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Quinta-feira, 26/1/2017
Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
ANDRÉ LUIZ ALVEZ
 
Toque uma canção antiga

Música antiga é atualmente um dos meus melhores passatempos.

Fico horas buscando no youtube aquelas canções do passado que de alguma forma me marcaram.

Tenho um gosto um tanto eclético, vou do rock ao brega, passeio em vôos rasos pela MPB, gosto também de samba e sertanejo, desde que sejam os de raiz.

É exatamente na raiz do samba que gosto de me perder.

Causa-me espanto quando alguém confessa que não conhece o Cartola, o compositor que afirmou que “as rosas não falam”, contrariando meu pensamento de outrora, que acreditava que as rosas sussurravam poemas.

E como sempre confundo rosa com flor, Nelson Cavaquinho me ensinou que espinho não machuca a flor.

Mas será que o espinho às vezes não se confunde com o perfume que a rosa exala?

Mais um clique na tela do computador e me torno apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco.

Por onde andará o Belchior?

Ele bem que avisou antes que iria sumir: “Se você vier me perguntar por onde andei...”.

De repente tudo muda quando ouço Creone, Barrerito e Mangabinha.

Quem?

O Trio Parada Dura, que navega num barco de papel em busca do castelo de amor e que acaba bebendo o orvalho das flores.

E já que falei tanto sobre rosas, espinhos e flores, devo acrescentar a canção divina que agora me invade os ouvidos causando enlevo: a pétala do Djavan.

Mas será que o amor é mesmo exato?

Rosa, flor, espinho, pétala...

Do que mais você precisa para compor um belo poema, amigo poeta?

Troco de novo o ritmo, curto Legião, Titãs, RPM.

Que coisa estranha esse Paulo Ricardo que nunca envelhece!

Fagner musicou os poemas da Florbela Espanca e da Cecília Meireles, e tudo ficou tão lindo...

Toca Raul! A minha turma costumava gritar para o carinha que dedilhava a viola, sentado num banquinho de bar.

E eu não sei se era efeito do álcool ou se por culpa da fumaça do cigarro, mas o cantor sempre se tornava a imagem perfeita do Raul Seixas.

Ainda que tivesse a cara lisa, o enxergávamos de cabelos longos e cavanhaque.

Nas iris de nossos olhos, entre um gole e outro de cerveja, depois de andar pelos quatro cantos do mundo, procurando, compreendíamos que somos feitos da terra, do fogo, da água e do ar.

E tudo voltava até dez mil anos atrás.

No final, o carinha do violão provocava: “tente outra vez”.

E a gente prosseguia tentando.

Uma noite de Nagibão – o melhor barzinho que já existiu em Campo Grande- era tudo o que precisávamos para que a vida prosseguisse pelos caminhos ternos da juventude.

Ah, que dor eu sinto quando hoje passo em frente e percebo que o Nagibão agora é apenas um estacionamento.

E troco de novo a música no Youtube, sim querida Mercedes, “el tiempo pasa, nos vamos poniendo viejos”.

Hoje eu entendo perfeitamente o trecho daquela canção do Geraldo Espíndola: “saudade existe pra quem sabe ter”.

Saibamos então sentir saudades, que no meu caso, basta um clique no youtube que o tempo volta, dói um bocado, mas é uma dor tão gostosa que acaba ajudando a viver.

E o que é a vida? É a rosa, os espinhos, são as pétalas que voam através do tempo em forma de lindas canções.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
26/1/2017 às 09h22

 
Ano novo, casa nova.

Depois de quase duas décadas morando na mesma casa, eis que enfim nos mudamos para a casa nova.

Mudanças me causam o assombro de tudo que é novo e qualquer pensar ligeiro, remete à antiga morada.

Na casa antiga deixei meu pé de limão, boas lembranças e os gatos que não quiseram nos acompanhar.

As paredes que agora nos cercam são azuis e até o cheiro daqui é diferente, mas posso ver da sacada a cidade abaixo, pulsando no ritmo acelerado de sempre.

Dizem que para ser completo, todo homem precisa escrever um livro, ter filhos e plantar uma árvore.

Eu já escrevi quatro livros e tenho dois filhos, então, só me falta plantar a árvore.

A casa nova é de esquina, no cruzamento de duas ruas de pouco movimento, típico dos condomínios fechados, cortado pelo verde das árvores lá fora, o que me faz sentir falta da jabuticabeira no antigo quintal, que dá frutos adocicados, que eu tentava dividir com os passarinhos, mas que quase sempre acabava em brigas, porque os bichos bicavam as frutas maiores antes que os meus dedos a tocassem.

Passarinhos existem aos bocados por aqui, como o casal de coruja que fez casa cavoucando o barranco que fecha os muros.

As corujas também estão de casa nova.

Num relance percebo que preciso mudar a posição da última lâmpada, que dela desprende um feixe luminoso que apaga o arco-íris.

Um casal de tucanos corta o ar, seguidos de pássaros que desconheço, trazendo até a minha lembrança os tempos que as andorinhas tingiam de cinza o céu da cidade a todo entardecer.

Que fim levaram as andorinhas?

Ajeito meu corpo na almofada do sofá com todo cuidado, que o sofá me custou os olhos da cara.

Dois mil e dezessete há de ser melhor que o ano passado.

Os pássaros prosseguem atravessando o céu da nova casa, cortando o silêncio, que só não é completo porque é rota dos aviões, mas que na imaginação, faço deles desenhos de outros pássaros maiores, daqueles que não existem mais.

Ainda há pouco, percebi a distante luz dos olhos de um novo vizinho e fiz com as mãos um aceno breve, sem jeito, que selou talvez o início de uma nova amizade.

Algumas boas lembranças da casa velha me beliscam, provocando a dor da saudade:

Meus filhos nasceram na casa velha, grandes amigos moram nos arredores, o meu nariz reclama a falta do cheiro das telhas de barro e uma aflição toma conta de mim ao perceber que tudo era perto da antiga casa e que agora, até para comer, tenho que atravessar a cidade.

Detesto mudanças, mas entre um gole de café e outro, permito que a casa nova me preencha.

Por aqui espero passar uma velhice tranqüila, observando a tinta dos muros secar nos anos vindouros, durante os quais, solenemente permitirei o sopro do vento esticar a manga da minha camisa, até que a irresistível vontade me faça tocar a terra com as mãos e cumprir a última missão, aquela de plantar uma árvore, o pé de jaboticaba, que é para recordar sempre da casa antiga e ter o pretexto para quando as frutas ficarem maduras, brincar de brigar com os passarinhos.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
2/1/2017 às 18h43

 
O pulso do natal

O leitor que me acompanhar nessa crônica, certamente me tomará como uma espécie de Ebenezer Scrooge, o imortal personagem de Charles Dickens, que não conseguia incorporar o espírito natalino.

Acontece, porém, - e sei que estou sendo repetitivo - que a sinceridade me abraça quando digo que considero o natal uma festa chatíssima.

Acesso o youtube e escuto “O pulso” da banda Titãs.

Adoro essa música!

Que fim levaram os antigos cartões de natal? Antigamente eu passava horas escolhendo cartões que depois enviava para os amigos, como ainda hoje faz meu amigo Manolo, que dos EUA, todos os anos me envia cartões de natal: nunca consegui lhe enviar de volta sequer um reles cartão, e fico naquela de apenas agradecer, numa mensagem seca de muito obrigado, via whatsapp.

Nesses momentos, Mister Scrooge sentiria orgulho de mim.

Mas porque será que chove tanto em dezembro?

Eu detesto chuva.

Visito em pensamentos antigos natais, revejo os amigos e a canção que gostávamos de cantar longe dos adultos: Jingle bels, jingle bels, acabou o papel...

Ainda navega em mim a lembrança do pé de goiaba no quintal de casa, que enfeitamos com bolas de isopor, mas à noite veio a chuva de dezembro, forte e rápida, levou tudo embora e daquilo só guardei melancolia.

É no natal que esse sentimento aflora, assim que me vejo diante da figura nórdica do papai Noel: “ho, ho, ho” diz o senhor fantasiado de barba e roupão vermelho, sem se importar com a minha indiferença.

Talvez não passe de trauma de infância, porque nunca tivemos casa com chaminé e enquanto o filho da vizinha ganhava uma bicicleta, eu me contentava com um carrinho de plástico sem as rodas.

Ok, Mister Scrooge, eu também não gosto de vinho, peru tem a carne sem graça e castanhas me provocam engasgos.

Mas o pulso pulsa.

Arroz com uva passa? Não, passo, prefiro farofa.

Bebe-se muito no natal, penso, enquanto tomo mais um gole de cerveja.

Não devia fazer isso, um copo a mais é um neurônio a menos.

O pulso ainda pulsa.

Quando o fecho da noite de natal se aproxima, o único pensamento que me ocorre é que preciso urgentemente fumar um cigarro.

Eu não posso fazer isso.

Uma tragada a mais é um dia a menos de vida.

O pulso segue pulsando.

Alguém, por favor, me sirva um pedaço de panetone!

Eu sei que já disse diversas vezes que detesto panetone, mas talvez combine com o vinho, que agora está tão doce...

A noite termina e resta uma tênue luz que escapa de uma árvore de natal.

O pulso haverá de pulsar na manhã seguinte.

Suma daqui, Mister Scrooge!

É hora de preparar os festejos da virada de ano, que este que está acabando foi péssimo, levou David Bowie, Prince, Ferreira Gullar, Geneton Moraes Neto, um time inteiro de futebol.

No fim de tudo, fica em mim o inquietante sentimento que o natal é melancólico e é preciso permitir que o vento de coisas boas e novas assopre em meu rosto a brisa da fé e esperança, que o ano que vai começar seja muito melhor para todos e que o pulso prossiga pulsando por outros tantos natais.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
15/12/2016 às 10h04

 
Fogo que se alastra

Fico surpreso quando alguém me chama de poeta.

Nada contra, fico até envaidecido, mas não sou poeta, sou cronista, contador de casos, inventor de frases.

Devo isso ao gosto pela leitura, sou para sempre um devorador de textos.

Não tive uma infância diferente dos da minha geração, algum tipo de píncaro ou coisa assim, gostava de jogar bola, soltar pandorgas e competir com bolitas.

O único senão é que, diferente dos meus amigos, sempre gostei de ler, não dormia sem antes pegar um velho livro empoeirado na estante, daqueles que traziam na essência o prazeroso cheiro das páginas do livro.

Numa época que não existia internet, eu mergulhava no mundo através da leitura e disso carrego enorme orgulho, aprendi muito, descobri até que a Lituânia existia, vi terras que meus olhos jamais alcançarão, conheci lendas, vesti roupas iguais às de Carlos Magno e junto dele caminhei em busca da conquista da Itália.

Fiz armas, armazenei amores impossíveis e, num rompante, desprezei Rapunzel.

Num espasmo de surpresa profunda, descobri que no interior da Inglaterra, viveu no século XIX uma escritora de excepcional talento para criar personagens que entraram na minha memória para nunca mais sair.

Era uma moça extremamente tímida chamada Emile Brontë, que me contou de um certo morro, pelo qual se espalhavam os ventos uivantes.

E desde então, o vento se misturou ao fogo que em mim se espalha.

Eu ainda não havia lido Vinicius de Moraes quando escrevi pela primeira vez “Fogo que se alastra”, até que me peguei diante de um texto que o poetinha escreveu, muito antes, em homenagem ao Antonio Maria: “Fogo que se alastra”, dizia em forma da saudade que a morte do amigo lhe causou.

Ah, eu achei aquilo tão lindo, mas ao mesmo tempo decepcionante, porque imaginava que a frase fosse minha, já que a construí num momento de incertezas, diante de um desses percalços da vida que a gente não sabe o que vai acontecer mais adiante e se assusta quando percebe as dificuldades aumentando sem cessar, sem dar trégua.

Então escrevi no canto direito do meu caderno a frase seca: “A dor que me consome é fogo que se alastra!”

E não parei nunca mais, permitindo que o fogo prosseguisse se alastrando.

Quando acordei nesse sábado, me detive diante da foto do Mário Quintana.

A ternura constante emoldurando o rosto do poeta serviu-me de inspiração para escrever essa crônica.

Diante dos olhos serenos do grande poeta, o fogo começou a se alastrar dentro de mim.

Mario Quintana escreveu certa vez: “O que mais enfurece o vento são esses poetas invertebrados que o fazem rimar com lamento.” E derreteu outra frase que eu vinha aprontando e que falava algo semelhante a isso, que se tornou imbecil depois que li o Quintana, algo mais ou menos assim: “Não se pode desprezar a suavidade do silvo do vento.”

Resolvi então deixar o vento em paz.

Mas sigo tentando outras frases, que logo virão, ainda que o vento não assopre e o silvo muitas vezes se perca entre as labaredas do fogo que se alastra.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
28/11/2016 às 10h52

 
Reflexos sobre a solidão

Escrever é um ato triste, solitário e muitas vezes doloroso.

Mas então porque raios você escreve? Perguntará alguém insensível e eu lhe responderei que escrevo porque senão alucino de vez.

Escrever é doloroso porque requer solidão.

No entanto, em alguns casos (aqui me encaixo) não há nada mais libertário do que escrever.

Eu só me sinto solitário quando estou escrevendo, ou quando acordo no meio da noite e não consigo mais pegar no sono, como na noite passada, que de repente acordei e o vazio da noite espalhou-se quarto adentro.

Virei de um lado para o outro e nada do sono retornar e me atingir feito um caminhão desgovernado, como de costume.

A esposa e os filhos dormiam.

É gostoso ouvir o ronco alheio.

Esfreguei meus olhos alucinadamente, estranhando a ardência do cansaço e a ausência de sono – deve ser fome – imaginei e já dei dois passos até a porta, num esforço tremendo para não fazer barulho.

Ao sair do quarto, dei de frente com o silêncio, senti o colossal clamor do frio das paredes e percebi o quão dolorosa é a solidão.

Como será que algumas pessoas conseguem viver sozinhas?

Caminhei coçando os dedos no assoalho até me dar de frente com a geladeira, que abri e fechei em segundos, sem perceber.

Girei os passos até o sofá da sala e a solidão caminhou junto.

Um pedaço de papel e uma caneta eram tudo o que eu precisava, mas o papel estava amarrotado e a tinta da caneta falhando.

Ainda assim, risquei algumas palavras e até tentei sorrir ao constatar que mesmo tendo a solidão como tema, definitivamente não sei fazer poesia.

Mas escrevi frases em esperanto, eu alucino quando escrevo.

Um blues cairia bem se eu soubesse onde guardei os fones de ouvidos.

Quando tudo está tão quieto, as paredes asfixiam de um tanto que reneguei os momentos que reclamei dos barulhos da vida.

Lembrei-me de uma frase impactante que li nas redes sociais, dessas que não citam o nome do autor: “Às vezes se fica tanto tempo sozinho, que a solidão deixa de ser ausência e passa a ser companhia”.

Conheci uma senhora que para fugir da solidão, criava cachorros e gatos.

Senti vontade de acordar todos de casa, mas que culpa eles têm se não consigo pegar no sono e as paredes da casa me asfixiam?

Resolvi fazer um café, mas não sei absolutamente nada da nossa cozinha e a chaleira apita quando a água ferve.

Pelas frestas da porta e nos vãos da janela, o dia sequer ameaçava clarear e eu contava aflito o passar dos ponteiros do relógio, um minuto apenas, mas que demorou uma eternidade.

Perdido em tantos pensamentos, acho que cochilei um tantinho, tomado pela felicidade ao abrir os olhos, soprados pelo despertador, que finalmente tocou trazendo aos poucos os movimentos da rua, o latido do cachorro, o ronco de um avião cruzando os céus e logo meus olhos cansados se deram com os rostos da minha mulher e dos meus filhos desfilando à minha frente, tapando enfim o silêncio das paredes, anunciando um novo dia, desenhando no meu rosto riscos de felicidades.

Sou um alucinado escritor que abomina a solidão.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
12/11/2016 às 21h19

 
A montanha

Descobri dias desses que ainda guardo na memória o cheiro da infância, e que o tal cheiro é de grama molhada de orvalho misturada com bosta de vaca.

Lembrei-me disso assim que meu caminho cruzou com o de uma senhora dos cabelos brancos e do riso meigo.

Toda senhora dos cabelos brancos me remetem à minha avó.

Não sei precisar quando foi que os cabelos da Lolinha se tornaram brancos, acho sinceramente que ela sempre teve os cabelos brancos.

Eu sinto muito a falta da minha avó.

Feliz o sujeito criado com avó.

Lolinha dizia que a vida é uma montanha, que começa nas gramas que cerqueiam a campina e termina numa árvore no centro do topo da montanha.

Para alcançá-la é preciso saber viver.

Hoje consigo vislumbrar a montanha e até mesmo as folhas verdes da frondosa árvore no cume.

Minha avó dizia que quando acaba a campina, nos arrastarmos pelo sopé, até que surgem as primeiras pedras, que muitas vezes conseguimos triturar, noutras as colocamos de lado, evitando o peso, ou simplesmente damos a volta, com medo do tropeço.

Um rio atravessa a montanha; alguns trechos são de água cristalina, na qual os peixes borboleteiam em saltos espetaculares, depois é água barrenta, por onde não se navega sem ter em mãos remos firme.

Visto de perto é um rio por demais violento.

E surgem os bichos, de todos os tipos, cores e tamanhos, formando barreiras medonhas que precisamos ultrapassar.

Silenciosas metamorfoses acontecem no trecho entre o rio e a mata.

No meio do caminho aparecem as rosas e é necessário prestar muita atenção, evitar os espinhos, porque uma dessas rosas, um dia será sua inseparável companheira.

As árvores vão surgindo, de todos os tipos e cores, algumas de raízes podres, outras tão imensas, que simplesmente não conseguimos nelas nos agarrar.

Lá pelos quarenta e cinco anos, finalmente chegamos ao cume da montanha e tocamos a grande árvore.

É quando o tempo passa mais depressa e logo se faz necessário retornar.

No caminho de volta, que agora é descida, por isso mais fácil, revemos na outra margem tudo o que passou, estranhando ao se dar com caminhos mais fáceis, que evitamos, sem querer, percebendo, num riso pasmo, que nem tudo foi tão verde, mas o que antes fora cinza, olhando de perto, nem era tão escuro assim.

É quando se faz possível rever o rio e identificar as margens que o oprimem, cada lasca de barranco que cai é o sinal dos passos dados, ás vezes firmes, às vezes tortos.

E embora na descida a saudade nos desmonte, não é recomendável remexer os escombros dos velhos quintais, procurar nas rachaduras da montanha algo que se perdeu, pois tudo é nuvem, vento que sopra, passou, não volta mais.

Finalmente consigo entender o que a minha avó queria dizer quando afirmava que as folhas das árvores, que antes eram ásperas e duras, agora estão lisas e soltas, que é preciso manter os olhos bem abertos aos insondáveis mistérios da vida, (dominado) pelo fascínio que sopra da montanha e aos poucos me preenche.

E tudo termina, depois recomeça, naquela mesma grama cheirando a bosta de vaca.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
31/10/2016 às 20h30

 
Quase milionário

Estava sem nada a fazer na barbearia, esperando o Bruno cortar os cabelos.

Ao lado da barbearia existe uma casa lotérica. .

Não sou dado a apostas, para mim jogo de azar quer dizer exatamente isso: azar. .

Mas como o corte demorava a ficar pronto, resolvi esticar as canelas e quando vi já estava preenchendo uma cartela da lotofácil, que foi a que me pareceu mais fácil de ganhar e que os números já seriam sorteados no final daquele mesmo dia. .

“Ficou rico da noite para o dia”, li essa frase em algum lugar e agora ela se encaixa perfeitamente nesse texto. .

O prêmio era tão vultoso que faria coçar as mãos de certos políticos. .

Um pensamento insólito, tão forte, garantia que eu iria ganhar, já cheguei em casa arrotando licor.

Quando abri a internet e consultei o resultado, decepção.

Por míseros três números, que não foram sorteados, continuo liso na lida.

Entre os três números que não saíram, o 13 me chateou profundamente, justo meu número da sorte, me abandonou.

Pensando bem, o que eu faria com tanto dinheiro?

Num divagar silencioso, a primeira atitude seria mudar os horários; dormir tarde, acordar tarde, comer a comida que me traria até o beiral da cama o mordomo Alfredo – sim, porque mordomo que se preza se chama Alfredo – depois tomaria banho na banheira de hidromassagem, beberia uma taça de vinho raro, ignorando o fato que nunca gostei de vinho, sempre preferi a cerveja, mas agora, podre de rico, o que me importa é a safra do vinho.

Daí usaria uma sandália de veludo e cobriria o corpo com tecido de seda, por cima, claro, um pulôver João Dória amarrado sobre os ombros, já ansioso que logo à noite, durante o jantar, finalmente descobriria que diabos de gosto têm o tal caviar.

E as horas caminhariam devagar, no mesmo ritmo dos meus passos, aborrecido com Jarbas, o motorista – sim, porque todo motorista que se preza se chama Jarbas - que demora a tirar o Jaguar da garagem.

Num estalo de dedos perceberia a necessidade de ser um ricaço benevolente, então, mandaria dinheiro para as ONGs dos amigos mais chegados e distribuiria brinquedos às crianças carentes no natal.

Nas reuniões com o seleto grupo de amigos, todos ricos, é claro, entre taças de champagne e arrotos de caviar, discorreria elogios sobre a obra de Warren Buffett, embora nunca tenha lido uma mísera página de seus livros.

E no final da reunião, noutro estalar de dedos, pediria para que Alfredo servisse a sobremesa, um doce insosso, de nome estranho e comprido “brownie de chocolate negro com baunilha de Madagascar”, que custou os olhos da cara, embora me corroesse o desejo quase doentio de comer paçoca de amendoim.

E na solidão de depois da festa, entre suítes, quartos e banheiros, acalentaria o sonho de comprar o Operário e assim reviver os tempos bons de infância, que a gente formava filas que entupiam as avenidas, marchando à pé - valorosos pés da infância pobre - até chegar ao Morenão e das suas arquibancadas de concreto, sentir novamente aquela felicidade de criança, só de ver o time em preto e branco entrar em campo, sensação muito mais saborosa que caviares, vinhos e champagnes.

Depois dormiria pesado, porque ser rico é bom, mas cansa.

Putz, ainda bem que aqueles números não saíram.

De qualquer modo, só para garantir, amanhã vou fazer uma nova fezinha na loteria.

Dessa vez, não vou apostar no 13.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
15/10/2016 às 13h33

 
Relatos da hipocondria

A moça do rosto redondo se aproxima dos carros parados em fila dupla no sinal fechado.

Os vidros de fumê, que protegem o ar condicionado, são fortalezas instransponíveis, mas ela é perseverante, insiste com um leve toque de dedos, enquanto enxuga da testa as gotas de suor que se espalha pela testa ampla, resultado do costumeiro calorão campo-grandense de quatro e meia da tarde.

Estou na quinta posição na fila da esquerda.

Ela se aproxima lentamente, busca o meu rosto e instintivamente tento desviar meus olhos, em vão.

Um tanto sem jeito, abaixo o vidro do carro e ela me entrega um santinho de um candidato a vereador, desses que lá está há décadas, nada fez de relevante, mas tenta voltar.

Será que o candidato a vereador imagina que conseguirá votos distribuindo santinhos no sinal fechado?

Penso ligeiro, ao mesmo tempo em que busco usar de cortesia - compreendo que ela ali está para ganhar honestamente algum trocado - pego o santinho sem demonstrar desgostos e devolvo o sorriso, já me preparando para o aceno de despedida, no exato momento que ela faz uma careta, tenta se afastar, mas o corpo pesado a impede e então ela espirra, com força, numa inesperada e irresistível vontade.

Aflita, desajeitada, tenta limpar o meu rosto com a manga da camisa suada, mal tenho tempo de impedi-la, desenhando no meu rosto um riso forçado e já sentindo o inicio da febre, a hipocondria que me invade, sem permitir consertos.

Cheguei em casa com os olhos ardendo e numa vontade louca de tomar um banho, daqueles demorados, de espumas de xampu e esfregões de escovas.

Agora, depois de horas, ainda sinto a chuva de perdigotos que atingiu o meu rosto sem que eu pudesse escapar, encolhido entre o volante e o banco do carro.

Sei que é um defeito, que tento evitar, mas é mais forte que eu, simplesmente não posso ler nem ouvir, relatos de doenças.

Muito antes de aparecer de fato em terras tupiniquins, eu já consultava todos os efeitos da síndrome de Guillain-Barré, entre outras doenças graves.

E no ápice da loucura (ou seria frescura?), sentia absolutamente todos os sintomas.

Nem sei quando foi a primeira vez que li algo a respeito de parasitas, vírus e bactérias, mas deve ter acontecido lá pelos quinze anos, quando admiti como doença grave todas aquelas misteriosas mudanças hormonais.

Desde então, não consigo evitar o receio de contágios.

Com o passar do tempo, até melhorei, já não consulto bulas e dicionários em busca de sintomas e curas e desprezo o uso de álcool gel.

Sei, não sou o único, aqui em casa a Graziela, as crianças, somos todos incorrigíveis hipocondríacos, além de muita gente famosa: assisti a uma reportagem na qual o Ringo Starr cumprimenta as pessoas usando os cotovelos, Michael Jackson usava luvas e máscaras para respirar, até Darwin era hipocondríaco.

Entretanto, devo ter uma saúde de ferro, nunca desmaiei, nenhuma operação, nada grave, embora ainda há pouco, tenha largado três espirros seguidos e, incomodado, percebi que não tinha ninguém por perto para me desejar saúde...

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
1/10/2016 às 21h56

 
Yo no quiero más

Escorado na mesa de sinuca, que hoje tenho na varanda de casa, um pensamento me ocorre: sinuca de verdade é aquela de bar, desses que ficam nas esquinas dos bairros.

Eu gostava de jogar, mas gostar não significa saber, é preciso destreza e concentração.

A pouca habilidade, eu tentava compensar me concentrando ao máximo, mas nem sempre dava certo.

Lembro da última vez, do exato instante que passei o giz no taco e me preparei para a primeira tacada, quando ouvi uma voz que saía do outro canto do bar - “Yo no quiero más!” voz tão amargurada que acabou com a minha concentração.

Ergui o corpo e passei mais giz na ponta do taco, dessa vez fazendo um barulho irritante.

Enxuguei da testa o suor nervoso e busquei nova concentração, agachei até que meus olhos ficassem no mesmo nível da mesa de sinuca e mirei a bola sete ao mesmo tempo em que ele falou novamente “Yo no quiero más!”.

Incomodado, joguei de qualquer jeito, ao invés da bola sete, matei a quinze.

Era a vez do adversário jogar e só então resolvi encarar o sujeito extremamente magro, dos cabelos sebosos repartidos ao meio e dono de um fino bigode, que na beira do balcão, bebericava um copo de cachaça.

Era um paraguaio solitário, das mãos calejadas, que deixava escapar aquele lamento profundo.

Olhei mais atentamente enquanto as bolas se chocavam violentamente e corriam nervosas na mesa do bilhar.

Ele parecia vagar por outro mundo, nem se incomodou com meu olhar curioso, “no quiero, no quiero”, mais um gole de cachaça, uma tragada no cigarro e de volta a voz embargada “ya sufrido mucho, no quiero más!”.

Eu já não me importava tanto com o jogo, queria desvendar segredos, contei-lhe a idade, devia ter menos de sessenta anos, embora os olhos caídos e as pontas dos cabelos totalmente brancas sugerissem mais.

Bebi um gole de cerveja e me preparei para matar a bola cinco, oferecida, perto da caçapa, jogada fácil que se tornou complicada quando ouvi novamente ”yo no quiero más!”.

Mas que diabos será que ele não queria mais?

Imaginei hipóteses, a dor de uma doença, saudades, ausências?

Incontinente encostei meu corpo no balcão, bem próximo dele e do seu mundo, novas frases, outras interrogações, “me há gustado”, breve pausa, outro gole na cachaça que escorreu por seus lábios, antes de completar com os olhos mirados no vazio,” pero no quiero más!”.

E no final, quando eu já desistia, ouvi claramente de seus lábios sofridos a frase completa, que me comoveu: “Yo no quiero más saber de mulher bonita”, disse, misturando o castelhano com o português e eu ri um riso profundo: era evidente que no eixo de tantos lamentos, trafegava em rodas tortas, as desilusões do amor.

Ele bebeu o resto da cachaça, testemunha solitária de seus sofrimentos e eu nem me incomodei com a tacada final do colega na outra ponta da mesa, pancada certeira na bola oito, que ricocheteou entre as duas quinas, rodopiou feito um peão e caiu mansamente na caçapa, levando junto todas as desilusões amorosas daquele sofrido senhor.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
17/9/2016 às 19h55

 
As Marias

Hoje, num corredor estreito do Mercadão Municipal, passei diante de um rosto antigo, que me remeteu a mais tenra idade.

Nos tempos que agora conto, o nome Maria era muito comum.

Enquanto o vulto foi desaparecendo entre as bancas de verduras, fiquei meditando: É uma das Marias de antigamente, mas não sabia exatamente qual.

Naqueles tempos, diferente dos dias atuais, que impera o politicamente correto, os apelidos proliferavam, sem qualquer tipo de preconceito ou coisa que o valha, era um costume.

E como as Marias eram tantas, sempre se dava um jeito de encaixar algum caso ao nome.

Maria Cabelinho, por exemplo, tinha esse apelido devido a uma mecha de cabelos, que ela mantinha jogada para o lado da testa, esticada até não dar mais, curtida em quina petróleo, que era o alisante da moda naquele começo de anos setenta.

Meu tio Lourival tinha uma vitrola portátil, que levava para os bailinhos nas casas vizinhas.

Num desses bailes, certa vez aconteceu confusão, alguém sacou de uma arma e deu um tiro, que pegou de raspão na perna de uma Maria.

Foi só um susto, que resultou na Maria Baleada, moça bonita da perna riscada a bala.

Certa vez, num outro baile, tio Zequinha fez um elogio qualquer a uma Maria e, desde então, ela deu de aparecer constantemente na nossa casa.

Na época, as rádios tocavam com freqüência uma canção, cujo refrão dizia “shalala”, que a tal Maria trazia grudada na boca, nem se dava ao trabalho de cumprimentos, já chegava cantarolando a música, acompanhada de um som esquisito de falha nos dentes, stic, stic, enquanto com os olhos rasos d’água procurava pelos cantos da casa o meu tio.

Minha mãe imita a Maria Shalala com perfeição até hoje, com direito ao tic lingüístico no final, só para nos arrancar risadas, “shalala, stic, stic”, ela diz.

De todas as Marias, a que mais me intrigava era a Maria Canelinha, porque não sabia ao certo o motivo daquele apelido.

Recentemente, minha mãe esclareceu, naquele brilho nos olhos que só dona Dalva tem quando conta travessuras: “É porque ela usava uns vestidos curtos e vinha nos visitar com o sol batendo nas canelas finas, que brilhavam de longe”.

Muitas daquelas Marias não precisaram de apelidos, eram santas Fátima, Das Dores, Das Graças, De Lourdes, Aparecida.

E não poderia escrever de tantas Marias sem revelar que tenho duas tias, que são gêmeas, Maria Marta e Marta Maria, que nós as chamamos de Marta e Martinha, e disso elas nunca reclamaram, até porque as outras irmãs se chamam Vidalvina e Eurinda Alvina.

E são tantas as Marias que viviam naquela época e que agora povoam o meu pensar, que exclamo em voz alta, assustando um transeunte: Ave, Maria!

O rosto que passou por mim aos poucos foi se apagando.

Maria Cabelinho, Maria Baleada, Maria Shalala, Maria Canelinha, tenho certeza que era uma delas.

Detesto quando não consigo desvendar minhas dúvidas.

Voltei para casa ruminando ao invés de falar, as mãos pensas, o pensamento na estrada do tempo, trazendo novamente aquela canção aos ouvidos, shalala stic, stic.

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Postado por ANDRÉ LUIZ ALVEZ
3/9/2016 às 22h44

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