos originais. Umberto Eco usou esse recurso em O Nome da Rosa, ao atribuir a autoria a um monge da Idade Média.

Até mesmo romances da chamada literatura de massa se utilizam desse recurso. J. J. Benitez jura até hoje que os livros da coleção Operação Cavalo de Tróia foram escritos por um militar norte-americano que, teria, realmente, voltado ao passado para se encontrar com Jesus. Lembro de um livro que encontrei na biblioteca da escola quando pequeno que mostrava naves espaciais. As ilustrações eram acompanhadas de textos que tratavam as naves como coisas do passado. Tipo: "Essa nave foi muito usada quando os humanos começaram a se aventurar para fora do sistema solar". Claro que o texto era só uma desculpa para as ótimas ilustrações serem vendidas como livro, mas ele realmente me convenceu e eu acreditava que havia entrado em algum dobra espacial através da qual havia chegado em minhas mãos um livro de um futuro distante.

Mas os textos não fazem só referência ao mundo. Eles também fazem referência a outros textos. Essas referências podem ser caracterizadas, por exemplo, pela intertextualidade. É o que ocorre quando temos um texto dentro do outro. As formas mais comuns são as citações, em que os escritores se divertem fazendo referências a outros autores. O livro O Nome da Rosa, por exemplo, é repleto de referências aos textos de Jorge Luís Borges.

Outra forma de intertextualidade consiste em apropriar-se de aspectos pouco explorados de histórias clássicas. Quem lê quadrinhos conhece muito bem esse recurso. Em Batman Ano 1, Frank Miller se aproveitou das brechas deixadas por Bob Kane para recontar a origem do Homem Morcego. Miller fez o mesmo com o Demolidor. Umberto Eco, aliás, tem um texto excelente em que explica porque os super-heróis da DC nunca envelheciam: suas histórias eram contadas sempre no vácuo deixado por outra aventura. Assim, o personagem ficava preso em um círculo vicioso que o impossibilitava de envelhecer.

Yves Reuter é doutor em letras e professor da Universidade Charles-de-Gaule-Lille III. Em A Análise da Narrativa ele faz um resgate aprofundado da narrativa, sem, no entanto se tornar cansativo. Seu texto é fácil e fluente e vai agradar não só professores de Literatura, mas todos que se interessam por entender um pouco melhor as histórias com as quais convivemos diariamente, seja em livros, em histórias em quadrinhos, nos cinemas, ou até nas páginas de jornais.

Para ir além





Gian Danton
Macapá, 24/1/2003

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