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Segunda-feira, 24/9/2018
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Redação
 
Millôr no IMS Paulista

Saí de casa com a ideia de fazer a “ronda” das exposições. Iria começar pelo IMS, iria seguir para a Fiesp, Casa das Rosas e Itaú Cultural.

Peguei o metrô orgulhoso - na contramão dos torcedores do São Paulo -, desci na Paulista, subi as escadas do Moreira Salles, mas, quando entrei na exposição do Millôr, e vi aqueles murais enormes, comecei a chorar e fui de olhos marejados até o final.

Nem visitei o resto do Instituto Moreira Salles. Desisti do Itaú Cultural, da Casa das Rosas e dispensei até o Rafael - aquele, da turma do Leonardo -, preferi não diluir o impacto do Millôr.

Por que chorei? Não sei; emoção. Quando estive com Millôr, há 15 anos, ele vinha de uma homenagem protocolar, aborrecida... Ao mesmo tempo, sentia-se pouco reconhecido no Brasil - o que parece uma contradição; mas não é, não.

Millôr era muito grande. Difícil receber uma homenagem à altura. Ainda mais no Brasil; ainda mais em vida.

Mas quando entrei na exposição do Moreira Salles e vi aqueles murais enormes, senti, em nova dimensão, o grande artista que ele foi - e que o reconhecimento havia chegado, de alguma forma. Mais de 5 anos depois de sua morte? Sim; mas é a vida! E, no Brasil, antes tarde do que nunca...

“A ideia de um projeto estético tradicional sempre foi estranha a Millôr Fernandes[...] ele dizia-se antes de tudo um jornalista e via o impresso, sobretudo em revistas e jornais, como a realização plena de sua obra”, diz o texto de abertura da exposição.

“Dos autorretratos à visão desencantada do Brasil, passando pelas reflexões sobre a condição humana e pelo prazer puro e simples das formas, ‘Millôr: obra gráfica’ propõe uma visão de conjunto de um dos maiores artistas brasileiros do século XX” - acho que foi quando as lágrimas rolaram...

Estava emocionado pelo Millôr - porque, de fato, ele *foi* um dos maiores artistas brasileiros do século XX. Artista no sentido plástico do termo. Além de escritor; além de intelectual; além de pensador. Sem contar o humorista; o dramaturgo; o tradutor de Shakespeare. O inventor do frescobol! Millôr teve tantas facetas que estamos sempre nos esquecendo de alguma...

Quando estive com ele, havia saído a sua edição do célebre “Cadernos de Literatura” do Instituto Moreira Salles. Daquele seu jeito descontraído, ele me disse em seu estúdio: “Esse pessoal do Moreira Salles esteve aqui... E fez um bom trabalho, viu? Estiveram aqui; pegaram algumas coisas... Foram lá atrás, na minha carreira...”

E hoje temos de reconhecer: foi louvável que o IMS assumiu o acervo de mais de 7 mil desenhos do Millôr. Pois, quantos acervos não se desfizeram quando seus donos se foram? Eu vi alguns. Do Daniel Piza, por exemplo, eu nem tive tempo de ver - quando soube, já havia sido desmembrado...

Ao mesmo tempo, é irônico - porque Millôr olhava com uma certa desconfiança para os Moreira Salles... Por causa do Walter Moreira Salles, o “rico” de sua época.

“Qual a diferença entre eu e o Walter Moreira Salles?”, Millôr se comparava. “Eu moro de frente para a mesma praia que ele” (no Rio, obviamente). “Ele pode viajar... mas eu também posso! Eu posso ficar, sei lá, 10, 20 dias fora... Não; 20 dias é muito!”, o próprio Millôr se emendava...

Sua versão de “Guernica”, de Picasso, na exposição, não é uma escolha aleatória. Tanto quanto o gênio do cubismo, Millôr produziu muito. Ia ao estúdio todos os dias; inclusive sábados e domingos. E foi longevo - quando conversamos tinha, aproximadamente, 80 anos, parecia lépido e fagueiro: com um discurso fluente, bem-humorado e brilhante, o mesmo desde os tempos de “O Cruzeiro”.

Me emocionei com as fotos do estúdio, em Copacabana; principalmente no catálogo da exposição. Me sentei naquele sofá vermelho e Millôr se sentou na poltrona amarela, em frente. Tentei espiar sua biblioteca ao longe e avistei pastas etiquetadas: “Pif Paf” - uma das alas da exposição...

Claro que nem tudo são flores no IMS. Senti um viés “político” ao se colocar os desenhos da época da ditadura militar (1964-1984) logo na entrada. Como um lembrete - de tempos que podem voltar... Talvez por causa de algum candidato militar nas próximas eleições?

Lembrando que Millôr foi um crítico feroz de Fernando Henrique Cardoso, cujos livros “clássicos” não perdia a oportunidade de mostrar que eram intragáveis. E, naturalmente, foi crítico de Lula - sobre quem, afirmava, “a ignorância havia subido à cabeça”. A ignorância.

Ao contrário da turma do Pasquim21, que não quis fazer “humor a favor”, quando Lula assumiu, em 2004 encomendei uma capa, ao Millôr, para a revista do Digestivo com a FGV/SP, e ele não foi nada econômico na legenda: “Os governantes proclamam: Bananas pra nossa cultura” - em pleno governo do PT, em plena gestão de Gilberto Gil, no MinC.

Millôr era da geração do Paulo Francis, que tem uma citação famosa: “Os baianos invadiram o Rio para cantar: ‘Ah, que saudade eu tenho da Bahia’... Se é por falta de adeus, PT saudações”. Caetano brigou com Francis mais de uma vez. E no Pasquim, os invasores baianos eram chamados de “baihunos”, em referência aos bárbaros que invadiram a Europa nos estertores do Império Romano...

O desenho que Millôr fez para o Digestivo está lá, na primeira ala da exposição. Foi selecionado entre os 7 mil de seu espólio. Mas está sem a legenda. Aos organizadores, deve ter parecido familiar... Afinal, eu o divulguei, à época, a torto e a direito... Mas os organizadores não conseguiram se lembrar o suficiente - e, sem a legenda, ele ficou meio fora de contexto... Mas me senti vingado, de alguma forma ;-)

“Daio, cuide da minha glória - antes que ela seja póstuma”, Millôr me escreveu, num e-mail, quando já estava mais pra lá do que pra cá. Não lembro o que respondi na época, mas hoje eu diria que:

“A sua glória está garantida, Millôr. Você não precisa se preocupar. A exposição está linda! Que grande brasileiro você foi... Estou ainda mais honrado de tê-lo conhecido.”

Para ir além
"Meu encontro com o Millôr"

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Postado por Julio Daio Bløg
24/9/2018 às 09h55

 
A dignidade da culpa, em Graciliano Ramos

Em 1934, um brasileiro nascido na cidade de Quebrângulo, Alagoas, chamado Graciliano Ramos, publicou o romance São Bernardo. É um livro que põe o dedo numa ferida sempre aberta, por mais esforços que se faça para silenciá-la: o sentimento de culpa. E não seria exagero dizer que a obra mereceria estar ao lado de Crime e Castigo (Fiódor Dostoievski), Ressurreição (Leon Tolstói) ou Metamorfose (Franz Kafka), num panteão de obras essenciais ao entendimento da natureza humana, não fosse a língua portuguesa que a condenou a ser um “galho menor de um arbusto secundário dos jardins das musas”. Ora, no jardim das musas não há arbustos secundários, e os leitores de língua portuguesa também têm seus privilégios.

O romance é uma espécie de autoanálise em que Paulo Honório, narrador-personagem, reconta a história de sua ascensão social, graças às falcatruas, emboscadas, relações de falsa amizade e interesse. Relembra de como levou Luís Padilha (antigo dono e herdeiro da fazenda São Bernardo) à falência; de como planejou o assassinato de seu vizinho para expandir suas terras; de como perdeu o interesse pelo próprio filho; de como levou sua esposa, Madalena, ao suicídio.

Diante de tais atrocidades, Paulo Honório lamenta-se de uma, em específico: a consciência de não conseguir sentir culpa. Apesar de pequenos indícios de aflição, trata-se de um sentimento ambíguo, pois não brota de um arrependimento, mas da consciência de ser incapaz de arrepender-se. Diz Paulo Honório: “Penso em Madalena com insistência. Se fosse possível recomeçarmos... Para que enganar-me? Se fosse possível recomeçarmos, aconteceria exatamente o que aconteceu. Não consigo modificar-me, é o que mais me aflige”; ou seja, mesmo se tivesse uma segunda chance, não faria diferente. Noutra situação, quando manifesta a ausência de amor pelo filho, sua expressão é emblemática: “Nem sequer tenho amizade a meu filho” – veja-se a precisão e sutileza com que se expressa: nem sequer “amizade” sente pelo filho, ou seja, nem mesmo o mínimo de afeição esperada, ao que se completa: “Que miséria!”.

A interjeição diante da falta de “amizade” pelo filho – “que miséria!” – é reveladora. Paulo Honório reconhece a miséria de sua própria condição moral. “Reconhecimento” é um item importante nas tragédias gregas: é o momento em que o herói reconhece sua condição de desgraça. Nesse sentido, São Bernardo é um romance trágico, construído sobre um paradoxo: à medida que Paulo Honório ascende socialmente, decresce moralmente. É uma ironia presente no próprio nome do protagonista: “Honório” provém de “honorius”, que em latim significa “honorífico”, “honrado”, sendo sua raiz etimológica: “honor”: “honra”; entretanto, toda sua honra se restringe à sua condição social, não moral.

A grandiosidade do romance está na figura de Paulo Honório ao reconhecer sua condição moral miserável e assumi-la como sua responsabilidade. Obviamente que não elogio suas ações criminosas, nem as defendo. Por outro lado, ele não mente para si mesmo: “Para que enganar-me? Se fosse possível recomeçarmos, aconteceria exatamente o que aconteceu”. Se por um lado é uma fala que revelaria a perversidade do protagonista, por outro é um gesto de coragem, de alguém que assume a responsabilidade diante de sua condição de desgraça, consciente da própria incapacidade de se libertar.

A atualidade de São Bernardo não está na construção do típico “sinhozinho” que é Paulo Honório; não está na caracterização do explorador avaro e sem sentimentos; não está na crítica ao “capitalismo perverso que corrompe as pessoas”. A atualidade de São Bernardo está em ser um contraponto a um mundo que facilita e, silenciosamente, valoriza a mentira para justificar ou negar as próprias falhas, medos e fraquezas. Se Paulo Honório justificasse o suicídio de sua esposa pela adesão ao comunismo – “Comunista, materialista. Bonito casamento!”, exclama o narrador em pensamento, durante uma conversa a respeito de sua esposa –, seria menos doloroso. Contudo, seria menos honesto, menos consciente.

Quando Paulo Honório assume sua responsabilidade diante da própria vida, quando assume ser o culpado de sua desgraça, torna-se moralmente digno, pois sua coragem e sobriedade merecem respeito. Um gesto raro.

Um dos itens que compõe uma obra clássica é a contribuição para um entendimento mais profundo de nossa natureza e condição. São Bernardo é um clássico.

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Postado por Ricardo Gessner
23/9/2018 às 15h59

 
Ingmar Bergman, cada um tem o seu

100 anos de Ingmar Bergman! Demorei um pouco para conhecê-lo, mas logo o tomei como meu diretor favorito. Por ser um diretor tão diversificado, sempre dizem que cada um tem um Bergman e como todo bom bergmaniano, também tenho o meu. Escolhi filmes que me trazem lembranças e experiências, já que escolher analisando a genialidade do diretor seria uma tarefa muito difícil. Selecionei dois filmes: A Hora do Lobo (1968) e Noites de Circo (1953), senão acabaria falando de todos os filmes.

Comecemos então com A Hora do Lobo, o primeiro que assisti. Diz-se que as horas que ficam entre a meia noite e a aurora são as horas do lobo. É nesse momento em que um casal, formado por Erland Josephson (Johan) e Liv Ullmann (Alma), entra em conflito. Depois de mudar para uma ilha habitada por pessoas misteriosas, o casal entra em um estado crítico e as madrugadas são tomadas pelas histórias de Johan, carregadas de dores e aflições. Inicialmente o filme deveria se chamar Os Antropófagos, o que deixaria claro o mistério em torno do estranhos habitantes da ilha. Mas no final, A Hora do Lobo acabou por ser um bom nome.

Outro filme que gosto muito é Noites de Circo (1953). Não é só o expressionismo destacado em uma época em que era requerido, ou as atuações formidáveis que me atraem para Noites de Circo. Existe algo que me faz assistí-lo sempre que quero ver um Bergman. No filme o diretor coloca uma disputa entre o circo e o teatro. Um amante das duas artes, Bergman nos leva aos bastidores mostrando as dificuldades em viver num circo intinerante e as disputas de egos dos artistas de teatro. Mas no filme eles nos mostra o quão comum os dois podem ser.

Com esses 100 anos, vão exibir muitos Bergmans nos cinemas, uma ótima oportunidade para assistir seus filmes na tela grande. Se me permitem uma dica, o documentário 'Bergman - 100 Anos' é uma ótima escolha para quem não conhece o diretor. Mesmo sendo um doc, algumas histórias são tão mirabolantes que até parece ficção.

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Postado por A Lanterna Mágica
11/9/2018 às 08h14

 
Em defesa do preconceito, de Theodore Dalrymple

Recentemente conclui minha releitura do livro Em defesa do preconceito, de Theodore Dalrymple, cujo estilo de escrita não me canso de ler. O título é claramente provocativo; alguns argumentariam que se trata de uma jogada de marketing para chamar nossa atenção. Que seja, pois nesse gesto de “chamar a atenção” ele também revela, sutilmente, a nossa ignorância diante da aplicabilidade do termo “preconceito”, com larga aceitação (ou rejeição), mas, ao mesmo tempo, feita de maneira irrefletida e, não raro, mecânica.

Normalmente o “preconceito” está associado a uma atitude de repúdio anterior à experiência; de rejeitar algo ou alguém antecipadamente, sem conhecimento ou segundo critérios infundados, como: cor da pele, do cabelo, nacionalidade etc. Nesse sentido, “preconceito” é algo deletério; como poderia alguém escrever um livro em sua defesa?

Não é esta acepção que Dalrymple aplica; segundo o autor, há um matiz conceitual que define o “preconceito” como um conjunto de valores morais preconcebidos, construídos ao longo da história e mantidos através da tradição. Diferentemente da acepção comum, neste caso o “preconceito” é algo benéfico e salutar. Nesse sentido, o livro de Dalrymple é tanto uma defesa quanto uma crítica: defende os valores tradicionais e critica aqueles que, sob as mais variadas (e, não raro, infundadas) justificativas, pretendem destruí-los.

Em primeiro lugar, uma pessoa que se declara viver sem preconceitos e os contesta é uma espécie de cartesiano, pois articula um modus operandi similar: se René Descartes preocupou-se em fundamentar um posicionamento filosófico puro, isto é, sem o menor resquício de dúvidas e, desse modo, garantindo-lhe maior segurança para construir um raciocínio o mais próximo da Verdade, alguém “sem preconceitos” almeja, analogamente, um lugar “puro”, sem o menor resquício de preconceito e, assim, apresentar-se como alguém “superior e livre de ideias pré-concebidas”. Em síntese, ao invés da projeção de dúvidas, projetam-se “preconceitos”: “A popularidade do método cartesiano não decorre do desejo de remover as dúvidas metafísicas e encontrar a certeza, mas o que ocorre é precisamente o oposto: jogar dúvida em todas as coisas e, portanto, aumentar o escopo de licenciosidade pessoal ao destruir, de antemão, quaisquer bases filosóficas para a limitação dos próprios apetites” (p. 21)

No entanto, a conduta “anti-preconceito” se apoia numa crítica aos valores tradicionais como forma de justificar filosoficamente comportamentos pessoais licenciosos, assim como alargar (se não, abolir) os limites em torno “dos próprios apetites”. Entenda-se “comportamentos pessoais licenciosos” como sendo os interesses de ordem pessoal, que normalmente são restringidos por alguma “autoridade moral”, por “valores tradicionais” ou algo do gênero.

“Então, subitamente, todos os recursos da filosofia lhes são disponibilizados, e serão imediatamente usados para desqualificar a autoridade moral dos costumes, da lei e da sabedoria milenar” (p. 22)

A História torna-se o centro de contestação, visto que foi através dela – ao longo do desenvolvimento do tempo – que determinados “preconceitos” se formaram e se perpetuaram. Contudo, reconstituir o passado requer uma postura seletiva em relação ao modo e ao que será narrado. Nesse ínterim, um estudioso pode projetar anseios predeterminados ou ideológicos, estabelecendo-os como critério científico de seleção; desse modo, reconfiguram-se outras possibilidades de narrativa histórica, mas que apenas devolve o seu interesse; diz o que se quer ser ouvido.

Um “liberal sem preconceitos”, quando pretende deslegitimar a “autoridade imposta” ao longo da história, estabelece o seu interesse ideológico como critério. Esse gesto demonstra a consequência imediata do combate ao preconceito, cujo resultado não é a sua abolição, mas, no máximo, a substituição por outro preconceito.

“Derrubar determinado preconceito não significa destruir o preconceito enquanto tal. Na verdade, implica inculcar outro preconceito” (p. 39)

Nesse sentido, a família, a educação, a história, as artes, a religião, tornam-se alvo de críticas, em que os “caçadores de preconceito” pretendem desmontar a “autoridade repressiva” detrás esses valores. Mas qual o resultado? O que é proposto no lugar? As respostas são várias e estão apresentadas ao longo dos 29 capítulos do livro. Exemplifico com apenas um: as consequências no campo da educação.

“Se alguém se vê moralmente obrigado a limpar a sua mente dos detritos do passado para que possa se tornar um agente moral completamente autônomo, isso implica o dever de não jogar na mente dos mais jovens, os detritos produzidos por nós. Não causa surpresa, portanto, constatar que, de forma crescente, investimos as crianças de autoridade para que administrem as suas próprias vidas, e isso é feito com crianças cada vez menores. Quem somos nós para dizer a elas o que fazer?” (p. 31)

Em termos práticos, isso leva a uma perda de autoridade dos pais diante dos filhos. Na verdade, não se trata precisamente de uma “perda”, mas de uma delegação – consciente ou não – às crianças da responsabilidade de decidirem o que querem comer, assistir, falar, fazer; quando querer dormir, acordar, ir à escola, sem qualquer critério (isto é: valores) pré-estabelecidos. Se isso é visivelmente um gesto de imprudência, que tipo de pais poderiam confiar tamanha responsabilidade aos seus filhos, ainda imaturos?

“Pais preguiçosos e sentimentais, sem dúvida” (p. 33)

As consequências disso podem ser vistas desde em um supermercado, quando uma criança ordena, aos berros, para que lhe compre um pacote de bolachas recheadas para o jantar, ao que a mãe lhe obedece e responde, meio sem graça, às pessoas ao redor: “Ele é assim mesmo”; até a desordem que predomina nas escolas, em que professores são agredidos direta ou indiretamente, física e verbalmente, sem qualquer respeito à sua (antiga, tradicional) autoridade. Em síntese: um mundo predominado de gente mimada e sem o senso de responsabilidade e respeito, que são outros valores tradicionais.

Como o bem disse Dalrymple, numa síntese magistral: “(...) o sábio questiona apenas aquelas coisas que merecem questionamento” (p. 63)

Ora, se por um lado foram os intelectuais quem iniciaram os questionamentos (às vezes convenientes, o que não justifica uma regra) a respeito da “autoridade”, isso não foi mediante uma postura sábia, mas inconsequente, vaidosa e egoísta:

“Em outras palavras, para essa classe, trata-se do mero exercício retórico e de exibicionismo intelectual, no sentido de conferir ao sujeito uma aura de ousadia, generosidade, sagacidade, sugerindo a presença de uma mente independente aos olhos de seus pares, em vez de ser uma real questão de conduta prática” (p. 39)

Combater as “ideias pré-estabelecidas” nem sempre é uma questão de conduta prática, mas é uma atitude típica e artificialmente blasé, de alguém que se pretende colocar num lugar incomum, não-convencional, e que apenas repete o convencionalismo de (tentar) não ser convencional.

Há preconceitos que foram deletérios, claro, o que não justifica a sua generalização ou o constante reexame de toda e qualquer ideia pré-estabelecida. Elas existiram, existem e existirão.

“Temos que ter, ao mesmo tempo, confiança e discernimento para pensarmos logicamente a respeito de nossas crenças herdadas, e a humildade para reconhecermos que o mundo não começou conosco, e tampouco terminará conosco, e que a sabedoria acumulada da humanidade é muito maior do que qualquer coisa que podemos alcançar de forma independente” (p. 137)

Por fim, a sabedoria não está apenas na correção do que deve ser questionado, mas no modo como os valores preconcebidos – os preconceitos – são incorporados na vida prática. “Não se apresenta como uma das grandes glórias de nossa civilização que um homem com habilidades moderadas possa – e talvez deva – saber mais que os grandes cientistas e sábios do passado? Ele vê mais longe por estar sobre os ombros de gigantes, e não porque ele impertinentemente questionou tudo o que alcançou” (p. 129)

O livro de Dalrymple é uma oposição à mentalidade imprudente, pois situa a importância de hábitos e valores importantes em vias de extinção.

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Postado por Ricardo Gessner
9/9/2018 às 17h43

 
Evasivas admiráveis, de Theodore Dalrymple

Resenha: Evasivas admiráveis, Theodore Dalrymple

Há alguns anos, durante um jantar, conversava com uma colega sobre a minha afeição pela escrita de Miguel de Unamuno, escritor espanhol e precursor do existencialismo. Aprecio justamente por ele escrever como existencialista, não como filósofo. Para Unamuno, a existência não era uma categoria, nem um conceito ou um sistema abstrato, mas um questionamento sincero sobre aquilo que o fazia sentir-se vivo: seus medos, angústias, aflições. Sua escrita incide sobre questões que lhe interessavam vitalmente, sem reduzi-las a uma dedicação meramente intelectual. Era uma forma de enfrentar seus demônios interiores — se possível superá-los –, mas de maneira nenhuma esquivar-se deles.

Ao concluir, minha interlocutora responde: “Ah… eu não acho que a gente deva ficar pensando muito…”. Ela era psicóloga. E sua resposta ecoava em minha mente enquanto lia Evasivas admiráveis, de Theodore Dalrymple. Pois aquela resposta era uma evasiva admirável.

Em várias ocasiões Dalrymple mencionou que um dos seus principais temas de interesse é a respeito da natureza do mal. De fato, o autor discute o assunto em seus vários livros, mas não em termos filosóficos, nem apoiando-se exclusivamente em sistemas abstratos, mas constrói seu raciocínio a partir de sua experiência como psiquiatra e de costumes morais; isto é, de como o fator moral (e sua ausência) influencia comportamentos perigosos, narcisistas e socialmente deletérios.

Contudo, em Evasivas admiráveis foge-se um pouco desse quadro, pois Dalrymple constrói sua reflexão a partir de teorias — teorias psicológicas –, para demonstrar como elas podem, sob o verniz conceitual da ciência, eximir o indivíduo de certas responsabilidades. Noutras palavras, Dalrymple discorre sobre como algumas teorias delegam a fatores externos a responsabilidade dos malefícios individuais, ou incentivam um egocentrismo desonesto, trajado em conceitos como autoaceitação (amar-se acima de qualquer coisa, inclusive os seus demônios interiores), autoperdão (suas ações são culpa de maus pensamentos inculcados pela sociedade opressora, ou de um desequilíbrio químico dos neurotransmissores), Eu-verdadeiro (herança rousseauniana: no âmago, você é bom; são seus demônios interiores — com vida própria — que te atrapalham). São as condutas que dão nome ao livro.

Existe uma diferença entre infelicidade e depressão. Infelicidade está associada a uma capacidade de compreensão; isto é, pressupõe um exercício honesto de identificar e assumir certas responsabilidades sobre decisões erradas, condutas equivocadas, relacionamentos ruins, que trouxeram algum tipo de sofrimento. Dessa forma, infelicidade é um estado de espírito. Depressão, por outro lado, é um quadro clínico, geralmente associado a alguma disfunção neurológica, e o indivíduo não tem controle sobre si ou sobre seus pensamentos. Quando transposto esse quadro àqueles com transtornos psicológicos, há uma confusão entre infelicidade e depressão. “Eles nunca serão responsabilizados pelo seu estado ou situação; são vítimas de algo exterior a elas (nesta circunstância as disfunções do cérebro são consideradas exteriores, e não o eu verdadeiro dessas pessoas)” (p. 42).

Isso explica o fetiche pelos antidepressivos. A promessa de felicidade fácil e rápida, mesmo que os efeitos dos comprimidos não sejam tão eficazes conforme informações divulgadas na mídia. Trata-se, portanto, de uma evasiva admirável.

“Excetuando instâncias específicas, a psicologia não contribui em nada para o autoconhecimento humano, e fez até o oposto; pois ao se meter entre o ser humano e o que Samuel Johnson chamou de ‘movimentos de sua própria mete’, ela atua como um obstáculo ao genuíno (ainda que muitas vezes doloroso) exame de si mesmo” (p. 94).

Em resumo, o autoconhecimento não é sinônimo, nem garantia, de felicidade, pois requer um olhar honesto para si mesmo; requer o reconhecimento das próprias limitações, assim como assumir a responsabilidade sobre os próprios infortúnios e o enfrentamento de suas causas e consequências. O Eu-verdadeiro não é tão bonito quanto se pinta; a autoaceitação, o autoperdão, sem uma responsabilidade moral, legitima um egoísmo narcisista.

A publicação de Evasivas admiráveis, pela editora É Realizações, é um gesto de considerável importância, pois apresenta numa linguagem acessível e elegante, um olhar crítico sobre determinado comportamento marcado por uma “insatisfação, um descontentamento com a vida” (p. 17), em que e a felicidade é concebida como um direito inalienável.

Em síntese, a busca pela felicidade não é uma busca sincera se associada exclusivamente ao autoconhecimento.

Evasivas admiráveis, de Theodore Dalrymple. Editora É Realizações, 2017

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Postado por Ricardo Gessner
2/9/2018 às 12h00

 
UM OLHAR SOBRE A FILOSOFIA (PARTE FINAL)

Como estas páginas já se alongam, força é convir ser necessário um corte epistemológico, para chegar-se até o Existencialismo, embora ao elevado custo de omitir referências a grandíssimos mestres da Filosofia, o que de fato é lamentável. Ser o copidesque de si mesmo é um castigo inimaginável, uma espécie de Caixa de Pandora cuja abertura me foi imposta.

Soren Kierkegaard (1813 – 1855), filósofo dinamarquês, é o fundador do Existencialismo, apesar de nem cogitar de atribuir uma denominação ao corpus em que embasou seus conceitos do que depois viria a ser chamado de Existencialismo Cristão. Foi ele o primeiro filósofo a aprofundar-se no tema da existência e da vida, que para ele constitui um enigma, uma contradição, algo que vai além de nossa finitude para alcançar a eternidade. 

Ao contrário de muitos existencialistas que surgiram mais de um século depois, Kierkegaard nunca foi arauto de si mesmo. Era um eremita urbano: separou-se da família, desfez o noivado para dedicar-se exclusivamente à construção de sua obra. Escrevia com diversos pseudônimos, construindo uma espécie de labirinto quase inextricável, onde se abrigava. Quem deu o nome de Existencialismo à sua corrente filosófica foi o filósofo francês Gabriel Marcel, logo depois da 2ª Grande Guerra, quando uma onda de reumanização arejou o planeta.

Kierkegaard professava o cristianismo, consistente no Evangelho. Daí ser considerado o fundador do Existencialismo Cristão, por crer no Cristianismo e não no Velho Testamento anterior a Cristo. Suas dissidências com os bispos e sacerdotes da igreja luterana se agravavam então a cada dia.

O Sócrates dinamarquês, como também o chamavam, é o pensador maior do século XIX. Para ele, existir é uma aventura perigosa, que envolve a opção de lançar-se à vida, construindo-se como se desejaria ser. Ele traça com clareza o perfil da individualidade a partir da dialética vida-morte, que no seu desdobramento nos disponibiliza os dons da existência e da liberdade em potência, que só se transformam em essência, quando o ser humano decide viver em plenitude, durante sua transitória estada no teatro planetário. Ou seja: “a existência precede a essência”, que veio a ser a pedra fundamental do Existencialismo. 

Kierkegaard também analisa, sob o prisma estritamente filosófico, a possibilidade de vivermos sem Deus, ou outro Ser Supremo, abordada por ele e, muito depois, reafirmada por Sartre na esteira do pensamento daquele.

Na visão do filósofo dinamarquês, o homem constrói-se a si próprio na medida em que é produto das suas escolhas ao longo da vida. Sempre estamos às voltas com as circunstâncias que nos envolvem a exigir de nós optarmos que decisão tomar, arcando, necessariamente, com as consequências boas ou más que dela advierem.

Há quem afirme que seria implausível uma filosofia no estádio evolucionário de hoje sem as concepções kierkegaardianas, entre os quais Ludwic Wittgenstein, um dos mais influentes pensadores do século passado.

O boom existencialista só ocorreu — mais de cem anos depois da morte de Kierkegaard — em meados de 1950, com Sartre, Heidegger, Camus e Simone de Beauvoir, entre outros. Todos se declaravam ateus, e rejeitavam ser tachados de existencialistas: diziam-se humanistas. Todavia, reafirmaram o princípio já visualizado mais de cem anos antes pelo Sócrates dinamarquês — quando acentuou que o ser humano é que define, por meio de suas opções, o rumo de sua vida.

Sartre diz, em última análise, o mesmo que Kierkegaard sobre tal aforisma, ou seja, ao nascer o ser humano apenas existe e só principia a viver quando adquire a consciência de si mesmo, de estar no mundo, que o filósofo francês define como o ‘para-si’ (pour-soi), em O ser e o nada. Antes, quando existe, o ser humano é um “nada”, que só começa a “ser” quando inicia as escolhas que irão talhar o seu caminho. E pode fazê-lo com total liberdade por depender só dele.

Jean-Paul Sartre foi o mais conhecido dos existencialistas daquele tempo, sendo tanto festejado quanto hostilizado. Sua obra maior já mencionada é um resumo do seu pensamento autointitulado humanista.

Já Heidegger cunhou uma linguagem própria para o que chamava de analítica existencial, enfeixada no livro Ser e tempo, incidindo no mesmo artifício de não se dizer existencialista e sim humanista. Heidegger não conseguiu deslindar seus próprios conceitos, que deixou no ar...

De Heidegger restaram os conceitos aflorados em seu Ser e tempo, como o ser-aí (dasein), o ser singular que possui existência e vida próprias, sendo o mundo o seu lugar.

Ao fim e ao cabo, o que dele restou não constitui um corpus filosófico, e sim uma série de questionamentos e indagações que deixou sem resposta, perdido na selva oscura de seu próprio linguajar. Isso sem falar nos polêmicos Cadernos negros em que o pensador alemão misturou Filosofia com política, gerando um verdadeiro nó górdio que não conseguiu desfazer.

Por mais um desses paradoxos de que a vida é pródiga, a obra de Martin Heidegger talvez ainda seduza alguns estudiosos em razão do que ficou sem ser decifrado, como uma espécie, algo atípica, de obra em aberto.

Albert Camus e Simone de Beauvoir completam o grupo existencialista do segundo quartel do século XX, ambos eram romancistas. Romancear é filosofar, disse o autor de O mito de Sísifo, prêmio Nobel de literatura.

Simone de Beauvoir teve uma relação conturbada com Sartre. Em A cerimônia do adeus, Beauvoir descreve as reflexões filosóficas de Sartre acerca do processo de envelhecimento.

É de se sublinhar a insistência com que os autointitulados humanistas daquela época negavam a existência de Deus, cuja presença imperceptível pelas vias sensoriais parecia perturbá-los. Este, a meu ver, o ponto nodal do existencialismo ateu, que não cuidou do tema com o devido aprofundamento, talvez por uma questão de coerência com sua ótica materialista, jamais se descolando dessa fixação.

A existência de Deus ou a sua inexistência tem dado margem a infindáveis indagações e especulações desde os pré-socráticos, há cerca de dois milênios e meio. E até hoje persiste sem resposta. Parece até que somos iguais àqueles reclusos da alegórica Caverna de Platão...

Para mim, particularmente, trata-se de um problema que desborda do espectro investigativo da Filosofia, embora me considere cristão. Mas isto é uma opção de foro íntimo. Ontologicamente, a Filosofia trata do ser enquanto ser, que desaparece ao morrer, deixando de ser. O que virá depois é algo que constitui objeto da teologia, da fé, das crenças diversas, das religiões, sejam monistas, dualistas e também da descrença, do ateísmo, do agnosticismo etc. etc. etc.

 Na verdade, a mim me parece, eu que não vou além de um mero aprendiz, que essa controversa e intrincada questão transcende a racionalidade que nos é própria, balizada pela finitude, ou seja, enquanto pudermos exercer o livre-arbítrio, seremos os únicos responsáveis por nossas ações e omissões, durante o tempo e o espaço de nossa breve permanência entre os viventes.

Depois vem o salto no escuro.

Ayrton Pereira da Silva



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Postado por Impressões Digitais
1/9/2018 às 10h35

 
Otavio Frias Filho

Em 2004, fui fazer um curso na Casa do Saber com o Otavio Frias Filho. Um curso sobre a História dos Estados Unidos.

Para quem vê a Folha como um jornal de esquerda, não parece fazer muito sentido um curso sobre os EUA com o diretor de redação - e dono - do jornal...

Mas qual não foi a minha surpresa ao descobrir que Otavio Frias Filho sabia muito da História dos Estados Unidos e não tinha nada da visão “esquerdista”, esquemática, dos EUA.

Lembro da sua admiração por Tocqueville - “sociólogo de gênio”, segundo ele -, que escreveu Democracia na América. E, também, por Thoreau, cuja Desobediência Civil pauta nossa discussão política até hoje (quando ameaçamos nos revoltar contra o governo...).

Para o diretor de um jornal que teve seus momentos de histeria política nos últimos anos (a meu ver), Otavio Frias Filho era um sujeito surpreendentemente equilibrado - que, no curso, hesitava em opinar sobre os EUA, para não ter de assumir, justamente, um “lado”.

Ele deixou bem claro que admirava os Estados Unidos pelo aspecto “humanista” da nação, mas que talvez os condenava pelo seu aspecto “beligerante” - embora reconhecesse que sempre foi muito difícil separar uma coisa da outra...

Lembro que pedi a ele uma indicação de “História dos Estados Unidos” - uma indicação bibliográfica -, mas ele se limitou a me indicar a História escrita pelo Paul Johnson, que eu já conhecia e que, portanto, que não me impressionou muito (porque não era novidade).

No final daquele ano, encaminhei, para o professor Otavio, como eu passei a chamá-lo, a revista que o Digestivo fez com a GV-executivo. Ele foi muito polido, receptivo, e acabou saindo uma nota a respeito na Ilustrada.

Eu agradeci e desejei-lhe “Boas Festas” - ao que ele me respondeu com “Felicidade”.

Ainda lembro de um e-mail que o Daniel Piza enviou, copiando a mim, a ele (off@uol), e ao Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras - e me lembro de que me senti importante ;-)

Tudo bem que aproveitei para encaminhar um e-mail direto para o Luiz Schwarcz, mas ele nunca me deu resposta ;-(

Conheci gente muito culta que não tinha muita paciência para o Otavio Frias Filho, e o chamava de “Otavinho”, fazendo referência ao pai - verdadeiro business man, que adquiriu a Folha e a transformou n’O Maior Jornal do País, terminando por nomear a nossa “ponte estaiada”...

Mas eu não tenho nenhuma reclamação. Na verdade, admiro, inclusive, que Otavio Frias Filho tenha assumido a Folha, embora não fosse sua vocação mais forte. Numa entrevista para o extinto “No Mínimo”, ele confessava que seu sonho era ter sido professor universitário.

Fez Ciências Sociais na USP, onde recrutou Marcelo Coelho, para a Folha, seu colega de curso. Lembro, também, que ficaram conhecidos seus questionamentos a Lula, em 2002, então candidato. Reza a lenda que, cobrado intelectualmente pelo professor Otavio, Lula teria abandonado o recinto...

Surgem, agora, especulações sobre o futuro da Folha - numa época tão desafiadora para o jornalismo em geral (quanto mais para o jornalismo brasileiro).

O que eu sei é que o irmão de Otavio Frias Filho, Luiz Frias, é o criador do UOL. Lembro de uma história de quando começou a internet comercial no Brasil e Luiz se reuniu com Roberto Civita, do grupo Abril, e este achou um exagero o nome “Universo On Line”, preferiu “Brasil On Line” (BOL)...

No fim, a Abril não conseguiu se associar à Globo no negócio de tevê a cabo - e, na internet, o BOL nunca obteve o sucesso do UOL.

Até segunda ordem, Luiz Frias criou o PagSeguro, que se destacou na recente “guerra das maquininhas” - e que estreou na bolsa de Nova York com o mais bem-sucedido IPO de empresa brasileira nos últimos anos...

Enquanto isso, a Abril pediu recuperação judicial.

Claro que não significa que a Folha terá um futuro brilhante. Luiz Frias pode, simplesmente, ser o irmão “business” da família - e querer “cortar” o jornal, que, como todo o jornal, não deve ser o negócio mais lucrativo do mundo...

A última vez em que avistei o professor Otavio foi na bilheteria da Sala São Paulo. Se não me engano, em uma montagem de “Pedro e o Lobo”, de Prokofiev, quando levamos a Catarina para conhecer a Sala.

Ele estava com uma ou duas meninas, deviam ser suas filhas, e eu pensei que as recentes coleções que a Folha lançou, para crianças, deveriam ser para elas. Tive vontade de agradecê-lo pela iniciativa, afinal, eu e a Catarina colecionávamos, líamos e ouvíamos... Mas o espetáculo iria começar, poderíamos nos atrasar... Acabou passando.

Em “uma lágrima para Otavio Frias Filho”, Daniel Piza provavelmente escreveria que, “para um intelectual tão influente na vida nacional”, era uma pena que ele não tivesse “nos deixado” nenhum “grande livro”. Mas, pensando nisso, me ocorreu que sua “grande obra” talvez tenha sido... justamente... a Folha. A Folha de S. Paulo de 1984 pra cá - que, independente da ideologia, foi uma obra de monta.

Descanse em paz, professor Otavio.

Para ir além
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Postado por Julio Daio Bløg
22/8/2018 às 08h27

 
Sobrecarga

Tiago, um pão na chapa, grita a moça do caixa sem olhar para trás e enquanto manuseia o troco. Tiago, pão com ovo, grita quase ao mesmo tempo a moça do balcão e é também do balcão que outro atendente cobra: Tiago, o pão na chapa já tá pronto? Adianta um suco de laranja pra mim. Se você se considera uma pessoa atribulada, tente então se colocar no lugar do Tiago, chapeiro de padaria lançado às feras famintas que às sete da manhã espumam o máximo de impaciência por estarem em estado de jejum.

Tiago é magro e muito alto de um jeito que, para manusear a chapa, sua coluna se enverga na altura do pescoço. O bigode fino e ralo é próprio da puberdade, evidenciando que a idade não passa dos dezoito. Depois de ajeitar o boné com a mão encapsulada numa luva de plástico transparente, ele diz: Peraí, gente, vocês têm que organizar melhor isso aí. E é mesmo assim, desde que o mundo é mundo a balança da vida pende para comprimir aqueles cujo fardo é pesado. Não à toa que, em Mateus, tão discípulo quanto o xará do nosso valente chapeiro, é feito o convite: Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei, talvez mais tarde, porque neste exato momento Tiago esfrega com um pano molhado toda a extensão do balcão enquanto deixa os pães, ovos e queijos fritando na chapa.

Uma das atendentes é Cida, sabe-se o nome dela porque Tiago a consulta a todo tempo para esclarecer detalhes sobre os pedidos. Cida, é pão francês ou de forma? Ela tem a ideia de anotar o nome dos fregueses nas respectivas comandas. Qual o seu nome? Mas por que preciso falar meu nome? É pra te chamar quando estiver pronto. A desconfiança do freguês parece ter abalado Cida, que então retoma o velho método das comandas inominadas. O atendimento, agora feito com ar reservado, é fruto da decepção indisfarçável. Daqui pra frente, sem maiores pessoalidades.

Os pedidos continuam sendo anunciados em profusão, mas agora sem que alguém dê conta deles, adejam a ermo, alguma coisa não vai bem. É Cida quem olha para trás assustando-se ao perceber a chapa abandonada, cadê o Tiago? Todos os balconistas se entreolham apreensivos, a tensão vai crescendo conforme as comandas se acumulam irresolvidas. Quando tudo avança para o mais irremediável caos, lá nos fundos da padaria uma porta, daquelas que vão e vêm no estilo saloon do velho oeste, é aberta com estridência. Tiago acaba de atravessá-la abraçado a uma cesta enorme e abarrotada de pães. Antes mesmo que o questionem, ele se justifica: Não tinha ninguém pra ir buscar.



Texto originalmente publicado no site flaviosanso.com
[email protected]

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Postado por Flávio Sanso
20/8/2018 às 08h52

 
Não sei se você já deitou em estrelas.





Não sei se você já deitou em estrelas. De perto, bem de perto estão coladas numa pele quente que sob a luz de uma luminária no canto são quase escuras. Seus brilhos não podem ser mesmo coisa natural. É um sol todo repartido que uma criança desenhou e tentou te fazer ver. Se você juntar tudo e tentar inventar algo real, ou sequer ousar outro desenho, o tempo te passará em segundos. Por exemplo, quando são dez e meia da manhã, do nada são cinco da tarde.

Não adianta tocar esse fundo de céu na tentativa idiota de movê-las para si. Elas podem na verdade estar na porta da farmácia. Tudo na porta da farmácia é passado. Inclusive estrelas que nem sua eram.

Para achar que você as tem – hoje em dia tudo que se afirma já é seu – faça o seguinte:

1- Junte um coração ainda descompassado pelos desencontros.

2- Uma pitada de desentendimento - hoje em dia é fácil não entender o que acontece.

3- Uma oração - uma novena para ser mais exato.

4- Peça sem que seu pedido seja tão claro (já que você tem que ser desentendido).

5- Tome uma xícara de café em algum lugar (não vale na sua casa).

6- Desista de esperar sempre.

7- Diga: “senta aqui”.

O restante do processo é um tanto cego. Arriscado. Mas quem quer estrelas nem pouco mais se importa com perigo. Perigoso é enterrar submetralhadoras. Todo resto é apenas duvidoso de dar certo. Que é perigo: você cavar onde esqueceu e encontrar seus armamentos dentro de você. Em vez de explosão, nota-se tão obsoleto e sujo de areia que você nem é mais um brinquedo de criança. É apenas algo que foi sumariamente morte.

Procure estrelas. Apenas procure. O mapa está nos olhos fechados dos outros...

Imagem: Google

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Postado por Blog de Aden Leonardo Camargos
12/8/2018 às 13h24

 
UM OLHAR SOBRE A FILOSOFIA (PARTE I)

De onde viemos e para onde vamos? — eis a pergunta multimilenária que já virou lugar-comum. Mas que jeito mais pífio de começar um texto, dirão uns, enquanto outros, no mesmo tom, hão de pensar: que falta de imaginação...

Doce e ledo engano. Nada há de tão complexo como tentar reciclar o chumbo em ouro, como pretenderam os alquimistas, e deram com os burros n’água, como seria de se esperar. É óbvio que aqui não queremos inventar nada; apenas recordar numa linguagem supostamente palatável o que já foi dito e repetido tantas e quantas vezes.

Mas do que se trata, afinal?

Simples: vamos falar de Filosofia. Ah, então talvez aí esteja a chave capaz de desvendar a famigerada pergunta que geração após geração persiste sem resposta, a despeito do assustador progresso da ciência e da tecnologia.

Lamento decepcioná-lo, meu hipotético leitor, mas não é bem assim. Então, pra que serve essa tal de Filosofia: discutir em mesa de botequim? Talvez sim. Pelo menos é o que narra Marc Sautet em seu belíssimo livro Um café para Sócrates, quando o filósofo francês se reuniu, em 1992, no Café de Phares, na praça da Bastilha, com alguns conhecidos para abordarem os acontecimentos presentes, passados, futuros, Filosofia e sabe-se lá mais o que, vindo a dar origem ao “Consultório de Filosofia”, que nada tem a ver diretamente com o Café de Flore, onde, muito antes, Sartre se encontrava com seus pares.

Tal questionamento basilar compele o ser humano a interrogar-se sobre a vida. A vida que nos surpreende quando menos esperamos, é assim mesmo: um eterno paradoxo. Ela, meu hipotético leitor, é hegeliana por excelência — um constante devir, imposto pela natureza para a perpetuação das espécies. A isto chamamos lei nomológica, (müssen, no idioma germânico) ou lei do ter que ser.

Vejam vocês, tão surpreendente é a vida que aqui e agora estou a dar palpites onde não fui chamado a meter o bedelho. É muita irresponsabilidade, convenhamos. Mas está escrito e não tem remédio. Devo prosseguir e ponto. Já estou pronto como a rês a caminho do abate.

Para mim, então, a Filosofia ou mais especificamente o pensamento filosófico é o modo pelo qual podemos entender o mundo e nele nos situar, almejando obter o melhor conhecimento de nós próprios para compreendermos as pessoas e também tudo que nos envolve. Não é para granjear seguidores que a Filosofia se presta, até porque não vai além de uma maneira pessoal, diríamos até personalíssima, de conviver com o mundo cuja face é moldada pelo transcurso do tempo. Ora, isso depende, em última análise, do grau de percepção de cada um. Ocorre em outra linha: a do sentimento, o sentimento do mundo, no dizer de Drummond ou o sentimento do tempo, segundo Ungaretti. Passa-se no território da sensibilidade onde o instinto e a racionalidade se completam para a persecução da verdade.

Trata-se de um problema de ponto de vista: uns veem o mundo em superficialidade, outros em profundidade. Os que enxergam o mundo pela superfície passam ao largo do que se oculta sob as aparências dos outros e do próprio mundo. São os pragmáticos: existem, mas não vivem em plenitude, são incapazes de contemplar um pôr-do-sol, perdem os espetáculos mais valiosos que a vida nos oferece de graça. E principalmente não percebem o que se oculta dentro de si, o estranho que nos coabita, o alter ego, o outro eu, que muitos conceituam como alteridade ou como outridade. É exatamente do ser humano e do mundo onde vivemos que cuida a Filosofia.

O fato de serem pragmáticos, porém, não ilide a capacidade de apreciar a natureza, se se dessem tempo para fazê-lo. Mas têm objetivos mais urgentes a atender e sua atenção se volta para eles.

Por outro lado, não há que confundi-los com os filósofos e doutos do Pragmatismo, corrente de pensamento assim denominada por William James.

Esse não foi o caso dos gregos da Antiguidade, que dispunham de tempo para refletir, quando surgiram os primeiros pensadores chamados físicos, porque physis era o nome dado à natureza. Foram eles os primeiros filósofos que começaram a investigar o mundo à sua volta. Eram os pré-socráticos, como Pitágoras, Heráclito de Éfeso, Parmênides e Tales de Mileto, tido como um dos mais proeminentes filósofos do seu tempo. Com efeito, foi ele quem especulou sobre a origem da natureza e se perguntou como era possível considerar todas as coisas como uma realidade única que se apresentava através de várias formas. Essa indagação foi o salto inaugural, o patamar evolucionário que impulsionou a Filosofia até os dias atuais: a ideia de unidade que nada mais é do que o conceito de essência, pedra de toque do existencialismo, que representa o patamar evolucionário a que se chegou no século XIX com o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, falecido por volta de 1855, com 42 anos.

A mitologia e a poesia da Magna Grécia constituíram as fontes primárias da imaginação, tão rica em achados. A figura mítica do centauro, metade cavalo, metade humano, nada mais significa senão o que fomos e ainda somos, seres congenitamente divididos entre instinto e razão. Complemento-a, por assim dizer, a poesia — notadamente a Ilíada e a Odisseia — de Homero, o cego que enxergava com a imaginação, abeberou-se naquela fonte cristalina, tão recheada de metáforas.

Com o surgimento da Filosofia liberta das amarras da imaginação, o pensamento voltou-se para o raciocínio lógico, para o exercício da razão.

Estava pronto o cenário histórico da época áurea da Filosofia, iniciada por Sócrates.

Sócrates, segundo a quase unanimidade dos especialistas, foi quem propiciou o desenvolvimento da Filosofia ao voltar seu olhar percuciente para o microcosmo, ou seja, o ser humano, já que os filósofos que o antecederam haviam explorado o universo, isto é, o macrocosmo. Desse modo atingiu-se a completude da Filosofia, abarcando a natureza em sua integralidade. Seu aforismo era: ”conhece-te a ti mesmo”, que até hoje subsiste entre nós e foi grafado no pórtico do templo de Apolo, onde se localizava o Oráculo de Delfos, cuja sacerdotisa o proclamou como o homem mais sábio já conhecido, ao que Sócrates murmurou com humildade: ”Só sei que nada sei”.

Para Sócrates só é sábio quem admite a própria ignorância, o que veio a ecoar, muitos séculos depois, por ninguém menos que Isaac Newton, formulador da lei da gravitação universal, bem como das leis do movimento. Eis o que disse o grande físico e matemático: o que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano.

Sócrates utilizava a dialética de modo construtivo, em tom de diálogo — isso consubstanciava a maiêutica socrática, ou seja, o parto das ideias. Consistia a maiêutica em uma sucessão de indagações que o filósofo fazia a seus discípulos, inclusive Platão, até chegar ao cerne das questões, isto é, até que se chegasse à verdade relativa de cada resposta. O grande pensador ensinava como alcançar, por meio da lógica, o significante que se oculta por trás do sentido das palavras, que, para ele não passavam de um meio de busca da verdade, ao contrário de Zenão e dos sofistas que valorizavam as palavras como um fim em si mesmas.

A morte de Sócrates, aos 70 anos (399 a.C.), condenado a beber cicuta, ocorreu por força da acusação de corromper a juventude ateniense com suas críticas a respeito dos privilégios da aristocracia grega em detrimento da plebe. Além do mais, renegava os deuses do Olimpo, pois acreditava num Ser Supremo desconhecido, talvez uma Inteligência Ordenadora do Universo. Sócrates era monoteísta, opondo-se ao politeísmo vigente na Grécia da Antiguidade.

Ressalta Will Durant, em sua História da filosofia, que Platão nos Diálogos (Críton e Fédon), produziu uma das páginas mais belas e comoventes da literatura universal, ao fazer a Apologia de Sócrates.

Platão, por seu turno, tornou-se mestre de Aristóteles, terceiro pilar do arcabouço que originou a Filosofia atual.

Em seu Corpus Aristotelicum, criou a Metafísica, que vem a ser algo “Depois da Física”, privilegiando o pensamento abstrato. O Estagirita, como também era conhecido, foi mestre de Alexandre, o Grande, que ampliou seu poder conquistando várias nações. Sempre foi grato a Aristóteles, ordenando que enviassem a Atenas animais e vegetais das terras distantes que agregava ao seu império, vale dizer, todo o mundo conhecido: a Grécia então unificada fazia parte da Macedônia.

Nenhum dos discípulos aristotélicos destacou-se como seu sucessor. Abriu-se então um hiato na Filosofia Ocidental até que surgissem novos filósofos que pudessem preencher o vazio deixado com sua morte.

Ayrton Pereira da Silva



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Postado por Impressões Digitais
4/8/2018 às 17h52

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