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Sábado,
10/10/2015
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Chaplin e Tempos Modernos - Filmes
Dos tempos modernos aos dias atuais,
o mundo não passa de grande estômago
cheio de espaços vazios. E o tempo retrocede
em busca dos pãezinhos dançantes
à mesa vazia.
Triturando desejos, as máquinas engolem o mundo.
Triturando corpos, as máquinas cospem objetos e moedas
que só circulam nos nichos da Terra.
À vertigem da utopia,
o andar de Chaplin entra em meu roteiro
para desengrenar o establishment.
Quando ele chega, antigos parafusos
desobedecem ordens e direções.
O chip e a fibra ótica ─ que ele não conheceu ─
saem-lhe dos bolsos para irmanar
homens, cidades e oceanos.
Acompanhando-lhe o andar,
os sapatos transgridem fronteiras.
E os pés do Vagabundo animizam solas caminhantes
entre os braços dos moinhos de ferro.
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Postado por Blog da Mirian
10/10/2015 às 14h33
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Saramago e a morte
Viemos a este mundo para nascer, crescer e morrer, certo? Talvez. Talvez? Bom, eu nasci, você nasceu, eu cresci, você cresceu. Mas eu vou morrer? Você vai morrer? Já disseram que a única coisa certa na nossa vida é que vamos morrer. Certa por quê? Porque outros morreram? Agora porque os outros passaram dessa para melhor (?) eu tenho que ir também?
Bom, não estou velho e nem no fim da vida para me preocupar com isso, muito menos uma inquietação filosófica me faz escrever este texto. O tema vem à tona por causa do último romance de José Saramago (ou melhor, do mais recente, porque ele não vai morrer agora) [Texto publicado originalmente em 2006.], As intermitências da morte (Companhia das Letras, 208p.). Imaginem, senhoras e senhores, se as pessoas deixassem de morrer. Quais as consequências? Imaginaram? Pois esse é o ponto de partida da história. O que vocês, simples mortais, imaginaram, porém, está longe do que a mente brilhante de Saramago pode criar, me desculpem. A capacidade criativa do autor português também nunca morre. Basta lembrar romances como Ensaio sobre a cegueira ou Jangada de pedra, e depois ler o atual, para entender por que ele é um dos maiores escritores contemporâneos e ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1998.
A maioria dos críticos, no entanto, não pensa dessa forma, ou porque gostaria que ele escrevesse sempre obras-primas ou porque nunca gostou de nenhum dos seus livros. Nessa última categoria, estão os que admiram o também português António Lobo Antunes e não querem admirar ao mesmo tempo José Saramago, pois para eles o primeiro, autor de romances como Exortação aos crocodilos, era quem deveria ter recebido o Prêmio Nobel. Da mesma forma, a postura política de Saramago incomoda muitas pessoas, como se isso influenciasse na qualidade de um livro.
Voltemos ao romance, então.
A principal personagem é a própria morte. Por um simples capricho ela resolve que não vai mais "trabalhar" em um determinado país. As consequências são alarmantes. Nessa primeira parte, cabe de tudo um pouco do rol de temas do escritor português: há a discussão sobre a finitude do ser humano, a velhice, etc. Não poderia, da mesma forma, faltar o lado polêmico do autor, quando ele analisa as consequências políticas e, principalmente, religiosas que a ausência da morte acarretaria. Pouco foi comentado, porém - apesar de ser um tema que seguidamente está em pauta -, que o romance também trata da eutanásia. Não havendo morte, como ficariam os doentes em estado terminal? Vale lembrar que as mortes cessaram, mas não as doenças. A solução para esse impasse? Leia o romance.
Na segunda parte, a morte resolve voltar a atuar e escreve uma carta para uma emissora de TV, para que seja anunciado que, à meia-noite, tudo voltará ao normal e que todos aqueles que deveriam ter morrido naquele período, morrerão agora. Mais caos à vista, continuando a narrativa a flertar com o realismo mágico latino-americano. Ela anuncia também uma novidade: antes de morrer, cada pessoa receberá uma carta anunciando sua partida com 7 dias de antecedência, podendo assim resolver suas pendências no mundo dos vivos e se despedir dos familiares e amigos. Uma das cartas, no entanto, teima em voltar para a remetente. E é quando começa a terceira parte, a melhor do romance.
Num estilo mais poético, ao contrário do tom mais amargo e irônico do restante da história, a morte toma feições humanas, se transformando numa mulher, e vai ao encontro do destinatário da carta. Trata-se de um violoncelista, escolha acertada para poder contrapor a suavidade da música clássica com uma situação tão dura que é a morte. Pode surpreender os fãs acostumados com a acidez saramaguiana. O desfecho, no entanto, pode decepcionar um pouco, mas nada que tire o brilho do resto do romance.
As intermitências da morte faz parte do tipo de literatura que nos deixa inquietos, no faz refletir, acaba com nossas certezas. Devemos nos preocupar com a morte ou o que vem depois dela? Em vez de pensar somente nela, não deveríamos viver o tempo presente, aproveitando nossa vida na Terra? José Saramago nos mostra que a morte é, paradoxalmente, parte da vida e não passagem para outra. Ateu, acredita que as religiões se apoderam da ideia da morte para existirem. Certo ou não, se há outra vida depois dessa, espero que lá tenha romances tão bons como esse para ler.
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Postado por Blog de Cassionei Niches Petry
10/10/2015 às 14h28
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Por trás das sombras
Ser invisível é uma arte, principalmente para quem escreve. O escritor pratica a literatura para tirar as pessoas da letargia, mas, muitas vezes, não encontra leitores que o leiam, tampouco vê suas ideias repercutirem. Por conseguinte, ele se fecha no seu mundo, tornando-se mais invisível ainda. Não é o caso de Paul Auster, escritor de renome, cuja obra sempre desperta interesse, seja através de comentários favoráveis, seja através de críticas severas. Seus livros não deixam ninguém indiferente.
Ele sentiu também, no início da carreira, a sensação de que ninguém o lia, como retratou em Da mão para a boca, sua autobiografia, e colocou um pouco disso no personagem do romance Invisível (Companhia das Letras, tradução de Rubens Figueiredo, 280 páginas). Adam Walker é um aspirante a escritor e tradutor de poetas franceses, assim como foi Auster. No início da narrativa, o vemos em Nova York, na primavera de 1967, mais precisamente na universidade de Columbia, onde estuda Literatura. Lá, encontra o professor francês Rudolf Born e sua namorada Margot. Ansioso por alavancar sua carreira, aceita a proposta de Born para criar uma revista literária bancada por este, não sem antes se envolver com sua mulher. É o inicio da caminhada, como denota seu nome (walker é andarilho, em inglês), em direção ao inferno pessoal. Assim como Dante, que tentou encontrar Beatriz no Inferno da Divina Comédia (aliás, Born é sobrenome de um poeta que aparece, na obra de Dante, segurando sua própria cabeça decepada ) ou Orfeu, que buscou Eurídice no mundo dos mortos, Walker não mede esforços para ser alguém.
Essa descida ao inferno é narrada em um manuscrito inacabado que chega, 40 anos depois, às mãos do escritor James Freeman, ex-colega de Adam na universidade. Nesse inferno, aparece o assassinato cometido por Born, que ficou impune. O episódio afastou Walker do professor e incutiu-lhe o desejo de lutar contra as injustiças, levando-o a estudar Direito ("Adeus, literatura. Bem-vinda a realidade sensível.") É doloroso para ele também lembrar o caso incestuoso com sua irmã, Gwin, aliás, um dos momentos mais bem escritos por Auster, ao descrever com sensibilidade a cena de sexo entre os dois. O relato autobiográfico é uma tentativa de prestar contas com esse passado e com ele próprio, pois pior do que ser invisível para os outros é ser invisível para si mesmo.
Os ingredientes costumeiros da literatura de Paul Auster estão mais uma vez no cardápio: personagens escritores, o acaso, Nova York, Paris e narrativas dentro de outra narrativas. O cinema, da mesma forma, marca presença (lembrando que Auster é roteirista e diretor também). As citações cinematográficas, além de contribuir para a interpretação das histórias, instigam o leitor a procurar apreciar as obras mencionadas. No caso de Invisível, o filme A palavra, de Carl Dreyer, assistido pelos irmãos num dado momento, é uma ótima sobremesa. Como na película de Dreyer, o romance de Paul Auster é um jogo de claro e escuro, pois deixa para o leitor a tarefa de procurar a luz e desvendar, através das sombras, o que está invisível no enredo.
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Postado por Blog de Cassionei Niches Petry
9/10/2015 às 14h50
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Homo Placebus
A vida é um efeito placebo sem contra- indicações, que no dia a dia tem surtido bons resultados, embora, seu revertério, vez ou outra possa ocasionar pequenas complicações no labirinto.
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Postado por Metáforas do Zé
8/10/2015 às 13h22
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Atrás da janela, cantou o passarinho
Quanto mais o tempo passa, mais tenho a certeza que logo me transformarei num velho resmungão. Piu, piu, tirim, tiririm, cantou o passarinho atrás da janela do meu quarto. Era o anuncio da chegada da primavera. A cidade não havia despertado, dava para ouvir o silêncio lá fora, entrecortado pelo canto do passarinho. Abri a janela e dei de frente com ele, na galhada mais alta do pé de limão, um sabiá laranjeira, estufando o peito e cantando sem parar. É assim que os pássaros namoram, me contou mister Google. Piu, piu, tirim, tiririm, o bicho prosseguia piando enquanto eu passava manteiga no pão, a faca que deslizava, leve no início, movimento que fui aumentando conforme a cantoria invadia minha cabeça: piu, piu, tirim, tiririm. Notei que o sabiá desafinou na última nota, o que me fez recordar um amigo que criava passarinhos e tinha um curió que cantava um som mavioso, mas que quando eu prestava mais atenção, parecia sobradar tristes soluços. Curió é triste e encantador ao mesmo tempo. De novo ouço o piu, piu, tirim, tiririm e a irritação toma conta de mim; que diabo de surda é a fêmea deste bicho que não lhe atende o chamado? No outro dia a cena se repete atrás da janela e prossegue toda a manhã, indo até o fecho da tarde, se confundindo com o canto das cigarras, entrando à noitinha e desafiando os gatos vadios. Se ao menos fosse um curió — pensei — enquanto ajeitava o sapato no pé, apagando a vontade de jogá-lo no bicho que não se calava; piu, piu, tirim, tiririm, o dia todo assim. E na mania que não desgrudo de dar nome aos bichos, resolvi chamá-lo de Zezé de Camargo, que é outro cantor que me irrita facilmente. . E não encontrando o silêncio em parte alguma, decidi fazer uns serviços de rua, ir pra bem longe da cantoria. Mas a cidade e seus tormentos não conseguiram tirar da minha cabeça aquele piu, piu, tirim, tiririm. Na ânsia de resolver o problema, pensei comprar uma fêmea sabiá, dá-la de presente ao danado do Zezé e restaurar o silêncio. O Google me salva novamente, ensina que não é assim que as coisas funcionam; o macho tem que atrair a fêmea e a arma que usa é o canto. Num breve momento de sensatez, faço uma autocrítica: que sujeito estressado estou me transformando, enfezado com o som de passarinho! De repente estalo os dedos ao lembrar que no meio das minhas coisas velhas, que guardo até hoje, tem um estilingue. Balanço a cabeça e me nego seguir adiante, perplexo com minha própria crueldade, logo desistindo da ideia, até porque sempre fui ruim de mira e nem quando era garoto conseguia acertar a estilingada; apontava, esticava e atirava, sempre longe do alvo. Hoje pela manhã, mais atento, percebi que não se trata de um único pássaro, são vários. Corro até o Google e descubro que há uma disputa entre eles: aquele que cantar mais alto e forte, ganha o amor da fêmea. Piu, piu, tirim, tiririm, um bando emplumado prossegue assobiando sem parar, logo atrás da janela do meu quarto. "se não pode com ele, junte-se a ele". Assim pensando, coloquei um banco perto da janela e fiquei escutando a cantoria dos bichos. O curió canta melhor que vocês, eu disse, sorrindo para eles. Piu, piu, tirim, tiririm, responderam os sabiás.
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Postado por Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
8/10/2015 às 09h49
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A Loucura da Guerra
Joseph Heller participou da Segunda Guerra Mundial na Força Aérea dos Estados Unidos. Ele fazia parte da tripulação de um bombardeiro que realizou missões na Itália e essas suas experiências deram origem a uma das melhores sátiras literárias do século XX, o livro Ardil 22.
Na história, o Ardil 22 é um mecanismo que supostamente permitiria a soldados que fossem loucos retornar para casa. O problema é que caso o soldado se declare louco, ele estará dando uma mostra de lucidez ao reconhecer a própria loucura, então esse mecanismo deixa o indivíduo preso na guerra até o fim.
Se pode parecer esdrúxulo, essa ardil serve como base para toda a história sem sentido, que acaba sendo uma crítica bem direta à loucura de uma guerra. E esse livro tem um peso grande pelo sucesso obtido durante a Guerra do Vietnã.
A história tem vários personagens inseridos nas batalhas na Itália durante a guerra. O principal deles é Yossarian, que tenta escapar da guerra utilizando o dito ardil. Dentro da caserna, ele se envolve com diversos outros personagens, cada um deles com suas próprias características, mostrando uma capacidade criativa muito significativa por parte do autor junto a uma verve crítica muito refinada. Youssarian se encontra também em um grande dilema, pois sempre que está prestes a alcançar o número de missões totais que o permitiriam regressar para casa, ele se depara com um aumento, o que vai o deixando preso no ambiente de guerra.
Alguns personagens são bastante emblemáticos. Um deles é o Major Major Major Major. Na verdade o nome dele é Major Major Major, porém, ao ser convocado pelas Forças Armadas, deram-lhe essa patente apenas para combinar com seu nome, sendo ele completamente incapaz de exercer qualquer comando sobre seus subalternos. Ou então o Chefe White Halfoat, índio que ameaça cortar a garganta do companheiro de guerra capitão Flume, e esse, paranoico, chegou a dormir com um pé de coelho na torcida de que não fosse atacado. Ou então um ferido todo engessado e que não fala nada, que acaba sendo taxado como gente boa por um dos soldados amalucados.
Muitas cenas beiram o surreal. Por exemplo, quando os bombardeiros recebem a ordem de atacar uma vila exclusivamente para se realizar uma foto aérea com boa composição. Ou então a hipótese de que o indivíduo engessado tratava-se de uma massa de gesso oca, sem ninguém de fato lá dentro.
Joseph Heller lançou uma das mais profundas sátiras contra o sistema belicoso reinante no século XX. Essa obra serviu de base para outras produções em várias mídias que lançaram um olhar cômico sobre os conflitos. Além da relevância da obra, ele deixou também um marco de inventividade em suas páginas.
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Postado por Blog do Carvalhal
7/10/2015 às 15h35
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A um aspirante a escritor
Todo médico conhece os princípios da cirurgia, mesmo que seja um clínico; sabe os fundamentos da homeopatia, mesmo sendo alopata; é capaz de fazer um parto, mesmo não sendo obstetra; e estudou a evolução das ciências médicas, embora não ande por aí a receitar cataplasmas ou a aplicar sanguessugas.
Quem já ouviu falar de um pintor que desconhece a perspectiva? Que não tem noção de anatomia? Que ignora a teoria das cores? Que não tem a menor noção de história da arte?
Não importa a qual escola pertença, um artista conhece sua arte a fundo. Um pintor não precisa pintar como um impressionista, nem ao menos gostar do impressionismo, mas ele sabe do que se trata.
Diga-se o mesmo de qualquer arte, de qualquer ciência.
Para conhecer, no entanto, é preciso estudar.
Não se concebe, portanto, um escritor que não leia e que desconheça a história da literatura. Quem escreve só para si não faz literatura, faz diário.
Sabe aquela história original que você imaginou, em que acordava transformado em um inseto? Pois bem, ela já existe, foi escrita por um autor genial, Kafka, e se você publicá-la, vão chamá-lo de plagiador. Quem conhece, evita o vexame de apresentar como idéia nova e sua algo que o mundo está cansado de saber; pelo menos tem a chance de reestudar a idéia, encontrar para ela uma roupagem nova, um novo sentido, um aspecto de modernidade.
Se você gosta de escrever, leia. Não se limite a decorar regras. Um soneto não é apenas determinado número de versos alexandrinos dispostos de uma certa forma, um soneto tem alma. Se você quer que seus escritos tenham alma, beba direto da fonte da imortalidade - os clássicos. Não é à toa que os imortais da literatura são assim chamados. Se você quer escrever como um imortal, faça amizade com eles, lendo, devorando suas obras.
Não se limite ao moderno. Não se restrinja aos autores de língua portuguesa. Leia tudo. Leia. Leia. Leia.
Leia os ingleses, os russos, os gregos, os latinos. À sua disposição estão vinte e cinco séculos de escrita e mais de uma centena de povos contribuindo para enriquecer a cultura do planeta Terra.
Seja um ávido e curioso leitor.
Não acredite que a inspiração resolve tudo. Se você tem o dom, lembre-se de que não é o único a tê-lo.
Um pintor que se limita a divertir-se com as tintas, um escultor que só deseja preencher o vazio das horas ociosas, não são artistas, são artesãos.
O médico que não vai além da aspirina nossa de cada dia é um reles curandeiro.
Não seja humilde. Tenha a ambição de tudo conhecer, de dominar fundo as possibilidades da palavra.
Pode ser que você não se torne um imortal, afinal de contas, nem todos nascem para Shakespeare, mas sem dúvida você vai romper seus limites e voar.
Eu lhe garanto que é divertido.
Voe!
para saber mais sobre a autora visite sua pagina
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Postado por Blog de Sonia Regina Rocha Rodrigues
7/10/2015 às 14h49
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Desparecer para aparecer
Doutor Pasavento, de Enrique Vila-Matas (CosacNaify, tradução de José Geraldo Couto), foi publicado no Brasil na mesma época da morte de J. D. Salinger. O romance do escritor espanhol tem como tema o desaparecimento de escritores. E Salinger foi um notório recluso, que optou por sumir do meio literário, apesar de o seu paradeiro ser de conhecimento de todos. Sincronicidade ou apenas coincidência?
Para quem não sabe, sincronicidade foi um termo criado pelo psicanalista C. G. Jung para designar eventos que acontecem simultaneamente e que são significativos para as pessoas, diferente da coincidência, que é uma conexão aleatória entre os fatos. Se alguém está pensando em um amigo e de repente recebe uma ligação telefônica dele, estamos diante de uma sincronicidade, afinal eles se conhecem e, no inconsciente de cada um, há o desejo de conversarem, mesmo sem terem combinado nada. Agora, se a pessoa conversa com um desconhecido em uma parada de ônibus e descobrem que ambas têm amigos em comum, há apenas uma simples coincidência, afinal, como diz o ditado, "o mundo é pequeno". (Ok, sou leigo no assunto. Para críticas, escrevam cartas, ou melhor, e-mails para a redação.)
Poderíamos classificar Doutor Pasavento como um romance ensaístico ou um ensaio romanesco? Já no início é citado o primeiro escritor dentre tantos que vão surgir na narrativa: Montaigne. É uma pista de que leremos uma espécie de ensaio, afinal, o escritor francês foi o pai do ensaio moderno, assim como os escritores Sterne e Cervantes, também citados, foram os criadores do romance-ensaio. Montaigne se refugiou em uma torre para escrever e é isso que Vila-Matas vai analisar: os escritores que resolvem desaparecer. Em obras anteriores, como sua obra-prima, Bartleby e Companhia, ele retratou os escritores que deixaram de escrever. Em O mal de Montano, abordou a "doença" de querer escrever. Ou seja, grande parte da sua obra tem como tema central a própria literatura. É a obsessão de Enrique Vila-Matas.
O protagonista é convidado para um encontro literário em Sevilha, justamente depois de ter imaginado essa viagem. Hospedado em Paris, descobre que o lugar onde está também foi ocupado por outros escritores. Sincronicidades? Resolve, depois, sumir no meio do caminho para o encontro literário, assim como fez certa vez Agatha Christie, e como fizeram tantos outros escritores, principalmente Robert Walser. Assume uma identidade falsa, a do psiquiatra Doutor Pasavento, para realizar novos projetos. Vila-Matas, em seu site na internet, diz que interpretar que o romance é sobre o desaparecimento e a solidão é aceitável, mas do que realmente trata o livro é a "dificuldade de não ser ninguém".
No Brasil, também temos alguns escritores que tentaram não ser ninguém. Os mais notórios são Dalton Trevisan e Rubem Fonseca. Ambos foram alvos de polêmicas nas últimas semanas. [Esta resenha foi escrita em março de 2010.] Sincronicidade? O primeiro, por ser retratado em um romance de Miguel Sanches Neto, seu ex-pupilo, e de não ter gostado nenhum pouco disso. O segundo, por aparecer no lançamento do livro de Paula Parisot, sua afilhada literária. O boato que corre nos meios literários é de que ela teria sido o pivô da saída de Rubem Fonseca da editora Companhia das Letras, que se recusou a publicar a obra da escritora. Para esse evento, Parisot faz uma performance dentro de uma caixa de vidro. Uma foto mostra Rubem Fonseca conversando com ela através da caixa, ele que sempre se fechou em uma redoma de vidro metafórica. Sincronicidade?
Enquanto alguns querem desaparecer, outros se expõem para chamar a atenção. Para se fazer literatura, não bastaria só escrever?
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Postado por Blog de Cassionei Niches Petry
7/10/2015 às 14h12
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Semáforos!
Quando tenho que ir para algum lugar, eu sempre procuro escolher o caminho no qual terei semáforos! Sim, eu gosto dos semáforos! Na verdade, como eu não sou um motorista muito habilidoso e atento, prefiro não me arriscar nas "vias alternativas", como a Rua Cabo Osvaldo de Moraes, paralela a Dom Pedro II. Para mim, os semáforos organizam o trânsito e facilitam a vida (exceto quando estou atrasado ou apressado... Ai, aqueles segundos demoram vidas para passar).
No entanto, recentemente eu tenho vivido verdadeiros dilemas no trânsito! Pois, apesar de eu ser adepto aos semáforos, utiliza-los tem sido caro e constrangedor, ou caro, ou constrangedor. Afinal, como se já não bastasse a quantidade de pedintes, agora também existem inúmeros artistas, malabares, conebares, bolabares, fogobares e eteceterabares que ficam se apresentando nos principais pontos da cidade e, quando não erram o tempo do sinaleiro, após a sua apresentação, "passam o chapéu".
Deus do céu, como dói "ajudar" e "não ajudar" esse povo!
Dia desses, em um dos raros momentos de bom humor, e após ver a apresentação de um desses artistas, decidi que iria tirar 10 reais por mês do meu pagamento, trocar em moedas de 50 centavos, e distribuir as 20 primeiras pessoas que me pedissem. Saindo daquele semáforo, parei em outro, poucos metros dele, ainda na Avenida Cillos, e adivinhem o que tinha naquela porra? Outro artista... Mas a este, que eu não dei um único centavo, serei eternamente grato, pois, ele afastou de mim aquele "ar de bondade" e imediatamente eu desisti daquele pensamento idiota!
Não posso esquecer que todos nós, brasileiros, somos verdadeiros artistas. Alguns, equilibristas, outros, verdadeiros palhaços.
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Postado por Blog de José Carlos Camargo
7/10/2015 às 13h28
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Soletrando
O be a bá do B.Ó. O vento não tem asa Laço não tem nó.
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Postado por Metáforas do Zé
7/10/2015 às 07h28
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Julio Daio Borges
Editor
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