Apesar da paisagem enfarruscada com o céu encabulado em sua vestimenta cinzenta de nuvens e buracos mostrando o desejado azul, a Primavera chegou aqui na varanda do vigésimo andar.
As fragatas, pontuais, mantém a rota para algum lugar lá no fundão da baía. Passam bem na minha frente e, conforme a direção do vento, fazem manobras elegantes e harmoniosas, afastando-se das paredes dos edifícios. Em algumas ocasiões vemos seus olhos amarelos com o centro negro, dando a impressão que nos observam, enquanto voam livremente.
No piso alguns vasos com diversas plantas esperam a rega matinal. Na maior parte do tempo o céu, indecorosamente despido, permite um escândalo de luz e calor. O Sol levanta de mansinho e vai inundando toda a face do prédio, aquecendo, matando os fungos, espantando a tristeza, e chamando a todos para uma caminhada lá embaixo na calçada em direção a praia, logo ali, duas quadras e pronto.
O mar que, aqui de cima vejo distante, além da vizinhança, fica muito mais bonito, quando estamos ali na beira.Mas não dá para reclamar.
Consigo ir além das fragatas, gaivotas, andorinhas, e mais algumas outras aves, até urubus bem lá nos confins das alturas. A vista alcança o horizonte com as serras à esquerda, da Mantiqueira, e em frente a do mar, e seu harmonioso conjunto de curvas acima e abaixo, sinalizando a região de Petrópolis, já na serra os Órgãos. O Dedo de Deus é o destaque.
Volto o olhar para o interior da varanda. Está na hora de tratar do bebedouro dos beija-flores, compartilhado com cambaxirras, sanhaços e até um desavisado bem-te-vi. A passarada acorda cedo e já pousa na rede de segurança ou revoa nervosa, como se cobrasse o café da manhã.
Esfrego a cara para espantar o restinho de sono, abro bem os olhos e desperto para a Primavera. Sim! é hoje! Começa a primavera. Para complicar um pouco, tem um tal equinócio que vai acontecer amanhã, dia 23 de setembro. Mas essa é outra conversa.
Olho para o vaso da primeira Amarilis a florescer. Esperou o dia certo, foi crescendo, crescendo e agora, pela manhã, começa o espetáculo maravilhoso da abertura da primeira flor. Serão quatro. Amanhã teremos mais uma e outra a caminho, até completar o quarteto. Está conosco há dezessete anos e nunca deixou de nos presentear com suas flores. Um bom sinal.
Mais um motivo para encher o regador, correr para os pés da linda amiga, matar a sua sede, refrescar suas raízes, sorrir e conversar um pouco, agradecendo por sua fiel amizade.
Muito obrigado Amarilis. Sejam bem vindas as tuas flores.
A expectativa de um período de luz e flores está vibrando em cada habitante deste hemisfério. Muitos nem se darão conta , mas a natureza vai fazer o seu trabalho mesmo que agredida, insultada e até distorcida, com represas, desmontes, aterros, devastações e intervenções bélicas por todo mundo.
O planeta vai se regenerando, fechando suas chagas, adaptando as cicatrizes e mutilações, rugindo e trovejando suas dores, reagindo e suportando seus ocupantes sem perder o controle, o rumo, a órbita.
Novamente a esperança de melhores dias, melhores colheitas, mais luz e paz entre as criaturas humanas vai surgindo e crescendo nas mentes e corações. É a vez desse hemisfério sentir a energia sutil do Universo. O Sol mais brilhante, a natureza em festa com mais flores, mais alegria.Mais cores, mais amores.
Vamos novamente!
Vamos acreditar no amor, na harmonia, na alegria, no BEM, na indiferença do Universo as iniquidades de parte dos humanos, e aproveitar a Primavera, a luz do sol e as cores mais vivas neste momento.
Quem sabe até aprender a viver e seguir em estado permanente de Primavera.
Cabeças explodindo, sexo compulsivo, corporações corruptas, heróis psicopatas, mocinhos indecisos. Tudo isso esfregado na cara do espectador, sem nenhuma condescendência. “The Boys”, a série da Amazon Prime, quer exatamente isso; chocar pela imagem, conquistar pelo grotesco, persuadir pela subversão.
Não que isso já não tenha sido feito no cinema, quadrinhos ou, até mesmo, em séries. Mas, nesse caso, a junção de imagens gratuitamente violentas e perversão (no sentido psicanalítico) é vista através daqueles que deveriam nos salvar.
Talvez, por isso, a série tenha ganhado tanta repercussão. Inverter o sentido do herói, explicitar o sexo pervertidamente, exibir a manipulação das pessoas, são parte dessa narrativa na qual semideuses e mortais compartilham do mesmo mundo midiaticamente degenerado.
Isso é uma parte. Provavelmente, nada disso teria provocado tantos efeitos se esses efeitos não estivessem de acordo com uma estética que, de certo modo, os fundamenta; uma dose cavalar de kitsch , pastiche e imagens que bastam por si mesmas.
O kitsch ( Umberto Eco ) é feito para dar ao espectador um sentimento já pronto, comestível, rapidamente consumível. As sequências e cenas de extrema violência são o principal, mas não o único, exemplo dessa estética na série.
Não por acaso, esses momentos surgem de modo inesperado, “surpreendendo” o espectador que vibra (pelo menos, creio, que é o que acontece com a maioria) com lutas com superpoderes, tripas para fora, cabeças pelos ares, corpos despedaçados.
É a expectativa da audiência sendo recompensada. Aqui, nenhuma centelha de violência deve, repito, deve, ser explicada por uma moral maior, por uma lição edificante, por um sentido enobrecedor como fundamentos principais a serem absorvidos. Splash! Mais uma cabeça se foi.
Nesse caso, nem mesmo a possível confusão com o “midcult”, um estilo que tenta imitar estilos anteriores com alguma grandeza, existe. É verdade que existe a imitação de heróis e temas anteriores, o que pode parecer uma paródia quando os ironiza, como Capitão Pátria /Superman , Soldier Boy /Capitão América , etc.
Mas, o sentido maior, é se aproveitar desses conteúdos anteriores que são reconhecíveis, para fazer uma imitação que, aparentemente, inverte os sentidos dos filmes de heróis, seus comportamentos, moral e objetivos.
Mas essa intenção quase desaparece por completo quando predominam a ideia das corporações malvadas, as imagens impactantes, o terror confeccionado, o sexo como choque e piada.
Sim, como choque e piada. Em “The Boys” o sexo, a perversão, nada tem a ver com uma crítica satírica profunda à condição humana (ou super-humana (sic)). Nada tem a ver com o sexo, tão decisivo, por exemplo, no cinema de Buñuel .
Na série, a perversão é exibida pela perversão. Imagem pela imagem. Expectativa e compensação. Exibição pela exibição. Não é à toa que ela se dá, principalmente, entre os super-humanos. Talvez porque, os “super”, como são chamados, corrompidos pelo poder, descem do seu olimpo, tornando-se, em seus “defeitos”, humanos.
E, no mesmo sentido, os humanos, querendo “ascender”, aspirem os poderes dos “super”, como uma obrigação de combater os maus heróis, mas também (vejam a alegria do frágil Hughie ao ter um super poder) como êxtase e compensação de si mesmos.
Você deve estar se questionando: mas a série não se propõe a fazer uma discussão profunda sobre esses temas, é entretenimento!
Exatamente. Daí ela poder ser considerada uma das manifestações da nossa contemporaneidade. A imagem, em si, domina a sensação. Ela não precisa estar ligada a uma justificativa ou a um propósito crítico.
Por isso o sexo é surreal, mas um “surrealismo sem inconsciente” (Fredric Jameson ). As imagens sobrepostas, descontextualizadas e as colagens da arte surrealista tinham um propósito; tornar menos familiar nossa compreensão das coisas.
Em “The Boys” a familiaridade exagerada das imagens não se propõe a isso. Não precisa. É o sentimento mastigável, a violência exacerbada e o sexo como choque programado que dão, aos Boys, o sentido. Sentido?
Aprender a desenhar foi uma das mais agradáveis atividades em toda a minha vida. E já se vão algumas dezenas de anos.
Até onde a memória alcança, o ato de rabiscar, buscando formar representações das coisas imaginadas ou à minha volta, sempre foi facilitado por meu avô, amigo desde as horas mais remotas do meu lembrar, ali pelos seis anos. Ainda tenho guardadas garatujas daquela época. Foram colecionadas e deixadas em meio a outros papéis muito mais importantes, organizados em pastas e envelopes.
Um barco, uma "paisagem", um automóvel. Um perfil de um índio com o cocar foi repetido diversas vezes, assim como um veleiro, copiado de uma estampa.
O lápis comum, os lápis de cor, os blocos e folhas de papel sempre andaram por perto. Mais tarde e mais habilidoso, fui apresentado a caneta de desenho com tinta nanquim. Aí a coisa demorou bastante.
Um amigo muito próximo do vovô era desenhista profissional. Trabalhava no Ministério da Guerra, ali do lado da Central do Brasil. Era o chefe da seção da cartografia. Dele ganhei o meu primeiro lápis Turquoise HB. Que presentaço. Era sextavado, tinha cor azul, um "lamborguini" enquanto material de desenho. Só profissionais usavam aquele instrumento sagrado. A primeira vez que o visitamos, fiquei maravilhado. As pranchetas tal como púlpitos sagrados, os bancos altos, a luz natural inundando tudo. Voltamos lá várias vezes, com intervalos muito maiores do que eu gostaria que fosse, mas era um lugar de trabalho. Também o visitávamos em sua casa. Aí fiquei sabendo que ele era professor. Em seu atelier e escritório mais uma novidade ao alcance das mãos: cavaletes de pintura. Um, grande e outro menor, com o banquinho em frente. E como tinha coisa! Paletas, tubos de tinta,uma prancheta encostada e de frente para a janela, um jaleco pendurado num cabide, por sua vez enganchado numa estante de livros… Tudo meio arrumado, meio tumultuado, meio sei lá o que…
Nunca parei de desenhar. Sempre garatujando, rabiscando, tentando fazer melhor.
A vida foi acelerando e dispersando bons focos, agrupando quimeras e idéias, distraindo o olhar com borboletas imaginadas em fantásticas aventuras e perigosas experiências. Assim fui, tocando, literalmente, num conjunto musical de pós adolescentes poucos adultos, onde eu tinha quinze anos e o segundo mais velho dezenove… Toda semana tinha baile. Rendia um troco muito bem vindo. Semanas com dois bailes, um sábado e uma domingueira. E na segunda feira, o colégio, o ginasial e suas matérias, inclusive música, latim, desenho…
E voltamos para o desenho. Aquilo era muito aborrecido. O professor estava cumprindo a tabela da própria vida. Era desinteressado, sem carisma, sem pulso para segurar um magote de moleques patifes, que não prestavam atenção aos desenhos geométricos ou decorativos,a fazer em cadernos quadriculados, imitando ladrilhos de banheiro.Não aprendi nada. Mas, fazia a minha parte e sempre tirei boas notas na matéria, apesar do comportamento menos que recomendável.
Adulto, casado e com filhos, trabalhando em Banco, descobri uma associação de Artistas, onde eram oferecidos cursos de desenho e pintura artística. Conversei com a minha inspiração maior, meu anjo da guarda, minha luz até hoje e contei do meu interesse em frequentar as aulas daquela sociedade. Ela concordou imediatamente. Incentivou com entusiasmo. Duas vezes por semana, após o trabalho de verdade.
Fui apresentado aos modelos em gesso, para copiar sob a orientação de um artista experimentado, paciente e competente. Fiquei entusiasmado. Demorou até que aprendesse a usar o carvão no lugar do lápis. O esfuminho, a escovinha, no lugar da borracha. A minha pretensa habilidade se descobria grosseira, primitiva, desarrumada, insolente. Eu precisava aprender a ver! a enxergar, a sentir os espaços, as proporções, a luz! Estava tudo ali na minha frente. Era só prestar a atenção.
O primeiro desenho estufou o meu peito de alegria e orgulho. Estava muito parecido com o busto de gesso que a turma estava copiando, retocando, aperfeiçoando, escovando e esfumando o carvão sobre o papel.
Finalmente, chegou o dia que eu esperava em total silêncio.
Depois de estar mais ou menos enturmado com os frequentadores da sociedade, todos boêmios, cervejeiros, um tanto bregueiros e bem mais velhos, fui convidado a "encontrar o pessoal", num domingo, numa esquina do centro antigo da cidade do Rio de Janeiro. Eram uns quatro pintores de verdade, fazendo perspectivas com fachadas das igrejas históricas.
Você pinta?
Quero aprender, respondi.
Tem material?
Naquela altura, imagine só um cavalete de campo, uma caixa completa, com a paleta, as tintas, o solvente e os trapos. Nem pensar.
Material?
Uma risada coletiva e simpática, liberou a minha pergunta de uma resposta.
-Tudo bem, não deixa de aparecer lá.
E eu fui, ainda sem o tal material, no fim da rua do Ouvidor, quase na Praça XV. Cheguei pouco depois deles, mas a tempo de perceber a responsabilidade com o que estavam fazendo. Fui cumprimentando todo mundo e olhando com atenção quase que alucinada, para o que estava acontecendo. Um para lá, outro para ali, um terceiro mais para trás, enfim, todos buscando o melhor ângulo para começar o trabalho.
A primeira lição estava começando.
O traçado, o horizonte, o ponto de fuga. Assim começou. No dia seguinte eu tinha uma caixa pequena, de estudante. Pincéis, uma espátula, uma paleta,tubos de tinta, os potes para o óleo e o solvente. Os trapos, peguei em casa. O cavalete, até hoje segue conservado, baleado, meio jururu, mas firme.
Comecei a acompanhar aqueles mestres amigos. Fui aprendendo a ver as ruas, as casas, as fachadas, os monumentos, as árvores, as calçadas. Depois fui aprender a pintar mato, florestas, lagoas, praias, Nunca deixei que a mediocridade me abandonasse. Nunca atingi a maioridade em desenho, pintura, música…
Sigo tentando achar o verdadeiro ponto de fuga para estabelecer a melhor perspectiva, o melhor ângulo da mais tranquila paisagem, da natureza mais gentil.
As fachadas sempre aparecem para ocupar um espaço de destaque. Os caminhos têm curvas e elevações para atrapalhar a minha incipiente técnica. A melhor descoberta foi aquela do horizonte duplo para se colocar algum corpo ou objeto flutuando no espaço.
Acho que a morte tem dois horizontes, mas somente um ponto de fuga.
“Qual um sonho dantesco as sombras voam ...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!” Castro Alves
Noite e dia inundando a cidade
nos atormenta o aluvião da perda,
a sede da morte bebe nosso sangue
e seu bafio invade-nos as casas e narinas.
Noutras bandas, esfacelados os seixos da vida
que se perde nas matas sem horizonte,
implumes, os pássaros emudecem
diante da terra espoliada.
Alucinação? Tenho febre?
“Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura ... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!”
Quem será o algoz?
Que não é sombra nem ficção?
E se esconde atrás da arma?
De quem pode ser a fúria?
Do que não é corvo nem micróbio?
E se deleita diante dos mortos?
Quem serão os muitos cabeças?
Que passam a boiada e se anunciam?
E abrem as portas do inferno?
“Dizei-me vós, Senhor Deus!
Tanto horror perante os céus?!”
Ignorando o cadáver dos justos,
dizimados os nativos, os animais,
as divindades, a selva e os rios,
o cadafalso rasteja aos pés do poder.
Mas em meu texto renascem plumas
em cada palavra e em nossos atos
vencendo a tormenta de fogo.
Delírio? Delírio? Ó, delírio!
O que me responderás?
Veloz veloz, veloz, em meu onirismo,
cauda de arara azul, escamas de folhas,
canto de uirapuru, trajeto condoreiro,
benfazejo peixe solar ilumina o mundo.
Seduzida pela visão, pergunto ao encantado
se a esperança, inseto e sentimento,
pode ganhar forma imaginária.
E renascer tal forma real.
Brasis afora e adentro,
adormeço numa rede.
Plantando a régia vitória dos cocares
um Quarup universal cantará para sempre
o nome dos nossos mortos.
Nas aldeias, eles renascerão com o sol.
E iniciarão os humanos
nos rituais da vida.
Num sonho coletivo os peixes voam ...
Bandos de asas canções entoam!
Na selva germinam rios e paz.
Eu voltava para casa caminhando e um reflexo luziu na calçada, passos a frente. Imaginei um diamante caído de alguma venturosa orelha e seu brinco, um brilhante suicida arrojando-se para fora do encastoamento do anel. A ganância atreveu-se em cutucar a minha mente. Apertei os três passos de distância enquanto o brilho desaparecia com a mudança da posição do olhar. Cheguei perto, encima do alvo e lá estava a coitada. Uma lantejoula. Entre desapontado e autocritico, dei uma discreta e desdenhosa risada, debochei daquele destino infame, e lembrei dos meus tempos de garçom de cabaré, do barulho infernal, do cenário padrão, das colegas entrando rapidamente, as lantejoulas das roupas das coristas, o porteiro vestido como um general da banda. Segui o meu caminho, penalizado com o destino daquela pobre lantejoula. Poderia ter sido atada a uma imponente roupa de privilégios. Poderia estar num traje qualquer em qualquer degrau da escala da vida, desde os que podem mais e choram menos até aos que nem chorar podem. E estava ali, aproveitando um raio de sol perdido na calçada. Fiz uma discreta reverência com a cabeça, e nem parei para conferir. Era uma lantejoula indigente, sem terra, sem teto, sem amor, sem futuro....
No cinema, um mago viaja por multiversos incontáveis. No streaming, filmes e séries voltam no tempo para reviver um tempo anterior. Na realidade (realidade?), a história parece se repetir continuamente. Como não podemos abrir um portal e atravessar o tempo, de repente, você se pergunta: é um déjà vu , ou isso está acontecendo?
Esse sentimento pode parecer uma sensação isolada, mas não é. Vejo depoimentos, imagens, pessoas, que realmente vislumbram um certo tempo, não muito distante, imaginam e sonham que, de algum modo, “as coisas poderiam voltar ao que era antes”.
É mais complexo que “O feitiço do tempo”, filme de 1993, no qual o personagem acorda sempre no mesmo dia. Talvez nossa condição contemporânea, especialmente dos últimos anos, nos empurre para uma nova sensação, um desejo, de retorno e repetição.
Filme “Feitiço do tempo”. Fonte: https://media.fstatic.com/
É uma especulação. As percepções e suas tentativas de explicação, surgem quando especulamos. Mas, busquemos um fundamento mais, digamos, concreto. O mito do eterno retorno, tão conhecido e interpretado nos mais variados campos, pode servir como esse fundamento.
Não caberia aqui, evidentemente, abordar as várias interpretações que esse mito teve, desde a filosofia de Nietzsche à psicanálise freudiana. Fiquemos com a interpretação da mitologia de Mircea Eliade , presentes, nos livros “O mito do eterno retorno” e “Mito e realidade”.
Mais especificamente, tomemos a sua interpretação do ato de regeneração do tempo das origens. As sociedades arcaicas, diz Eliade, necessitam regenerar-se periodicamente. Os rituais de regeneração sempre se ligam a um ato, momento, exemplar, arquetípico e, em geral, cosmogônico, como o surgimento do mundo.
A vida do homem arcaico está ligada às categorias essenciais, mitos primordiais, atos arquetípicos e não a eventos. (Deixa eu logo fazer essa observação, antes que eu seja apedrejado por uma antropologia: hoje, uma certa interpretação antropológica chama sociedades arcaicas de tradicionais e modernas de complexas; estou usando os termos literais de Eliade).
Fonte: submarino.com.br
Esse homem não carrega o peso do tempo, mesmo nele vivendo, exatamente porque sua concepção temporal se liga à ideia das origens.
Quando, no tempo, a realidade cai em desgraça, quando o homem se afasta de seus modelos, exemplos, anula-se o tempo e, então, para essa concepção arcaica, é possível ir, novamente, em busca das origens, em busca de uma renovação.
Isso se revela em mudanças cíclicas, como as fases lunares, ou em eventos mais cataclísmicos, como o apocalipse, nos quais a realidade se degenera em “pecado” para, em seguida, se regenerar.
A ideia do tempo da modernidade, um tempo linear irreversível, de rememorar os mais variados atos históricos que devem ser guardados, registrados, está distante da concepção de tempo cíclico atemporal das sociedades arcaicas.
Mas, então, o que explicaria essa sensação de eterno retorno contemporânea, presente na realidade e na ficção?
Estaríamos voltando à ideia de um necessário retorno às origens? Estaríamos buscando substituir um tempo decaído por um tempo exemplar, menos caótico, menos catastrófico, mais estável e compreensível?
Não tenho respostas definitivas, mas impressões. Em primeiro lugar, como sabemos e o próprio Mircea Eliade deixa claro, o mito não finda com a sociedade moderna, mas ele se modifica.
Os exemplos são vários, desde os rituais que atravessam a vida, os mitos da literatura, dos quadrinhos, do cinema e tantos outros.
A questão é que, na vida moderna, diferentemente da ficção, o mito tende a operar dentro do tempo irreversível, que não pode anular os momentos “profanos” que se afastam dos modelos.
”A persistência da memória”, 1931. Salvador Dalí. Fonte: https://pt.wikipedia.org/
O que significa, por exemplo, que dentro desse tempo, os momentos de guerras, catástrofes, pandemias, permanecem dentro do tempo da modernidade. Pode-se argumentar que aprendemos com eles, ou que eles são inevitáveis.
Mas, como vimos, para a concepção arcaica, a noção do tempo não se mede dessa forma, daí por exemplo, podermos afirmar que para essa ideia do homem arcaico o tempo é sempre presente. E, quando esse presente se apresenta distante dos seus modelos originários míticos de origem, pode-se recorrer aos mais variados rituais para refundá-lo, trazer um novo tempo.
Não exatamente o mesmo tempo anterior, mas o voltar a origem, ao modelo, ao arquétipo, de certo modo, regenera o tempo, dando-lhe outra configuração.
O estimado leitor já entendeu que, na nossa sociedade moderna, somos incapazes de realizar tal feito, justamente porque nosso tempo parte do princípio de linearidade, da ideia de continuidade. A palavra é progresso.
Se somos fundados na ideia de linearidade e progressão do tempo e, com isso, da história, carregamos o peso dos fatos ocorridos e não podemos anulá-los.
Daí, por exemplo, a ideia de subversão da dor, do sofrimento, passar pela concepção de mudança, subversão, revolução. Mas, mesmo essa ideia, é atravessada dentro de um tempo que evolui, que não volta a um tempo de origem, de arquétipo.
”Contos do loop”, série de streaming
O homem moderno talvez sinta isso como impossibilidade, o que, ao mesmo tempo, pode explicar seu sentimento de um desejo de retorno.
Olhamos para trás e desejamos que determinado tempo voltasse, olhamos para dois anos atrás e queríamos que os anos que se seguiram não tivessem acontecido. Exatamente porque o que se seguiu foi preenchido por desprazer, queda, catástrofe.
Nossa ideia moderna de progresso no tempo nos obriga a caminhar para frente, carregando nas costas, memória, o fardo da história.
Talvez a enorme quantidade das produções imagéticas que criam loops temporais, portais interdimensionais, viagens no tempo, do cinema, do streaming, reflita esse desejo, satisfazendo, assim, esteticamente, nossa necessidade de retorno.
Pode ser sintomático que desejemos, através das imagens espetaculares de outros mundos e realidades proporcionadas pela técnica contemporânea, vivenciar outras realidades, um desejo de retorno e, contraditoriamente, isso nos coloque em uma simulada tentativa de desafiar o tempo. Nosso eterno retorno é outro.
O homem arcaico, com sua concepção religiosa e mágica – e, ironicamente, exatamente por isso é chamado de arcaico – realizava tal façanha dentro do seu próprio tempo.
Como não podemos realizar tal feito, um mago, no cinema, realiza um ritual e abre um portal de onde várias réplicas de pessoas e mundos surgem e, então, escapamos, imageticamente, de nosso tempo. De repente, você se pergunta: é um déjà vu, ou isso está acontecendo? Loop!
Ícaro, filho de Dédalo, tentou subir aos céus com asas feitas com penas de gaivotas e cera de abelha. Queria fugir do Labirinto onde estava preso, juntamente com seu pai.
A lenda de Ícaro e o sonho de voar alto, ganhar o espaço. Vencer
também traz advertências e conselhos quanto a cuidados com o calor do Sol. E preciso evitar o derretimento da cera e o perigo de voar baixo, perto das águas do mar, encharcando as penas, aumentando o peso e provocando afogamento.
Uma lenda. Uma história fantástica.Ficção à moda antiga.
Observo a estante bem ali na minha frente, repleta de encadernações de projetos, pastas com documentos, pilhas de papéis rascunhados com ideias, aulas, diagramas, mapas. Vida colecionada em lembranças de um passado de trabalho, criação, e realizações.Igualmente, testemunhos de enganos, sonhos não concluídos ou realizados, tempo perdido, enfim, uma papelada inerte, absolutamente inútil.
As gavetas da estante parecem cestas trançadas pelas mãos da autoconfiança, da coragem e da fé, cheias de penas de gaivotas virtuais, ainda sujas com os restos da cera, igualmente virtual, imaginada a partir dos livros, aqui favos do mel do conhecimento, colecionados na mesma estante, em outras prateleiras.
Cada encadernação, cada pasta, cada maço de papel grampeado rabiscado com alguma ideia, os mapas e roteiros para execução de tarefas, as notas e registros, enfim cada lembrança contida remete a um voo. A maior parte bem sucedidos, mas nenhum pouso definitivo no topo do penhasco das ambições. Apenas visitas. O calor do Sol das vitória provocava a fusão da cera da humildade, da serenidade, do equilíbrio.
Os ventos do reconhecimento sempre atenuaram o planeio em voos, quase nunca suaves, rumo ao fundo do vale da existência.
A cada descida observei as escarpas riscadas por diversas trilhas tortuosas, abertas em direção ao cume, repletas de gente lutando para vencer as armadilhas da vida em busca dos sonhos.
No meio do paredão, atado por correntes flamejantes, reconheci o Titã Prometeu sofrendo seu eterno castigo, apenas por ter dado aos humanos o segredo do conhecimento. Ah, Prometeu, o rebelde…
Hoje as gaivotas passam voando aqui na frente da varanda do apartamento onde moro, sem correr nenhum risco de serem depenadas. O mel vem livre da cera e sempre está presente na primeira refeição, sinalizando a perenidade do sabor doce, não importa quem o está experimentando.
Os voos estão limitados ao espaço do viveiro: do poleiro para o bebedouro, do bebedouro para o poleiro ou para o pote de ração. As lembranças se alternam entre as delícias dos êxitos e as dores dos castigos.
Uma vez Ícaro, outra vez Prometeu…
RA
Quem é que acha que pode dizer aos outros o que vestir
para melhor se ver ou para melhor falar ou escrever.
Quem é que pode pretender mudar,
sem medo de se arrepender,
a cor dos cabelos, o jeito de ser,
o modo de rir, a voz, o saber.
Quem pensa que ditar moda
faz melhor aos seus iguais
nunca será capaz de entender
o prazer de apenas se deixar ser
tal qual como Deus criou.
Nasceu para ser gordo, gorda ou magrela,
nasceu para ser princesa, corista ou Cinderela.
Será rico ou será pobre. Será plebeu, paria ou nobre.
Nada adianta tentar mudar.
Não adianta chorar, berrar, espernear.
O melhor e deixar a vida correr e aceitar.
Dizem que ele escolhe, define e organiza
tudo que vem pela frente.
Então, o jeito é pegar
o que escolheu para a gente.
Gordo, gorda ou magrela, inteligente ou nem tanto,
bonitão ou bonitona, gulosa ou enfastiada, não faz a menor diferença.
Ser feliz é o que conta, ser do bem é o que vale.
Viver em paz e harmonia, com muita felicidade
Com bom humor, com verdade, com amor, com amizade.
Gozar a vida sem medo, sem rancor, sem avareza.
Sem maldade, sem tristeza, com muita tranqüilidade.
Não gosta de feijoada? Come pouco? Não bebe?
O manequim está grande? Não tem porte elegante?
O que é que está faltando? Qual importância tem?
Deixe a vida ir passando sem sentir dor ou tormento.
Coma, beba e desfrute. Ame até a exaustão.
Com vontade e paixão.
Goze a vida sem pudores.
Tenha quantos amores quiser, mas nada de sentir dores, principalmente, de amores.
Só não faça confusão: Roupa de magro é de magro.
Roupa de gordo é de gordo. Encontre o seu figurino,
Encontre a sua verdade. Encontre a sua parceira,
Parceiro, caso ou ficante.
Não copie, não invente.
Procure, ache. Descubra que a felicidade
é aceitar o destino e a tal fatalidade.
Sinatra observando a maestria de Ella Fitgerald, em 1967. Fonte: https://francisalbertsinatra.tumblr.com/
Algumas pessoas gostam de listas. Eu não gosto. Mas, como acredito que a contradição faz parte do humano, resolvi fazer uma. É de jazz. É em homenagem ao Dia internacional do jazz, celebrado na data de 30 de abril. Você não precisa gostar do estilo para ouvir. Afaste logo essa ideia boba de que jazz é só coisa de gente cult e inteligente. Pense na famosa frase de Louis Armstrong, “se você precisa perguntar o que é jazz, então nunca saberá”.
Como toda lista é falha, acertar não importa. Sim, é uma lista pequena e não faz jus ao gênero. Maior, ficaria inviável para o espaço. É para se ouvir em uma tarde de um sábado qualquer, como este.
A ideia é que, depois desta lista, você possa se aprofundar mais e perceba a potencialidade do estilo musical mais, ...eu queria achar outra palavra..., profícuo da cultura industrial.
Para a escolha destas músicas, além do meu gosto pessoal, há um critério; tentar abarcar uma certa variedade dentro do gênero musical. Uma variedade vocal e instrumental.
“Summertime” (George Gershwin, DuBose Heyward, 1935). Retirada da ópera “Porgy and Bess”, essa canção é tomada como um dos temas mais singelos e belos para um standard (um clássico) do jazz.
Vale a pena ler a história da ópera da qual a música faz parte. Aqui, vamos unir um dueto do panteão jazzístico, Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, interpretando-a no álbum “Porgy and Bess”, de 1957.
É a hora de você, neste sábado, acomodar-se no sofá e sentir o vigor da letra, das vozes e do trompete nessa música e nessa inigualável interpretação.
A introdução do trompete de Armstrong e a entrada de Ella vão ecoar na sua cabeça por um bom tempo. Uma dica de um fã: há uma interpretação solo de Ella em vídeo, feita em 1968, em Berlim. Veja como cantar pode (ainda pode?) ser outra coisa.
“Giant steps” (John Coltrane, 1960). Certamente, quando se começa a escutar essa música, o sofá já não é mais seu lugar. A ideia é essa, a tonalidade do Bebop (um ritmo mais cadenciado e perceptivelmente arranjado, do qual o grande Charlie Parker foi o maior símbolo), aqui, foi explodida, literalmente.
O antropólogo Massimo Canevacci certa vez escreveu que Adorno (o filósofo) não gostaria de Coltrane, exatamente daquilo que faz desse álbum a sua grande marca, uma certa improvisação programada, se assim posso dizer.
É uma erupção de tons e variações, impensáveis para um ouvido acomodado à cadência melódica do Swing (ritmo consagrado pelas big bands) e totalmente distante de um entediante Smooth jazz (puristas do jazz chamam, jocosamente, de música de elevador). Coltrane marcaria seu nome na história, justamente por romper com ela.
“Caravan” ( Duke Ellington, Juan Tizol, Irving Mills, 1936). Talvez a música instrumental mais regravada do Jazz. Ouça a gravação do álbum “Money jungle” (1962), de Ellington, Max Roach e Charles Mingus.
Logo, de cara, você sentirá os dedos de Mingus atacando o contrabaixo, a força da bateria de Roach e as célebres possibilidades do vigor pianístico de Ellington.
Duke, como era chamado pelos amigos, mudaria a história do jazz por lhe conferir uma aura para além da mera fruição gratuita.
“I fall in love too easily” (Jule Styne, Sammy Cahn, 1944). Já prevejo algumas pessoas torcerem o nariz, mas listas são feitas, também, exatamente para isso.
Senhoras e senhores, essa canção de amor, tão pequena e simples em sua letra, serve como uma bela introdução ao estilo Cool jazz (um estilo mais lento que o bebop, que se consagraria com o memorável Miles Davis ) e um bom começo para se ouvir seu mais conhecido intérprete vocal, Chet Baker.
É na sua interpretação (Let's get lost: the best of chet baker sings, 1954) que podemos perceber o cantor, quase, pagando uma penitência pelo amor.
Poderia parecer piegas, porque nos remete, talvez, à experiência de cada um, mas, fantasiamos, e parece que Chet está contando sua história e, então, nos irmanamos com ele em sua interpretação. Too easily, muito facilmente.
“Moanin’” (Bobby Timmons, 1959). A escolha aqui atende a dois propósitos, primeiro, perceber como o jazz evoluiu em ritmos que o enriqueceram, como o Hard bop; depois, atende à história do álbum do qual essa música faz parte, “Art Blakey and the jazz Messenger”, de 1959, o álbum que iria mudar a história da Blue Record, uma das maiores gravadoras de jazz da época.
Pegue qualquer nome daí e você verá um gigante na história do estilo. “Moanin’” é não só uma síntese estilística desse momento, com suas acelerações e pausas perfeitas, permitindo a expansividade de todos os músicos, mas o prenúncio do brilho que muitos desses músicos ainda alcançariam.
“Fly me to the moon” (Bart Howard, 1954). Há coisas das quais não se pode escapar. Freud, em “Além do princípio do prazer”, cita uma frase de Mefistófoles, do “Fausto”: “Pressiona sempre para frente, indomado”.
Sempre que ouço essa música, na interpretação de Sinatra no álbum “It might as well be swing”, de 1964, lembro dessa frase.
Pode parecer contraditório com a interpretação freudiana, mas nem tanto. Talvez seja a ideia de uma sensação de prazer incontida, da qual a letra trata, que leve a isso.
Empurrando o amor, incontrolavelmente, para as estrelas, aquilo que se sabe, finito, por isso intensamente vivido.
Sinatra, em uma apresentação de 1965, disponível em vídeo, parece saber disso e exala uma alegria, diante da plateia e da câmera, indomável.
“Red clay” (Freddie Hubbard, 1970). Escrevi um texto específico sobre essa música, “Red clay 12:12”. Ela pertence ao álbum de mesmo nome e representa um momento em que Hubbard coroa, com brilhantismo, sua relação com a Soul music e com o Jazz fusion.
A melhor versão é ao vivo, contida no álbum. Como exercício comparativo, é interessante perceber como as duas versões mudam bastante, revelando, em uma gravação, como poucas, a carta na manga do jazz; o tocar ao vivo, a diferença entre músicos, o enriquecimento da improvisação.
Hubbard se tornará um dos mais célebres trompetistas por, dentre outras características, sempre desafiar o limite das notas, da frase musical, daquilo que como o barro (clay) pode ganhar outras formas de interpretação.
"My baby just cares for me" (Walter Donaldson, Gus Kahn, 1930). Claro, é a gravação dessa música feita por Nina Simone que interessa. Impressiona bastante como essa canção estará no álbum de estreia da cantora, “Little Girl Blue”, de 1959.
Mas, mais impressionante ainda, é perceber como aquela pianista, que ainda sonhava com a música erudita, vai nos proporcionar não só uma inigualável diferenciação e pujança vocal, como um talento incomum com o teclado.
Certa vez, um amigo músico de jazz, quando escutávamos essa canção interpretada pela musicista, no exato momento que ela executa o solo no piano, interrompeu, exclamando: mas é Bach!
“Take five” (Paul Desmond, 1959). Essa música é tão simbólica, tanto pelo seu ritmo que memorizamos por horas, quanto pelos seus feitos comerciais. Ela pertence ao álbum “Time out”, do Dave Brubeck quartet, de 1959.
O álbum vendeu, naquela época, graças, em grande parte, a essa música, mais de um milhão de cópias, um enorme feito para o jazz e um gigantesco avanço para sua popularização.
É a melodia, agradável, variada e, ao mesmo tempo, aderente, do sax de Paul Desmond e do Piano compassado de Brubeck, que conferem, a essa canção, um lugar fundamental na história do jazz.
“Misty” (Errol Garner, Johnny Burke, 1954). Sarah Vaughan chegou, para mim, depois de Ella Fitzgerald e instilou uma dúvida. Como todo amante do jazz, comecei a comparar as versões das músicas entre as duas.
Ainda hoje, posso jurar em um dia ter gostado mais da versão de “Misty” de uma, do que da outra. Obviamente, no outro dia, penso o contrário.
Essa música presente no “Vaughan – Vaughan And Violins”, de 1958, nos dá uma amostra da potência (aqui, não tem jeito, a palavra é essa mesmo) da voz de Vaughan.
Em um vídeo, de 1964, gravado em uma apresentação na Suécia, ela parece estar tímida antes de começar a cantar.
Quando começa, após ouvir aquele grave se espraiando, suave, e em seguida um agudo contrastando-o, e as frases distendidas, você pode pensar, essa versão é melhor.
Aí está. 10 músicas para você sentir um pouco do que o jazz já nos proporcionou e ainda nos proporciona. Sensação é a clave. Lembre-se sempre da frase de Louis Armstrong.
P.S: Ah listas! Alguns podem me acusar de ter esquecido de Billie Holiday. Não esqueci. É que uma de suas maiores interpretações é algo tão denso, que escrevi um texto específico sobre: “Billie Holiday, Strange Fruit e 100 anos do Jazz”.