Relivaldo Pinho

busca | avançada
122 mil/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Bela Vista Cultural | 'Saúde, Alimento & Cultura'
>>> Trio Mocotó
>>> O Circo Fubanguinho - Com Trupe da Lona Preta
>>> Anaí Rosa Quinteto
>>> Chocolatte da Vila Maria
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Cuba e O Direito de Amar (3)
>>> Política versus literatura
>>> Pecados, demônios e tentações em Chaves
>>> Brasil, o buraco é mais embaixo
>>> Olavo de Carvalho: o roqueiro improvável
>>> 7 de Novembro #digestivo10anos
>>> Carandiru, do livro para as telas do cinema
>>> Livros de presente
>>> Guerras sujas: a democracia nos EUA e o terrorismo
>>> A Arte da Entrevista
Mais Recentes
>>> Livro Mensageiro Da Cruz de Watchman Nee pela Vida (2009)
>>> Los Hermanos Karamazov II de Fiodor M. Dostoyevski pela Altaya (1995)
>>> Renda Fixa Não é Fixa! de Marília Fontes pela Empiricus (2017)
>>> Entre Necessidade E Desejo. Diálogos Da Psicologia Com A Religião de Geraldo José De Paiva pela Loyola (2001)
>>> Recomece de Bráulio Bessa pela Sextante (2018)
>>> O Príncipe Medroso E Outros Contos Africanos de Anna Soler-pont pela Companhia Das Letras (2015)
>>> Dicionário Alemão-português de Leonardo Tochtrop pela Globo (1943)
>>> A Arte De Escrever Bem. Um Guia Para Jornalistas E Profissionais Do Texto de Dad Squarisi e Arlete Salvador pela Contexto (2015)
>>> Entre Passos E Rastros de Berta Waldman pela Perspectiva (2002)
>>> Assassinato Na Literatura Infantil: Uma Aventura Da Turma Do Gordo de João Carlos Marinho pela Global (2005)
>>> O aprendiz do ladrao de tumulos de Allan Stratton pela Planeta Jovem (2013)
>>> Básico Em Administração de Lilian Soares Pereira Carvalho pela Senac Sp (2017)
>>> Liberte-se dos Medos [Capa comum] [2008] O'Connor, Joseph de Joseph O`Connor pela Qualitymark (2008)
>>> Português Do Dia-a-dia: Como Falar E Escrever Melhor, O de Sergio Nogueira Duarte Da Silva pela Rocco (2003)
>>> Microcontrolador PIC18 com Linguagem C: Conceitos, Exemplos e Simulação de José Sérgio Medeiros Junior e Mario Henrique Luchiarí pela Senai-Sp (2017)
>>> Rapidinhas De Concursos: Matematica de Murilo Oliveira De Castro Coelho pela Rideel (2013)
>>> James E O Pêssego Gigante de Road Dahl pela 34 (2009)
>>> Manual Da Crianca Caicara de Marie Ange Bordas pela Peirópolis (2011)
>>> Pilatos de Carolos Heitor Cony pela Companhia Das Letras (2001)
>>> A Garota Que Só Pensava Naquilo: Confissões de uma Sedutora de Abby Lee pela Prestígio (2007)
>>> Expedição Tumucumaque a Redescoberta da Amazônia de Zig Koch pela Wwf
>>> Confissões de Ralfo de Sérgio Sant´anna pela Literatura Brasileira
>>> Idéia De Revolução No Brasil (1789-1801) de Carlos Guilherme Mota pela Cortez (1989)
>>> O Conde Futreson. Uma Aventura Da Turma Do Gordo de João Carlos Marinho pela Global (2009)
>>> A Mandibula De Caim de Edward Powys Mathers e Torquemada. pela Intrínseca (2022)
BLOGS

Sexta-feira, 26/2/2016
Relivaldo Pinho
Relivaldo Pinho
 
Tarantino acabou

E acabou há muito tempo. O fanatismo de cinéfilos (sic) que se dane! “Os oito odiados” é o ocaso de um cinema repetitivo, sem o frescor de 1993 (“Cães de aluguel”) e 1994 (“Tempos de violência”) – já li isso em algum lugar, não lembro, e, como está certo, repito aqui. Tarantino anunciou parar de filmar em breve. Ninguém (o fanatismo que se dane 2) lembrará dele além desses dois filmes.

Vocês lerão dezenas de comentários sobre as técnicas, as influências, as retomadas temáticas, o aspecto teatral, etc etc etc. Como já disse, eu não faço isso. Na verdade, nem sei fazer esse desfile de pseudo conhecimento cinematográfico. Cinéfilo (exceções, sempre) não entende de cinema. Quem muito tem o que comentar é porque não sabe parar seu desfile de cabrocha “que vê muito filme” e esquece o cinema como “sintoma” do mundo do qual ele faz parte.

Quando vi “Cães de aluguel” e “Tempos de violência” fiquei tomado por uma sensação de que algo realmente novo estava vicejando na cultura contemporânea. Mas, ao mesmo tempo, sabíamos que ali havia muito do cinema anterior e das várias “colagens” estéticas que a cinematografia proporciona.

Evidentemente, não era apenas isso. Havia também um certo rompimento com uma ideia “negativa” do pastiche, da bricolagem, da ideia de autor. Não era apenas a “nostalgia de estilos mortos” que se repetiam[1], mas a possibilidade de, dentro dessas características estéticas, fazer surgir uma imagem cinematográfica que delas se aproveitando, lançava algo novo a ser percebido, uma estética, talvez, de acordo com um espírito contemporâneo que se apropria de estilos já existentes, mas que neles não se encerra.

Garoto, aos 18 anos, recém adentrando os portões da faculdade, os dois filmes coincidiam com o auge, em algumas faculdades de comunicação, da ideia de pós-modernidade, da qual aquelas características acima fazem parte. Para essa ideia, Tarantino era um pós-moderno por excelência.

E talvez fosse. Mas, talvez, para nós – e ainda hoje para mim – ele não se encaixava, naquele período, perfeitamente na condição de mero recitador de estilos e referências. Era bem possível pensar que, se ele estava naquela época de acordo com esse espírito contemporâneo, ele teria ido além da mera noção da referência ao passado como cópia.

Mas é no que se tornou agora. Seu último filme não é apenas inconstante, é acima de tudo, a perfeita reprodução, como os anteriores já foram, de uma estética contemporânea que faz referência a outros e a si como fundamento de sua representação. Tarantino sucumbiu ao criacionismo de si mesmo e acabou se auto-implodindo ao som de Ennio Morricone.

Uma das melhores críticas e comentários que vi sobre o diretor e sobre um de seus filmes foram feitos pelo saudoso Daniel Piza : “o curioso a respeito do novo filme de Quentin Tarantino, ‘Bastardos Inglórios’, é que até seus mais ardentes admiradores o levaram a sério de uma forma que ele próprio satiriza”. Piza estava criticando o tom sempre muito canônico com que fãs do cineasta tratavam seu cinema e demonstrava como a boutade de Tarantino era essencial para a compreensão de sua cinematografia.

É isso. Tarantino deixou, depois dos dois primeiros filmes da década de 90, de ser um Sátiro que poderia, a partir de sua boutade imagética, nos surpreender além da repetição de uma imagem contemporânea que nos imprimia cópias sem graça de imagens anteriores.

Curioso perceber como na exibição de seus filmes, especialmente desse último, os espectadores tendem a rir, gargalhar, mais do que se surpreender, mesmo em suas cenas propositalmente kitsch de violência.

Em muito isso é uma provocação do diretor, mas isso também diz muito da condição do cinema e não apenas das famosas misturas de gêneros de Tarantino, mas, especialmente, como o espectador participa nesse mundo imagético de um conteúdo esperado, necessariamente identificador de um fazer técnico já assimilado (isso existe em “Tempos de violência” e “Cães de aluguel”, mas, percebam lá como isso tinha o gosto de uma novidade que extrapola a nostalgia das referências, daí talvez nosso riso mais contido nesses filmes, daí nosso “espanto” ao vê-los naquele momento. Datou, porque se tornou standard, e a indústria também, evidentemente, faz parte disso).

O espectador sempre quis, pelo cinema, a evasão necessariamente egóica de um mundo que o ignora, de um caos que parece não lhe dizer respeito, de uma contingência inelutável. Tarantino nos dá tudo isso. E nós espectadores nos deleitamos com sua repetitiva implosão de si mesmo e com nossas repetitivas gargalhadas “terapêuticas”[2] e histriônicas. Isso é um certo tipo de fanatismo. Ah! O fanatismo que se dane.

________________________________________ [1] JAMESON, Fredric. Pós-modernidade e sociedade de consumo, Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 12, p. 16-26, jun. 1985.
[2] CHAVES, Ernani. Inconsciente ótico e função terapêutica do cinema. In: COUTO, Edvaldo Souza; MILANI, Carla Damião. (Orgs.). Walter Benjamin: formas de percepção estética na modernidade. Salvador: Quarteto, 2008. p. 127-139.

Uma versão deste texto foi publicada em Relivaldo Pinho

[Comente este Post]

Postado por Relivaldo Pinho
26/2/2016 às 02h09

 
Chatô uma breve alegoria para o Brasil


Reprodução


Não escrevo sobre filmes porque, salvo exceções, desprezo a atitude de enciclopedistas que sabem quando Audrey Hepburn andou sem calcinha, mas não sabem, ou não procuram, pensar por que ela é idolatrada pelas meninas, mas não pelas mulheres de verdade, que preferem Marilyn. Isso são visões de mundo, temáticas existenciais com as quais o cinema se relaciona. Há pessoas, pesquisadores (pouquíssimos), que entendem isso; a maioria fica na ausência do apetrecho de Audrey. Homens – não meninos – nem se fala, preferem Hepburn na sala de estar e Monroe no cômodo conseguinte. Já explico esse início.

Apesar de ter escrito artigos e livros sobre cinema, orientar trabalhos premiados e até dirigir um filme (“Fisionomia Belém” - com Yasmin Pires e um grupo de pesquisa - “Projeto Fisionomia Belém”) nunca me interessei em comentar filmes, porque, confesso, o cinema sempre foi para mim aquilo – é contraditório, eu sei – sobre o qual me debrucei pra tentar entender e escrever nas “ margens” do mundo (Benjamin/Seligmann-Silva) e não para desfilar as curiosidades e tecnicismos que fazem alguns se exaltar em pizzarias.

Depois de oito anos, fui ao cinema (e, por favor, releiam os parágrafos anteriores antes de me perguntar “como pode?” – vi e vejo filmes de outras formas). Fui ver “Chatô, o rei do Brasil”, sim, o polêmico filme de Guilherme Fontes. Não vou falar do filme como artefato estético (técnico) apenas, mas do que ele representa em um país e um cinema que soçobra em mistificações, comédias vagabundas e experimentos sustentados pelos nacos do Estado com seríssimos problemas de valor – ai, ai, sim há exceções.

Ao sairmos do cinema ouvi um comentário de um senhor: “mas é muito avacalhado pra um tema tão sério” (foi mais ou menos isso o que ele disse). Ora, só visões estúpidas esperam que filmes sejam história; há um longo debate sobre isso, não vou me alongar. “Chatô” é exatamente isso, uma alegoria em tom picaresco sobre um personagem extremamente relevante da história do Brasil (não li o livro; aqui não interessa), que, de outra forma, poderia incorrer nos enfadonhos filmes que se pretendiam ser representativos de momentos históricos brasileiros; a lista é longa e chata.

Era a única forma possível? Talvez não. Mas é uma forma que se separa exatamente daquela condição do cinema brasileiro descrita acima. No filme, está a história do personagem, seus principais momentos, e há a história do país, mas não há aí nenhum didatismo, nenhum teor moral unívoco, nenhum proselitismo ideológico. Duvido que “Chatô” seja mostrado na maioria das escolas para “ilustrar” (sic) a história brasileira.

Não dá, não serve, não se pode condenar o “rei do Brasil” para justificar a manipulação da mídia – embora isso seja verdade e esteja no filme, mas esse não é seu mote. Um amigo que me acompanhava comentou: “como se poderia mostrar a história de Chatô, se sua personalidade, em grande parte, abarcava consideravelmente suas idiossincrasias que estão no filme?”.

Li em algum lugar que o filme era exagerado. Mas é o exagero seu fundamento, que não cai na piada fácil, no bundalelê e nem na “memeficação” do humor (não precisamos elencar quantos filmes nacionais fazem isso). Entender o papel do exagero, de uma alegoria, de um expressionismo (hiperbólico, nesse caso, propositalmente) na história das representações culturais é compreender também sua força de subversão de temas e de estéticas. “Chatô” faz isso?

Nem sempre. Lá estão as mais diversas influências estéticas picotadas (Cinema Novo, Atlântida, etc, etc), por vezes bem desenvolvidas e, em outras, realmente com ares de inovação (a idéia de mostrar um dos mais importantes nomes da história do Brasil em tom de chacota, sem ser pastelão, já é uma inovação). Quantos filmes brasileiros com tamanho investimento fazem isso (não abram comentários sobre filmes, não vou responder – falem sobre o que está escrito aqui)?

Problemas técnicos? Sim, deixo isso para os cinéfilos. Mas se esse filme possui alguma virtude – e não pouca virtude para os dias de hoje – é realmente destoar da “reprodutibilidade técnica” (um conceito problemático e mal compreendido de Benjamin) que se adotou no cinema nacional. Diretores de grandes produtoras reclamam da mesmice, mas não conseguem se desvencilhar; atores aderem constrangidos (alguns), mas o caixa os obriga a fazer o gordo sendo gordo, o boa pinta sendo patrão.

Paulo Francis dizia que toda vez que via um filme nacional dava vontade, pelo conteúdo repetitivo de ver o brasileiro sempre como um pobre coitado, de sair gritando “é um santo, é um santo!” Ao sair do filme de Fontes não podemos gritar isso. “Chatô” não é nem um santo, nem um degenerado, é um personagem complexo, histriônico, um empreendedor, um homem pulsional e sensível. Como representar essa personalidade? Tendo a história como pano de fundo que mais se destaca e explica a realidade por estanques momentos (início, meio e fim), imolando o “rei”, vendo como no Brasil tudo passa pelo poder, por explicações de poder, pelas “relações sociais” (há a participação decisiva de uma mulher – sim, “apenas” uma mulher - no poder que ele, “Chatô”, nunca doma e por isso sofre e também se arruina)?

Não. Se o filme de Fontes não é uma revolução do cinema nacional, também não é algo que possa ser tratado pelos pitorescos, pelos cinéfilos de achismos. Ele levanta possibilidades de como expor um tema relevante sem ser enfadonho e é, propositalmente, uma comédia feita da alegoria picaresca, que pode nos lançar imagens que ameaçam nossos “casulos” históricos, teóricos, cinematográficos, morais.

Chatô não é um Midas de facão na mão, nem um jagunço salvador. O julgamento onírico metafórico, picaresco e midiático que se realiza no filme tenta representar isso. O filme, que começa com a posse da rainha Elizabeth, fazendo alusão ao rei tupi decrépito, termina com uma cena que mais parece uma metáfora das pulsões que, no filme, são também decisivas e, evidentemente, oníricas. Pulsões quase sempre estão no limiar do grotesco/exagero (recalque) e da “liberdade” (sublimação).

Talvez precisemos desses “exageros” esteticamente construídos que cindam a mesmice da imagem reproduzida no Brasil. Se alguém quiser ficar com a picardia por ela mesma, não entenderá a possibilidade de interpretar esse filme. É preciso ir além da vestes de Audrey; é preciso agarrar Marilyn em um canto, mas, fundamentalmente, é preciso saber o que isso significa para as “margens” – estéticas e éticas, não? - do mundo/Brasil.

Em uma das cenas, Chatô está moribundo na cama enquanto seus antigos amigos e empregados dele tripudiam. Imóvel, a câmera mimetiza seu olhar vendo aquela vingativa catarse; ele nada mais pode dizer, mas sabe quem foi, quem são aqueles senhores e do mundo do qual fizera parte. Em outra cena onírica (do julgamento) ele se levanta da cadeira de rodas e pergunta, se ele for condenado: “quem vai continuar o show?”. Sim, o show continuou e o Brasil ainda continua cheio de Midas, jagunços e reis. Olhemos as vestes de Audrey, mas agarremos Marilyn no cômodo seguinte.


Texto publicado em “Relivaldo Pinho”

[Comente este Post]

Postado por Relivaldo Pinho
19/2/2016 às 19h40

 
Pssica, de Edyr Augusto


Reprodução


Janalice, Jana, diz: “Deus me abandonou. Só pode ser. Não acredito mais em nada”. Jana, uma das personagens de Pssica, novo livro de Edyr Augusto, é estuprada, raptada, vendida como escrava, vira prostitua, droga-se. O Portuga é um angolano que, em um assalto, tem a mulher esquartejada. Preá, um rato d´água, rouba embarcações com seus sádicos capangas. O prefeito, um patife, faz bacanal regado a drogas.

O cenário é a Amazônia, o interior e fronteiras do Pará. Se em uma famosa canção paraense “esse rio é minha rua”; no livro, o rio é um caminho perigoso, vaza sordidez. No Marajó, sai o búfalo, entra o povo-manada; no lugar do vaqueiro altivo, meninas famintas oferecendo sexo.

Em Caiena, “a paisagem era como em Breves. Ou subúrbios de Belém. Casas pobres. Ruas esburacadas. Umidade e chuva. Mas os carros que passam eram Renault Mégane, Citroën, Peugeot. Ainda vou ter um”. É um mundo pérfido em sua degeneração contínua. Um permanente infortúnio, uma Pssica, paira sobre ele. Uma praga que parece entoada por um destino inescapável.

Edyr Augusto sai de Belém, mas a barbárie da região não sai de suas linhas. Pssica é uma faca que entra no “bucho” de todos. Há outra região que os postais e as notícias não contemplam. Não há mais nada para ser contemplado. “Me Salva”, implora Jana, mas, como muitos nessa barca, ela nem sabe onde está. “O que fizera para merecer isso?”.

Nada. Não há justificativas morais redentoras para explicar essa existência vil. Justificativas não servem para essa escrita expressionista e, propositalmente, mundana. Pulsões determinam ações, como as linhas indomáveis que descrevem essas vidas.

“Me salva”. Não. A redenção que se ensaia no livro é também uma encenação. Jana e sua súplica poderiam ser uma alegoria contemporânea da região. “E esta terra tão grande e linda, mas sem lei, sem nada”. Essa terra pode não ser a Amazônia imaginada, mas, nesse livro, já é um paraíso perdido.


*Publicado no Le Monde Diplomatique Brasil, em outubro de 2015.


[Comente este Post]

Postado por Relivaldo Pinho
16/2/2016 às 21h00

Julio Daio Borges
Editor

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Cautos Causos Glauco
Glauco Mattoso
Lumme
(2012)



Livro Sociologia Jornalismo O Quarto Poder
Marc Paillet
Brasiliense
(1974)



Livro Literatura Estrangeira Os Tolos Morrem Antes
Mario Puzo
Record
(1978)



Sistemas Integrados de Gestão Erp - uma Abordagem Gerencial
Cícero Caiçara Junior
Intersaberes
(2012)



O Presente
Cecelia Ahern
Novo Conceito
(2013)



Memórias póstumas de brás cubas
Machado de Assis
Globo
(1997)



Livro Literatura Brasileira O Xangô de Baker Street
Jô Soares
Companhia das Letras
(1995)



Francisco o Sol de Assis
Divaldo Franco e Cezar Braga said
Leal
(2023)



Amor em Terra de Chamas
Jean Sasson
Best Seller
(2008)



A Sangue Frio (grandes Sucessos)
Truman Capote
Abril
(1980)




>>> Abrindo a Lata por Helena Seger
>>> A Lanterna Mágica
>>> Blog belohorizontina
>>> Blog da Mirian
>>> Blog da Monipin
>>> Blog de Aden Leonardo Camargos
>>> Blog de Alex Caldas
>>> Blog de Ana Lucia Vasconcelos
>>> Blog de Anchieta Rocha
>>> Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
>>> Blog de Angélica Amâncio
>>> Blog de Antonio Carlos de A. Bueno
>>> Blog de Arislane Straioto
>>> Blog de CaKo Machini
>>> Blog de Camila Oliveira Santos
>>> Blog de Carla Lopes
>>> Blog de Carlos Armando Benedusi Luca
>>> Blog de Cassionei Niches Petry
>>> Blog de Cind Mendes Canuto da Silva
>>> Blog de Cláudia Aparecida Franco de Oliveira
>>> Blog de Claudio Spiguel
>>> Blog de Diana Guenzburger
>>> Blog de Dinah dos Santos Monteiro
>>> Blog de Eduardo Pereira
>>> Blog de Ely Lopes Fernandes
>>> Blog de Expedito Aníbal de Castro
>>> Blog de Fabiano Leal
>>> Blog de Fernanda Barbosa
>>> Blog de Geraldo Generoso
>>> Blog de Gilberto Antunes Godoi
>>> Blog de Hector Angelo - Arte Virtual
>>> Blog de Humberto Alitto
>>> Blog de João Luiz Peçanha Couto
>>> Blog de JOÃO MONTEIRO NETO
>>> Blog de João Werner
>>> Blog de Joaquim Pontes Brito
>>> Blog de José Carlos Camargo
>>> Blog de José Carlos Moutinho
>>> Blog de Kamilla Correa Barcelos
>>> Blog de Lúcia Maria Ribeiro Alves
>>> Blog de Luís Fernando Amâncio
>>> Blog de Marcio Acselrad
>>> Blog de Marco Garcia
>>> Blog de Maria da Graça Almeida
>>> Blog de Nathalie Bernardo da Câmara
>>> Blog de onivaldo carlos de paiva
>>> Blog de Paulo de Tarso Cheida Sans
>>> Blog de Raimundo Santos de Castro
>>> Blog de Renato Alessandro dos Santos
>>> Blog de Rita de Cássia Oliveira
>>> Blog de Rodolfo Felipe Neder
>>> Blog de Sonia Regina Rocha Rodrigues
>>> Blog de Sophia Parente
>>> Blog de suzana lucia andres caram
>>> Blog de TAIS KERCHE
>>> Blog de Thereza Simoes
>>> Blog de Valdeck Almeida de Jesus
>>> Blog de Vera Carvalho Assumpção
>>> Blog de vera schettino
>>> Blog de Vinícius Ferreira de Oliveira
>>> Blog de Vininha F. Carvalho
>>> Blog de Wilson Giglio
>>> Blog do Carvalhal
>>> BLOG DO EZEQUIEL SENA
>>> Blog Ophicina de Arte & Prosa
>>> Cinema Independente na Estrada
>>> Consultório Poético
>>> Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
>>> Cultura Transversal em Tempo de Mutação, blog de Edvaldo Pereira Lima
>>> Escrita & Escritos
>>> Eugênio Christi Celebrante de Casamentos
>>> Flávio Sanso
>>> Fotografia e afins por Everton Onofre
>>> Githo Martim
>>> Impressões Digitais
>>> Me avise quando for a hora...
>>> Metáforas do Zé
>>> O Blog do Pait
>>> O Equilibrista
>>> Relivaldo Pinho
>>> Ricardo Gessner
>>> Sobre as Artes, por Mauro Henrique
>>> Voz de Leigo

busca | avançada
122 mil/dia
2,0 milhões/mês