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Quinta-feira, 13/8/2015
Blog de Anchieta Rocha
Anchieta Rocha
 
Flaubert - não por acaso

Descrição dos varões feita por Flaubert em Madame Bovary no baile na residência do Marquês d'Andervilliers:

"Alguns homens (uns quinze), de 25 a quarenta anos, espalhados por entre os pares, ou conversando na entrada das portas, distinguiam-se dos restantes por certo aspecto grave, apesar das diferenças da idade ou do traje. As suas casacas, mais bem feitas, pareciam de melhor tecido, e os cabelos, puxados em caracóis para a fronte, lustrados com pomadas mais finas. Tinham o aspecto da riqueza, brancos, realçados pela palidez das porcelanas, as ondulações do cetim, o polimento dos belos móveis, e conservados por um regime discreto de alimentos esquisitos. Os pescoços se moviam, sem esforço, nas gravatas baixas; as suíças compridas caíam-lhes sobre os colarinhos de ponta; limpavam os lábios em lenços com vistosos monogramas bordados e dos quais se desprendia um aroma suave. Os que começavam a envelhecer pareciam jovens, ao passo que na fisionomia dos mais novos notava-se alguma coisa de maduro. No olhar indiferente flutuava a quietude de paixões diariamente saciadas; e, através das maneiras discretas, transparecia a brutalidade peculiar ao domínio de coisas fáceis, nas quais a força se exercita e a vaidade se satisfaz; governar cavalos de raça e conviver com mulheres perdidas."

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Postado por Anchieta Rocha
13/8/2015 às 16h59

 
No fundo bem no fundo

Abre as pernas — eu disse encostando o revólver na cabeça dela.

Tinha planejado pra quando voltasse do serviço. Ia obedecer do jeito que eu queria.

Naquela noite, saí do bar mais cedo. O movimento tinha sido fraco por causa da chuva. Foi até bom que assim eu pude sossegar no pensamento. O colega notou o meu arredio. Contas pra pagar, eu disse.

Lavando os copos, o olhar perdido na televisão, ela vinha na minha cabeça, rindo, jogando o cabelo pra trás. Eu dizia coisas sem sentido pros fregueses, empurrando o tempo, as ideias insistindo, igual a chuva no teto do bar. Enfiava a mão debaixo da blusa fora da calça, alisava o cano do revólver e as coxas dela Nas vezes que passava por mim, meus olhos corriam seu corpo da cabeça aos pés. Falava entre os dentes que um dia ainda ia meter naquela gostosura.

Aquela noite eu arrebentava com tudo. Fiquei tão agitado que depois do serviço entrei no primeiro bar.

O conhaque bateu na barriga e na cabeça.

Toda vez que bebo, as ideias embaralham. Aí começo. É como mergulhar num poço e buscar alguma coisa perdida no fundo, bem no fundo. Sem mais nem menos, um negócio agarrado na infância veio na cabeça. Nunca contei pra ninguém, nem pro meu irmão, nem pro melhor amigo. Sempre que acontecia uma coisa diferente, eu corria pro quintal e ficava conversando com as formigas até não poder mais.

Meu pai falou que ia viajar. Pôs o revólver na cintura por dentro da blusa e saiu. De noite, quase dormindo, ouvi um barulho na sala. Levantei e pela greta da porta vi o Tio Tonho entrando. O Tio Tonho era o tio que eu mais gostava. Brincava comigo de jogar pra cima.

No meio da sala, ele e a minha mãe beijando na boca. Não vi mais nada. Voltei pra cama e enfiei a cabeça debaixo da coberta. Logo em seguida os gemidos vindo da cama de casal.

Jurei por Deus que quando o pai chegasse eu ia contar tudo. Mas depois arrependi, ele era capaz de qualquer coisa. Mesmo morrendo de raiva eu não queria que nada acontecesse.

No dia seguinte, na hora do café, mexendo no fogão, virou e me olhou diferente. Perguntou se eu queria leite. Não respondi. Apanhei um biscoito no prato e saí com a pasta debaixo do braço.

Fiz que ia pra aula, dei volta na frente da casa, atravessei o beco e fui pro quintal - pro fundo, bem pro fundo.

Sentei na porta de cabana feita de bambu e telhado de folha de coqueiro, igual tinha visto num livro do Robson Crusuê.

Passado um pouco, vi que uma fileira de formiga atravessava um galho tombado sobre um fio de água. Fiz uma ponte com dois pedaços de bambu e barro alisado. Ainda assim preferiam dar a volta longe de onde eu estava. Cerquei todas até que aprenderam o novo caminho.

Não demorou, já conversava com elas. Perguntei uma porção de coisa. Mexia com uma e com outra. Cheguei a fazer uma musiquinha:

Passa, passa, formiguinha Passa, passa sem parar Se não travessar pinguela, Tamanduá vai te jantar

Fiquei muito tempo na cabana. Contei tudo da minha vida. Só não contei por que eu não tinha ido à aula.

***

Paguei a bebida e saí. Eu não estava tonto, mas minha cabeça era uma confusão danada. Acariciava o revólver debaixo da blusa o tempo todo. Atravessei a rua alisando as coxas dela até em cima. Úmida e quente a cidade.

Deitei ao seu lado e senti o calor no lençol. Encostei o revólver no rosto suave. Desci a mão, fiz a curva da cintura, forcei as coxas resistentes. Tirei o dedo e cheirei. Esfreguei no nariz dela e perguntei de quem era.

Apoiou o queixo no peito e ficou calada. Peguei o revólver com força, enfiei fundo, bem no fundo.

- É dele?

Não falou nada.

Fiquei esperando até a última gota de sangue escorrer pro lençol.  

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Postado por Anchieta Rocha
2/8/2015 às 10h21

 
Fim de jogo

Eu trabalho no hospital faz tempo. Já vi todo tipo de sofrimento. Doença, parto, qualquer acidente, levo a pessoa na ambulância e ponho na mão do médico. No início ficava noite sem dormir, as coisas rolando na cabeça, só tristeza, pesadelo um atrás do outro, acabei acostumando. O sofrimento dos outros ajuda a esquecer os meus problemas. Que Deus me perdoe, mas na vida não é assim? As pessoas não se distraem vendo desgraça na televisão?

Eu não sabia fazer nada. Não tinha ofício, não estudei, mal tirei o grupo. Nem sei como o volante da ambulância veio parar na minha mão. Não demorou, já estava fichado no hospital.

De tanto socorrer os outros, aprendi muita coisa. Tem dia, bato o olho no defunto e sei a causa da morte. Levo pro hospital e os médicos muitas vezes confirmam o que eu acho que é. Chego até apostar com os colegas. Já acertei muito. Só de ver um cara borrado eu adivinho: enfarto - não dá outra. Um dia acertei na morte dum ricaço numa mansão — overdose de cocaína por causa da língua gelada.

Duns tempos pra cá, as coisas já não mexem mais comigo. Mas naquele domingo, quando cheguei no lugar do acidente, que olhei o menino morto no chão, me deu vontade de voltar. Não sei se porque o que estava acontecendo era triste mesmo, ou se naquele dia, antes de sair, perdi o controle e dei uma surra no meu filho. Deu vontade de deixar a padiola no local e correr pra casa.

Era sempre assim — toda vez que eu batia nele eu sentia um negócio ruim. Nesse dia foi pior. Quando parei de bater, com a voz quase sumindo, ele disse que queria ter um pai melhor.

Fui pro quarto, fiquei sentado na beira da cama até a mulher entrar e dizer que eu tinha que atender um chamado. Na hora que saí nem quis olhar pra ele no canto do sofá.

Liguei a sirene e com vontade pisei no acelerador pra queimar a raiva que ia dentro de mim.

Gente em volta dum corpo e uma sangueira danada. O muro que veio abaixo esmagou a barriga do menino. Os rapazes no bar contavam como tiraram ele. A mãe foi arrastada pelos vizinhos.

Não demorou, o pai apareceu na esquina. Vinha do campo, alegre da vida. No ouvido, o radinho de pilha com o escudo do time. Passou pelos amigos na porta do bar e apontou com orgulho a camisa. Tinha os olhos vermelhos por causa da bebida.

Quando viu o bolo de gente, se espantou. Viraram pra ele, coisa ruim tinha acontecido, logo pensou.

Abriu a roda, ajoelhou, começou a chorar e ficou passando a mão no rosto do menino.

Tentaram tirar ele de perto, em vão. Continuava passando a mão pelo corpo do menino, no peito, no cabelo.

Começou então a pegar as vísceras espalhadas no passeio e colocar de volta pra dentro da barriga. Ficou um bom tempo catando os pedaços, falando uma porção de coisa que não dava pra escutar porque no chão o radinho de pilha com o escudo do time não parava de repetir os gols.

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Postado por Anchieta Rocha
12/7/2015 às 19h11

 
Campo de avião

Debruçado na pia da cozinha, chupando manga ubá, ouvi o ronco do motor vindo do alto. Larguei tudo e corri pro quintal. No rumo do abacateiro ainda pude ver as letras do avião, apesar da pouca luz do fim de tarde. Achei que ia bater, acabou ganhando altura. Não entendi o que estava acontecendo. Corri pra praça, cada um dava um palpite.

- É o noivo da Jandira dando rasante pra fazer bonito!
- O piloto perdeu a rota!
- É pane, olha ele cambaleando!

O Said, advogado formado de novo, querendo mostrar serviço, foi até o jardim e mandou os motoristas de praça subirem pro campo pra clarear a pista pro avião pousar.

Confusão igual na cidade, só com enchente, quando não tinha aula, bom pra bater perna. O prefeito era o mais agitado. Avião nenhum tinha descido na cidade desde a inauguração do campo que só servia pra soltar papagaio e encontro de casal.

O Precioso, sempre trazendo uma garrafa de pinga e uma bisnaguinha de salame pros fregueses mais chegados, foi o primeiro a subir com o carro de praça.

Dentro de pouco tempo, levantando poeira, uma fileira comprida ganhava a estrada. Motocicleta, lambreta e bicicleta também. Até o Coelho, se não é o soldado, subia com a Baiana puxando a carroça.

Eu não queria ficar de fora do que acontecia.

Abro a porta pra ganhar a rua - lanterna na mão, presente do padrinho - papai planta na minha frente e "aonde pensa que vai?"

Ficar em casa amuado, olhando aquela montoeira de gente subindo, sem nunca ter visto um avião de perto, e pior, no dia seguinte na aula, ter de escutar as histórias dos colegas, e o bobo aqui mudo, parado, invejando todo mundo sem ter nada pra contar? Papai podia me comer na correia que eu ia. Por causa de marca na perna nunca deixei de fazer o que me dava na cabeça.

Volto, finjo que vou pro quarto, fujo pela cozinha, pulo o muro, invado o quintal do vizinho, assanho as galinhas e ganho a rua.

O avião não parava de sobrevoar a cidade. Sumia e apontava na Ponte da Aldeia, rumava pro outro lado, pegava altura depois do Matadouro e vinha de novo. Voltava alto, a luzinha quase sumindo na Taquara Preta. Dentro da igreja era difícil segurar os fiéis na novena pra São Lourenço. Ninguém queria tirar o pé do adro até ver o que ia acontecer. "Não chega os filhos do juiz que perderam a vida num desses, faz pouco vindo do Rio?" - dizia ao padre, Licurgo, o sacristão.

A cidade toda no campo. O sargento do destacamento, já rouco, dava ordens com o auxílio do também rouco alto-falante do Zé Boi, que só servia para noticiar funeral.

Por fim, depois de muita poeira e confusão, os soldados conseguiram colocar os carros lado a lado, formando um corredor.

Não demorou e o barulho do motor aumentou. A luzinha apareceu no rumo do poente. Tão logo o último carro emparelhou com o Studbaker do grã-fino do cartório, o avião veio baixando, até que as rodas quicaram, assustando as pessoas. Depois parou de vez, perto da baratinha do coletor.

Foi uma buzineira só. Todo muito correu pra ver de perto o avião da Aero Sita.

De dentro apareceu um sujeito de bigode fino, com uma jaqueta de couro e óculos sobre o gorro de aviador.

- A cara do Marlon Brando - suspirou a moça.

O prefeito foi o primeiro a chegar perto pra convidar ele pra jantar.

Aflita, mamãe me esperava na sala. Falou que eu podia entrar que papai já estava dormindo. Curiosa que era, nem ralhou comigo. Disse que estava morrendo de fome e perguntei o que tinha pra comer.

- Vai lavar os pés enquanto eu quento.

Falava sem parar e engolia o escaldado com ovo. Contei desde o começo quando o soldado me barrou na subida, que tive que dar uma volta grande pra ver o avião de perto, pegar nele e alisar a lataria do motor, quente ainda, porque a coisa que eu mais gostava era ir pro mato, catar pipa, ir talhando com o canivete até aparecer um Douglas ou um Constelation, cada um que só faltava roncar.

Mamãe ficava impaciente querendo ouvir o resto da história.

- Os carros já estavam tudo um do lado do outro. Não tinha nenhum na cidade. Tão logo cheguei o avião apontou. Com muito cuidado fui engatinhando pro soldado não me ver.

Fiquei no meio dum Buick e dum Packard. Quando vi que estava baixo, quase encostando no chão, enfiei a mão no bolso, puxei a lanterna, acendi e joguei o facho de luz na pista. A minha mão tremia.

Mamãe ouviu em silêncio, os olhos fixos em mim. Tenho certeza que teve orgulho da minha aventura.

Fui pro quarto e fiquei pensando no que aconteceu. Levantei, peguei a lanterna na sala e voltei pra cama. Virei pro canto e pus ela perto da parede. Apertei o botão de acender e nada do facho forte — só uma luz fraca já apagando. Eu fechava e abria o olho e via a brasinha sumindo. Ficamos assim os dois: ela fraquejando, raleando, eu piscando, insistindo em prolongar aquela noite.

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Postado por Anchieta Rocha
1/7/2015 às 10h14

 
Dois caras

Um tem um pit bull e briga bem. O outro tem um menino e toda noite vê novela com a mulher. Um foi feito de porra, o outro de sêmen. (Coletânea Geração em 140 caracteres- Geração Editorial)

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Postado por Anchieta Rocha
15/6/2015 às 11h44

 
Cheia

Eu tinha acabado de trancar a porta da cozinha pra correnteza não levar o fogão, quando ouvi um barulho no quarto. Com a água alta, o guarda-roupa tinha tombado. A caixa de papelão com o vestido de noiva tinha acabado de passar pela janela e ganhava a cerca no fundo do quintal. Limpei uma lágrima com a mão suja de barro. Nessa hora achei que o João não ia me querer mais. A gente se gostava, o casamento já estava marcado, mas aquele vestido de noiva me dizia qualquer coisa. Na curva do rio a caixa ainda fez que ia agarrar num galho de árvore. Veio uma onda mais forte e levou. Fiquei um tempão olhando pra fora pensando no João. Nós namorando de pouco, ele longe, eu grávida. Se fosse homem, chamava João também, mas não ia criar o menino na beira do rio.

O rio tinha vez que dava raiva. Já teve enchente das bravas, mas essa última era um aviso que coisa ruim estava pra acontecer. Nessa hora quis que me levasse. Não fui por causa do menino. Um passo pra frente e pronto. Na beira do barranco passei a mão na barriga e senti mexendo. Fiquei com remorso, dei as costas pra correnteza e esperei me acalmar. Andei um tempo sem rumo, até que fui dar no lugar mais alto do quintal onde o João ficava comigo quando vinha me ver. Lá a gente deitava debaixo das árvores, o rio, silencioso passando, espiando nós na rede.

Tudo começou numa tarde quando ele chegou da draga de puxar areia que ficava depois da cachoeira. Eu nunca achei que a coisa podia acontecer tão depressa, sem a gente conversar antes. Eu gostava dele um pouco. Um pouco só de olhar. Um pouco dum jeito que ainda não sabia se queria ou não.

Ele veio chegando, me pegando e apertando na árvore, respirando fundo, eu assustada, tudo tão depressa, igual um rio, arrebentando tudo, invadindo o vale, a água entrando na terra.

Sempre vivi ali - a minha vida inteira entre o quintal e o remanso, brincando com as bonecas e os irmãos. Minha mãe teve nós todos na beira do rio. Meu pai tirava o sustento da família com a draga, mas quando ficava ruim de areia, ele armava rede e chegava com o embornal cheio de peixe.

Depois que conheci o João as coisas mudaram. A minha vida ficou mais bonita. Ficou mais bonita porque eu arrepiava só de pensar que o rio que molhava os meus pés era o mesmo rio que banhava o corpo dele lá em baixo. Quando o João não vinha, tinha vez que sumia, eu deitava na rede, ficava olhando pra correnteza, os pensamentos passando. Tinha noite, nas quentes e claras, entre um sono e outro, eu confundia tudo, uma confusão boa. Se deixasse eu ficava ali a vida inteira, o pensamento embaralhando nas pedras, alisando a água.

A rede, o rio e o João até no dia que reparei na barriga. Fiquei alegre por causa do menino e triste porque queria casar na igreja com vestido de noiva e tudo. O João sumia sem dar notícia. Outra ele não tinha. Outra ele não tinha porque sempre que voltava, vinha que nem o rio, arrebentando com tudo pela frente.

O tempo foi passando, as águas crescendo e a minha barriga também. O pessoal começou a falar que podia ter enchente duma hora pra outra, que era melhor juntar as coisas e levar prum lugar mais alto. Não acreditava que o rio ia fazer uma traição comigo, invadir minha casa, roubar o que eu tinha. De uns tempos pra cá eu tinha pegado a mania de ficar dentro d'água quieta, abobalhada, vendo ele alisar a minha barriga já grande. Até defendia ele. Quantas vezes eu falei pro pai e pro João pra parar de tirar areia, que aquela tiração danada ainda acabava prejudicando ele.

A enchente veio que veio. Quebrou ponte, matou bicho, levou gente.

O rio cobriu o telhado e eu subi pra parte mais alta do terreiro.

Não quis sentar na rede cheia de folha. Cheia de folha não por causa da chuva. Cheia de folha porque tinha muito tempo que eu e o João não deitava nela.

A dor chegou forte. Procurei um lugar menos barrento pra deitar. A correnteza passava com pressa, nervosa, tomando conta de tudo que via pela frente. Pra me levar não tardava. Com um pouco da força que restava, forrei o chão com folha. Sentei amparando a barriga. Encostei no tronco e corri a vista nas grimpas das árvores. Fiquei olhando o céu que começava a azular. Não vi mais nada. O menino, alguém pegou, tirou as folhas da rede e enrolou nuns panos. Virei a cabeça pro lado do rio e vi que tinha baixado. O menino dormia. O menino na rede, o rio no leito.  

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Postado por Anchieta Rocha
6/6/2015 às 19h36

 
Bala perdida

O dia mais bonito da minha vida foi quando Getúlio Vargas deu um tiro no peito. Triste e bonito.

Eu tinha acabado de fazer as entregas do armazém, estava passando em casa pra pegar os cadernos, quando fiquei sabendo que o presidente foi encontrado morto no Catete. O meu irmão mais velho dizia pra mamãe e pra minha tia que o Brasil ia mergulhar num negócio que eu não sabia o que era e mais uma porção de coisa que eu não entendia.

Aí começou o falatório no rádio, toda hora o Repórter Esso, eles tocando música triste, igual às que a gente ouvia na igreja.

Fiquei chateado por causa dos vizinhos que gostavam do PTB e do Getúlio. Um homem que trabalhava na mina de ouro de Nova Lima nunca mais ia ouvir os discursos do presidente no rádio. Toda vez que ele falava "trabalhadores do Brasil", o pelo do braço arrepiava, contou pro meu irmão.

Mas gostei quando disseram que não ia ter aula.

Depois fiquei pensando - um homem daquele, todo lugar que ia o povo batia palma, tinha um carro bonito, morava num palácio rodeado de jardim — como é que pode, dar um tiro no peito, acabar com a vida duma hora pra outra? Pior ainda, sem poder receber a encomendação na igreja, a família numa tristeza grande, nem uma água benta? Sabia dessas coisas porque eu era coroinha e ia com o Padre Américo em todos os velórios, às vezes até no cemitério, num carro chique que puxava todos os outros carros, todo importante, mexendo com os meninos, sempre que ele enfiava a cara no breviário.

Uma vez um vizinho bebeu formicida por causa duma mulher que não ligava pra ele. Ela gostava dum cara magrelo, metido a galã, que cantava músicas de Gregório Barros na Rádio Inconfidência. A sacana usava o coitado pra fazer ciúme no cantor. Com o tempo ele foi ficando murcho, até que um dia não aguentou e acabou com a vida. Pra mãe deixou uma carta pedindo perdão e pra mulher uma folha seca dentro duns versos.

A morte do Getúlio parou a cidade. O comércio baixou as portas e a rua encheu de gente. As pessoas perguntavam o que seria do país, falavam que o Congresso não servia pra nada e uma porção de coisa.

O coração do Getúlio parou de bater naquele dia. O meu bateu mais forte.

No outro lado da rua, ela apareceu. Não vi mais nada. Numa hora dessa eu achava que tinha umas coisas de doido. Se tivesse um cara do meu tamanho por perto eu dava porrada pra chamar sua atenção, ou de repente um carro me pegasse — não pra valer —, ela aflita segurando a minha cabeça no colo, eu imaginava.

Quando vi estava do meu lado. Tão perto que senti o cheiro do seu cabelo. A noite ficou mais bonita. Eu acho que falei uma porção de besteira, mas deve ter gostado porque ficamos conversando um tempão.

O friozinho de agosto chegou e todo mundo levou as cadeiras pra dentro das casas.

Eles enterraram o Getúlio, a vida voltou ao normal e ela desapareceu.

Comecei a passar perto de onde morava e na porta de sua escola, tinha alguma esperança. Depois de algum tempo desisti.

O tempo passou. Mas a bala que parou o coração do Getúlio naquele dia dói no meu peito até hoje.

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Postado por Anchieta Rocha
31/5/2015 às 19h40

 
Meu pai

Se o papai dentro do caixão pudesse falar alguma coisa, ele ia dizer " Tudo bem, vocês já fizeram muito por mim, todo mundo pode ir embora, daqui pra frente é só eu, o resto é por minha conta, de agora em diante eu me viro sozinho." Eu não aguentava mais, também estava doida pra tudo acabar. A noite custava a passar. De vez em quando, o meu tio mais novo levantava, parava na beira do caixão, olhava o irmão, punha a mão no queixo, balançava a cabeça e voltava a se assentar. Um homem com um bafo de bebida chegou e falou que o meu pai era igual um filho pra ele. Um outro veio, me abraçou demoradamente, disse que ele foi o irmão que não teve e saiu com os olhos vermelhos. Amigos vinham e falavam as mesmas coisas: "um grande homem", "ótimo chefe de família", "descanso merecido". Por que todo velório é sempre a mesma coisa, as mulheres sentadas em volta do caixão, chorando e rezando, os homens do lado de fora, em pé conversando, contando caso?

Me deu vontade de rir quando a minha tia abaixou pra beijar ele e o broche agarrou no véu que cobria. Tem vez que eu acho que eu sou meio esquisita. Vovó debruçou no caixão, falou qualquer coisa no ouvido do papai e ficou segurando a sua mão. Eu não queria encostar nele, eles falam que a pessoa quando morre, esfria. Não é por nada, era medo de ficar com medo de noite. Quando era vivo, eu chegava, deitava no colo, beijava, abraçava. Minha mãe toda hora mexia numa flor ou endireitava o véu. Estava tudo no lugar, mas ela sempre achava um jeito de consertar alguma coisa. Uma hora fui pro carro pra junto das primas, mas não demorei porque fiquei com dó e voltei pra junto dela. Aí comecei a pensar numa coisa que sempre penso quando uma pessoa morre. Eu sempre achei que Deus devia dar um aviso, um tempo antes - os bebês não podem nascer com hora marcada? - pra gente despedir, abraçar e conversar pela última vez. Meu pai nem se despediu de mim. Morreu de repente. Deus tem hora que não vê as coisas. Eu me distraía com a chama da vela. Passado um pouco virava pra mamãe, tentava imaginar o seu pensamento. Tinha vez que não tirava o olho dum lugar, o que ia na cabeça dela? Criar a gente sozinha, chegar de noite na hora de dormir e não ter mais ele do lado? Ou até uma coisa mais alegre, como num fim de tarde, muito tempo atrás, quando as paineiras não aguentando de tanta florada, eles namorando de pouco, o papai olhando fundo nos seus olhos, sem falar coisa nenhuma, perguntando pra ele mesmo, se ela não ia ser o amor de sua vida Acabei cochilando no ombro dela. Teve uma hora que olhei pras pernas compridas do papai e fiquei lembrando uma vez num ponto de ônibus, pequena, enfiada debaixo dele protegendo pra não me molhar. Um sujeito não tirava o olho da mamãe. Mesmo sem pintura era bonita. Depois a madrinha contou que ele quis namorar ela antes do papai. Eu não gostei porque achei que estava rondando muito. As pessoas falam que ele não parou de beber desde que ela casou. Uma mulher muito branca chegou, não cumprimentou ninguém, parou perto do caixão, ficou imóvel por algum tempo, virou as costas e desapareceu no escuro do jardim. Tinha hora que vinha um medo de acontecer coisa ruim. Eu não queria pensar, mas não tinha jeito. A minha tia que mora sozinha é uma. Ela dá ataque. Sempre que chegava um parente no velório, começava a chorar sem parar. Eles iam lá dentro e buscavam água. Eu nem queria ficar perto. Meus tios deviam ter levado ela pra casa. Pra fazer uma asneira não custava. Destrambelhada, papai era o xodó dela. Solteira, nunca namorou, uma vez pagou promessa duma doença dele que médico nenhum dava jeito. Vestiu de Nossa Senhora e carregou um terço grande, durante muito tempo, assim contou o meu avô com a cabeça baixa. Eu acho que ela podia fazer uma loucura igual uma mulher na roça fez uma vez — eu nem gosto de pensar. O filho bebeu veneno de rato por causa de uma namorada. Na hora de cobrir com a terra, ela pulou dentro da cova, agarrou no caixão e falou que queria ir junto. Os coveiros tiveram que arrancar ela à força. Tem hora, passa cada coisa pela minha cabeça! Ainda bem que a turma do colégio chegou. Eu não queria que o Julinho me visse assim, toda desarrumada, com a cara mais branca do mundo. Agora que o papai morreu, não vai ter a excursão pra Ouro Preto. Olha eu de novo — parece que nem tenho sentimento. Pior era no tempo da minha mãe. As mulheres ficavam de roupa escura durante muito tempo guardando luto, conta ela. Mas tem uma coisa: como eram elegantes! Eu fico olhando os álbuns antigos. Passavam o dia inteiro aprontando pra tirar retrato - era uma festa! E os homens, — ah, os homens! - mesmo parecendo bonecos - tudo fumando, muito chique, com piteiras douradas, cada um mais bonito. O padre deu a bênção e um gole de água benta caiu no meu olho. O sacristão tinha cara de tarado. Toda vez que uma mulher levantava, ele olhava pra bunda dela.

Tão logo o homem da funerária entrou com a tampa do caixão, o choro aumentou. Todo mundo ficou em volta pra ver o papai pela última vez. Cheguei perto de mão dada com meu irmão e fiquei olhando. O mais estranho é que eu olhava pra ele, via todo mundo chorando e eu que sempre chorei por qualquer coisa, coisa boba até - igual numa viagem, um passarinho bateu no vidro do carro e morreu -, nesse dia eu não conseguia chorar. Chorei também na peça de teatro do colégio, fazendo o papel de uma camponesa. Foi então que aconteceu uma coisa que depois eu fiquei pensando muito tempo. Olhei pro papai pela última vez e de repente uma lágrima apareceu no canto do olho dele. Acho que ninguém viu, nem mamãe com aquela mania de consertar as coisas que não precisa. Eu abri a boca. Eu não sei, mas senti que ele chorava por minha causa. Choramos juntos. Criei coragem e segurei a mão dele: estava quente, quente.  

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Postado por Anchieta Rocha
24/5/2015 às 19h18

 
Dores

Há pessoas que colecionam de tudo: chaveiros, carros, armas. Eu coleciono dores. Desde pequeno passei a colecioná-las. Sou expert. Onde há o menor sinal, a menor possibilidade, lá vou eu, kit na mão a averiguar, mensurar, diagnosticar e classificar.

Você vai vivendo, embolando as coisas e um dia, sem menos esperar, lá do fundo puxa aquela dor adormecida - um canal de dente mal curado que volta a incomodar. Até inventei um aparelho: algímetro. A palavra não tem uma sonoridade bonita, mas por enquanto vou me contentando com ela. Se estou com o estoque baixo, vou pra rua, entro num bar, escuto um e outro. Bom é na igreja. Pena que não dá pra escutar com clareza a lamúria das pessoas. Pego uma dor aqui, outra ali, substituo essa por outra, desempoeiro as antigas. Já estive perto do fim e se não vou de vez é porque alguém do lado de lá me barrou e falou ora essa, esse sujeito aqui, passando na frente dos outros. Às vezes me perco. Uma dor que ouvi de não sei de quem, outra que veio não sei de onde, eu acho que devia prestar mais atenção. Um dia cheguei a intermediar a troca de dor de um vizinho com a de um cara que conheci na feira, mas na hora do acerto final um deles achou que estava levando desvantagem e refugou. Esse negócio de troca de dor não funciona comigo também. Foi o que aconteceu no dia em que uma namorada me deu um pé-na-bunda e fui namorar uma tapa-buraco que acabou gostando de mim e sofreu quando eu lhe virei as costas.

Dores e dores. Há as que latejam a vida inteira. Outras abrem fenda, espalham, avançam, tomam conta até a morte. Algumas esmaecem, mas quando voltam, vêm arrebentando o que encontram pela frente, estilhaçando tudo. A dor das mulheres! Límpida, pode se transformar em chama devastadora. A dos homens truncada, contida, pungente. As dores da entrega e do parto são prenúncio de felicidade. Há outras: a dor intangível de uma música, ou quando se assiste a um sombreado fim de tarde. A dor da morte com o tempo arrefece, acama. A do amor que acaba, a da perda do amigo, insepultas, sempre deixam esperança. Dor de criança - leve, rasteira, pele tenra, cicatriza com um sopro.

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Postado por Anchieta Rocha
8/5/2015 às 22h05

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