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Quinta-feira, 7/12/2023
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Toda luz que não podemos ver: política e encenação




A série veiculada pela Netflix neste novembro, “Toda luz que não podemos ver” (Direção de Shawn Levy), poderia ser, como tantas outras produções, sobre a vida em um mundo mergulhado na guerra, mas esse mundo, ou o que seria sua ambientação histórica, a invasão nazista da França na Segunda Guerra Mundial é, na verdade, apenas seu cenário, parte de sua mise-en-scène.

A série mostra a história de dois jovens em meio ao conflito. A francesa Marie (Aria Mia Loberti) e o alemão Werner ( Louis Hofmann ) estão em lados opostos da Guerra na cidade francesa de Saint-Malo .

Ela é uma jovem cega que faz transmissões de rádio clandestinas para avisar os bombardeiros aliados as posições alemãs. Ele é um jovem soldado alemão encarregado de vigiar as radiocomunicações da resistência francesa.

Marie utiliza o mesmo rádio que seu tio Etienne, “o professor” (Hugh Laurie ), usava antes da Guerra para suas transmissões. Werner, desde garoto um perito em rádios e que por isso se destacou militarmente, sempre ouviu na Alemanha a mesma frequência que o tio de Marie utilizava.


Werner, Marie, Daniel, Etienne. Fonte: papelpop.com


Separados pela guerra, o rádio os aproxima. Mas eles não se conhecem. Werner foi órfão e Marie, até a chegada das tropas alemãs, vivia uma vida feliz com seu pai, Daniel (Mark Ruffalo ), um funcionário de museu em Paris.

O drama está pronto. Está? Não, tudo isso se dá na série em meio à representação da invasão, mas o modo como é mostrado esse momento histórico o reduz quase que apenas a um pano de fundo em CGI (Imagens Geradas por Computador).

É claro que não se trata apenas da antiga discussão de que a ficção não tem obrigação de representar a realidade. Mas representações estéticas têm seu poder de persuasão.

Se assim não fosse, estaríamos negando toda a história da representação cinematográfica da política, dos conflitos, das guerras. Essas representações foram não apenas instrumento de entretenimento, mas, como se sabe, de deliberada propaganda.

Há centenas de filmes e séries sobre a Segunda Guerra . Alguns utilizam programaticamente o cenário e os contextos históricos para os mais diversos propósitos. Os mais frequentes desses motivos utilizados talvez sejam o amor, a dor e a esperança.

As representações imagéticas mostram esses motivos em conjunto com a ambientação história das mais diversas maneiras. Algumas exibem esses temas se relacionando com o contexto da realidade, tomando-o como elemento decisivo (“A ponte do Rio Kwai”, toma a dor, a resistência e a esperança dentro de um campo de prisioneiros), outras tratam essa ambientação como elemento influente, mas um tanto distante (“Casablanca” toma o amor impossível em uma cidade ainda possível).


Cartaz de "A ponte do Rio Kwai" (1957), de David Lean


E outras, bem..., outras se utilizam dos vários arquétipos da ficção para aparentar tratarem de um tema sério, mas que pode ser sentido apenas sintonizando uma frequência de paixão.

A série da Netflix parece se prender muito mais nessa frequência mais palatável da sensibilidade. Ela foi anunciada (com o grande reforço das mídias) como uma produção que trata sobre o nazismo (ou, pelo menos, sobre a ocupação nazista), mas sua estética emoldura esse tema histórico e dentro desse quadro emoldurado o seu relevo praticamente se perde.

A decisiva tomada da França , como triunfo e vingança; o avanço das forças alemãs em direção à Inglaterra; a fuga desesperada de milhões de pessoas e o terror nas cidades, por exemplo, surgem mais como algo que passa – e apenas passa – pela intriga central (os dois jovens) do que como algo que com essa intriga esteja indissoluvelmente ligada.

Não é que a invasão alemã, as separações de pessoas e a violência não sejam importantes na série. É que isso parece surgir como algo circunstancial, não como seu núcleo gerador da trama. Retire a caçada à pedra preciosa com poderes mágicos da série e... voilà! você entenderá do que estou falando.

“Mas esse tom histórico não era o propósito da série”, alguém pode argumentar, com algum grau de razão. Mas pode-se responder que, se esse não era o propósito, então a série poderia figurar em qualquer outro contexto, ou pretexto, correto?


A batalha da França. Fonte: commons.wikimedia.org


E aí está exatamente o ponto central. O núcleo de um drama quando obedece a certos padrões estéticos estanques, como bom e mal, inocência e bravura, vítima e algoz, ignomínia e honra, caracterizados e demarcados, ou sintonizados exatamente como um número de uma frequência de rádio, tende a não fornecer imagens que possam ir além da estrutura predominantemente sentimental do drama.

É conhecida, por exemplo, a argumentação de historiadores que apontam que se esperava por parte das forças francesas maior resistência, como fizeram os poloneses. Também se argumenta que a resistência francesa só se tornou efetiva após 1943, quando se percebeu que os aliados poderiam realmente ganhar a Guerra (Max Hastings, “Inferno: o mundo em guerra”).

Na série, essa figura da resistência é mostrada através do tio Etienne. Ele é de longe o melhor personagem da produção. Como um ex-combatente traumatizado da Primeira Guerra, ele vive solitário e triste, mas, com a chegada dos aliados, se dispõe a lutar e tem em sua sobrinha Marie sua seguidora.

Mas o colaboracionismo francês é visto através de uma mulher que dorme com o vilão alemão, o sargento Reinhold von Rumpel (Lars Eidinger).

Já o Governo de Vichy , o colaborador oficial dos nazistas, que teve como representante maior o General Pétain, aquele que foi ao rádio pedir para que os franceses parassem de lutar, nem sequer aparece na minissérie.

Mocinhos e vilões precisamente demarcados são uma das chaves sentimentais do enredo. Não há como não mencionar a caricatura do vilão maior, o sargento alemão, em seu histrionismo, trejeitos afetados e animalidade.

Essa caraterização, que está longe de ser apenas ficção, se tornou uma das formas, desde a Primeira Guerra Mundial , do cinema representar o inimigo. Vejam como Cecil B. DeMille mostra os ignóbeis alemães em “A pequena americana” (1917), ou como Chaplin os ridiculariza implacavelmente em “Carlitos nas trincheiras” (1918). Mas aí são dois monstros do cinema.


Cartaz de "Carlitos nas trincheiras". Fonte: wikimedia.org


Von Rumpel é a imagem dessa forma repetida e que, por isso, sobre ele recai na série, e por parte do espectador (não sem motivos), todo o sentimento incontido de justiça (vingança), quando ele desaba morto diante da joia com poderes mágicos que poderia salvá-lo de sua doença terminal.

Na narrativa histórica, o destino do comandante da cidade de Sant-Malo é um pouco diferente do sargento Rumpel da série, mas talvez seja mais interessante. Martin Gilbert, em “A Segunda Guerra Mundial: os 2.174 dias que mudaram o mundo”, é quem nos conta assim essa história:

“O comandante alemão de St. Malo, coronel Aulock, dera ordens para que o porto fosse defendido até o último homem. Quem desertasse ou se rendesse, declarara o coronel, não passaria de ‘um cão vadio!’. Hitler, extremamente impressionado com a determinação de Von Aulock, concedeu-lhe as Folhas de Carvalho que faltavam à sua cruz de Cavaleiro, mas a batalha foi tão rápida que a atribuição da medalha, em 18 de agosto, deu-se um dia após a rendição de Aulock”.

Na série, no último episódio, vemos o porto da cidade ser destruído. Mas quase nada sabemos do contexto em que a retomada da cidade se dá. A história se circunscreve, novamente, entre o casal e o vilão, como se o poder totalitário, a esperança e a luta da resistência e a ajuda dos aliados surgissem do nada em um céu de onde as bombas não param de cair.

E, para selar esse final, Marie e Werner, que acabaram de se conhecer pessoalmente e escapar da morte, dançam e se beijam, prometendo se reencontrar (sim, ele, desolado, se volta para ela enquanto os soldados aliados o prendem) ao final da Guerra. Deve vir 2ª temporada por aí.


Cena do filme "Paris está em chamas?" Fonte: IMDB


Querem um contraponto disso, com temática semelhante, mas com abordagem diferente? Vejam “Paris está em chamas?” (1966), de René Clément . O filme conta a luta da resistência francesa para libertar Paris em 1944. O que falta na série, a tentativa de uma contextualização histórica e a matização de personagens, está presente no filme; o que “falta” no filme, um romance como único cerne da narrativa, é o centro da série.

Ao final do filme de Clément, vemos imagens de época das comemorações pela retomada de Paris, o Arco do Triunfo lotado, a chegada do general De Gaulle , líder da resistência, sendo ovacionado. Ao final do último capítulo da série, surgem imagens históricas das cidades francesas destruídas. Esse momento é, na mise-en-scène da minissérie, a imagem verossímil mais impressionante.


Relivaldo Pinho é autor de, dentre outros livros, “Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia”, ed. ufpa.

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Esse texto foi publicado no Diário online

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Postado por Relivaldo Pinho
7/12/2023 às 19h47

 
Sarapatel de Coruja

Desde que D. João VI aqui chegou o conceito de Côrte jamais pereceu.
A República não extinguiu as benesses, vantagens, delícias e diferenças entre a nobreza moribunda e a luz dos novos tempos. Saiu o Brasão Imperial, entrou o republicano.
Continuaram os espanadores de gases, os populares abanadores de flatulências, sempre atrás de algum figurão.
Depois de duzentos anos de independência muita coisa aconteceu. Esperanças, expectativas, tentativas, acertos, erros e muita conversa fiada. Alguns períodos de relativa calmaria, bem relativa por sinal, e o nosso País foi trocando de regime até o que, hoje, somos uma Democracia.
Colônia, Império, República No.1, No.2, e vamos lá.
País do futuro, Celeiro do Mundo, o Petróleo é nosso, É tetra, É penta, Ame-o ou deixe-o… Várias formas de exaltar e provocar o patriotismo, o nacionalismo, o democratismo e outros ismos no povo.
O poder emana do Povo, pelo Povo, para o povo.
A frase solene pronunciada por Abraham Lincoln, é parte da Constituição Federal do Brasil de 1988, entretanto, ao exercer seu indiscutível poder, o Povo é conduzido, por vezes, a situações delicadas. As escolhas não cumprem o que prometem. Mudam de ideia, de discurso, de atitude. Raramente, confirmam as expectativas. Prevalece o Nepotismo, o Compadrio, a Prevaricação, a Mentira e Desfaçatez.
O Nepotismo é escancarado. Do primeiro ao quarto grau de parentesco, todo mundo é aquinhoado com uma sinecura, uma prebenda, uma boquinha.
O Compadrio é endêmico. Os "correligionários", os "de confiança", os indicados por amigos do peito.
A Mentira dispensa maiores explicações. É a atitude do " eu não soube", "quando me avisaram já tinha acontecido", "isto não é verdade"! É a falta de vergonha na cara muito necessária a quem se dedica a lidar com promessas e garantias vazias.
São estatísticas manipuladas, fatos descritos em versões mirabolantes e fantasiosas, enfim, falha na verdade nua e crua.
A Desfaçatez é o mais recorrente dos comportamentos daqueles que deveriam se ater às promessas, também cognominadas de "compromissos de campanha".
Depois de muitos anos de vida, acho muito engraçado, senão trágico, ver os que se oferecem para escolha, repetindo discursos que escutei há mais de 60, (sessenta) anos: o pobre, o pão, a fome, o lucro, a reforma agrária ( essa de morrer de rir) o trabalhador, os direitos ( sempre a frente dos deveres) o salário que não dá pra nada, etc, etc, etc, etc.
Jean Valjean e seu Javert.
As promessas, planos e projetos que encantam e provocam a esperança de todos não tem limite. A falta de respeito ao público, ao eleitor, ao cidadão que está ouvindo o tro lo ló, é espantosa. Aí está o Sarapatel de Coruja, uma analogia bizarra com o besteirol boquirroto, o discurso venturoso e vazio.
Mas vamos lá.
Um ano já se passou, o new Marco Polo segue incólume em seus périplos planetários, justificados com a busca pela paz no mundo,a proteção das criancinhas, os acordos , as cúpulas, os encontros, o séquito , a entourage, oops, a equipe, as assessorias. Greves ressuscitadas com instrumento de ação política, imbróglio entre poderes, quem é que pode o que.
Um Sarapatel de Coruja, com ou sem pimenta…

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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
28/11/2023 às 15h24

 
Culpa não tem rima

O sentimento de culpa não suporta poesia, verso, prosa, rima. A culpa não dói. Culpa não machuca, não fere, não deixa marca ou cicatriz.
Culpa tem o seu modo próprio de se fazer presente. Culpa faz chorar, faz sofrer.
O arrependimento, o reconhecimento da falha de caráter, ou compaixão, ou respeito, ou solidariedade, ou amor, ou sinceridade não apaga a culpa.
Se alguém que percebeu uma culpa guardada lá atrás, no fundo das lembranças, pensa que ao arrepender-se apagou o lapso, a falta, enganou-se. Está usando a sua capacidade de ser indiferente, cínico(a), ignorante da realidade da vida. Um dia a culpa volta vestida de passado resolvido, mas volta. Mas nem tudo que volta a memória com ruídos de pequenas culpas, o são.
Travessuras pouco gentis, aventuras com sentimentos recíprocos foram exageros em hormônios e simpatias, brincadeiras sem a força da grande causa, o Amor. Tudo bem quando não deixam guardadas lembranças de promessas entendidas ao pé da letra, por alguém que nem percebeu o acaso ou a fatalidade fazendo blague com a ideia de amor…
A fraude, a inteligência confrontando a ingenuidade da pureza de alguém, aproveitando o acaso para destruir a confiança, a crença de um acreditar verdadeiro e transformar tudo numa mentira fugaz, irresponsável, ou mesmo tenebrosa, a verdadeira culpa, ah, essa nunca morre.
Culpa não produz poesia.
Culpa é a moeda com a qual o remorso paga ao culpado.
Culpa é para sempre. Pode ser guardada em alguma gaveta da memória, e depois destruída com alguma moléstia grave,daquelas que produzem mortos-vivos em fim de ciclo biológico. Os males do cérebro, as degenerações e seus diversos nomes.
Mas a culpa não morre. Nem rima.

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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
27/11/2023 às 21h11

 
As duas faces de Janus

Guardião dos caminhos, o deus Janus significava a transformação, o futuro e o passado.
Sempre com um olhar para frente e outro para trás, Janus poderia ser, nos dias de hoje, a câmera de segurança da portaria do condomínio, encarnando a personagem virtual em atalaia permanente.
Quando ligamos a TV e ouvimos as notícias, acompanhadas da advertência do apresentador que : "Estaremos acompanhando esse caso", podemos imaginar Janus vigilante, atento, alerta, absolutamente comprometido com o assunto mostrado e com os desdobramentos do mesmo. Depreendemos que o moderno jornalismo, o noticiário de TV, vai ajudar a pressionar a Autoridade na solução seja lá de que problema for, com o total apoio do consumidor de notícias, o público que tem poder, formado pela melhor fatia do Povo, aquela que está bem informada.
O Poder emana do povo, a Autoridade é paga pelo povo, e os funcionários principais do Estado, são escolhidos pelo Povo em períodos e prazos determinados.
Nada como informar com precisão, acompanhar com competência, apurar as consequências do fato que gerou a notícia, e receber o prestígio e o reconhecimento.
Em tempos de turbulência econômica, o noticiário ferve com estatísticas, previsões, comentários, vaticínios e profecias, mais a opinião do comentarista travestido de profeta, enfim mantendo a audiência sempre em dia com os fatos e seus possíveis desdobramentos. O mesmo acontece com a política. A carga de informações, boatos, falatórios, palpites e conversa-fiada atinge níveis siderais.
A tendência ao populismo, ao messianismo, às inverdades e imperfeições interpretativas, abre um espaço formidável para boquirrotos, vitimistas, distributivistas, arrivistas e deslumbrados de última hora buscando seu minuto de celebridade.No palco, no salão de festas, no plenário, o grande espetáculo se repete.
Judas vai vender, Pedro vai negar, Barrabás vai sair pela porta da frente, e quem acreditou que estavam defendendo ou atacando idéias, projetos, etc e tal, não sabe ou nunca escutou nada sobre o cafezinho depois dos tró ló lós e bafafás.
Entre acordos, conchavos, mutretas, combinações, arranjos, discursos, desaforos, bravatas, carreatas, passeatas, bumbas e meus bois, Janus perdeu a função de guardião ou sentinela de qualquer coisa. O que foi antes continuará agora e será sempre como antes foi.
Pobre Janus e suas caras. Aqui ambas são para frente.
O que passou vai pro arquivo.

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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
23/11/2023 às 20h33

 
Universos paralelos

Volto do supermercado com alguns itens da dieta básica de uma família comum. Cebola, batata, músculo bovino, banana. O suficiente para uma boa sopa de batatas com músculo. A couve estava guardada desde a última feira, o alho e a salsinha também. Arrisco um pacote de biscoitos doces e pronto. Deu para hoje e amanhã, sem qualquer dúvida. A moça da caixa passa, rapidamente, os itens e dou conta do que vou pagar.
Nada muda nas acaloradas discussões políticas, onde o “pobre”, a fome e todas as atribulações da maioria absoluta dos brasileiros são dissecadas, comentadas, bumbadas e saravadas com promessas de melhoria em todos os sentidos.
Os políticos mais importantes , todos bem nutridos, alimentados com dietas fartas, alardeiam realizações e concessões de ajudas financeiras para “botar comida na mesa do pobre”. Ou melhor, na mesa das famílias dos pobres.Sem dúvida, para quem nada tem, qualquer ajuda é festa.
Mas a que mundo pertencem esses privilegiados filhos da Viúva, da Pátria amada, salve, salve, quando exaltam fatos que deveriam ser corriqueiros na vida de cada brasileiro? Ter o que comer, com equilíbrio nutricional, o tal feijão com arroz, bife, ovo, salada e farofa,banana, laranja, abacaxi,todos os dias.
O custo dos filhos especiais da Viúva, ungidos, incensados, bentos, maravilhosos, descarados em seus discursos, sinaliza a existência sobrenatural de um mundo, quem sabe um universo paralelo onde deslizam em tapetes finamente tecidos, refletem brilhos de cristais polidos, abrigam-se em palácios, mansões e habitações hiper confortáveis, de onde saem, de tempos em tempos, apenas, para renovar suas licenças de bem-aventurados, em certames denominados de eleições.
A realidade do mundo de água, pedra, areia, cal, fome, miséria e espanto, é encoberta pelas nuvens de discursos mofados, repetidos, quase indecentes por sua falta de imaginação.
Os atordoados do mundo real, desenvolveram um sentimento especial, chamado de esperança. De tempos em tempos escutam as mesmas promessas, os mesmos apelos, até frases "geriátricas” por sua antiguidade,escolhem um lado da conversa, chegam a encolerizar-se, agredir-se, sofrer.
Saio do supermercado e noto mendigos nas calçadas próximas à porta.Alguns tentando vender confeitos para arrumar uma moeda, gente pedindo um pacote de arroz, feijão, leite. Já se acostumaram.
Não fazem parte de nenhum sindicato, associação, movimento, etc.São miseráveis autônomos.Miseráveis em tempo integral. Dormem no chão, nas praças, perambulam sem destino, agarram-se como parasitas, até que sejam retirados de alguma forma.
Vivem em outra dimensão além do mundo dos “eleitos” da Viúva míope, quase cega e além dos habitantes do mundo real, os que têm alguma forma de obter algum dinheiro em troca de trabalho.
Na ponta superior do universo maravilhoso, ninguém sai à rua para fazer compras em supermercado, ou quitanda. Isto é tarefa para a criadagem. Não usam transporte público nem conduzem seus próprios automóveis. A Viúva paga tudo. Feira, mercado, empório, carro, motorista, combustível, manutenção, renovação de modelo. Alguns têm vários motoristas à disposição para que não falte quem guie durante as vinte e quatro horas do dia.
Para os deslocamentos ou viagens de percursos longos, o avião está sempre a disposição, seja oficial, de carreira, ou particular, o tal jatinho. Esse último sinaliza o grau de importância do filho maravilhoso da Alegre Viúva. E ninguém lembra de fechar a bolsa da Velha.
Seguem os gastos estéreis com dezenas de pessoas do universo maravilhoso, todas trabalhando de barriga bem cheia, sapatos com solado inteiro, roupas adequadas ao clima de onde quer que estejam, e mais conversa. Mais igualdade entre os iguais.Não mudará nada.Diz um velho ditado: “Quem nasceu pra dez réis nunca chegará a tostão”.
Universos paralelos não se tocam


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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
21/11/2023 às 10h20

 
A caixa de Pandora do século XXI

A destruição de uma região do oriente médio, a séculos disputada por motivos diversos, desde a crença de ser o ponto de origem do universo, até a legitimidade ou não da posse por esse ou aquele grupo, ultrapassa a compreensão e a racionalidade modernas.
O território segue empilhando os capítulos de sua história de guerras, lutas, invasões, sobreposições de povos e culturas, crenças e interesses diversos a centenas de anos, com breves intervalos.Impérios, potências, hordas, tribos, ocuparam e seguem ocupando de alguma forma, aquele ponto de horror e maravilha ao mesmo tempo, na história da humanidade.
As ações de guerra aberta que estamos assistindo na TV, sentados no sofá, ou em pé no balcão do bar enquanto tomamos uma cerveja, vem causando comoção por conta da facilidade de sua divulgação. No passado, as imagens, os sons as notícias, a dor, o desespero, a covardia do terrorismo, a desfaçatez dos defensores dessa ou daquela ideia ou pretensão, não era imediata.Não tinha cor. Não tinha som.
O episódio recente, cujo cheiro de sangue, vísceras, pólvora e lixo podemos imaginar, transcende e espanta. Começou com uma agressão desavisada por parte de uma tropa de assalto de uma entidade que se imagina credenciada a matar, estuprar, torturar, sequestrar indiscriminadamente um vizinho de fronteira. As razões clamadas caem por terra, quando a crueldade, a estupidez, a covardia, a prepotência e o fanatismo prevalecem.
O mundo indignou-se ao ver as cenas, gravadas pelos próprios terroristas,assassinando, indiscriminadamente. crianças, idosos e idosas, jovens e adultos , arrastando pessoas aterrorizadas sem entender o que estava acontecendo,num espetáculo de atrocidade impossível de imaginar.
Ao destampar a própria caixa de Pandora, conseguiram atrair para si todo o nojo, a repulsa, a condenação, a ira e a resposta ao ato perpetrado. Entretanto, não pararam de agredir o vizinho já ultrajado com o ataque covarde. Surpreendendo ao mundo, continuaram seu propósito declarado de extirpar tudo além de suas fronteiras, atirando e bombardeando com milhares de foguetes, as cidades e vilarejos, atingindo a vida com escolas, hospitais, comércio, gente jovem, gente idosa.
Agora, após perceberem o mal que, ao abrir suas mentes irracionais,atraíram para si mesmos,reclamam do sabor de pólvora, horror, tristeza, fome e tudo o mais que foram buscar em sua insanidade repugnante. Mas não pararam de atirar foguetes e artilharia sobre o território do vizinho que não os atacou! Não os bombardeou nem degolou seus recém nascidos, suas crianças, seus idosos, seus cidadãos.
Descaradamente, reclamam da desproporcionalidade da resposta ao seu vilipêndio. Reclamam da falta d’água, da falta de comida, da destruição que a resposta aos seus bombardeios com milhares de foguetes e sua ação de infantaria terrorista provocou.
E seguem atirando! E reclamando!
A insanidade dos terroristas é defendida por gente oportunista, em busca de um palanque mundial para suas pretensões de “estátuas de porta de cemitério”.Figuras pequenas. Escondem-se sob o manto da ambiguidade.
Por que não condenar a continuidade dos ataques com foguetes e artilharia, em toda a fronteira norte e sul por parte dos terroristas chorões?
Que vantagem há em colocar o mundo em estado de estupor? Talvez estejam fazendo test drive de novos armamentos.
Quem sabe uma “síndrome do descalabro cruel” esteja corroendo as mentes senis de gente decrépita, perto de morrer, ainda em pé à custa da moderna medicina.
Quem é que vai tampar, novamente, a caixa da Pandora terrorista para voltarmos a viver em paz e sem sustos.

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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
20/11/2023 às 11h21

 
Adão não pediu desculpas

Depois de aceitar a maçã e quebrar as regras para a permanência no Paraíso, Adão não pediu desculpas. A lambança já havia sido feita e não ia adiantar nada mesmo, pensou.
Acabou de comer a fruta, lambeu os beiços e foi aproveitar aquela maravilha toda. Até então, não tinha a menor ideia do sabor dos pecados. A maçã foi uma desatenção.
Eva até que era bem jeitosa e apesar de não saber cozinhar nem passar, tinha outras habilidades muito mais instigantes.
A cobra foi substituída por outras semelhanças, e logo arrumaram um cachorro para dar o alarme se algum outro bicho quisesse comer a patroa ou o patrão. Ninguém iria comer a Eva ou o Adão assim, de bobeira. Qualquer tentativa e o Fido, o primeiro com esse nome, fazia um escândalo colossal, quando não resolvia a parada sozinho com suas poderosas mandíbulas. Adão já tinha, igualmente, percebido a necessidade de um porrete, de bom tamanho, para ajudar na defesa da casa.
E assim começou a aventura. Comida farta, água corrente, temperatura amena e brisa leve de vez em quando,chuvas delicadas nas palmeiras gentis e os abacates, sempre acariciados por Eva, faziam parte da dieta. Bananas, pêssegos, peras, mangas alternadas com os abacates, enfim, a maçã estava meio de lado, mas sempre presente nas ementas diárias. Foi a primeira a ser lambida, foi a primeira a ser mordida, aquelas coisas.
Já bem velho, Adão recebeu a visita de um anjo, Oficial de justiça, com uma intimação para comparecer ao portão do céu ir pedir desculpas, e ficar um pouco melhor na foto, mas sem nenhuma chance de voltar ao começo. Paraíso exclusivo, sem barulho, sem sol ou lua, ou água corrente, paisagens, etc, nunca mais.Haveria até a possibilidade de sublimação, por raios meteorológicos, da Eva, a causadora de toda a alteração no projeto.
Adão deu uma olhada no documento, não entendeu nada pois não sabia nem precisava ler coisa nenhuma, pediu para o anjo explicar o que estava acontecendo e bateu com a porta na cara do ente alado, depois de vociferar em brados: (uma novidade. Os primeiros brados proferidos )
-Não vou pedir desculpas! Fiquei sem uma costela, tirada a frio, sem anestesia, comecei a dar umas topadas e machuquei o pé e os joelhos, várias vezes até aprender a andar no chão daqui, tenho que levar o cachorro para passear, mesmo com todo esse espaço, para que ele não acabe me estranhando, ou resolva ir viver suas próprias fantasias e deixe a caverna sem guarda à noite. A Eva tem épocas que parece que está vazando, fica triste, não quer brincar de esconde-esconde,reclama bastante.Mas está melhor assim do que a chatice de ficar olhando para nada, escutando nada, saboreando nada e só, tipo estátua em jardim de milionário.
Sai fora.
O anjo guardou a petição, foi embora, reportou o acontecido para o seu chefe e foi tomar uma boa ducha para espantar aquelas vibrações profanas.
Aí, foram libertados o Tempo, o Acaso e a Fatalidade.
Mas desculpas… Não, ele não pediu.

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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
18/11/2023 às 10h02

 
No meu tempo

A nostalgia do freguês da cadeira ao lado, quase mereceu uma resposta. Mas preferi escutar silente, entreolhando o fígaro pelo espelho e a revista que me dera para assuntar, enquanto aparava o que sobrou dos meus cabelos.
O assunto era a qualidade de vida e o tema recorrente o calor siderúrgico que anda tirando o sossego de todos. Velhos ou moços ressentidos sem poupar adjetivos nem sempre gentis, para a natureza, o governo, a prefeitura, os pobres, os ricos, enfim, culpando a todos.
A moda é reclamar das “mudanças climáticas”, causadas pela mão dos homens, que desmatam, se reproduzem como marsupiais ou não cuidam dos seus entornos, da sua área, do espaço que ocupam neste mundão de D’us.
Conversa de salão de barbeiro sempre contempla as atualidades da vida em geral. O clima tem sido destaque. O outro freguês estava imerso na ilusão de que seu passado foi melhor do que o presente no qual todos vivemos, e que os jovens jamais terão a possibilidade de usufruir das saudosas delícias.
Fiquei pensando: Onda de calor? Aqui nunca foi novidade
No meu tempo...
O transporte sempre foi coletivo, para a maior parte da população. Automóveis e motocicletas atravancando-se como piolhos, é coisa quase que recente. Ficou fácil adquirir um carro ou uma motocicleta em dezenas de prestações, e reclamar da falta de lugar para estacionar ou do preço do combustível.
No meu tempo, ah no meu tempo…
Bonde, ônibus, trem, lotação. O táxi sempre foi para poucos ou para necessidades especiais. Era coisa de gente com um troquinho a mais no bolso. Até aí, sem novidades. Nas horas de movimento todos os meios ficavam entupidos de gente, pendurada até do lado de fora, caso dos bondes. Os assentos eram, originalmente, duros! Madeira! Só com a vinda dos ônibus americanos, na década de 1950, é que o estofamento apareceu.
E o ar condicionado? Seria considerado doido quem imaginasse, um dia, ônibus obrigados a ter ar condicionado em todas as linhas, fossem os bairros menos bonitos ou ricos.
No meu tempo, nem hospital tinha refrigeração mecânica como hoje.
Ar condicionado em agência de banco, só em algumas poucas e bancos estrangeiros. Ar condicionado em cinema! Ora, ora, pouquíssimos tinham tal oferta.
No meu tempo, as salas de aula em colégios pagos ou públicos, tinham janelas. E ponto final.
Merenda escolar gratuita nas escolas públicas? Nunca vi. A cantina, vendia refrigerantes e sanduíches para quem pudesse pagar. Os alunos levavam merenda para comer na hora do recreio. E ninguém ficava fazendo barulho, reclamando, agitando por conta disso.
Vale-transporte, vale refeição, semana de cinco dias. Pura ficção. Os bancos funcionavam aos sábados, até ao meio-dia.
Que “meu tempo” era esse?
Imagine ser possível trabalhar com um sapato de pano, um tênis. Só praticantes do Tênis, elegante "sport”, usavam o tal calçado. Acabada a partida, trocavam o uniforme, incluindo aí os sapatos.
No meu tempo não havia tolerância com a descompostura ao trajar-se para ir trabalhar. Paletó e calça era a roupa-padrão para homens não miseráveis. Um traje discreto, mais barato ou médio, mais caro, sob medida, etc. variando com a categoria de quem o estivesse usando. Uniformes profissionais para militares, policiais e alguns profissionais específicos.
No meu tempo, quem podia usava cambraia de linho, tropical pitex, shantung de seda. Quem não podia usava outros tecidos menos nobres. Mas sempre de paletó, camisa de abotoar, mangas compridas, e gravata! As mulheres caprichavam nos modelos, costumes, sapatos, bolsas e carteiras…
Ah, no meu tempo…
Um calor senegalês, um transporte terrível, um desconforto brutal que ninguém notava.
Era assim naquele tempo… Muito pior? Nem sim nem não. Era apenas “naquele tempo”. Daí a entender que as coisas pioraram a ponto de lamentar-se por tudo, há um oceano de argumentos e verdades menores a considerar.
No meu tempo ninguém reclamava o que não conhecia. A liberdade, a racionalidade, a mudança nos hábitos e costumes, a comunicação hiperveloz, que nos mostra o mundo inteiro com todos os seus continentes, suas cores, suas gentes, seus absurdos e suas maravilhas.
Ainda bem que estamos testemunhando os novos tempos. É o que temos que fazer.Testemunhar enquanto for nosso destino.
No meu tempo… Oooops. Meu tempo é agora.


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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
17/11/2023 às 11h01

 
Caixa da Invisibilidade ou Pasme (depois do Enem)





Isso não é defesa nem resposta. É uma tentativa. Não sei bem de quê. É sobre como as pessoas são eternamente pessoas. Existe uma caixa de invisibilidade que todos os montadores de caixas dizem conhecer. As pessoas são em essência montadores de caixas. Coisa simples é montar uma caixa. Até capenga não deixa de ser caixa. Então todos somos montadores e colocamos o que não vemos. São pedaços das coisas que não sabemos e mesmo assim colecionamos como sabedoria.

Abrimos essa caixa e dizemos:
__ Usa isso. É assim que você tem que ser.

E esse naco de objeto cai no seu rosto, perna, orelha, o que for… e te apaga um pouco. Primeiro porque a caixa é de outra pessoa e segundo, foi jogado. Se você não aceita, logo um crime vem acoplado com outro pedaço de plaquinha invisível com o dizer “dei a solução, você que não quis” é dolo eventual.

É preciso parar os coaches de como tratar a mim e pasme, coaches com instruções de como tratar a expectativa do outro. Ninguém que dá conselhos NUNCA veio ver como é. Só ouve e carimba com “sei como é”. Não, não amigui, não sabe como é.

E se for para comprovar com a razão do outro é melhor nem explicar. Porque cansa.

E vocês não vão acreditar! A pessoa aconselhada possui uma própria vida. Engraçado né? Ela tem opiniões. Muito embora ela abra mão até, olha bem “até” das opiniões, abre mão de várias horas de sono, dos passeios, inclusive paga conta que nem dela é! Ela não (nononinono) não pode fazer nem dizer o que der na telha só porque está triste ou nervosa… porque ela é a mulher invisível, lembra? Vamos colocar na mesa. Isso: a mulher invisível que mesmo assim continua sendo uma pessoa, pasme nº2: uma individualidade.

Todas essas conclusões do que uma mulher (aqui já no manisfesto feminista) que sustenta uma casa, vida com dinheiro, trabalho e cuidados, escuta o que a vai tornando invisível:

__ É só você me chamar que te ajudo. (aí você chama mas no dia a “ajudante” arrumou algo para fazer, e, faltando 15 minutos para você poder ir no @#$% qualquer, tu - tu porque tô ficando pistola- recebe um zap que tal coisa visível aconteceu na vida dela). Isso é uma toalhada invisível que passou raspando na sua bunda.

__ Tem um chá de casca de brioche com camomila e folha de árvore das cheias do Araguaia que se ferver por 35 segundos e coar no pano molhado com essência de menta faz bem para (acrescente depressão, joelho inchado, qualquer coisa). Vou trazer e você faz, viu?. (agora tacaram o pano de prato invisível no seu nariz).

__ Vou na sua casa pra a gente conversar, tá bom? (esta é uma rasteira com uma enxada da invisibilidade que arranca o seu pé, filhinhis, ninguém quer conversar, a mulher quer dormir, criatura! Quer ler, tomar banho, ver TV. Não vai, amor, não vai sem essa frase ter sido dita pelo menos três vezes pela mulher invisível.

Tem mais, muito mais. Mas o grande poder da invisibilidade jaz no predicativo de precisar ser quem A CAIXA DO OUTRO determina que você precisa ser. A mulher já anda sem pé, manca, sem pedaço de bunda, sem nariz, na sua PRÓPRIA CASA e tem que dar conta da casa, do idoso, da limpeza, das compras, do dinheiro e… ainda o Gran espetáculo: tem que ser COMO os outros ACHAM que deve ser.

Nenhuma mulher invisível tá usando droga. Nenhuma mulher invisível abandonou quem quer que seja. Nenhuma mulher invisível quer mal a ninguém. Deixa ela em paz. Deixa ser a louca da limpeza. Deixa as regras com ela da casa dela que ela paga o IPTU a luz água internet.

Não tente emendar o que tá acontecendo.

Aqui trato na essência da palavra Mulher, isso, essa que queimou o sutiã em 1960. Não disse abusadora, aproveitadora, malfeitora, mal tratadora, eu disse MULHER e coloquei a adjetivo INVISÍVEL…

Só tem uma coisa que a mulher invisível não faz, amiguini… É abrir sua caixa e jogar peças da sabedoria no outro. Isso é o super poder de quem se torna ou está se tornando invisível.


Imagem: https://obutecodanet.ig.com.br/

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Postado por Blog de Aden Leonardo Camargos
13/11/2023 às 13h41

 
CHUVA

Eduardo abriu a porta de casa, esfregou a sola dos sapatos no tapete da soleira, sacudiu o guarda-chuva do lado de fora e entrou. Depois de pousar o guarda-chuva aberto no chão para secar, suspirou aliviado. Que bom ter conseguido chegar sem maiores incidentes, pensou. Chuva desse porte no Rio de Janeiro é sempre sinal de perigo. Não é à toa que a prefeitura colocou a cidade em alerta. Dirigiu-se à cozinha da pequena casa de vila e procurou a garrafa de cachaça, aberta na véspera. Estou bem necessitado de uns goles, depois dessa viagem de ônibus de duas horas, espadanando água das poças. Motorista bom, podia não ter chegado até aqui, com as ruas esburacadas desse subúrbio. Mas chegou.

A bebida forte esquentou-o por dentro e trouxe uma sensação de alento. Sentou no sofá e ligou a televisão, preparando-se para assistir o jogo decisivo para o título do campeonato carioca. Depois dos habituais comerciais, porém, o locutor anunciou: jogo cancelado. A chuva havia deixado o gramado impraticável.

Eduardo tentou afogar a decepção com mais meio copo de cachaça. Remoeu a crescente irritação desfilando na mente as inúmeras desculpas e explicações para o excesso de chuvas ocorrido nos últimos meses. Meteorologistas e outros cientistas das mais variadas especialidades eram chamados aos canais de TV para oferecerem suas versões para o fenômeno. La Niña, dizia um deles. Errado, dizia outro, trata-se com certeza de El Niño. Aquecimento global, afirmava um terceiro. Efeito estufa. A água do mar esquentara e isso criava muito mais nuvens, pela evaporação. O fato é que não se entendiam e a chuva continuava.

Telefonou para o celular da namorada Sueli, que atendeu mal-humorada. Estava presa numa estação do BRT, o ônibus não chegava e a água continuava a subir. Combinaram um encontro no dia seguinte, se o tempo melhorasse. Com mais nada para fazer, foi dormir, ouvindo o pingar monótono pela janela.

Acordou tarde no dia seguinte, era sábado. A chuva amainara, e algumas nesgas de céu azul podiam ser vistas entre nuvens cinzentas. Mais animado, programou-se para uma ida ao supermercado. Na semana anterior fora impedido de ir devido à forte chuva. Havia inclusive rumores de desabastecimento, estradas danificadas pelas enxurradas impediam a chegada de mercadorias. Paciência, compraria o que encontrasse.

A empreitada revelou-se quase heroica, horas de espera pelo ônibus, passagem por ruas alagadas com água até os joelhos. Afinal, conseguiu voltar para casa com alguns poucos produtos essenciais, café, arroz, macarrão, nada de perecíveis. Não encontrara tampouco cachaça, que pena, a sua estava no fim. A chuva havia recomeçado com força, e ele chegou em casa encharcado.

Depois de um banho quente, ligou a televisão. O noticiário estava cheio de imagens de deslizamentos de morros, casas construídas em locais de risco desabando. Bombeiros cavavam a lama à procura de mortos. Deprimido, desligou e tentou falar com Sueli. Atendeu a secretária eletrônica. Foi para a cozinha, preparou macarrão, e comeu com uma lata de sardinhas que ainda encontrou no armário.

O barulho da chuva forte continuava pela tarde. Tentou passar o tempo relendo um livro policial de sua coleção; no entanto, não conseguiu concentrar-se. Lá pelas cinco horas, ouviu a campainha tocar. Depois de espiar pelo olho mágico, abriu a porta: era Sueli. Encharcada, o cabelo e as roupas pingavam água. O vento carregou meu guarda-chuva, explicou. Abraçaram-se forte, um aperto prolongado. Estavam ficando com medo.

Não havia muito a fazer a não ser olhar a chuva pela janela ou ver televisão. A programação normal dos canais era constantemente interrompida por notícias das enchentes. Não só as comunidades carentes estavam sendo prejudicadas: bairros abastados da cidade também sofriam as consequências das chuvas. A lagoa transbordara e inundara as ruas vizinhas; garagens de prédios de luxo ficaram alagadas, carros flutuavam dentro. A ressaca avançara pelas avenidas da orla marítima, que se encheram de espuma do mar.

Eduardo e Sueli ficaram em casa, não havia como sair mais. Cozinhavam os poucos alimentos que ainda restavam, ouviam o barulho da água caindo e das trovoadas. Sueli, religiosa, colocou uma pequena imagem de Nossa Senhora de Aparecida, que trazia sempre na bolsa, numa prateleira da estante. Postava-se em frente e orava, as mãos em prece. Vem rezar também, Dudu, chamava. Agora, só se Deus ajudar. O namorado, cético, resistia.

Passaram assim o fim de semana. Segunda feira, desistiram de ir trabalhar, não havia ônibus mesmo. A TV transmitia também notícias de canais internacionais. Parece que o mundo todo estava sendo afetado pelas chuvas. As ruas de Nova York estavam inundadas; o rio Mississipi transbordara e alagara as cidades e planície ao redor. Na Europa, rios transbordavam, morros desabavam. Em lugar algum havia sinais de estiagem, a chuva só engrossava. As autoridades pediam calma, mas não conseguiam atender aos milhões de desabrigados.

Lá pelo meio da semana, quando assistiam televisão no começo da noite, ouviram um estrondo e todas as luzes se apagaram. Deve ser a subestação de eletricidade que explodiu, calculou Eduardo. A vizinhança toda ficou no escuro, e agora, também, sem informação.

Pouco depois, ouviram um barulho forte de correnteza, parecia que a rua tinha virado um rio caudaloso. Perceberam que a água começava a entrar por debaixo da porta.

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Postado por Blog de Diana Guenzburger
19/9/2023 às 17h51

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