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Sábado,
4/4/2020
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Águas sedentas
Alimenta-se de perenidade
a garganta da pedra a engolir o mundo
à verticalidade das mansas águas
quedando lentas.
Mansas águas umedecendo
ritos, seixos, sentimentos.
Água cadente. Estrela liquefeita.
Água que se vai ao destino ignorado.
Dia longo a travar dia breve.
Água doce ou salmoura na ferida.
Água funda escondendo água rasa.
Igualam-se fonte e tempo.
Águas sedentas,
lambendo lábios
de pedra.
(Do livro Vazadouro)
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Postado por Blog da Mirian
4/4/2020 às 09h47
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Mémórias de olvido
Retomando o princípio da palavra esquecida; o esquecimento que granula a palavra
Assim como o próprio princípio, qual princípio olvidado, tão logo retomado devidamente granulado
Eis que suas raízes operam em silêncio
... Relâmpago de cor... Rebento da flor em úmida mata...
Doce aguardente... Palavras e princípios maturados em barris de carvalho
Para tanto, escrever para esquecer... esquecer para escrever...
De olvido, o escrevinhador lavando suas mãos em torneiras de ventos...
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Postado por Metáforas do Zé
18/3/2020 às 11h44
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Nas linhas das minhas mãos V
Naquele que não era Pedro,
amei a negação do amor ante o casual
encontro que lhe revelou meu corpo.
Mas de Pedro eu me perdi.
Porque de Pedro eu me afastei,
antes de tê-lo conhecido.
Naquele que Pedro não é, amo a paixão
antes de sabê-la parte de mim.
Naquele que não é Pedro,
amo a fragilidade.
Amo a pressa de ir-se antes,
bem antes, do bocejo da manhã.
No outro, amo aquele
que não é Pedro. Amo-lhe o sexo
vazando-me tempestades de sêmen
nas entranhas do amor.
Perfeita imperfeição,
aquele que à minha casa retornou,
Pedro não era. Mas sempre
lhe espero o retorno.
Ainda que junto a mim não se demore
após trazer-me as chaves do quarto.
(Do livro Canções de amor
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Postado por Blog da Mirian
14/3/2020 às 10h35
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Corpo de baile
As palavras bailam como cardumes de um tempo... de uma época
Orbitam como poeira fazendo zunido ao redor da cabeça
Na aura dos momentos, palavras oscilam como anéis de Saturno
Ora me decifram, ora se desnudam para serem decifradas
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Postado por Metáforas do Zé
12/3/2020 às 13h31
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Pretexto X Protesto
À testa do texto,
o texto do contexto contesto,
o texto do intertexto atesto
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Postado por Metáforas do Zé
11/3/2020 às 12h45
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Nas linhas das minhas mãos IV
Às previsões das linhas cruzadas,
minhas mãos outra vez acolheram o visitante
que retornou, tal fosse o filho pródigo
renascido no parto da espera.
E, à sua chegada, matei o novilho.
E cozinhei o pão. E lhe servi o vinho.
E lhe entreguei o fruto
que a abelha adoçou.
E outros amei.
E amei outro que não era Pedro.
Aquele que na imagem de muitos
se revelou uno, confesso que amei.
Em Pedro amei o caminho dos remos.
E ao trazer-me cestos de bons augúrios,
pesada sua barca. Teimosa a rede,
a reiniciar a pesca.
Teimosa a perseverança
humanizando a Terra.
Em Pedro, amei o ofício.
E, se estrangeiro ele fosse,
o seguiria à terra de origem.
Do livro Canções de Amor
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Postado por Blog da Mirian
29/2/2020 às 10h26
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Vida de boy
Toda noite chego da aula, pego o prato no forno, levo pra sala e fico vendo televisão até mamãe chamar, filho, vai deitar, está tarde. Entra semana, sai semana, entra mês, sai mês, todo dia a mesma coisa. Estudo, trabalho, o dinheiro não dá pra comprar uma roupa decente. Ando sem parar, pego fila de banco, de correio, corro atrás de ônibus o tempo todo. O pior é de noite no colégio. Me esforço pra não dormir, não tem jeito. Até na hora do intervalo dá pra levar. Depois é uma luta pra ficar acordado. Eles acham que a gente dorme por desinteresse. As aulas de biologia são boas, a matéria pesa pro vestibular, debruço na carteira, não tem jeito. Um dia a turma me sacaneou. Saiu todo mundo em silêncio, apagaram a luz e ficaram de longe, esperando. A faxineira chegou e me cutucou.
Turma legal a minha. Dá de tudo: ajudante de pedreiro, trocador, auxiliar de escritório, manicure e um cara muito estranho que trabalha na escola de medicina, na sala onde ficam os cadáveres. Me contaram que quando corta os órgãos pros alunos, ele morde a língua de cacoete. O Luiz, gente boa, eles gozam muito. Durante o tempo em que a professora de história está na sala, ele fica se alisando debaixo da carteira. Com as meninas eu não consigo nada. Não sei se é porque sou tímido, ou porque não sou bonito. Feio de todo também não sou. Tem cara que vai chegando e falando, com assunto pra tudo, pra toda hora. Falam umas coisas sem graça e todo mundo ri. Fico num canto olhando, encolhido feito um caracol, coçando a cabeça ou assobiando, fingindo que está tudo bem, que estou numa boa. No fundo fico doido pra ser diferente. Será que tem cara que nem eu, cismado com tudo?
Chega sábado é legal. Largo o serviço ao meio-dia e corro pra casa. Almoço, descanso um pouco e caio na rua. Bato perna no bairro, encontro um e outro e quando vejo o dia acabou. É no sábado que acho que alguma coisa vai acontecer. Imagino uma menina, a gente acabou de dançar. Caminho com ela pro jardim e digo uma coisa do tipo faz tempo que não vejo uma noite tão bonita. Eu só fico imaginando a cena de sábado. Nada acontece. Nada muda. Não sei se é porque sou sonhador ou é porque a gente vê isso nos filmes e nas novelas.
Chega domingo, acordo tarde, almoço e de tardinha baixa a tristeza. Do fim de domingo ninguém escapa. Não acho resposta pra muita coisa. Às vezes mamãe fala pra sair quando me vê parado, pensativo.
E assim vai passando o tempo. Todo dia, toda semana, entra mês, sai mês, o mesmo de sempre. Nada de novo acontece. O negocio é inventar qualquer coisa pra mudar o rumo da vida, sem nada a ver, sem muita explicação. Uma vez eu estava viajando de ônibus numa estrada longa e deserta. Na frente ia um caminhão que começava a fazer ziguezague nas duas pistas e depois de algum tempo voltava a seguir normalmente. Passava um pouco, fazia o mesmo. Foi assim até que eu virei prum sujeito de meia idade sentado ao meu e lado e perguntei por que o motorista fazia aquilo. Ele ficou pensativo e depois de algum tempo respondeu que achava que o cara fazia aquilo pra acabar com a monotonia da viagem.
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Postado por Blog de Anchieta Rocha
21/2/2020 às 10h15
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Nas linhas das minhas mãos III
No visitante que em três dias retornou,
reconheci Pedro. Pedro, perfeição imperfeita,
em teu caminho encontrarei
minha pedra de humanidade.
Pedro, o que retornou à minha casa,
no que me deixou de presença e vazio,
amei-lhe o rosto. Daquele que se fez indefinição,
amei-lhe o perfil. Amei-lhe as palavras.
Nele amei a negação, ante o desolado
canto do galo que lhe anunciou a fé.
Amei-lhe a pureza, antes de sabê-la
parte de si. Amei-lhe a dúvida.
Em Pedro, amei a recusa.
Amei o temor.
Amo a contrição.
Do livro Canções de Amor
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Postado por Blog da Mirian
15/2/2020 às 14h49
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psiu!!!
...asportaseabremquandoo(...)seinstala,asportasseabrem,janelasseescancaram,eo(...)semovimenta,o(...)lateja,o(...)nãosecala,o(...)éumtagarela,o(...)nãopara,o(...)semovimentaemmotocontínuo,o(...)nãotemmemória,o(...)nãotemmotivo,o(...)nãosevende,o(...)nãosedá,o(...)sefazpresenteeausente,o(...)dói,o(...)amortece,o(...)nãotemremédio,remediadoestá...
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Postado por Metáforas do Zé
8/2/2020 às 19h55
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Nas linhas das minhas mãos II
Naquele dia ele veio, trazendo
bandeiras de festa. Ele era um. E era muitos.
E sem saber-lhes batismo ou descendência,
à minha mesa sentaram-se.
Nos vários fragmentos deixados por todos,
pressenti contradições. Em irrealizada unidade
imaginei completude. No visitante, vi outros
que, sem procurar, encontrei.
Encontrei aqueles que de mim
se apartaram antes da chegada,
naquelas ruas e horas vazias
onde inda prossigo na busca.
Pelos desenhos indecifráveis
nas linhas das minhas mãos.
Do livro Canções de Amor
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Postado por Blog da Mirian
2/2/2020 às 10h06
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Julio Daio Borges
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