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Quarta-feira, 2/12/2015
Blog de Anchieta Rocha
Anchieta Rocha
 
Paris era uma festa

Há quase uma hora sentado na varanda do hotel, tento em vão escrever alguma coisa, enquanto Zelda mais uma vez é levada para o sanatório por causa das crises e das bebedeiras.

Faz pouco me lembrei de Ernest Hemingway, quando da nossa ida a Lyon para trazer meu Renault, tudo por causa de mais uma das loucuras da minha mulher que havia danificado a capota dele.

Ela adorava os conversíveis. Certa vez, num fim de tarde de outono, não posso negar, foi bonito. Me obrigou a parar no Central Park e comprar, como disse, um buquê de balões. Sentada no para-lamas, rodamos vários quarteirões. Nunca vai apagar da minha memória o deslumbramento das pessoas com nossa loucura.

A primeira vez que estive com o Ernest foi no Dingo, nosso bar preferido. Fomos bebendo, a conversa rendeu. Falamos de tudo, principalmente de literatura. Ele era um jornalista estreante e vinha publicando contos em alguns jornais da Europa. Ficou lisonjeado com meu convite pra ir a Lyon. Num dado momento prometi que ia lhe passar o último exemplar do Great Gatsby que Miss Stein estava lendo.

Não sei se o convidei pela boa companhia, ou por aparentar determinação. Despachado, entendia de tudo, de armas a mulheres, cara pra qualquer parada. Dois anos mais velho, eu era tímido, inseguro, querendo morrer a toda hora, mesmo levando uma vida intensa.

Cheguei a Lyon depois dele. Rodei a cidade e acabei encontrando-o num hotel com cara de bangalô. Eu havia tomado umas doses no trem para quebrar a angústia por ter deixado Zelda em Paris. O aviador francês com quem ela tivera um caso não me saía da cabeça. A contrariedade tolhia minha inspiração. Nada de varar a noite como antes, febrilmente escrevendo páginas e páginas.

Lyon foi bom para desanuviar. Depois de duas garrafas de Mâcon branco, a nossa conversa ficou agradável. Eu o invejava pela serenidade com que falava de seus planos e de Hadly, sua esposa. Durão o cara. Engolia as doses com ferocidade, agitava-se, enquanto eu me encolhia como uma criança amedrontada.

Observando o céu pesado, o dono da oficina disse que não conseguiríamos chegar a Paris porque o Renault sem a capota podia virar uma canoa.

Enfiei o pé no acelerador.

Não andamos meia hora e tivemos que parar num hotel de beira de estrada. Aí começou tudo. Então pude perceber o quanto desamparado e fraco eu era - imbecil também.

As nuvens pesadas que via através da janela do quarto me asfixiavam. Cismei que estava com pneumonia. Três babás não teriam feito o que o Ernest fez por mim. Eu falava do medo de morrer e deixar Zelda e a menina. Mas o que me atormentava era imaginá-la ao lado do piloto francês dando rasantes sobre Paris.

Ridículo, isso mesmo, me senti ridículo depois de todo o aparato para me aliviarem da incurável doença.

O camareiro apareceu e sugeriu um médico. Um açougueiro do interior? Ninguém botava a mão em mim.

Decidi que logo que acabássemos de beber, eu ia descer e telefonar para minha mulher.

Tentei, a ligação ia demorar, talvez o tempo, disse a telefonista.

Mais tarde voltei, fiz outra ligação e ouvi minha filha dizer que a mamãe tinha saído.

Pus o telefone no gancho e pedi um interurbano para o meu editor em Londres. Não falei coisa com coisa. Para justificar, disse que a ligação estava ruim, que depois voltava a chamar.

O meu rosto pegava fogo. Realmente achei que estava com febre. Fui pra rua e fiquei debaixo do toldo, respirando fundo, esperando ar frio aplacar o que ia dentro de mim.

Subi e conversamos enquanto nossas roupas secavam.

Em Paris encontrei o Ernest outras vezes. Os bares variavam, mas ainda tínhamos preferência pelo Dingo. Nos víamos também na livraria da Sylvia Beach, aonde chegavam livros do mundo inteiro.

Os anos foram passando e ele começou a aparecer com mais frequência nas colunas literárias. Irrequieto como era, gostava de viver as mais variadas aventuras. Tinha notícias dele através de amigos e da imprensa. Passava uma temporada na África, voltava pra América. Viajava pra Europa, fazia cobertura da guerra civil espanhola e em seguida aparecia em outro lugar.

Companheirão o bastardo. Pena que não esteja aqui ao meu lado no hotel, me acompanhando no vinho, de novo um Mâcon branco. De vez em quando vem a angústia, a velha angústia que me persegue a vida toda. As pessoas acham que eu não tenho nada, que sou um cara alegre e espirituoso. Sinto que estou chegando ao fim. As mãos tremem, e os pensamentos se sobrepõem uns aos outros, buscando o passado que vai fugindo. Queria ser corajoso e decidido como o Ernest pra acabar com tudo de uma vez.  

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Postado por Anchieta Rocha
2/12/2015 às 10h30

 
Peias

Sofri bastante na vida e as marcas ficaram nas minhas pernas. Muitos homens ainda me desejam. Sou uma mulher atraente. Disso eu sei.

Eram lisas e torneadas. O que passei, nem gosto de pensar. Com o tempo, as marcas foram aparecendo, veias estourando em todo lugar. Não tem gente que lê a mão das pessoas e falam de suas vidas? Cada parte das minhas pernas é um pouco do que vivi. Do lado de dentro, perto do joelho direito, veias roxas. Mais abaixo, na parte de dentro também, acima do calcanhar, manchas que surgiram por causa do trabalho pesado, logo depois da morte do marido. Quase na sola dos pés, vasos que nem mais sei por que estufaram. As minhas pernas são minha vida e minha história. Marcas surgidas por causa de nascimento de filhos, com elas não importo. As que doem por dentro, essas sim, doem muito.

Vivi um bom tempo casada, feliz, mas gostaria de começar uma vida nova. Mamãe sempre fala pra arranjar um namorado. Mas quando penso no meu corpo, ou melhor, nas minhas pernas, me entristeço. Se saio para um passeio, para uma festa, vou de calça comprida ou de longo. Gostaria de usar uma minissaia, um short, tenho um corpo bonito. Chego a ter sonhos que estou na praia usando biquíni - pesadelos também, como um, numa cadeira de rodas.

Outro dia achei que minha vida podia mudar.

Toda tarde, depois do serviço, via um rapaz no ponto do ônibus. No início não me chamou atenção. Mas seu jeito tímido me encantou. Passei a desconfiar que me observava. Quando eu virava o rosto pro seu lado, desviava o olhar. Muitas vezes assim, até que um dia criou coragem e veio até mim.

No início foi uma conversa cheia de pausa e de falta de assunto. Na hora em que entrei no ônibus, tenho certeza, ficou admirando o meu corpo enquanto eu subia a escada.

Vários dias passaram até que numa tarde as coisas mudaram.

Antes de deixar o serviço, fui no banheiro, coloquei uma saia e me aprontei.

Falamos de muitas coisas. Deixei o primeiro ônibus passar, a conversa foi ficando interessante. Com a chegada do outro ônibus, tive que ir embora, escurecia, disse pra ele. Senti as pernas pesadas enquanto subia os degraus e já me arrependia de ter quebrado o encanto.

Na tarde seguinte não apareceu. Veio o primeiro ônibus, o segundo. Peguei o seguinte.

Fui pra casa angustiada.

Não consegui me concentrar no trabalho no dia seguinte. Só esperava o fim do expediente pra ir pro ponto.

Passado um pouco ele chegou. Conversamos, não foi a mesma coisa. Resolvi ir embora logo. Preparei pra sentar, olhei pra fora, ainda me observava.

Abaixei o rosto. Foi a viagem mais longa. Ao chegar em casa, a primeira coisa que eu ia fazer era observar as minhas pernas. Tinha certeza que não seriam as mesmas de antes.

Naquela noite sonhei com ele. Sonhei que pegou minha mão ao descer do ônibus e me levou até o portão de casa. Disse da frescura do jardim e da beleza da noite. Segurou o meu rosto entre as mãos, beijou minha boca e me chamou de sereia.

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Postado por Anchieta Rocha
1/11/2015 às 22h14

 
O estripador

"Jack conheceu Norma, prostituta. Apunhalou-lhe o coração. Apossou-se de suas entranhas com furor e gozo. Extirpou as nódoas de sua alma. Montou casa e amou-a visceralmente."

(Deste blogueiro, do romance Dias de vinho e de chumbo, Editora Jaguatirica)

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Postado por Anchieta Rocha
1/10/2015 às 10h58

 
Do lado de fora

Todo dia é a mesma coisa: chega um dá um feijão, outros não dão nada, muitos resmungam. Mas o que eu mais queria é entrar no supermercado e andar com um carrinho daqueles que levam menino em baixo. Queria também ver minha mãe, meus irmãos, meu... - nem sei se é meu filho, gosto dele de todo jeito, meus amigos dizem que não é, minha mulher jura que é, eles falam que agora tem um exame que mostra quem é o pai.

Não sou letrado, burro também não sou. Sei ler um jornal, meio arrastado, mas leio. Tem hora que agarro se esbarro numa palavra que eu não conheço.

Já tive carteira assinada e fiz tiro de guerra. Mas de uns tempos pra cá dei de desandar com as coisas. Deve ser a bebida. Miolo mole não é.

Fico pondo atenção nos fregueses do supermercado e nos carros deles. Conforme, eu nem peço pra tomar conta. Uns, se bobear passam por cima. Tem um ricaço, me dá as coisas, nem que seja um troco. A mulher dele torce o nariz e larga dele conversando comigo. Quando ela não vem, o homem fala mais e fica rindo das coisas que eu conto. Tem vez que me goza também. Um dia, com a cara mais boa do mundo chegou e perguntou por que eu gostava de ficar sentado com a bunda nos saco - fez uma pausa, disse de lixo e riu. Eu não sei nada da vida dele, mas leva jeito que foi pobre também. Um cachorro cheira o outro.

Muita gente sai com umas sacolinhas de nada ou com a mão abanando. Tem vez que até dou um pouco do meu.

As meninas do caixa não tem nenhuma ruim. Até mandam umas coisas de comer quando dão de me ver triste. Se o gerente não está por perto, elas fazem sinal, eu corro pro bebedouro e encho a garrafa. Os empacotadores são gente boa. Tem uns sacanas também. Quando o movimento está fraco, eles procuram um pra tentar, igual o Dibanda - apelidaram ele por causa do andar torto - que num dia escondeu um rato morto no meio das minhas coisas e que eu só fui perceber mais tarde em casa.

Uma menina não sai da minha cabeça: a do guarda-volume. De tão parecida com minha mulher, parece que é até gêmea com ela.

Mas o pior de tudo é de noite no barraco quando não tem ninguém pra conversar.

Desde pequeno vivi numa casa cheia, gente entrando e saindo, tudo feliz, uma farra só. Nos sábados, muita coisa pra fazer, uma laje pra bater na casa dum parente, dum amigo, um samba. Do meio-dia pra tarde as mulheres e os meninos iam chegando, a gente acendia o fogo e assava carne. Uma casa de telhado é chique, mas o melhor lugar do mundo é na laje. Se a vida não está boa, você sobe, senta num canto, espera passar.

Depois que o menino nasceu, tudo mudou. Daí comecei a embaralhar com as coisas. Tinha dia que eu olhava no espelho e não sabia quem estava do outro lado.

Saí de casa com a roupa do corpo. Bati perna, dormi no tempo, acabei no meio de caixa de papelão e de saco de lixo.

Gente boa, gente ruim. Gente entrando, gente saindo. Uns te dão água, outros te dão rato morto.

Tenho medo, muito medo. Medo de pesadelo de noite. Medo de pesadelo, não. Pesadelo todo mundo tem. Medo de não ter ninguém pra bater no braço e me acordar.

Eu só queria entrar no supermercado. Não ia importar com nada. Só queria entrar, fazer ziguezague com o carrinho nos corredores, cantar as rodas nas curvas das prateleiras, mexer com o cara da balança, torcer uma uva e enfiar na boca sem ninguém ver, passar na menina do guarda-volume e chamar ela pra dançar quando a gente era noivo.

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Postado por Anchieta Rocha
15/9/2015 às 15h47

 
Macarrão de Santa Casa

Me chamou de Macarrão de Santa Casa e voei nele. Um fio de sangue desceu pra blusa do uniforme. Veio pra cima de mim e chutei pra longe a faquinha de arco de barril.

Cheguei em casa todo sujo, a bunda rasgada. Mamãe perguntou o que eu tinha aprontado daquela vez. Antes de abrir a boca me enfiou a chinela e apontou pro quarto.

Mais tarde mandou meu irmão levar o prato de comida.

O cara mexia comigo toda vez que me via. Além de branquelo, eu era ruivo. Canário Chapinha, Cabeça de Fogo, tinha muitos apelidos. O mecânico mal me via, assobiava imitando passarinho. As amigas das minhas irmãs invejavam o meu cabelo. Eu morria de raiva.

No dia seguinte na escola, a conversa foi uma só: eu tinha tirado sangue no cara e tomado a faca dele. Os meninos chegavam e perguntavam — me fizeram contar a história muitas vezes. Aproveitava e floreava mais ainda. Sua irmã, a menina mais bonita da sala, nunca mais olhou pra mim e ainda espalhou que eu ia ter com o irmão mais velho. Eu estava ferrado. Em casa, mamãe de cara fechada o tempo todo. Na escola a menina me dava gelo.

Fiquei muito tempo tentando me aproximar dela. No início, se estava no murinho do pátio, eu tentava sentar perto. Me via, levantava e corria pra junto das colegas, procurando refúgio. Na festa junina da escola no changer des dames segurava minha mão e nada de ficar suada como antes. No torneio de futebol, me arrebentando pra chamar sua atenção, torcia contra mim, gritando o nome do goleiro adversário.

O pior estava pra acontecer - e aconteceu. Foi numa tarde chuvosa e barrenta no fim da aula. O professor Licínio contava as façanhas de Alexandre, o Grande. Perto da janela, Coalhada fez um movimento com a cabeça indicando a rua. O irmão do cara estava a fim de me pegar, completou Lelé.

O sinal tocou. Do fundo da pasta tirei minha arma.

Alisando a ponta do compasso que sempre mantinha afiado, caminhei pro portão, o rosto pegando fogo, a veia do pescoço pulsando.

Foi do irmão mais velho o soco que me atirou no chão. O outro me encheu de pontapé. A pancadaria só parou quando ela chegou, começou a gritar e abaixando me protegeu.

Naquele dia mamãe não me bateu. Chorou comigo, pondo compressa no olho inchado.

Fiquei humilhado. Na hora do recreio procurava um canto ou ia pra biblioteca.

Tinha poucas chances, mesmo assim não queria que acabasse daquele jeito. Uma vingança - ela ia ver.

Uma semana antes das férias, me aproximei de sua amiga.

- Minha mãe vai me mandar pro seminário. Acha que assim é melhor pro meu futuro, pra minha formação - ouvido de não sei de quem e que achava que impressionava.

Enquanto falava, me passava pela cabeça um filme italiano preto e branco que tinha assistido no Cine Brasil, o pai e a mãe ficando pra trás na plataforma, na janela do trem o menino dando adeus, a chuva miúda, uma musiquinha triste.

Deu pra ver o estrago na cara da amiga.

Os dias passavam, os professores não paravam de falar, e eu aguardava o sinal do recreio e o fim da aula pra percorrer com o olhar inquieto todos os cantos do colégio. De noite só dormia depois de projetar durante muito tempo na tela branca do teto do meu quarto as imagens que enchiam a minha cabeça. Uma hora ela afastava a mecha do cabelo, e em seguida uma lágrima descia no rosto pela minha partida. E eu mais bobo ainda, acreditando que o que eu inventava era verdade, segurava o choro até não aguentar.

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Postado por Anchieta Rocha
1/9/2015 às 10h06

 
Flaubert - não por acaso

Descrição dos varões feita por Flaubert em Madame Bovary no baile na residência do Marquês d'Andervilliers:

"Alguns homens (uns quinze), de 25 a quarenta anos, espalhados por entre os pares, ou conversando na entrada das portas, distinguiam-se dos restantes por certo aspecto grave, apesar das diferenças da idade ou do traje. As suas casacas, mais bem feitas, pareciam de melhor tecido, e os cabelos, puxados em caracóis para a fronte, lustrados com pomadas mais finas. Tinham o aspecto da riqueza, brancos, realçados pela palidez das porcelanas, as ondulações do cetim, o polimento dos belos móveis, e conservados por um regime discreto de alimentos esquisitos. Os pescoços se moviam, sem esforço, nas gravatas baixas; as suíças compridas caíam-lhes sobre os colarinhos de ponta; limpavam os lábios em lenços com vistosos monogramas bordados e dos quais se desprendia um aroma suave. Os que começavam a envelhecer pareciam jovens, ao passo que na fisionomia dos mais novos notava-se alguma coisa de maduro. No olhar indiferente flutuava a quietude de paixões diariamente saciadas; e, através das maneiras discretas, transparecia a brutalidade peculiar ao domínio de coisas fáceis, nas quais a força se exercita e a vaidade se satisfaz; governar cavalos de raça e conviver com mulheres perdidas."

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Postado por Anchieta Rocha
13/8/2015 às 16h59

 
No fundo bem no fundo

Abre as pernas — eu disse encostando o revólver na cabeça dela.

Tinha planejado pra quando voltasse do serviço. Ia obedecer do jeito que eu queria.

Naquela noite, saí do bar mais cedo. O movimento tinha sido fraco por causa da chuva. Foi até bom que assim eu pude sossegar no pensamento. O colega notou o meu arredio. Contas pra pagar, eu disse.

Lavando os copos, o olhar perdido na televisão, ela vinha na minha cabeça, rindo, jogando o cabelo pra trás. Eu dizia coisas sem sentido pros fregueses, empurrando o tempo, as ideias insistindo, igual a chuva no teto do bar. Enfiava a mão debaixo da blusa fora da calça, alisava o cano do revólver e as coxas dela Nas vezes que passava por mim, meus olhos corriam seu corpo da cabeça aos pés. Falava entre os dentes que um dia ainda ia meter naquela gostosura.

Aquela noite eu arrebentava com tudo. Fiquei tão agitado que depois do serviço entrei no primeiro bar.

O conhaque bateu na barriga e na cabeça.

Toda vez que bebo, as ideias embaralham. Aí começo. É como mergulhar num poço e buscar alguma coisa perdida no fundo, bem no fundo. Sem mais nem menos, um negócio agarrado na infância veio na cabeça. Nunca contei pra ninguém, nem pro meu irmão, nem pro melhor amigo. Sempre que acontecia uma coisa diferente, eu corria pro quintal e ficava conversando com as formigas até não poder mais.

Meu pai falou que ia viajar. Pôs o revólver na cintura por dentro da blusa e saiu. De noite, quase dormindo, ouvi um barulho na sala. Levantei e pela greta da porta vi o Tio Tonho entrando. O Tio Tonho era o tio que eu mais gostava. Brincava comigo de jogar pra cima.

No meio da sala, ele e a minha mãe beijando na boca. Não vi mais nada. Voltei pra cama e enfiei a cabeça debaixo da coberta. Logo em seguida os gemidos vindo da cama de casal.

Jurei por Deus que quando o pai chegasse eu ia contar tudo. Mas depois arrependi, ele era capaz de qualquer coisa. Mesmo morrendo de raiva eu não queria que nada acontecesse.

No dia seguinte, na hora do café, mexendo no fogão, virou e me olhou diferente. Perguntou se eu queria leite. Não respondi. Apanhei um biscoito no prato e saí com a pasta debaixo do braço.

Fiz que ia pra aula, dei volta na frente da casa, atravessei o beco e fui pro quintal - pro fundo, bem pro fundo.

Sentei na porta de cabana feita de bambu e telhado de folha de coqueiro, igual tinha visto num livro do Robson Crusuê.

Passado um pouco, vi que uma fileira de formiga atravessava um galho tombado sobre um fio de água. Fiz uma ponte com dois pedaços de bambu e barro alisado. Ainda assim preferiam dar a volta longe de onde eu estava. Cerquei todas até que aprenderam o novo caminho.

Não demorou, já conversava com elas. Perguntei uma porção de coisa. Mexia com uma e com outra. Cheguei a fazer uma musiquinha:

Passa, passa, formiguinha Passa, passa sem parar Se não travessar pinguela, Tamanduá vai te jantar

Fiquei muito tempo na cabana. Contei tudo da minha vida. Só não contei por que eu não tinha ido à aula.

***

Paguei a bebida e saí. Eu não estava tonto, mas minha cabeça era uma confusão danada. Acariciava o revólver debaixo da blusa o tempo todo. Atravessei a rua alisando as coxas dela até em cima. Úmida e quente a cidade.

Deitei ao seu lado e senti o calor no lençol. Encostei o revólver no rosto suave. Desci a mão, fiz a curva da cintura, forcei as coxas resistentes. Tirei o dedo e cheirei. Esfreguei no nariz dela e perguntei de quem era.

Apoiou o queixo no peito e ficou calada. Peguei o revólver com força, enfiei fundo, bem no fundo.

- É dele?

Não falou nada.

Fiquei esperando até a última gota de sangue escorrer pro lençol.  

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Postado por Anchieta Rocha
2/8/2015 às 10h21

 
Fim de jogo

Eu trabalho no hospital faz tempo. Já vi todo tipo de sofrimento. Doença, parto, qualquer acidente, levo a pessoa na ambulância e ponho na mão do médico. No início ficava noite sem dormir, as coisas rolando na cabeça, só tristeza, pesadelo um atrás do outro, acabei acostumando. O sofrimento dos outros ajuda a esquecer os meus problemas. Que Deus me perdoe, mas na vida não é assim? As pessoas não se distraem vendo desgraça na televisão?

Eu não sabia fazer nada. Não tinha ofício, não estudei, mal tirei o grupo. Nem sei como o volante da ambulância veio parar na minha mão. Não demorou, já estava fichado no hospital.

De tanto socorrer os outros, aprendi muita coisa. Tem dia, bato o olho no defunto e sei a causa da morte. Levo pro hospital e os médicos muitas vezes confirmam o que eu acho que é. Chego até apostar com os colegas. Já acertei muito. Só de ver um cara borrado eu adivinho: enfarto - não dá outra. Um dia acertei na morte dum ricaço numa mansão — overdose de cocaína por causa da língua gelada.

Duns tempos pra cá, as coisas já não mexem mais comigo. Mas naquele domingo, quando cheguei no lugar do acidente, que olhei o menino morto no chão, me deu vontade de voltar. Não sei se porque o que estava acontecendo era triste mesmo, ou se naquele dia, antes de sair, perdi o controle e dei uma surra no meu filho. Deu vontade de deixar a padiola no local e correr pra casa.

Era sempre assim — toda vez que eu batia nele eu sentia um negócio ruim. Nesse dia foi pior. Quando parei de bater, com a voz quase sumindo, ele disse que queria ter um pai melhor.

Fui pro quarto, fiquei sentado na beira da cama até a mulher entrar e dizer que eu tinha que atender um chamado. Na hora que saí nem quis olhar pra ele no canto do sofá.

Liguei a sirene e com vontade pisei no acelerador pra queimar a raiva que ia dentro de mim.

Gente em volta dum corpo e uma sangueira danada. O muro que veio abaixo esmagou a barriga do menino. Os rapazes no bar contavam como tiraram ele. A mãe foi arrastada pelos vizinhos.

Não demorou, o pai apareceu na esquina. Vinha do campo, alegre da vida. No ouvido, o radinho de pilha com o escudo do time. Passou pelos amigos na porta do bar e apontou com orgulho a camisa. Tinha os olhos vermelhos por causa da bebida.

Quando viu o bolo de gente, se espantou. Viraram pra ele, coisa ruim tinha acontecido, logo pensou.

Abriu a roda, ajoelhou, começou a chorar e ficou passando a mão no rosto do menino.

Tentaram tirar ele de perto, em vão. Continuava passando a mão pelo corpo do menino, no peito, no cabelo.

Começou então a pegar as vísceras espalhadas no passeio e colocar de volta pra dentro da barriga. Ficou um bom tempo catando os pedaços, falando uma porção de coisa que não dava pra escutar porque no chão o radinho de pilha com o escudo do time não parava de repetir os gols.

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Postado por Anchieta Rocha
12/7/2015 às 19h11

 
Campo de avião

Debruçado na pia da cozinha, chupando manga ubá, ouvi o ronco do motor vindo do alto. Larguei tudo e corri pro quintal. No rumo do abacateiro ainda pude ver as letras do avião, apesar da pouca luz do fim de tarde. Achei que ia bater, acabou ganhando altura. Não entendi o que estava acontecendo. Corri pra praça, cada um dava um palpite.

- É o noivo da Jandira dando rasante pra fazer bonito!
- O piloto perdeu a rota!
- É pane, olha ele cambaleando!

O Said, advogado formado de novo, querendo mostrar serviço, foi até o jardim e mandou os motoristas de praça subirem pro campo pra clarear a pista pro avião pousar.

Confusão igual na cidade, só com enchente, quando não tinha aula, bom pra bater perna. O prefeito era o mais agitado. Avião nenhum tinha descido na cidade desde a inauguração do campo que só servia pra soltar papagaio e encontro de casal.

O Precioso, sempre trazendo uma garrafa de pinga e uma bisnaguinha de salame pros fregueses mais chegados, foi o primeiro a subir com o carro de praça.

Dentro de pouco tempo, levantando poeira, uma fileira comprida ganhava a estrada. Motocicleta, lambreta e bicicleta também. Até o Coelho, se não é o soldado, subia com a Baiana puxando a carroça.

Eu não queria ficar de fora do que acontecia.

Abro a porta pra ganhar a rua - lanterna na mão, presente do padrinho - papai planta na minha frente e "aonde pensa que vai?"

Ficar em casa amuado, olhando aquela montoeira de gente subindo, sem nunca ter visto um avião de perto, e pior, no dia seguinte na aula, ter de escutar as histórias dos colegas, e o bobo aqui mudo, parado, invejando todo mundo sem ter nada pra contar? Papai podia me comer na correia que eu ia. Por causa de marca na perna nunca deixei de fazer o que me dava na cabeça.

Volto, finjo que vou pro quarto, fujo pela cozinha, pulo o muro, invado o quintal do vizinho, assanho as galinhas e ganho a rua.

O avião não parava de sobrevoar a cidade. Sumia e apontava na Ponte da Aldeia, rumava pro outro lado, pegava altura depois do Matadouro e vinha de novo. Voltava alto, a luzinha quase sumindo na Taquara Preta. Dentro da igreja era difícil segurar os fiéis na novena pra São Lourenço. Ninguém queria tirar o pé do adro até ver o que ia acontecer. "Não chega os filhos do juiz que perderam a vida num desses, faz pouco vindo do Rio?" - dizia ao padre, Licurgo, o sacristão.

A cidade toda no campo. O sargento do destacamento, já rouco, dava ordens com o auxílio do também rouco alto-falante do Zé Boi, que só servia para noticiar funeral.

Por fim, depois de muita poeira e confusão, os soldados conseguiram colocar os carros lado a lado, formando um corredor.

Não demorou e o barulho do motor aumentou. A luzinha apareceu no rumo do poente. Tão logo o último carro emparelhou com o Studbaker do grã-fino do cartório, o avião veio baixando, até que as rodas quicaram, assustando as pessoas. Depois parou de vez, perto da baratinha do coletor.

Foi uma buzineira só. Todo muito correu pra ver de perto o avião da Aero Sita.

De dentro apareceu um sujeito de bigode fino, com uma jaqueta de couro e óculos sobre o gorro de aviador.

- A cara do Marlon Brando - suspirou a moça.

O prefeito foi o primeiro a chegar perto pra convidar ele pra jantar.

Aflita, mamãe me esperava na sala. Falou que eu podia entrar que papai já estava dormindo. Curiosa que era, nem ralhou comigo. Disse que estava morrendo de fome e perguntei o que tinha pra comer.

- Vai lavar os pés enquanto eu quento.

Falava sem parar e engolia o escaldado com ovo. Contei desde o começo quando o soldado me barrou na subida, que tive que dar uma volta grande pra ver o avião de perto, pegar nele e alisar a lataria do motor, quente ainda, porque a coisa que eu mais gostava era ir pro mato, catar pipa, ir talhando com o canivete até aparecer um Douglas ou um Constelation, cada um que só faltava roncar.

Mamãe ficava impaciente querendo ouvir o resto da história.

- Os carros já estavam tudo um do lado do outro. Não tinha nenhum na cidade. Tão logo cheguei o avião apontou. Com muito cuidado fui engatinhando pro soldado não me ver.

Fiquei no meio dum Buick e dum Packard. Quando vi que estava baixo, quase encostando no chão, enfiei a mão no bolso, puxei a lanterna, acendi e joguei o facho de luz na pista. A minha mão tremia.

Mamãe ouviu em silêncio, os olhos fixos em mim. Tenho certeza que teve orgulho da minha aventura.

Fui pro quarto e fiquei pensando no que aconteceu. Levantei, peguei a lanterna na sala e voltei pra cama. Virei pro canto e pus ela perto da parede. Apertei o botão de acender e nada do facho forte — só uma luz fraca já apagando. Eu fechava e abria o olho e via a brasinha sumindo. Ficamos assim os dois: ela fraquejando, raleando, eu piscando, insistindo em prolongar aquela noite.

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Postado por Anchieta Rocha
1/7/2015 às 10h14

 
Dois caras

Um tem um pit bull e briga bem. O outro tem um menino e toda noite vê novela com a mulher. Um foi feito de porra, o outro de sêmen. (Coletânea Geração em 140 caracteres- Geração Editorial)

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Postado por Anchieta Rocha
15/6/2015 às 11h44

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