Blog de Anchieta Rocha

busca | avançada
99796 visitas/dia
2,4 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Terreiros Nômades promove encontro entre Salloma Salomão, escolas municipais e comunidade
>>> Instrumental Sesc Brasil apresenta Filó Machado no Sesc Consolação em show gratuito
>>> Escritor e diplomata Ricardo Bernhard lança obra pela editora Reformatório
>>> Teatro Portátil chega a São Paulo gratuitamente com o espetáculo “Bichos do Brasil”
>>> Platore - Rede social para atores
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Gerald Thomas: Cidadão do Mundo (parte III)
>>> Mondrian: a aventura espiritual da pintura
>>> A proposta libertária
>>> A recessão está chegando
>>> A poesia concreto-multimídia de Paulo Aquarone
>>> Não quero encontrar você no Orkut
>>> Inferno em digestão em Terra sonâmbula
>>> Jorge Drexler, no Bourbon Street, em 2009
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> O bode das drogas
Mais Recentes
>>> Como Educar Sua Mente. O Guia Para Ler E Entender Os Grandes Autores de Susan Wise Bauer pela É Realizações (2015)
>>> Qorpo - Santo Teatro Completo de José Joaquim de Campos Leão pela Mec Funarte (1980)
>>> Arqueologia da Violência de Pierre Clastres pela Cosac Naify (2004)
>>> 1001 Musicas Para Ouvir Antes De Morrer de Robert Dimery pela Sextante (2012)
>>> Trilogia Orestéia De Ésquilo - Box Orestéia Trilogia de Jaa Torrano pela Iluminuras (2004)
>>> A Filosofia e Sua História de Gérard Lebrun pela Cosac Naify (2006)
>>> Maçonaria - Simbologia e Kabbala de Ali A´L Khan pela Madras (2010)
>>> Fundamental Chess Endings de Karsten, Lamprecht, Frank Müller pela Gambit Publications (2009)
>>> Es Roman de Stephen King pela Heyne (1987)
>>> HQ/Gibi O Livro do Zorro - Volume 8 de Desconhecido pela Ebal (1980)
>>> HQ/Gibi O Livro do Zorro - Volume 5 de Desconhecido pela Ebal (1980)
>>> HQ/Gibi Reis do Faroeste - Volume 21 de Desconhecido pela Ebal (1984)
>>> A Elegância Do Ouriço de Muriel Barbery pela Companhia Das Letras (2008)
>>> HQ/Gibi Nevada Kid - Ai Mocinho! - Volume 11 de Desconhecido pela Ebal (1981)
>>> HQ/Gibi O Livro do Zorro - Volume 6 de Desconhecido pela Ebal (1980)
>>> Seis Passeios Pelos Bosques Da Ficção de Umberto Eco pela Companhia Das Letras (1994)
>>> HQ/Gibi Tarzan - Volume 15 de Edgar Rice Burroughs pela Ebal (1978)
>>> Apocrifos I. Os Proscritos Da Bíblia Vol. 1 ao 4 de Maria Helena Tricca pela Mercuryo (2005)
>>> HQ/Gibi Fantasma - Edição Histórica - Volume 33 de Lee Falk pela Saber (1997)
>>> Padre Sérgio de Liev Tolstói pela Cosac Naify (2015)
>>> Máscaras De Narcico - Estudos Sobre A Literatura Autobiográfica Em Portugal de Clara Rocha pela Almedina (1992)
>>> HQ/Gibi O Fantasma - Volume 19 de Desconhecido pela Saber (1971)
>>> HQ/Gibi ALmanaque do Fantasma - O Segredo das Ruínas de Desconhecido pela Rge (1978)
>>> Os Clássicos Da Política - Volume 1 e 2 de Francisco C. Weffort pela Ática (2010)
>>> Teoria Do Romance s) de Donaldo Schuler pela Atica (1989)
BLOGS

Quinta-feira, 1/10/2015
Blog de Anchieta Rocha
Anchieta Rocha
 
O estripador

"Jack conheceu Norma, prostituta. Apunhalou-lhe o coração. Apossou-se de suas entranhas com furor e gozo. Extirpou as nódoas de sua alma. Montou casa e amou-a visceralmente."

(Deste blogueiro, do romance Dias de vinho e de chumbo, Editora Jaguatirica)

[Comente este Post]

Postado por Anchieta Rocha
1/10/2015 às 10h58

 
Do lado de fora

Todo dia é a mesma coisa: chega um dá um feijão, outros não dão nada, muitos resmungam. Mas o que eu mais queria é entrar no supermercado e andar com um carrinho daqueles que levam menino em baixo. Queria também ver minha mãe, meus irmãos, meu... - nem sei se é meu filho, gosto dele de todo jeito, meus amigos dizem que não é, minha mulher jura que é, eles falam que agora tem um exame que mostra quem é o pai.

Não sou letrado, burro também não sou. Sei ler um jornal, meio arrastado, mas leio. Tem hora que agarro se esbarro numa palavra que eu não conheço.

Já tive carteira assinada e fiz tiro de guerra. Mas de uns tempos pra cá dei de desandar com as coisas. Deve ser a bebida. Miolo mole não é.

Fico pondo atenção nos fregueses do supermercado e nos carros deles. Conforme, eu nem peço pra tomar conta. Uns, se bobear passam por cima. Tem um ricaço, me dá as coisas, nem que seja um troco. A mulher dele torce o nariz e larga dele conversando comigo. Quando ela não vem, o homem fala mais e fica rindo das coisas que eu conto. Tem vez que me goza também. Um dia, com a cara mais boa do mundo chegou e perguntou por que eu gostava de ficar sentado com a bunda nos saco - fez uma pausa, disse de lixo e riu. Eu não sei nada da vida dele, mas leva jeito que foi pobre também. Um cachorro cheira o outro.

Muita gente sai com umas sacolinhas de nada ou com a mão abanando. Tem vez que até dou um pouco do meu.

As meninas do caixa não tem nenhuma ruim. Até mandam umas coisas de comer quando dão de me ver triste. Se o gerente não está por perto, elas fazem sinal, eu corro pro bebedouro e encho a garrafa. Os empacotadores são gente boa. Tem uns sacanas também. Quando o movimento está fraco, eles procuram um pra tentar, igual o Dibanda - apelidaram ele por causa do andar torto - que num dia escondeu um rato morto no meio das minhas coisas e que eu só fui perceber mais tarde em casa.

Uma menina não sai da minha cabeça: a do guarda-volume. De tão parecida com minha mulher, parece que é até gêmea com ela.

Mas o pior de tudo é de noite no barraco quando não tem ninguém pra conversar.

Desde pequeno vivi numa casa cheia, gente entrando e saindo, tudo feliz, uma farra só. Nos sábados, muita coisa pra fazer, uma laje pra bater na casa dum parente, dum amigo, um samba. Do meio-dia pra tarde as mulheres e os meninos iam chegando, a gente acendia o fogo e assava carne. Uma casa de telhado é chique, mas o melhor lugar do mundo é na laje. Se a vida não está boa, você sobe, senta num canto, espera passar.

Depois que o menino nasceu, tudo mudou. Daí comecei a embaralhar com as coisas. Tinha dia que eu olhava no espelho e não sabia quem estava do outro lado.

Saí de casa com a roupa do corpo. Bati perna, dormi no tempo, acabei no meio de caixa de papelão e de saco de lixo.

Gente boa, gente ruim. Gente entrando, gente saindo. Uns te dão água, outros te dão rato morto.

Tenho medo, muito medo. Medo de pesadelo de noite. Medo de pesadelo, não. Pesadelo todo mundo tem. Medo de não ter ninguém pra bater no braço e me acordar.

Eu só queria entrar no supermercado. Não ia importar com nada. Só queria entrar, fazer ziguezague com o carrinho nos corredores, cantar as rodas nas curvas das prateleiras, mexer com o cara da balança, torcer uma uva e enfiar na boca sem ninguém ver, passar na menina do guarda-volume e chamar ela pra dançar quando a gente era noivo.

[Comente este Post]

Postado por Anchieta Rocha
15/9/2015 às 15h47

 
Macarrão de Santa Casa

Me chamou de Macarrão de Santa Casa e voei nele. Um fio de sangue desceu pra blusa do uniforme. Veio pra cima de mim e chutei pra longe a faquinha de arco de barril.

Cheguei em casa todo sujo, a bunda rasgada. Mamãe perguntou o que eu tinha aprontado daquela vez. Antes de abrir a boca me enfiou a chinela e apontou pro quarto.

Mais tarde mandou meu irmão levar o prato de comida.

O cara mexia comigo toda vez que me via. Além de branquelo, eu era ruivo. Canário Chapinha, Cabeça de Fogo, tinha muitos apelidos. O mecânico mal me via, assobiava imitando passarinho. As amigas das minhas irmãs invejavam o meu cabelo. Eu morria de raiva.

No dia seguinte na escola, a conversa foi uma só: eu tinha tirado sangue no cara e tomado a faca dele. Os meninos chegavam e perguntavam — me fizeram contar a história muitas vezes. Aproveitava e floreava mais ainda. Sua irmã, a menina mais bonita da sala, nunca mais olhou pra mim e ainda espalhou que eu ia ter com o irmão mais velho. Eu estava ferrado. Em casa, mamãe de cara fechada o tempo todo. Na escola a menina me dava gelo.

Fiquei muito tempo tentando me aproximar dela. No início, se estava no murinho do pátio, eu tentava sentar perto. Me via, levantava e corria pra junto das colegas, procurando refúgio. Na festa junina da escola no changer des dames segurava minha mão e nada de ficar suada como antes. No torneio de futebol, me arrebentando pra chamar sua atenção, torcia contra mim, gritando o nome do goleiro adversário.

O pior estava pra acontecer - e aconteceu. Foi numa tarde chuvosa e barrenta no fim da aula. O professor Licínio contava as façanhas de Alexandre, o Grande. Perto da janela, Coalhada fez um movimento com a cabeça indicando a rua. O irmão do cara estava a fim de me pegar, completou Lelé.

O sinal tocou. Do fundo da pasta tirei minha arma.

Alisando a ponta do compasso que sempre mantinha afiado, caminhei pro portão, o rosto pegando fogo, a veia do pescoço pulsando.

Foi do irmão mais velho o soco que me atirou no chão. O outro me encheu de pontapé. A pancadaria só parou quando ela chegou, começou a gritar e abaixando me protegeu.

Naquele dia mamãe não me bateu. Chorou comigo, pondo compressa no olho inchado.

Fiquei humilhado. Na hora do recreio procurava um canto ou ia pra biblioteca.

Tinha poucas chances, mesmo assim não queria que acabasse daquele jeito. Uma vingança - ela ia ver.

Uma semana antes das férias, me aproximei de sua amiga.

- Minha mãe vai me mandar pro seminário. Acha que assim é melhor pro meu futuro, pra minha formação - ouvido de não sei de quem e que achava que impressionava.

Enquanto falava, me passava pela cabeça um filme italiano preto e branco que tinha assistido no Cine Brasil, o pai e a mãe ficando pra trás na plataforma, na janela do trem o menino dando adeus, a chuva miúda, uma musiquinha triste.

Deu pra ver o estrago na cara da amiga.

Os dias passavam, os professores não paravam de falar, e eu aguardava o sinal do recreio e o fim da aula pra percorrer com o olhar inquieto todos os cantos do colégio. De noite só dormia depois de projetar durante muito tempo na tela branca do teto do meu quarto as imagens que enchiam a minha cabeça. Uma hora ela afastava a mecha do cabelo, e em seguida uma lágrima descia no rosto pela minha partida. E eu mais bobo ainda, acreditando que o que eu inventava era verdade, segurava o choro até não aguentar.

[Comente este Post]

Postado por Anchieta Rocha
1/9/2015 às 10h06

 
Flaubert - não por acaso

Descrição dos varões feita por Flaubert em Madame Bovary no baile na residência do Marquês d'Andervilliers:

"Alguns homens (uns quinze), de 25 a quarenta anos, espalhados por entre os pares, ou conversando na entrada das portas, distinguiam-se dos restantes por certo aspecto grave, apesar das diferenças da idade ou do traje. As suas casacas, mais bem feitas, pareciam de melhor tecido, e os cabelos, puxados em caracóis para a fronte, lustrados com pomadas mais finas. Tinham o aspecto da riqueza, brancos, realçados pela palidez das porcelanas, as ondulações do cetim, o polimento dos belos móveis, e conservados por um regime discreto de alimentos esquisitos. Os pescoços se moviam, sem esforço, nas gravatas baixas; as suíças compridas caíam-lhes sobre os colarinhos de ponta; limpavam os lábios em lenços com vistosos monogramas bordados e dos quais se desprendia um aroma suave. Os que começavam a envelhecer pareciam jovens, ao passo que na fisionomia dos mais novos notava-se alguma coisa de maduro. No olhar indiferente flutuava a quietude de paixões diariamente saciadas; e, através das maneiras discretas, transparecia a brutalidade peculiar ao domínio de coisas fáceis, nas quais a força se exercita e a vaidade se satisfaz; governar cavalos de raça e conviver com mulheres perdidas."

[Comente este Post]

Postado por Anchieta Rocha
13/8/2015 às 16h59

 
No fundo bem no fundo

Abre as pernas — eu disse encostando o revólver na cabeça dela.

Tinha planejado pra quando voltasse do serviço. Ia obedecer do jeito que eu queria.

Naquela noite, saí do bar mais cedo. O movimento tinha sido fraco por causa da chuva. Foi até bom que assim eu pude sossegar no pensamento. O colega notou o meu arredio. Contas pra pagar, eu disse.

Lavando os copos, o olhar perdido na televisão, ela vinha na minha cabeça, rindo, jogando o cabelo pra trás. Eu dizia coisas sem sentido pros fregueses, empurrando o tempo, as ideias insistindo, igual a chuva no teto do bar. Enfiava a mão debaixo da blusa fora da calça, alisava o cano do revólver e as coxas dela Nas vezes que passava por mim, meus olhos corriam seu corpo da cabeça aos pés. Falava entre os dentes que um dia ainda ia meter naquela gostosura.

Aquela noite eu arrebentava com tudo. Fiquei tão agitado que depois do serviço entrei no primeiro bar.

O conhaque bateu na barriga e na cabeça.

Toda vez que bebo, as ideias embaralham. Aí começo. É como mergulhar num poço e buscar alguma coisa perdida no fundo, bem no fundo. Sem mais nem menos, um negócio agarrado na infância veio na cabeça. Nunca contei pra ninguém, nem pro meu irmão, nem pro melhor amigo. Sempre que acontecia uma coisa diferente, eu corria pro quintal e ficava conversando com as formigas até não poder mais.

Meu pai falou que ia viajar. Pôs o revólver na cintura por dentro da blusa e saiu. De noite, quase dormindo, ouvi um barulho na sala. Levantei e pela greta da porta vi o Tio Tonho entrando. O Tio Tonho era o tio que eu mais gostava. Brincava comigo de jogar pra cima.

No meio da sala, ele e a minha mãe beijando na boca. Não vi mais nada. Voltei pra cama e enfiei a cabeça debaixo da coberta. Logo em seguida os gemidos vindo da cama de casal.

Jurei por Deus que quando o pai chegasse eu ia contar tudo. Mas depois arrependi, ele era capaz de qualquer coisa. Mesmo morrendo de raiva eu não queria que nada acontecesse.

No dia seguinte, na hora do café, mexendo no fogão, virou e me olhou diferente. Perguntou se eu queria leite. Não respondi. Apanhei um biscoito no prato e saí com a pasta debaixo do braço.

Fiz que ia pra aula, dei volta na frente da casa, atravessei o beco e fui pro quintal - pro fundo, bem pro fundo.

Sentei na porta de cabana feita de bambu e telhado de folha de coqueiro, igual tinha visto num livro do Robson Crusuê.

Passado um pouco, vi que uma fileira de formiga atravessava um galho tombado sobre um fio de água. Fiz uma ponte com dois pedaços de bambu e barro alisado. Ainda assim preferiam dar a volta longe de onde eu estava. Cerquei todas até que aprenderam o novo caminho.

Não demorou, já conversava com elas. Perguntei uma porção de coisa. Mexia com uma e com outra. Cheguei a fazer uma musiquinha:

Passa, passa, formiguinha Passa, passa sem parar Se não travessar pinguela, Tamanduá vai te jantar

Fiquei muito tempo na cabana. Contei tudo da minha vida. Só não contei por que eu não tinha ido à aula.

***

Paguei a bebida e saí. Eu não estava tonto, mas minha cabeça era uma confusão danada. Acariciava o revólver debaixo da blusa o tempo todo. Atravessei a rua alisando as coxas dela até em cima. Úmida e quente a cidade.

Deitei ao seu lado e senti o calor no lençol. Encostei o revólver no rosto suave. Desci a mão, fiz a curva da cintura, forcei as coxas resistentes. Tirei o dedo e cheirei. Esfreguei no nariz dela e perguntei de quem era.

Apoiou o queixo no peito e ficou calada. Peguei o revólver com força, enfiei fundo, bem no fundo.

- É dele?

Não falou nada.

Fiquei esperando até a última gota de sangue escorrer pro lençol.  

[Comente este Post]

Postado por Anchieta Rocha
2/8/2015 às 10h21

 
Fim de jogo

Eu trabalho no hospital faz tempo. Já vi todo tipo de sofrimento. Doença, parto, qualquer acidente, levo a pessoa na ambulância e ponho na mão do médico. No início ficava noite sem dormir, as coisas rolando na cabeça, só tristeza, pesadelo um atrás do outro, acabei acostumando. O sofrimento dos outros ajuda a esquecer os meus problemas. Que Deus me perdoe, mas na vida não é assim? As pessoas não se distraem vendo desgraça na televisão?

Eu não sabia fazer nada. Não tinha ofício, não estudei, mal tirei o grupo. Nem sei como o volante da ambulância veio parar na minha mão. Não demorou, já estava fichado no hospital.

De tanto socorrer os outros, aprendi muita coisa. Tem dia, bato o olho no defunto e sei a causa da morte. Levo pro hospital e os médicos muitas vezes confirmam o que eu acho que é. Chego até apostar com os colegas. Já acertei muito. Só de ver um cara borrado eu adivinho: enfarto - não dá outra. Um dia acertei na morte dum ricaço numa mansão — overdose de cocaína por causa da língua gelada.

Duns tempos pra cá, as coisas já não mexem mais comigo. Mas naquele domingo, quando cheguei no lugar do acidente, que olhei o menino morto no chão, me deu vontade de voltar. Não sei se porque o que estava acontecendo era triste mesmo, ou se naquele dia, antes de sair, perdi o controle e dei uma surra no meu filho. Deu vontade de deixar a padiola no local e correr pra casa.

Era sempre assim — toda vez que eu batia nele eu sentia um negócio ruim. Nesse dia foi pior. Quando parei de bater, com a voz quase sumindo, ele disse que queria ter um pai melhor.

Fui pro quarto, fiquei sentado na beira da cama até a mulher entrar e dizer que eu tinha que atender um chamado. Na hora que saí nem quis olhar pra ele no canto do sofá.

Liguei a sirene e com vontade pisei no acelerador pra queimar a raiva que ia dentro de mim.

Gente em volta dum corpo e uma sangueira danada. O muro que veio abaixo esmagou a barriga do menino. Os rapazes no bar contavam como tiraram ele. A mãe foi arrastada pelos vizinhos.

Não demorou, o pai apareceu na esquina. Vinha do campo, alegre da vida. No ouvido, o radinho de pilha com o escudo do time. Passou pelos amigos na porta do bar e apontou com orgulho a camisa. Tinha os olhos vermelhos por causa da bebida.

Quando viu o bolo de gente, se espantou. Viraram pra ele, coisa ruim tinha acontecido, logo pensou.

Abriu a roda, ajoelhou, começou a chorar e ficou passando a mão no rosto do menino.

Tentaram tirar ele de perto, em vão. Continuava passando a mão pelo corpo do menino, no peito, no cabelo.

Começou então a pegar as vísceras espalhadas no passeio e colocar de volta pra dentro da barriga. Ficou um bom tempo catando os pedaços, falando uma porção de coisa que não dava pra escutar porque no chão o radinho de pilha com o escudo do time não parava de repetir os gols.

[Comente este Post]

Postado por Anchieta Rocha
12/7/2015 às 19h11

 
Campo de avião

Debruçado na pia da cozinha, chupando manga ubá, ouvi o ronco do motor vindo do alto. Larguei tudo e corri pro quintal. No rumo do abacateiro ainda pude ver as letras do avião, apesar da pouca luz do fim de tarde. Achei que ia bater, acabou ganhando altura. Não entendi o que estava acontecendo. Corri pra praça, cada um dava um palpite.

- É o noivo da Jandira dando rasante pra fazer bonito!
- O piloto perdeu a rota!
- É pane, olha ele cambaleando!

O Said, advogado formado de novo, querendo mostrar serviço, foi até o jardim e mandou os motoristas de praça subirem pro campo pra clarear a pista pro avião pousar.

Confusão igual na cidade, só com enchente, quando não tinha aula, bom pra bater perna. O prefeito era o mais agitado. Avião nenhum tinha descido na cidade desde a inauguração do campo que só servia pra soltar papagaio e encontro de casal.

O Precioso, sempre trazendo uma garrafa de pinga e uma bisnaguinha de salame pros fregueses mais chegados, foi o primeiro a subir com o carro de praça.

Dentro de pouco tempo, levantando poeira, uma fileira comprida ganhava a estrada. Motocicleta, lambreta e bicicleta também. Até o Coelho, se não é o soldado, subia com a Baiana puxando a carroça.

Eu não queria ficar de fora do que acontecia.

Abro a porta pra ganhar a rua - lanterna na mão, presente do padrinho - papai planta na minha frente e "aonde pensa que vai?"

Ficar em casa amuado, olhando aquela montoeira de gente subindo, sem nunca ter visto um avião de perto, e pior, no dia seguinte na aula, ter de escutar as histórias dos colegas, e o bobo aqui mudo, parado, invejando todo mundo sem ter nada pra contar? Papai podia me comer na correia que eu ia. Por causa de marca na perna nunca deixei de fazer o que me dava na cabeça.

Volto, finjo que vou pro quarto, fujo pela cozinha, pulo o muro, invado o quintal do vizinho, assanho as galinhas e ganho a rua.

O avião não parava de sobrevoar a cidade. Sumia e apontava na Ponte da Aldeia, rumava pro outro lado, pegava altura depois do Matadouro e vinha de novo. Voltava alto, a luzinha quase sumindo na Taquara Preta. Dentro da igreja era difícil segurar os fiéis na novena pra São Lourenço. Ninguém queria tirar o pé do adro até ver o que ia acontecer. "Não chega os filhos do juiz que perderam a vida num desses, faz pouco vindo do Rio?" - dizia ao padre, Licurgo, o sacristão.

A cidade toda no campo. O sargento do destacamento, já rouco, dava ordens com o auxílio do também rouco alto-falante do Zé Boi, que só servia para noticiar funeral.

Por fim, depois de muita poeira e confusão, os soldados conseguiram colocar os carros lado a lado, formando um corredor.

Não demorou e o barulho do motor aumentou. A luzinha apareceu no rumo do poente. Tão logo o último carro emparelhou com o Studbaker do grã-fino do cartório, o avião veio baixando, até que as rodas quicaram, assustando as pessoas. Depois parou de vez, perto da baratinha do coletor.

Foi uma buzineira só. Todo muito correu pra ver de perto o avião da Aero Sita.

De dentro apareceu um sujeito de bigode fino, com uma jaqueta de couro e óculos sobre o gorro de aviador.

- A cara do Marlon Brando - suspirou a moça.

O prefeito foi o primeiro a chegar perto pra convidar ele pra jantar.

Aflita, mamãe me esperava na sala. Falou que eu podia entrar que papai já estava dormindo. Curiosa que era, nem ralhou comigo. Disse que estava morrendo de fome e perguntei o que tinha pra comer.

- Vai lavar os pés enquanto eu quento.

Falava sem parar e engolia o escaldado com ovo. Contei desde o começo quando o soldado me barrou na subida, que tive que dar uma volta grande pra ver o avião de perto, pegar nele e alisar a lataria do motor, quente ainda, porque a coisa que eu mais gostava era ir pro mato, catar pipa, ir talhando com o canivete até aparecer um Douglas ou um Constelation, cada um que só faltava roncar.

Mamãe ficava impaciente querendo ouvir o resto da história.

- Os carros já estavam tudo um do lado do outro. Não tinha nenhum na cidade. Tão logo cheguei o avião apontou. Com muito cuidado fui engatinhando pro soldado não me ver.

Fiquei no meio dum Buick e dum Packard. Quando vi que estava baixo, quase encostando no chão, enfiei a mão no bolso, puxei a lanterna, acendi e joguei o facho de luz na pista. A minha mão tremia.

Mamãe ouviu em silêncio, os olhos fixos em mim. Tenho certeza que teve orgulho da minha aventura.

Fui pro quarto e fiquei pensando no que aconteceu. Levantei, peguei a lanterna na sala e voltei pra cama. Virei pro canto e pus ela perto da parede. Apertei o botão de acender e nada do facho forte — só uma luz fraca já apagando. Eu fechava e abria o olho e via a brasinha sumindo. Ficamos assim os dois: ela fraquejando, raleando, eu piscando, insistindo em prolongar aquela noite.

[Comente este Post]

Postado por Anchieta Rocha
1/7/2015 às 10h14

 
Dois caras

Um tem um pit bull e briga bem. O outro tem um menino e toda noite vê novela com a mulher. Um foi feito de porra, o outro de sêmen. (Coletânea Geração em 140 caracteres- Geração Editorial)

[Comente este Post]

Postado por Anchieta Rocha
15/6/2015 às 11h44

 
Cheia

Eu tinha acabado de trancar a porta da cozinha pra correnteza não levar o fogão, quando ouvi um barulho no quarto. Com a água alta, o guarda-roupa tinha tombado. A caixa de papelão com o vestido de noiva tinha acabado de passar pela janela e ganhava a cerca no fundo do quintal. Limpei uma lágrima com a mão suja de barro. Nessa hora achei que o João não ia me querer mais. A gente se gostava, o casamento já estava marcado, mas aquele vestido de noiva me dizia qualquer coisa. Na curva do rio a caixa ainda fez que ia agarrar num galho de árvore. Veio uma onda mais forte e levou. Fiquei um tempão olhando pra fora pensando no João. Nós namorando de pouco, ele longe, eu grávida. Se fosse homem, chamava João também, mas não ia criar o menino na beira do rio.

O rio tinha vez que dava raiva. Já teve enchente das bravas, mas essa última era um aviso que coisa ruim estava pra acontecer. Nessa hora quis que me levasse. Não fui por causa do menino. Um passo pra frente e pronto. Na beira do barranco passei a mão na barriga e senti mexendo. Fiquei com remorso, dei as costas pra correnteza e esperei me acalmar. Andei um tempo sem rumo, até que fui dar no lugar mais alto do quintal onde o João ficava comigo quando vinha me ver. Lá a gente deitava debaixo das árvores, o rio, silencioso passando, espiando nós na rede.

Tudo começou numa tarde quando ele chegou da draga de puxar areia que ficava depois da cachoeira. Eu nunca achei que a coisa podia acontecer tão depressa, sem a gente conversar antes. Eu gostava dele um pouco. Um pouco só de olhar. Um pouco dum jeito que ainda não sabia se queria ou não.

Ele veio chegando, me pegando e apertando na árvore, respirando fundo, eu assustada, tudo tão depressa, igual um rio, arrebentando tudo, invadindo o vale, a água entrando na terra.

Sempre vivi ali - a minha vida inteira entre o quintal e o remanso, brincando com as bonecas e os irmãos. Minha mãe teve nós todos na beira do rio. Meu pai tirava o sustento da família com a draga, mas quando ficava ruim de areia, ele armava rede e chegava com o embornal cheio de peixe.

Depois que conheci o João as coisas mudaram. A minha vida ficou mais bonita. Ficou mais bonita porque eu arrepiava só de pensar que o rio que molhava os meus pés era o mesmo rio que banhava o corpo dele lá em baixo. Quando o João não vinha, tinha vez que sumia, eu deitava na rede, ficava olhando pra correnteza, os pensamentos passando. Tinha noite, nas quentes e claras, entre um sono e outro, eu confundia tudo, uma confusão boa. Se deixasse eu ficava ali a vida inteira, o pensamento embaralhando nas pedras, alisando a água.

A rede, o rio e o João até no dia que reparei na barriga. Fiquei alegre por causa do menino e triste porque queria casar na igreja com vestido de noiva e tudo. O João sumia sem dar notícia. Outra ele não tinha. Outra ele não tinha porque sempre que voltava, vinha que nem o rio, arrebentando com tudo pela frente.

O tempo foi passando, as águas crescendo e a minha barriga também. O pessoal começou a falar que podia ter enchente duma hora pra outra, que era melhor juntar as coisas e levar prum lugar mais alto. Não acreditava que o rio ia fazer uma traição comigo, invadir minha casa, roubar o que eu tinha. De uns tempos pra cá eu tinha pegado a mania de ficar dentro d'água quieta, abobalhada, vendo ele alisar a minha barriga já grande. Até defendia ele. Quantas vezes eu falei pro pai e pro João pra parar de tirar areia, que aquela tiração danada ainda acabava prejudicando ele.

A enchente veio que veio. Quebrou ponte, matou bicho, levou gente.

O rio cobriu o telhado e eu subi pra parte mais alta do terreiro.

Não quis sentar na rede cheia de folha. Cheia de folha não por causa da chuva. Cheia de folha porque tinha muito tempo que eu e o João não deitava nela.

A dor chegou forte. Procurei um lugar menos barrento pra deitar. A correnteza passava com pressa, nervosa, tomando conta de tudo que via pela frente. Pra me levar não tardava. Com um pouco da força que restava, forrei o chão com folha. Sentei amparando a barriga. Encostei no tronco e corri a vista nas grimpas das árvores. Fiquei olhando o céu que começava a azular. Não vi mais nada. O menino, alguém pegou, tirou as folhas da rede e enrolou nuns panos. Virei a cabeça pro lado do rio e vi que tinha baixado. O menino dormia. O menino na rede, o rio no leito.  

[Comente este Post]

Postado por Anchieta Rocha
6/6/2015 às 19h36

 
Bala perdida

O dia mais bonito da minha vida foi quando Getúlio Vargas deu um tiro no peito. Triste e bonito.

Eu tinha acabado de fazer as entregas do armazém, estava passando em casa pra pegar os cadernos, quando fiquei sabendo que o presidente foi encontrado morto no Catete. O meu irmão mais velho dizia pra mamãe e pra minha tia que o Brasil ia mergulhar num negócio que eu não sabia o que era e mais uma porção de coisa que eu não entendia.

Aí começou o falatório no rádio, toda hora o Repórter Esso, eles tocando música triste, igual às que a gente ouvia na igreja.

Fiquei chateado por causa dos vizinhos que gostavam do PTB e do Getúlio. Um homem que trabalhava na mina de ouro de Nova Lima nunca mais ia ouvir os discursos do presidente no rádio. Toda vez que ele falava "trabalhadores do Brasil", o pelo do braço arrepiava, contou pro meu irmão.

Mas gostei quando disseram que não ia ter aula.

Depois fiquei pensando - um homem daquele, todo lugar que ia o povo batia palma, tinha um carro bonito, morava num palácio rodeado de jardim — como é que pode, dar um tiro no peito, acabar com a vida duma hora pra outra? Pior ainda, sem poder receber a encomendação na igreja, a família numa tristeza grande, nem uma água benta? Sabia dessas coisas porque eu era coroinha e ia com o Padre Américo em todos os velórios, às vezes até no cemitério, num carro chique que puxava todos os outros carros, todo importante, mexendo com os meninos, sempre que ele enfiava a cara no breviário.

Uma vez um vizinho bebeu formicida por causa duma mulher que não ligava pra ele. Ela gostava dum cara magrelo, metido a galã, que cantava músicas de Gregório Barros na Rádio Inconfidência. A sacana usava o coitado pra fazer ciúme no cantor. Com o tempo ele foi ficando murcho, até que um dia não aguentou e acabou com a vida. Pra mãe deixou uma carta pedindo perdão e pra mulher uma folha seca dentro duns versos.

A morte do Getúlio parou a cidade. O comércio baixou as portas e a rua encheu de gente. As pessoas perguntavam o que seria do país, falavam que o Congresso não servia pra nada e uma porção de coisa.

O coração do Getúlio parou de bater naquele dia. O meu bateu mais forte.

No outro lado da rua, ela apareceu. Não vi mais nada. Numa hora dessa eu achava que tinha umas coisas de doido. Se tivesse um cara do meu tamanho por perto eu dava porrada pra chamar sua atenção, ou de repente um carro me pegasse — não pra valer —, ela aflita segurando a minha cabeça no colo, eu imaginava.

Quando vi estava do meu lado. Tão perto que senti o cheiro do seu cabelo. A noite ficou mais bonita. Eu acho que falei uma porção de besteira, mas deve ter gostado porque ficamos conversando um tempão.

O friozinho de agosto chegou e todo mundo levou as cadeiras pra dentro das casas.

Eles enterraram o Getúlio, a vida voltou ao normal e ela desapareceu.

Comecei a passar perto de onde morava e na porta de sua escola, tinha alguma esperança. Depois de algum tempo desisti.

O tempo passou. Mas a bala que parou o coração do Getúlio naquele dia dói no meu peito até hoje.

[Comente este Post]

Postado por Anchieta Rocha
31/5/2015 às 19h40

Mais Posts >>>

Julio Daio Borges
Editor

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Dicionários Dicionário Completo da Língua Portuguesa: Folha da Tarde
Aleixo Rosut / Brasilino Feliciano da Silva Jr.
Melhoramentos
(1994)



Eugénie Grandet
Honoré de Balzac
Difusão Europeia do Livro
(1961)



O Salão De Beleza De Cabul
Ángel Rodrígues
Elsevier
(2007)



O poder da fé
John Fitzpatrick
Milesi
(1979)



Quase Tudo
Danuza Leão
Cia das Letras
(2005)



Cinco Semanas Em Balão
Julio Verne
Hemus
(2005)



O Conhecimento de Si e de Deus
Suelma de Souza
Fonte Editorial
(2010)



Os Impressionistas - Seurat
Georges Seurat / Louis Hauteceur
Ed. Três
(1973)



Química: um Curso Universitário
Mahan Myers
Edgard Blucher
(1995)



Quadribol Através dos Séculos
J. K. Rowling
Rocco
(2001)




>>> Abrindo a Lata por Helena Seger
>>> A Lanterna Mágica
>>> Blog belohorizontina
>>> Blog da Mirian
>>> Blog da Monipin
>>> Blog de Aden Leonardo Camargos
>>> Blog de Alex Caldas
>>> Blog de Ana Lucia Vasconcelos
>>> Blog de Anchieta Rocha
>>> Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
>>> Blog de Angélica Amâncio
>>> Blog de Antonio Carlos de A. Bueno
>>> Blog de Arislane Straioto
>>> Blog de CaKo Machini
>>> Blog de Camila Oliveira Santos
>>> Blog de Carla Lopes
>>> Blog de Carlos Armando Benedusi Luca
>>> Blog de Cassionei Niches Petry
>>> Blog de Cind Mendes Canuto da Silva
>>> Blog de Cláudia Aparecida Franco de Oliveira
>>> Blog de Claudio Spiguel
>>> Blog de Diana Guenzburger
>>> Blog de Dinah dos Santos Monteiro
>>> Blog de Eduardo Pereira
>>> Blog de Ely Lopes Fernandes
>>> Blog de Expedito Aníbal de Castro
>>> Blog de Fabiano Leal
>>> Blog de Fernanda Barbosa
>>> Blog de Geraldo Generoso
>>> Blog de Gilberto Antunes Godoi
>>> Blog de Hector Angelo - Arte Virtual
>>> Blog de Humberto Alitto
>>> Blog de João Luiz Peçanha Couto
>>> Blog de JOÃO MONTEIRO NETO
>>> Blog de João Werner
>>> Blog de Joaquim Pontes Brito
>>> Blog de José Carlos Camargo
>>> Blog de José Carlos Moutinho
>>> Blog de Kamilla Correa Barcelos
>>> Blog de Lúcia Maria Ribeiro Alves
>>> Blog de Luís Fernando Amâncio
>>> Blog de Marcio Acselrad
>>> Blog de Marco Garcia
>>> Blog de Maria da Graça Almeida
>>> Blog de Nathalie Bernardo da Câmara
>>> Blog de onivaldo carlos de paiva
>>> Blog de Paulo de Tarso Cheida Sans
>>> Blog de Raimundo Santos de Castro
>>> Blog de Renato Alessandro dos Santos
>>> Blog de Rita de Cássia Oliveira
>>> Blog de Rodolfo Felipe Neder
>>> Blog de Sonia Regina Rocha Rodrigues
>>> Blog de Sophia Parente
>>> Blog de suzana lucia andres caram
>>> Blog de TAIS KERCHE
>>> Blog de Thereza Simoes
>>> Blog de Valdeck Almeida de Jesus
>>> Blog de Vera Carvalho Assumpção
>>> Blog de vera schettino
>>> Blog de Vinícius Ferreira de Oliveira
>>> Blog de Vininha F. Carvalho
>>> Blog de Wilson Giglio
>>> Blog do Carvalhal
>>> BLOG DO EZEQUIEL SENA
>>> Blog Ophicina de Arte & Prosa
>>> Cinema Independente na Estrada
>>> Consultório Poético
>>> Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
>>> Cultura Transversal em Tempo de Mutação, blog de Edvaldo Pereira Lima
>>> Escrita & Escritos
>>> Eugênio Christi Celebrante de Casamentos
>>> Flávio Sanso
>>> Fotografia e afins por Everton Onofre
>>> Githo Martim
>>> Impressões Digitais
>>> Me avise quando for a hora...
>>> Metáforas do Zé
>>> O Blog do Pait
>>> O Equilibrista
>>> Relivaldo Pinho
>>> Ricardo Gessner
>>> Sobre as Artes, por Mauro Henrique
>>> Voz de Leigo

busca | avançada
99796 visitas/dia
2,4 milhões/mês