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6/3/2016
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Cinema Independente (4.2)
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PÓS-PRODUÇÃO (2)
- 3º Passo – Editando trilha sonora
Bom, até aqui temos um filme em processo de edição no Movie Maker, e sem outro som que não o captado diretamente pela câmera. Para inserir uma música em seu filme, vá na aba Início/Adicionar uma música, que vai lhe pedir para você adicionar uma música em formato MP3 que já esteja em seu PC ou em algum CD inserido ou pen drive conectado, ou ainda de alguns sites específicos da internet. Antes de escolher o arquivo, selecione se ele vai ser usado para o filme todo, ou apenas a partir de um determinado trecho (neste caso, o cursor deve estar no ponto desejado, e você seleciona Adicionar uma música no ponto atual).
Se os arquivos de áudio que você irá usar em seu filme não estiverem em MP3, você precisará usar o Any Audio Converter– use como padrão o som de CD: 128kbps, taxa de amostra 44000, 2 canais; acima disso, você apenas terá um arquivo mais pesado, mas sem diferença de qualidade sonora perceptível pelos ouvidos humanos.
Se você quiser usar uma música que esteja em um CD (lembre-se, porém, que você precisa ter autorização para usar obra alheia). Neste caso, use o Fast CD Ripper para selecionar a faixa, ou as faixas, que você irá usar. No Fast você pode optar por já salvar as músicas em MP3 no seu notebook.
Caso você não vá usar a música inteira, precisará do Audacity para editá-la. O Audacity é um editor de áudio em certos pontos semelhante ao Movie Maker. Primeiro selecione o arquivo de áudio em MP3 (o Audacity só aceita este formato) na aba File/Open. Depois que o arquivo for carregado, você poderá cortar apenas o trecho que irá usar. Dica: faça também uma cópia dos arquivos de áudio, assim como fez com os de vídeo.
Selecionado o trecho, escute-o e, se for o caso, aplique algum efeito (como os de Fade In e Fade Out, disponíveis na aba Effects) antes de salvar, através da opção File/Export as MP3. Atenção: algumas vezes o Audacity irá informar que não pode salvar o projeto como MP3, devido à falta do arquivo lame_enc.dll (atualmente o próprio Audacity já permite o download do Lame com apenas um clique, mas se precisar o link para baixar está informado na lista dos programas, na primeira parte deste capítulo).
Bem, se antes tínhamos um filme sem outro som que não o das cenas filmadas, agora temos um com sons de duas ou mais fontes. Pode acontecer então que, com isso, o volume das várias partes do filme oscile – sim, pois o som da música inserida pode estar mais alto ou mais baixo do que o som original do filme. Para evitar esse desnível que gera desconforto em quem vai assistir, ou que até pode deixar algum trecho do seu filme incompreensível, vá à aba Início do Movie Maker, clique em Salvar filme e selecione Somente áudio. O som do filme será salvo em um arquivo M4A, que só é reproduzido pelo Windows Media Player. Mas para poder deixar o volume do filme uniforme (o que se chama 'normalizar' o áudio), você precisa convertê-lo para MP3 no Any Audio Converter (ou mesmo no Any Video Converter, há nele a opção de converter áudio).
Convertido o áudio do filme para MP3, abra o MP3Gain. Clique em Add File(s), selecione o arquivo convertido e clique em Track Analysis, que vai mostrar o desnível do arquivo em relação ao padrão (‘default’, em inglês; o padrão do M3Gain é 89,0, que você pode alterar, mas eu sugiro não mexer, pois você ainda irá editar o áudio no Movie Maker). Concluída a análise, clique em Track Gain, para que o volume seja normalizado. Dica: o MP3Gain altera o próprio arquivo analisado, então por segurança você também neste caso deve fazer uma cópia antes de normalizar.
Voltando ao Movie Maker, um cuidado a tomar é com a inserção do áudio editado, isso porque o Movie Maker não permite a eliminação do áudio original. Primeiro, com o cursor posicionado no começo do filme, vá à aba Início/Adicionar uma música. Selecione o arquivo editado e normalizado. Se você apertar o play na miniatura do filme no Movie Maker, vai ouvir o áudio original. Para que o áudio adicionado ficar incorporado no filme, você deve ir na aba Projeto, clicar em Mixagem de áudio e arrastar a seta para a direita, na direção do símbolo de música (se arrastar para a esquerda, na direção do símbolo de cinema, vai realçar o áudio original). Quando você insere um áudio, o Movie Maker cria uma nova aba, a Opções, que permite que você possa aumentar o volume da música (passe para o máximo), crie fade in e/ou fade out e determine a partir de que momento o áudio deve iniciar e/ou terminar, se for o caso.
O Winamp serve para você ir ouvindo os arquivos de áudio que for selecionando, editando etc. Gosto de usá-lo por ser um programa leve e que pode tocar os mais diversos formatos de áudio. Mas você pode usar o programa que preferir, desde que ele também cumpra estas funções.
No próximo post, falarei sobre a finalização do seu arquivo de filme.
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Domingo lindo (Frêmito)
Lidar com a solidão é impossível
Como a sombra, sempre há de nos acompanhar,
mas jamais será apreendida
Ao contrário
senso, impossível guardar ventos entre quatro
paredes...
Pra falar a verdade nem sei por que
falei tudo isso
Talvez somente para exercitar pobres dedos.
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Postado por Metáforas do Zé
6/3/2016 às 17h35
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The Wall
 Fonte:https://notasprovisorias.wordpress.com
Quando o Estado apregoa oferecer um caminho ao homem para se educar, desenvolver suas potencialidades cognitivas, atua como se lhe concedesse um incontestável favor, a mais distinta das dádivas. Entretanto, em tempo algum menciona que ao submetê-lo aos seus estereotipados métodos educacionais está a subtrair deste homem outras inúmeras possibilidades. Dentre elas, experimentar instruir-se por si mesmo, sentir em si o embrião de idéias próprias, ensaiá-las e aprimorá-las ― tomar para si a responsabilidade sobre suas rédeas ― como fazem os autodidatas, alguns dos quais, anos mais tarde, após tê-los desprezado, condenado e ridicularizado, este mesmo Estado os enaltece como assombrosos gênios e prostra-se ante sua originalidade. O que há de comum entre os gênios que os distingue dos demais? Como identificar o surgimento de uma mente extraordinária? Imagine que cubramos com venda os olhos de um grupo de homens e os encaminhemos a uma floresta. Ao nos avizinharmos do cerne desta, tiremo-las e os abandonemos à própria sorte. Reconheceremos o gênio naquele que, arrebatado por uma extraordinária vontade e norteado por uma agudíssima intuição, há de se aventurar a explorar uma possibilidade nova. Sofrerá admoestações do restante do grupo, mas estas não lhe desanimarão. Pelo contrário, o que alquebra um temperamento fraco age num impetuoso como um poderoso aguilhão: aferra-lhe a obstinação. Diante do desconhecido, o gênio dedicará mais atenção ao caminho. Seus passos serão mais cautelosos. Com o transcorrer dos dias e das noites, a solidão e a constante possibilidade de se perder tornarão seu olhar mais penetrante, e seus ouvidos hão de auscultar com mais acuidade o que sucede consigo e ao seu redor. Desenvolverá, anormalmente, seus instintos e a confiança em sua própria força. Sua inteligência hipertrofiará diante do incógnito. Os demais, os desalentados e poltrões, se manterão unidos. Escolherão, segundo o torpor intelectual e covardia que os une, repisar trilhas já tão gastas que o caminhar não lhes proporcionará um aprimoramento, antes uma consolidação de seus juízos banais. Ao enveredarem nesta direção, cegos de confiança na educação convencional, por certo estarão resguardados das brutais angústias e adversidades que constantemente acometem o homem de gênio e são responsáveis pelo seu desenvolvimento, entretanto, nenhum outro destino suas mentes alcançarão senão o senso comum e a moral do estereotipado homem-massa. Numa palavra, a mediocridade.
Contato: escritor.equilibrista@gmail.com
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Postado por O Equilibrista
6/3/2016 à 01h16
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A presença dos objetos
Nesta canção do outro dia marcando-se
no corte da meia-noite, dois ponteiros
reiniciam meu acalanto.
Fascina-me o que pulsa e vive.
O cheiro da madrugada
renova-me das perdas e danos deste dia
de grandes pequenos acontecimentos.
O olhar do retrato não se dirige a mim
mas a moldura é bela. Meus sapatos ficaram
velhos e macios, mas o chão se perdeu
dos meus pés.
Em minha antiga caneta despertam
poemas que um dia eu quis escrever. E, agora,
com o indecifrável dos símbolos, o teclado
recolhe dos meus dedos a matéria que repousará
nas folhas de um livro.
Movem-me os pensamentos aqueles motivos
que vivem e pulsam. Mas ao agarrar-me
ao dia de hoje,
algo se emoldura no desconhecido.
Algo emerge do improviso.
Algo se improvisa em voo cego.
Meu sangue respira.
(Do livro 50 poemas escolhidos pelo autor)
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Postado por Blog da Mirian
5/3/2016 às 09h50
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Por que viver sobre as cordas e não no chão?
 Dom Quixote, Pablo Picasso
"Eu tinha 13 anos, e sofria porque não sabia que rumo tomar na vida. Nada ainda me revelara o fundo da minha sensibilidade[...]Resolvi, então, me submeter a uma estranha experiência: sofrer a sensação absorvente da morte. Achava que uma forte emoção, que me aproximasse violentamente do perigo, me daria a decifração definitiva da minha personalidade. E veja o que fiz. Nossa casa ficava próxima da educada estação da Barra Funda. Um dia saí de casa, amarrei fortemente as minhas tranças de menina, deitei-me debaixo dos dormentes e esperei o trem passar por cima de mim. Foi uma coisa horrível, indescritível. O barulho ensurdecedor, a deslocação de ar, a temperatura asfixiante deram-me uma impressão de delírio e de loucura. E eu via cores, cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria fixar para sempre na retina assombrada. Foi a revelação: voltei decidida a me dedicar à pintura." Anita Malfatti
E para O Equilibrista...
Se a isto que as pessoas fazem chama-se viver, então não quer viver. Talvez por isso seja demasiado indolente para procurar um emprego normal. Jamais desejou essa coisa a que chamam de “vida”. Pouco lhe importa se o mundo vai contradizê-lo, mas por uma espécie de princípio, é contra essa “vida”. Escrever é sua reação a ela. Escreve para não ter de se submeter. Ao contrário do que se passa com os outros, a própria necessidade de dinheiro é mais um estímulo a escrever do que se sujeitar a essa coisa humilhante que é ser obrigado a fazer o que não vê sentido. A “vida” apenas lhe importa na medida em que o estimula a escrever, a transformar em palavras tudo aquilo que pensa e sente. Para ele, por si mesma ela não se justifica. Em si mesma não tem valor. Somos nós que lho conferimos. Escreve para inventar uma outra vida mais rica a partir desta que tem. Escreve para viver essa outra vida - a sua própria vida -, uma vida que sente ergue-lo acima do comum sempre que a transforma em palavras. Por isso, nada mais lhe interessa senão o poder de expressar-se, de criar e recriar-se a cada texto. A busca desesperada pela sua própria linguagem é o que confere valor à sua vida. É neste sentido que seu “eu” se dirige mesmo quando suas atividades cotidianas parecem desviar-se desta meta. O receio de passar fome atormenta-o constantemente, mas sente uma angústia terrivelmente maior de vir a morrer sem conseguir expressar tudo o que se passa consigo desde menino. Esta é a pior das misérias a um homem como ele – o autêntico fracasso. O que o difere dos outros creio que seja o fato de que não sente necessidade de “viver a vida”, como eles próprios dizem; o que sente, de fato, é necessidade de enriquecê-la e expressá-la. Atingir o poder de expressão para tal exige um esforço extraordinário de sua parte, pois tem de lutar contra o seu medo de fracassar e suas próprias limitações. Viver é um contínuo desafio para alguém como ele, e o que o move nesta sua aventura não é apenas um desejo fútil de tornar-se célebre ou rico, mas, sobretudo, uma questão de consciência, uma questão de princípio.
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Postado por O Equilibrista
5/3/2016 às 08h25
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O Funeral - O Equilibrista
 Sorrow,Vincent Van Gogh. Fonte:http://www.myartprints.co.uk/
Quando pousaram o caixão do menino, ela soltou um grito lancinante, e seus soluços abafaram o eco das orações fúnebres. Comovidos, todos se calaram. Ela perdera tudo. Ela não era mais nada, e, no entanto, aquele nada estava ali, diante de nós, a revelar-nos, com uma brutal lucidez , que ninguém está seguro. Talvez na esperança de afastarmos de nossas vistas esta terrível realidade, talvez simplesmente porque aquele seria apenas mais um dentre inúmeros outros sepultamentos naquela manhã, minha impressão era de que quanto mais desesperadamente os coveiros jogavam terra na cova, mais o senso do definitivo abandonava-nos a todos. Jamais fui capaz de esquecer a cor e o cheiro daquela terra grossa, cheia de cascalho e pedras que repicavam ao cair no caixão branco do menino. O padre insistia em retomar as orações, mas a multidão hesitava em acompanhá-lo. O céu novamente ficara nublado e recomeçou a chover. A seguir, todos nos separamos e cada qual seguiu seu caminho, perplexo, sem que palavra alguma fosse pronunciada, enquanto aquela mulher, fulminada pela devastadora realidade à qual a inundação a arrastara, permanecia ajoelhada no barro, debatendo-se com o luto e a desesperança. Dias mais tarde, ao evocar as lembranças daquele funeral, lembrei-me que na saída do cemitério reparara que o relógio da catedral havia parado, e os ponteiros indicavam o momento fatídico em que a chuva surpreendera a cidade.
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Postado por O Equilibrista
4/3/2016 às 23h46
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Diversidade
Como as duas faces do imã
Se iguais, se repelem.
Diferentes se firmam
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Postado por Metáforas do Zé
4/3/2016 às 22h23
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Não Prossiga! Só Para Equilibristas.
 Migrations, Ursula Abresch
"Cada pessoa é um abismo. Dá vertigem olhar dentro delas." Sigmund Freud
E porque desde tempos imemoriais os homens se defrontam com placas com a inscrição “Não Prossiga”, inúmeros são os que, de fato, não o fazem. Se agem desta maneira não é porque se possa distinguir algum iminente perigo mais à frente. Não, não é este tipo de coisa que detém quase toda a gente que com estas placas se depara uma vez que nada de efetivo se pode avistar adiante que justifique uma ameaça real. Na verdade, até se poderia dizer que o mundo acaba onde tais advertências foram assentadas tão vertiginosa é a sensação de liberdade e vazio suscitada em qualquer um que ouse delas se avizinhar. É, pois, notório que coisa alguma de comunicável se possa discernir para além das mesmas que explique tais proibições – mas quanto não se é capaz de pressentir! Ainda assim todos foram se habituando a se curvar perante as mesmas graças ao temor que instintivamente nos inspira aquilo que a razão humana não pode impetrar. Muitos justificam sua resignação com crença em supostos predicados divinos de tais inscrições. Mesmo aqueles que a esta espécie de explicação não aderiram, por considerá-la misticismo de gente ignorante, também jamais foi necessário apresentar uma justificativa para que igualmente se submetessem. Aos olhos destes, elas funcionam “na prática”. Crêem que tanto asseguram como tornam mais simples a vida em sociedade, o que por si só lhes serve como uma positiva justificava para cultuá-las. Assim, de um jeito ou de outro, a esmagadora maioria dos homens foi se mostrando cordata a respeitar e defender tais fronteiras e, conquanto ao longo dos séculos este comportamento tenha se perpetuado, seria injusto não dizer que esta incondicional subordinação causa, a todos, certo descontentamento. Esse fato é inegável, pois toda a gente não faz segredo disso ao lamentar que tal estado de coisas suscita-lhes, em algumas ocasiões, a impressão de estarem a afogar suas vidas num mar de monotonia e enfado. Entretanto, se de um lado isso ocorre, de outro, a sensação de segurança e comodidade que lhes é sugerida parece compensá-los de tal desagrado. Por isso, insistem em respeitá-las e transmitir aos seus descendentes a crença de que o mundo resume-se à superfície delimitada por tais placas. De tempos em tempos, todavia, surge um e outro que, ao se deparar com tais limites, manifesta o ímpeto de desobedecer-lhes seguindo adiante, precipitando-se vertiginosamente num abismo de dúvidas, êxtases e liberdade em busca de uma resposta própria para a razão de ser de tudo isso. Toda vez que um destes homens vem ao mundo ele é condenado pela maioria. O crime? Alargar a fronteira do real, trilhando um caminho original por meio do qual o rico e inusitado universo de idéias e imagens por ele intuído é atingindo e revelado.
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Postado por O Equilibrista
4/3/2016 às 19h07
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Livro sobre eventos diversos

Profissional de Secretariado na Coordenação de Eventos
SOLANGE GIORGNI
Esta é uma obra que faltava nas bibliotecas e livrarias. Abrange todos os aspectos necessários na organização e coordenação de eventos os mais diversos – de simples reuniões a jantares a coquetéis e congressos, e todos os passos envolvidos. Evento é a palavra-chave – trata-se de acontecimento social ou cultural do qual pessoas participam.
A autora entra nessa obra com todo o seu conhecimento teórico e prático, como professora e ex-secretária, acostumada a se ver desafiada por cerimônias e cerimoniais.
Livro recomendado para profissionais os mais diversos – de secretárias a professores, a profissionais liberais e mesmo donas de casa. Contempla muitos exemplos e sugestões de organização.
Belo Horizonte: Ophicina de Arte & Prosa, 2015, 170 pág.
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Postado por Blog Ophicina de Arte & Prosa
4/3/2016 às 16h58
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O País do Carnaval - O Equilibrista

Como de costume, ao se posicionar em um canto do balcão, à espera de um café expresso, um capitão reformado observa os “paisanos”, como ele próprio se refere aos funcionários públicos, pequenos comerciantes e profissionais liberais que ali habitualmente se encontram nas primeiras horas da manhã, quando as notícias de primeira página dos principais jornais alentam uma convivência animada. O capitão Lacerda abstém-se de participar, limitando-se a registrar os gestos e comentários entremeados de queixas e piadas sobre o aumento dos casos de zika, tema que ao longo dos últimos meses suscitou um desassossego generalizado, ainda que não repercutisse tão intensamente como a crise econômica e os desmandos dos homens públicos no ânimo do brasileiro.
A escalada do desemprego e dos preços dos alimentos, da luz, dos combustíveis, dos políticos e suas propinas, sobretudo destas, trazidos à tona pelas operações Lava-Jato e Zelotes, havia se tornado o mais popular dos assuntos. Tão recorrente era que, mesmo nos dias mais quentes do verão carioca, uma dona de casa, ao retornar do mercado e se encontrar no elevador com uma desconhecida, já não exclamaria “Que dia quente!”, ao que a outra balançaria a cabeça num gesto de anuência e a conversa morreria. Ao invés disso, disparava algo como “O tomate está pela hora da morte!”, e sua interlocutora, de pronto, anuía sobrepondo “E a carne, então? Só tendo conta na Suíça para comer bife todo dia”. Dali em diante o bate-papo, com ares de um desabafo bem-humorado, deslizava naturalmente, ensejando intimidade. Semelhante fenômeno se passa em todo o país. O mal-estar de uma inflação na casa dos dois dígitos, a tragédia do desemprego e da zika motivam pilhérias que a todos irmana, fomentando o sentimento de nação.
Ao lado de Lacerda, um homem de meia idade, metido num terno cujo corte afeta a solenidade burocrática de um advogado de pequenas causas, após adoçar seu café, sentencia num tom jocoso: “Há não muito tempo se comprava o apoio de um deputado oferecendo-lhe uma mesada de dez mil reais. Hoje, tornaram-se corriqueiros os depósitos milionários no exterior.” Os demais soltaram um sorriso amarelo, condescendente, e continuaram a praguejar ao mesmo tempo em que faziam piada de tudo, como se assim pudessem, levando e não levando a situação a sério, se desvencilharem do atual estado de coisas.
O capitão Lacerda não ingressara no Exército empurrado pelas mãos da necessidade: fora conduzido por um ideal. Entrevia nas forças armadas o mais nobre panteão dos heróis nacionais; ali ambicionava contribuir para o progresso do Brasil. Não visava a fazer carreira. Era um sincero patriota: sonhava ver seu país ombrear as grandes nações. A pureza e seriedade de suas intenções não tardaram, porém, a lhe trazer decepções. Discerniu nos militares, o que mais tarde se descortinou diante de seus olhos também fora dos quartéis: as instituições brasileiras traem suas próprias promessas, abortando os desejos e aspirações que trazem consigo, promovendo uma realidade oposta da que propunham. Para tal contribui a ambição insuflada nos jovens em obter estabilidade no serviço público, ignorando qualquer vocação legítima, e a mania nacional de fazer troça de suas próprias mazelas. A tragédia social alimenta uma pretensa alegria, e esta o orgulho de ser brasileiro. Tudo é motivo de brincadeira, e mesmo homens como o capitão, contrários à folia democrática da qual o país se ufana diante do mundo, não escapam: a cada dois anos se veem obrigados a ir às urnas, intimidados pela ameaça de perder direitos. Ao capitão, as eleições não passam de chanchadas. O político corrupto e seus aliados negam todas as provas de seus delitos, distribuem incentivos ao consumo às vésperas das eleições, e os elegemos, e reelegemos, ratificando os votos para que nada mude ao mesmo tempo em que o imaginário popular renova suas esperanças de melhorias. Lacerda sentia-se cansado desse espetáculo burlesco, dos discursos e bravatas que contrastam com o modo de agir de quem os profere e a veracidade dos fatos. Irrita-o essa jovialidade indolente de um povo que a tudo adoça, permeando a realidade de mentiras e meias-verdades para torná-la menos amarga. Não há interesse em mudar o país, senão em seus aspectos superficiais, e para isso a política econômica dos últimos anos havia satisfeito a demanda por fantasias que ocultassem a indecência de um número crescente de crianças se marginalizando com o vício em drogas, sem direito ao essencial, enquanto o país se arruína em dívidas com a aquisição do supérfluo.
Ao longo de todos aqueles anos, o capitão exasperou-se com a ilusão de prosperidade criada pelo consumo que condena o futuro do Brasil. Pressentiu nela um terrível retrocesso, e naquela quarta-feira de cinzas ele já surgia no horizonte. A fantasia populista se desfazia, evidenciando a apatia, o cansaço e a frustração de foliões sem outra perspectiva que não o trabalho de limpar toda a imundície daqueles anos de ostentação. Quem pôde deixou a apoteose e seguiu direto para o Galeão antes mesmo de o sol nascer. Quem não pôde, segue representando, e representar é o que fazem os “paisanos” naquele boteco antes de retomarem a antiga rotina, interrompida pelos dias de festa. Se também pudesse, Lacerda faria o mesmo; não podendo segue vivendo entre os seus como um expatriado. Não compartilha daquela alegria. Às vezes, sente ganas de embarcar para longe, mas não irá. Ainda sonha ver o Brasil ensaiar um novo enredo. Até lá, continuará solitário, naquele canto do balcão, acompanhando, esperançoso, os desdobramentos da Lava-Jato enquanto toma seu café puro, forte e amargo como a realidade que se faz sentir pelos brasileiros.
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Postado por O Equilibrista
4/3/2016 às 14h23
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Julio Daio Borges
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