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Quinta-feira,
2/6/2016
Há mouro na costa...
Raul Almeida
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O velho ditado português remonta ao século XIII, quando piratas mouros atacavam dentro e fora do Mar Mediterrâneo, aterrorizando aldeias portuguesas do Algarves. Alertados pelos vigias, os aldeãos fugiam para não serem mortos ou seqüestrados e vendidos como escravos, e as suas aldeias pilhadas e incendiadas.
Curiosamente, o brado das sentinelas converteu-se em dito popular e chegou em águas mansas, ao século XX, com o significado de que algo de ruim estaria para acontecer.
Outros sentidos lhe davam as mulheres mais velhas de alguma família, quando notavam um rapazote tentando acercar-se de alguma neta, sobrinha ou mesmo prima em suave desabrochar.
O perigo do amor, da sedução, do bote, enfim de um coração enamorado com risco de ser partido.
O romance desvaneceu, a sedução tem outros contornos e formatos, e o amor, por incrível que pareça, resiste e sobrevive as maledicências, inconsistências, e escorregões que a vida coloca nos caminhos das casadoiras, tal como se diz :nas terras de alem mar
Os piratas modernos não mais navegam em águas profundas e perigosas nem pilham pescadores maltrapilhos nas praias de aldeias e povoados. Os piratas modernos usam outras naves muito mais poderosas que as chalupas e lacraias de antigamente. Pelas diárias de hotéis que pagam quando em viagem, devem aproveitar bem o banho e os lençóis, diferente de seus assemelhados do passado, de pouco asseio e nenhum conforto.
Os piratas modernos não mais recolhem peixes salgados dependurados em varais, nem potes de cobre, nem vestes, nem porcos ou galinhas... Quando escravizam, o fazem por meio de doutrinação, por repetição de mantras políticos, por pouco pão e muito circo.
Os piratas convencem, iludem, ludibriam, engambelam, mentem, falseiam, esbulham e são tratados com reverencia aceita e consentida.
Os tolos e ingênuos não mais precisam curvar-se ao fio da espada bucaneira, nem o açoite vil.
O sonho do imigrante português de fazer fortuna trocou as terras brasileiras por outras, e o significado do velho ditado não poderia ficar na mesma:
Mouro na costa.
Que maravilha! Viva o Dr. Moro. Sai o pirata e entra o Juiz
Os vigias de hoje, modernos como seus alvos, não são mais toscos aldeões. São bacharéis, são agentes, são oficiais, são procuradores e promotores. Delegados e policiais. E trabalham duro. Pesquisam, investigam, perguntam, analizam, estudam e encontram os caminhos dos piratas.
Não os enforcam. Sufocam suas maracutaias, patifarias, conchavos, desvios, desfalques, propinas, mentiras e as falsidades.
Depois, levam tudo para o Tribunal, onde Dr. Moro, Juiz inexpugnável, vai encarcerando um a um enquanto nos devolve a esperança.
Não mais aldeões nem pescadores, mas cidadãos esbulhados, espantados, traídos e humilhados pelos piratas em que um dia acreditamos.
Postado por Raul Almeida
Em
2/6/2016 às 13h38
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