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Quarta-feira,
17/3/2021
Exposição curiosa aborda sobrevivência na Amazônia
Enderson Oliveira
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O artista visual paraense Mauricio Igor possui diversas obras expostas no Brasil e em Portugal. Foto: ARCES
A exposição “Ventos do Norte”, do artista visual paraense Maurício Igor, será aberta na próxima sexta-feira (19), em Belém. Instalada no Espaço Cultural Candeeiro, o público poderá “visitá-la” gratuitamente sem sair de casa através do site https://www.candeeiro.art.br/.
A exposição reúne ventiladores com gambiarras e histórias curiosas dos seus ex-donos. Isso mesmo! No processo de criação, que partiu de anúncios veiculados em postes e em redes sociais, Maurício adquiriu os eletrodomésticos das pessoas que entraram em contato para vender tais aparelhos e contar suas trajetórias, repletas de “jeitinhos”.
A exposição estará disponível de 19 de março a 19 de maio de 2021 clicando aqui!
Fundamentais nas residências na Amazônia, sabemos que, devido às altas temperaturas, fazemos o possível para manter os ventiladores em bom funcionamento, garantindo assim o mínimo conforto diante do forte calor. Para isto, muitas vezes, recorre-se a "gambiarras", isto é, pequenos e criativos ajustes que, se não resolvem de fato o problema, ao menos oferecem soluções paliativas.
Um dos cartazes pregados em postes de Belém para divulgar a curiosa ação/ processo criativo do artista. Foto do próprio Maurício Igor
“Estou bem ansioso para ver como o público vai receber a exposição, por se tratar de objetos do nosso dia a dia ali colocados enquanto obras de arte. Me agrada muito essa aproximação”, comenta Maurício. É ainda o artista que antecipa algumas das histórias curiosas: “as histórias dos ventiladores são as mais diversas, como o Mário (dei aos ventiladores os nomes de seus antigos donos) que foi consertado durante um feriado. Não havia onde comprar um novo, então foi improvisada uma base de madeira que ficou tão boa que não houve a necessidade de comprar um novo. Outra situação curiosa é que nessas histórias há alguns ventiladores que recebem apelidos, como ‘Robocop’ ou ‘esqueleto’”, antecipa.
Através da exposição, Maurício pretende mostrar o quanto pequenos hábitos e práticas possibilitam a observação e compreensão da população amazônica, em especial dos paraenses, destacando nossos modos de experiência, adaptação e criatividade.
Trecho da obra de Maurício Igor
“Os ventiladores são bem característicos aqui na região. Com o clima quente, eles fazem parte também da nossa sobrevivência e adaptação. Assim, vejo as gambiarras como estratégias de manter essa sobrevivência quando eles quebram ou apresentam algum defeito. Paralelo a esta ideia, o trabalho também levanta reflexões sobre a sobrevivência na/da própria região Amazônia e as vidas que nela residem", explica.
Por ser inovadora e se aproximar do cotidiano da população, a ideia da obra viralizou nas redes sociais e também chamou atenção de pessoas envolvidas indiretamente com sua constituição. “Após efetuar a compra de ‘Glauber’, recebi uma mensagem do motorista do Uber que o trouxe dizendo que viu o anúncio colado na parede e que tinha ventiladores como eu procurava, também comentava que um amigo tinha muitos desse. Foram relações construídas de forma orgânica, tal qual os consertos para manter a sobrevivência na região”, destaca Maurício.
Cartaz de divulgação da exposição
Tal panorama, curioso e rotineiro, toca a vida de algum modo de todos nós, se espraiando também de forma ágil e em movimentos sinuosos por diversas áreas, tal qual as hélices dos ventiladores. “Esses reflexos aparecem em diversas vertentes, como políticas, sociais, econômicas, artísticas... É como se o restante do país não nos olhasse como deveria, o que é realmente triste, pois o Norte e a Amazônia, são de uma potência e importância gigantescas", finaliza o artista.
PROGRAMAÇÃO
O projeto “Ventos do Norte” foi selecionado no Edital de Pesquisa e Experimentação da Aldir Blanc Pará, em Artes Visuais, promovido pela Associação Fotoativa. Durante a programação, estão previstas também outras atividades, como uma mediação virtual, que ocorrerá dia 26 de março; uma oficina de lambe em 16 de abril e, encerrando a exposição, o “Café com artista”, no dia 19 de maio.
Acesse a programação clicando aqui
No mesmo período, o Espaço Candeeiro receberá ainda outra exposição, “Registros Gerais”, de Rafael Matheus Moreira. Ambas possuem a curadoria de Heldilene Reale e estarão disponíveis no site do estabelecimento.
MAURÍCIO IGOR
Mauricio Igor é graduado em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará. Em 2019, foi contemplado com bolsa do Programa Santander de Bolsas Ibero Americanas para estudos de um semestre na Faculdade de Belas Artes na Universidade do Porto, em Portugal.
Conheça mais obras de Maurício Igor acessando seu site
Seu trabalho é focado em reflexões sobre o corpo não hegemônico, atravessando questões de identidades inseridas em temas como miscigenação e sexualidade. Tais processos se desdobram em fotografias, performances, vídeos, textos, intervenções e instalações. Por meio destes, participou de importantes exposições coletivas no Brasil e em Portugal, além de já ter sido capa da revista luso-brasileira Performatus em 2020. Com a série “Ô lugarzinho pra ter viado!” recebeu menção honrosa no FotoSururu - 1º Encontro de Fotografia Criativa, em Maceió-AL, e com a criação “Como descobrir o que não é desconhecido?” também recebeu menção honrosa na Open Call Intervenções Artísticas SUPERNOVA, na cidade do Porto, em Portugal.
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Postado por Enderson Oliveira
Em
17/3/2021 às 09h45
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