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Quarta-feira, 13/10/2010
Digestivo Cultural, há dez anos combatendo Cebolas
Guilherme Pontes Coelho
+ de 5900 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Boy Looking Shocked by Large Onions, Terry Cryer
Boy Looking Shocked by Large Onions, Terry Cryer/Corbis© (1978)


A lista dos livros que mais me influenciaram tem poucas unanimidades canônicas. Victor Hugo, Guimarães Rosa, Shakespeare. Os demais são uma imensidão de autores, uns ainda vivos, outros já mortos, e tanto uns como outros de situação incerta no quesito cânone. Há também os não-canônicos, graças a Deus; assim como os eternos, e bem-vindos, "jovens autores". Devo acrescentar que os cultores da canonicidade marcam presença: Harold Bloom, Edmund Wilson e o maravilhoso Otto Maria Carpeaux. Mas nomes imponentes são minoria na short list "livros que me influenciaram", eu confesso.

Você, que gosta de ler, sabe que a lista de livros influenciadores pode não ser quilométrica ― mas é mutável. Há livros, contudo, que resistem mais tempo às nossas mudanças pessoais. No meu caso, um desses promete ser A última casa de ópio, do jornalista americano Nick Tosches. A razão disso é o Princípio Cebola.

Antes de lê-lo, o livro de Tosches, publicado aqui em 2006 pela Conrad (tradução de Michelle de Aguiar Vartuli), ganhou minha simpatia por causa da orelha, onde li que o autor havia escrito para Vanity Fair e Rolling Stone, publicações que adoro. O próprio livro era um artigo dele para Vanity Fair, publicado em setembro de 2000, disponível no site da revista. E ópio era um assunto que me interessava em 2006, época em que andei devorando Confissões de um comedor de ópio, de Thomas de Quincey.

Toda a jornada de Tosches à procura de uma casa de ópio genuína, nos moldes daquelas orientais que, aqui no Ocidente, não sobreviveram ao século XX, é uma reação a isto: "A nossa era é, cada vez mais, a era do pseudoconhecimento, o modo pelo qual tentamos tolamente nos diferenciar da maioria medíocre". São palavras do Tosches, à pagina 13.

Pois eu li o livrinho e desde então o Princípio Cebola tem me servido.

Tosches fala da cebola Walla Walla, servida no restaurante de um amigo. Cultivada em Walla Walla, cidade norte-americana do estado de Washington, a cebola contem baixo teor de enxofre, por isso é mais doce. Sai da terra (saía, em 2000) custando um dólar a unidade de 400g. No restaurante do amigo, de "cucina toscana", o prato era: meia cebola matizada com caviar de beluga. O caviar, àquela época, custava menos de um dólar o grama. Um mais outro dava "cerca de cinco ou seis pratas".

O amigo restaurateur, empresário ciente do apetite por fetiches, vendia a cebola como iguaria rara. Por ela, cobrava 35 dólares.

Para ilustrar melhor o Princípio Cebola, os vinhos, por favor.

Há quase uma década, quando comecei a participar de jantares, digamos, adultos, um tema recorrente e, para mim, entediante era ― e continua sendo ― a degustação de vinhos. Raro um jantar sem vinhos. Quando há vinhos à mesa, raríssimo o jantar em que os comensais não se entreguem aos prazeres refinados da enologia.

Desde a primeira vez em que vi o gesto de levar a bordalesa cheia ao nariz, farejar, farejar mais um pouco, depois tragar com parcimônia, apreciando todas as reações do vinho no interior da boca, desde a primeira vez em que vi esta cena soube que havia algo tremendamente equivocado. O desenrolar da cena é a pior parte. É quando o connoisseur emite seus juízos sobre a bebida. Quando ele especifica os supostos sabores detectados. Diz coisas como "aromas de cassis doce, chocolate, violetas, tabaco, e doce baunilha acarvalhada"; "um traço de pimentão se esconde no cassis". São aspas do Tosches e com mais aspas dele continuo: "Como um nariz tão sofisticado pode não ter detectado a merda de vaca com a qual essa celebrada propriedade de Bordeaux fertiliza suas videiras? Um verdadeiro conhecedor de vinho, se tal coisa existisse, detectaria o pesticida e o esterco antes de tudo: ele não seria um goûter de vin, e sim um goûter de merde." Estava lá, à página 14 d'A última casa de ópio, tudo o que eu pensava sobre sommeliers amadores.

A aparência rarefeita de uma ideia, transformada em conhecimentos ilusórios e/ou condutas falsificadas. O Princípio Cebola aplica-se a muita coisa. A volúpia fabricada das deusas do Photoshop, a musculatura de silicone dos cultuadores do corpo, os especialistas em redes sociais (que proliferam incessantemente por cissiparidade), a literatura pouco literária dos escritores metalinguísticos, a ininteligibilidade de instalações artísticas (uma boa parte delas), o jornalismo das revistas semanais, os livros do Gabriel Chalita, o humor do Casseta & Planeta. Manifestações do Princípio Cebola. Não é uma questão de gato por lebre. É de algo supostamente semelhante a um gato por uma coisa falaciosa e exageradamente lebre.

Hoje, se me perguntam, durante um jantar, que álcool gostaria de beber, peço Heineken ou vodka (Belvedere ou Wyborowa). Se só houver vinho, ou se estiver com saudade dele, eu o aceito, mas, se pedirem para discorrer sobre pimentões escondidos, vou emitir o único julgamento possível: "Hm, que gostoso!"

O cuidado para não topar com manifestações do Princípio Cebola não me deixa em paz. Vai além de bebidas e pessoas. Ele está presente em quase tudo o que leio; e em tudo o que leio de jornalismo, uma das minhas três leituras prediletas. Adoro jornalismo, sobretudo o "cultural". Gostava menos quando fazia faculdade de comunicação social. Passei a gostar mais quando me livrei dos professores. Mais ainda com o crescimento da internet. Ela é uma destruidora de Cebolas. Tem destruído os jornais, grandes Cebolas. Minhas leituras jornalísticas enriqueceram com a rede. Cebolas nunca mais.

Algumas publicações do mundo de papel merecem minha leitura. A revista piauí e a edição brasileira da Rolling Stone, que por tanto tempo esperei por aqui. A revista Brasileiros também, uma publicação só possível no Brasil de hoje. Pratico a compra ocasional das gringas New Yorker e Atlantic (não acho Vanity Fair nas bancas de Brasília). Elas não são publicações Cebola, inclusive pela maneira como a maioria delas é editada na internet, com sites usáveis e, principalmente, plurais. Pluralidade que veio com a ferramenta que só a internet pôde proporcionar: o blog.

Blogs se traduzem numa palavra: autenticidade. São antídotos ao pseudoconhecimento, porque seus autores escrevem a partir da experiência e porque querem. Blogs são antídotos contra Cebolas. Podem não achar isso, podem dizer que a blogosfera é que é a casa do pseudoconhecimento. Bem, sinto muito, quem diz isso não lê a mesma internet que eu e você. Você está aqui, no Digestivo.

Contra Cebolas, é Jardel Dias Cavalcanti falando de dor e êxtase e Wellington Machado sobre os quase livros. Luiz Rebinski Junior e o gosto por ter escrito, Rafael Fernandes e a indústria da música. É Eliza Andrade Buzzo e a vida subterrânea que mora em frente. Ana Elisa Ribeiro e as agruras da geração Y. É Marta Barcellos monstrando o que é gostar de homem. Rafael Rodrigues e a boa literatura brasileira. É Vicente Escudero, sobre o Digestivo Cultural.

Há dez anos combatendo Cebolas.

Nota do Editor
Guilherme Montana mantém o Montana, Blog.

Para ir além






Guilherme Pontes Coelho
Brasília, 13/10/2010

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Quanto vale blogar? de Rafael Fernandes


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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
19/10/2010
05h26min
Bom, acho que não entendi esse texto. O que é um texto cebola? Isso decididamente não ficou claro para mim.
[Leia outros Comentários de Carolina Costa]
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