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Quinta-feira,
10/12/2020
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Na translucidez à nossa frente
>>> Há uma curiosa sorte que acomete a um pensamento pandêmico. Nada começa, nada termina, em última instância. Existe uma continuidade de situações e ações consistindo em um início sem pedidos de licença, e términos de ações esmorecidas. Ou seja, são situações sem situacionamento e ações inativas. No entanto, tais coisas têm um pico e é exatamente este momento de altura que dá a marca da realidade preponderante.
por Elisa Andrade Buzzo
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A Velhice
>>> A velhice me angustiava quando era criança. Imaginava que os velhos vivessem em agonia, apenas esperando a morte. Mais do que a degeneração da idade, me amargurava pensar que os velhos tinham um futuro curto pela frente e sabiam disso! Pois sofri à toa, como acontece quando se sofre antecipadamente. Não é assim! Nossa perspectiva também muda à medida que vamos envelhecendo.
por Marilia Mota Silva
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Casa, poemas de Mário Alex Rosa
>>> A casa é habitada por objetos, seres e as próprias sensações do morador-poeta. Tudo isso liquidificado em substâncias poéticas: do voo rasante de um pernilongo ao passeio de uma formiguinha num grão de açúcar ou a sensação da água e do sabão no momento de se lavar as mãos. Além dos objetos, há o espaço e há também o tempo, transformados em imagem, sejam as horas do dia ou as horas da noite, seja o efeito da luz ou dos sons, ou as estações do ano transformadas em espera do tempo futuro.
por Jardel Dias Cavalcanti
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Doutor Eugênio (1949-2020)
>>> “A morte é o único ato perfeito”, já dizia Gustav Mahler. “Porque não precisa ser refeito; não precisa ser remendado...”. Quem me falava isso era o Doutor Eugênio, no meio do enterro da minha avó, em meados da década passada. Mais adiante, começou a discorrer sobre estruturalismo - “porque somos todos estruturas”, completou. “Era uma cabeça”, foi minha conclusão para o Fê - quando ele me contou da morte do Doutor Eugênio, que, parece, foi em Julho deste ano.
por Julio Daio Borges
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Coisa mais bonita é São Paulo...
>>> Segundo turno de eleições municipais em São Paulo. As más línguas chamam um candidato de radical, o outro de elitista... Como ambos são de minha geração, é interessante acompanhar essa renovação na política. De um deles, eu poderia ter sido colega de turma, se eu tivesse ido para o Bandeirantes (ou ele ido para o Etapa, colégios concorrentes e próximos na Vila Mariana); com o outro, posso ter cruzado nos corredores da FFLCHUSP ou dividido uma mesa no bandejão central.
por Elisa Andrade Buzzo
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Cuba E O Direito de Amar (2)
>>> Por toda a cidade, vimos cartazes, outdoors já gastos, homenageando Cienfuegos, um homem jovem, bonito, carismático. No Museu de Revolucion aprendi quem era ele: Comandante Camilo Cienfuegos, amigo de Fidel e de Guevara, um dos líderes da revolução, que morreu em um acidente aéreo, pouco tempo depois da vitória. E Che, como sabemos, foi sozinho levar a revolução para o resto da América Latina e acabou morto na Bolivia.
por Marilia Mota Silva
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Cuba e O Direito de Amar (1)
>>> Sem sair de casa por causa da pandemia, comecei a reler velhos cadernos de viagem. Um deles trazia notas de uma semana em Cuba, no século passado, quando não havia celular, nem e-mail, nem Google. O muro de Berlim e a União Soviética ainda estavam em pé: 1989, pré-história. O Banco Nacional de Cuba (BNC) faria um seminário sobre câmbio; o país começava a incentivar o turismo, a se abrir para o estrangeiro, e precisava aprender sobre operações cambiais. Fomos para esse seminário.
por Marilia Mota Silva
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Aos nossos olhos (e aos de Ernesto)
>>> Aos olhos de Ernesto é um filme brasileiro lançado em 2019, dirigido por Ana Luíza Azevedo, também autora do roteiro em parceria com Jorge Furtado, protagonizado pelo ator uruguaio Jorge Bolani. Contracenam com ele Júlio Andrade, Gabriela Poester, Áurea Baptista e Jorge D'Elia. A vida comum de um idoso estrangeiro radicado no sul do Brasil tem sua graça iluminada justamente por elementos relacionados aos afetos e às limitações que se impõem conforme a idade avança.
por Ana Elisa Ribeiro
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Carol Sanches, poesia na ratoeira do mundo
>>> A linguagem e as imagens de sua poesia mantêm-se basicamente na mesma clave: perscrutar o cotidiano, as relações humanas, os acontecimentos (sejam domésticos ou do mundo social ou existencial) e, com argúcia, transformar essa matéria – ou material – numa forma através da qual os contornos que a cercam possibilitem ver e reconhecer a experiência interior do seu mundo.
por Jardel Dias Cavalcanti
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O fim dos livros físicos?
>>> Estamos prontos para abrir mão dos livros físicos e aderir de corpo e alma aos e-books? Se essa fosse a pergunta de um milhão de dólares, seria a maneira mais fácil de se tornar um milionário. Para mim, a resposta é óbvia e negativa. Não conseguiríamos fazer essa substituição. É só observar os nossos hábitos como leitores. A pessoa que compra um livro não está apenas interessada no conteúdo das páginas em si: é uma relação de amor em diversas camadas.
por Luís Fernando Amâncio
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A sujeira embaixo do tapete
>>> Flui com muita rapidez a leitura de Desonra, de J. M. Coetzee. O que faz pensar que não foi por acaso que esse escritor sul-africano ganhou o Prêmio Nobel de literatura de 2003. O romance conta a história de David Lurie, professor quinquagenário que, desafortunadamente, após se envolver com uma aluna anos-luz mais nova que ele, vê seu emprego na universidade ir para o espaço: denunciado pela garota, seu nome vai parar nas páginas dos jornais, acusado de abuso sexual.
por Renato Alessandro dos Santos
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Moro no Morumbi, mas voto em Moema
>>> Estou no Morumbi há mais de vinte anos, mas continuo votando em Moema. Por quê? Hoje, saindo de casa - com uma preguiça monumental de sair para votar -, me perguntei por quê. Mas, quando chego em Moema, me vêm as lembranças... Primeiro que eu nunca lembro em qual rua fica a minha zona eleitoral. Ela já mudou de escola umas duas ou três vezes - e eu sempre procuro na última hora. Desta vez, desisti de procurar na internet. O site da justiça eleitoral não funcionava direito.
por Julio Daio Borges
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É breve a rosa alvorada
>>> A noite aportará com o peso de uma âncora. Água e ondas e escamas se eriçarão. Não haverá mais distinção entre terra escura e mar tenebroso no panorama dominado pelo abandono. O cais nu e descalço, se poderá por nele andar. Rondar-se-á a noite. Nas trevas das águas se esbaterá e se dissolverá qualquer coisa, qualquer gesto, qualquer pensamento.
por Elisa Andrade Buzzo
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Alameda de água e lava
>>> A tarde é luzidia. Uma silhueta de homem atravessa transversalmente. A vida em potencial não pode se expor a nu diante dos olhos, ela acontece na sombra de uma flecha, nos respingos excedentes de água, na trajetória da queda de uma folha. A cidade desértica prevalece como um facho constante dependurado num corredor petrificado, pintada de ardor e calma desolação. Sempre há algo prestes a acontecer.
por Elisa Andrade Buzzo
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Entrevista: o músico-compositor Livio Tragtenberg
>>> Livio Tragtenberg organizou uma orquestra de sanfoneiros cegos para acompanhar ao vivo a exibição de um filme pernambucano mudo de 1925. Na 29ª. Bienal de São Paulo, fez uma performance, dentro de uma jaula com instrumentos, que denominou O Gabinete do Dr. Estranho, criando composições musicais a partir de materiais enviados pelo público. Eis duas das ações do músico e compositor que entrevistamos para o Digestivo.
por Jardel Dias Cavalcanti
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Julio Daio Borges
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