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Quarta-feira, 29/12/2004
Digestivo nº 207

Julio Daio Borges

>>> IMPRENSA EM 2004 Entre mortos e feridos, a imprensa brasileira aparentemente avançou em termos de publicações em 2004. O grande destaque fica, sem dúvida, por conta da revista Nossa História, que completou 1 ano de edições, digamos, históricas. Veículos de nível médio também marcaram presença, principalmente em termos de cultura pop. Em música, por exemplo, ganhamos a LabPop (depois, Laboratório Pop), comandada pelo sempre polêmico Mario Marques. No meio do caminho entre os “sons” atuais e as HQs, surgiu a Mosh!, dirigida pelo loquaz S. Lobo. E no universo estrito das histórias em quadrinhos, puxando mais para o humorismo, assistimos ao nascimento da revista F., revelando finalmente novos nomes. Pois talvez a insistência teimosa na “velha guarda”, a defesa de uma tendência política fora de moda, mais um punhado de contradições, tenha levado OPasquim21 à inanição e, em 2004, à extinção (com a capa do Brizola). Na linha entretenimento (se é que se pode dizer assim), tivemos ainda o primeiro aniversário da Pipoca Moderna, revista de DVD e cinema capitaneada por Marcel Plasse, em novo tamanho e distribuição em banca. Já na linha “séria”, a Foco chegou para discutir economia mensalmente, tendo como exemplo visível a The Economist. No reino dos jornais, o Estadão mudou de cara (para melhor), embora não tenha mudado tanto sua redação, e o controverso Rascunho, o suplemento literário de Rogério Pereira, completou 4 anos (com Millôr na capa). (Ah, a música teve, também, Outracoisa, a do Lobão, ainda que, sempre com um CD encartado, tenha ficado cara de mais e não tão encontrável em qualquer ponto.) Os jornalistas, abordando ou não seu ofício, enriqueceram o debate lançando livros no mercado editorial. Na rebarba de 2003, lemos os Contestadores de Edney Silvestre (com entrevistas do Milênio), a transposição do Rock Report de Fabio Massari para outro formato e a incursão, muito divertida, de Claudia Assef no mundo dos DJs (todo disc-jóquei que se preza já sambou). Roberto Pompeu de Toledo, como eles, atravessou o ano e coroou São Paulo com sua homenagem. A efeméride (dos 450 anos), obviamente, mereceu atenção da mídia, assim como o 1964 e o 1954 de Getúlio Vargas (e do rock). Mas voltando aos periodistas, devoramos, para completar, a Minoridade do Giron, os 100 Quilos... do Baby, o Francis do Piza e o Delator do Nêumanne. Otavio Frias Filho fechou dezembro com um curso na Casa do Saber – que arrebanhou, da grande imprensa, além de professores, sucessivas noites de autógrafo (em 2004, of course).
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>>> MÚSICA EM 2004 Mesmo com o lugar-comum da pirataria e da digitalização, a música passou bem em 2004 – com resultados desiguais, claro, mas para todos os gostos. Começando pelo erudito: em mais uma temporada exemplar, o Mozarteum Brasileiro trouxe até à Sala São Paulo, ao Parque do Ibirapuera e ao Theatro Municipal, Nelson Freire&Martha Argerich, Gidon Kremer, José Van Dam e o Octeto da Filarmônica de Berlim, entre outras atrações. Na linha descendente, da sempre forte “MPB clássica”, brilharam Theo de Barros, os Filhos de Caymmi (em homenagem aos seus 90 anos), o Orfeu em reedição primorosa (no embalo dos 90 de Vinicius de Moraes) e o trio de sanfoneiros, Dominguinhos, Oswaldinho e Sivuca. No quesito “clássico dos clássicos”, tomou de assaltou a audiência o remasterizado Elis&Tom, com dolby 5.1, inaugurando o segmento de DVD-áudio. Derraparam na pista, Caetano Veloso, em pouco convincentes interpretações em inglês, e seu ídolo João Gilberto, em mais uma edição caça-níqueis de seus shows ao vivo (dessa vez, em Tóquio). Outros veteranos desempenharam bem: Djavan, em nova etapa da vida, recobrou a inspiração; Tom Zé, depois do infarto, seguiu na mesma inventividade incansável; e Jair Rodrigues, embora tenha decepcionado em aparições ao vivo e na televisão, não fez feio em A Nova Bossa (pouco divulgado). Zeca Pagodinho sofreu de ascensão, de consagração e de perseguição; e Carlos Fernando (com o apoio de Toninho Horta) viu seu talento relançado 10 anos depois (2004 foi ainda marcado pelos 10 anos da morte de Tom Jobim). Entre os astros da “nova” ou “jovem” MPB, se destacaram a sempre-em-evidência Vanessa da Mata (com CD novo e no e-Festival) e a veterana, e bem mais discreta, Mônica Salmaso. Zélia Duncan apostou tudo em (re)interpretações mas não emplacou. Na dura seara instrumental, despontou – com maciço apoio da mídia – o duo Yamandú&Paulo Moura, mas quem levou mesmo adiante a tradição do violão foi Leandro Carvalho, em três momentos: no seu CD Cromo, em uma apresentação no Itaú Cultural e no mui recentemente prensado London Poem (que, em 2005, certamente merecerá comentário especial). Foi brilhante Nicolas Krassik, ao misturar violino e choro. E, engrossando esse coro, marcharam com firmeza, João Carlos Assis Brasil, Leo Mitrulis e Fernando Moura. Na categoria revelação (apenas para cair num chavão de qualquer retrospectiva barata), agradou Marcos Sacramento, indubitavelmente um dos maiores cantores hoje em atividade. E o rock, cinqüentenário, esteve vivo graças à old school de Sting, Yardbirds, Morrissey e Glenn Hughes, sem falar na instrumentação ousada de gente como Alex Masi e Randy Coven.
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>>> CINEMA EM 2004 A sétima arte esteve bem em 2004, ao menos para quem segue a tão ardente “questão autoral”, lançada e defendida pela Nouvelle Vague. Continua valendo? Caducou? Os diretores ainda dão as cartas? Bem, isso pelo menos foi verdade em momentos memoráveis do ano, como a seqüência Kill Bill (1 e 2), de Quentin Tarantino, a dobradinha dos Irmãos Coen (Matadores de Velhinha e Gosto de Sangue), o retorno de David Mamet (com Val Kilmer, em Spartan), mais uma obra-prima de Pedro Almodóvar (A Má Educação) e, para finalizar, – o ainda muito longe da unanimidade – The Dreamers, de Bernardo Bertolucci. No caminho da consagração, houve ainda os 21 Gramas de Iñárritu e o lançamento em DVD de Meninos e Lobos, entronizando tanto Clint Eastwood (direção) quanto Sean Penn (atuação). E se alguém se deixou arrastar, à sala de cinema, por algum ator, não deve ter perdido Alguém Tem que Ceder, com Diane Keaton e Jack Nicholson, em sua melhor forma (este, mais uma vez). Os documentários continuaram levando muitas das glórias: não seção “choque anafilático”, estão os Friedmans; e na musical, os Doces Bárbaros, cuja “estréia” aconteceu no Vivo Open Air. No embalo documental mas, vá lá, de reconstituição histórica, apresentaram-se: o campeão de bilheteria nacional, Cazuza; a viagem (rito de passagem) de Ernesto “Che” Guevara, com assinatura do internacional Walter Salles; e o low-profile Sylvia (em DVD), refazendo a trilha de vida e morte da poetisa americana. Já na falsa linha de “reconstituição histórica”, foram assistidos Tróia e A Paixão de Cristo (ambos considerados polêmicos e ambos, hoje, já devidamente esquecidos). O Senhor dos Anéis encerrou a saga e arrebanhou todas as estatuetas em Hollywood. E o Ripley, mesmo com John Malkovitch, teve uma continuação muito aquém da versão original. O Estadão diz que o cinema brasileiro vendeu menos ingressos em 2004; e os jornais norte-americanos dizem a mesma coisa sobre os longas nos EUA. Precocemente, está sendo anunciado um novo formato (para além do DVD), enquanto os realizadores brasileiros brigam com a intenção do Governo de criar uma agência reguladora. Em 2005, novas emoções estão previstas no écran...
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