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Sexta-feira,
21/10/2016
Julio Daio Bløg
Julio Daio Borges
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Viagem pros EUA num café em São Paulo
- A gente quer muito ir pra Europa, mas, agora, com as crianças...
- Estados Unidos é uma pegada mais família.
*
- Tem de conhecer, viu? Tem de ir, nem que seja pra dizer: "conheci e vi".
- Eles fazem tudo pra você querer ficar lá...
*
- Porque é assim: tudo lá é muito longe. Tudo é muito grande.
- Olha que a gente ficou no Centro...
- Quando a gente pegava o carro, era meia-hora, quarenta minutos.
*
- Tem de alugar carro, viu?
- E tem de pegar carro grande.
- Só não precisa de carro quem já tá na Disney...
- E quem não quer sair da Disney, né?
*
- Aí você pega aquele trenzinho... Tipo carrinho de golfe, sabe?
- Depois, "monorail" ou bote.
- Tem um hotel que é assim: você passa no meio...
*
- O safari é fantástico. Parece que você tá na África.
- Já o Epcot é mais tecnológico...
- Aquela parte que tem os países, né?
*
- Na Universal, você tá dentro do filme. Você fica *dentro* do filme...
- É tudo de verdade!
- Muito legal.
*
- Tem de ficar, pelo menos, uma semana lá.
- Ó, pra viagem... Com os parques, o hotel...
- Vocês têm de economizar pra comprar e pra comer, também.
*
- Porque é o seguinte: lá, a gente perde a mão fácil...
- Ficamos sem dinheiro, na metade da viagem!
- Ano passado, eu quase me f*, fui com o dólar a 4...
*
- Sabe qual é o segredo? Deixar para comprar só no final da viagem.
- E deixa uma "cota" - diária - pra comida.
*
- Se vocês economizarem um pouquinho todo mês...
- Vão pagando!
- Vocês não têm férias e "décimo"?
*
- Cês vão lembrar da gente lá.
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Postado por Julio Daio Borges
21/10/2016 às 10h48
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Bob Dylan ganhando o Nobel de Literatura
Não é nova a incursão da poesia na música popular. O principal exemplo, no Brasil, é o de Vinicius de Moraes, que foi poeta de verdade antes de ser compositor popular. João Cabral de Melo Neto, que foi um dos maiores poetas do século passado, disse que Vinicius poderia ter sido o maior, se quisesse. E Carlos Drummond de Andrade, outro dos grandes do século XX, disse que Vinicius foi o único poeta que teve a coragem de viver como poeta.
Já a partir dos anos 60, podemos considerar que os "poetas" - ou "os que poderiam ter sido" - optaram, diretamente, por fazer letras de música. E o principal exemplo, no Brasil, é o de Chico Buarque de Hollanda, o letrista que está mais próximo da poesia desde Vinicius (apesar de seus romances tardios).
Ninguém nega a importância cultural - e até social, nos anos 60 - de Bob Dylan. Havia duas pessoas que os Beatles queriam conhecer quando se tornaram famosos. A primeira era Elvis Presley e a segunda era Bob Dylan. Zimmerman, seu sobrenome original, foi a grande influência de George Harrison, a ponto de John Lennon reclamar da idolatria em entrevistas.
No filme "Não estou lá", em que vários atores encarnam o multifacetado Dylan, fica registrada a sua aproximação com Allen Ginsberg, o poeta beat. Considerando que os beatniks foram os pais intelectuais dos hippies - e, por conseguinte, de todos os anos 60 como nós os conhecemos -, é significativo o respeito que Ginsberg dedicava a Zimmerman.
Bob Dylan compôs verdadeiros hinos - que embalaram a juventude sessentista. E sua passagem do "folk", do violão, para o rock, da guitarra, é considerada, culturalmente, revolucionária. Repercutindo, também, no Brasil: quando Caetano Veloso chamou Os Mutantes para "eletrificar" Alegria, Alegria, originalmente uma marcha-rancho.
Se tivesse morrido nos anos 60, 70, ou até 80, Dylan teria se transformado num mito da cultura popular, como John Lennon, James Dean e Marylin Monroe. Mas preferiu sobreviver - e é óbvio que a mesma intensidade não teria como se manter: Bob Dylan se diluiu.
Caetano Veloso, contudo, nos mostrou que Zimmerman continuava fértil, quando fez a sua versão para Jokerman, de 1983, ainda uma grande letra.
Até Steve Jobs - um hippie tardio, que misturou contracultura com business, e que namorou Joan Baez, a grande intérprete de Dylan - se gabava de conhecê-lo e de poder convidá-lo para jantar. (Tentou imiscuí-lo nos eventos da Apple, sem muito sucesso.)
Tudo isso para dizer que Bob Dylan é uma grande figura, no melhor sentido do termo, e que tem uma importância, para a música popular, e para a *cultura* popular, inquestionável.
Agora: Prêmio Nobel de Literatura, não acho que seja o caso...
Sei que a academia sueca tem lá as suas idiossincrasias - e já premiou figuras muitos menos significativas, inclusive escritores, com o Prêmio Nobel.
Mesmo assim, considero premiar Dylan, com o Nobel de Literatura, um erro e uma injustiça.
Primeiro porque Bob Dylan não precisa. É suficientemente conhecido. E, ainda mais, rico. Como enumerei, foi reverenciado desde Harrison até Jobs. E é difícil uma pessoa na Terra que, mesmo indiretamente, não tenha sofrido influência sua. Já teve fama e gloria. Sem falar em poder e dinheiro.
Já os escritores, como bem sabemos, precisam. E a literatura, de verdade, também precisa. Um exemplo é Philip Roth, outro dos cotados para o Prêmio. Roth, também judeu, foi muito lido nos Estados Unidos, OK (é o maior escritor norte-americano vivo) - mas não dá para comparar onde a música de Dylan chegou com onde a literatura de Roth chegou. Se alguém precisa de reconhecimento, é a alta literatura. E se alguém precisa de dinheiro, *não é* a música pop.
No Brasil, é lembrado, nessas horas, Ferreira Gullar. É difícil comparar sua literatura - ele escreveu poesia de verdade - com a "literatura" de Bob Dylan. Mas podemos comparar com a "poesia" de Chico Buarque: como "poeta", Chico pode ser mais popular, mas Gullar - poeta de verdade - é maior. E se você tentar comparar as letras breves de Chico com o "Poema sujo", de Gullar, não vai conseguir - porque não há comparação.
Por fim: se essa moda pegar, e se forem premiar todos os grandes letristas dos anos 60 pra cá - com o Nobel de Literatura -, os escritores nunca mais vão ganhar.
E olha que eu gosto de música de música popular... Mas literatura - alta literatura - é outra coisa. (Quem leu, sabe.)
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Postado por Julio Daio Borges
13/10/2016 às 11h33
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Eleições num café em São Paulo
- Sabe qual é o segredo do Trump? Ele não é de Washington, ele nunca foi político. Ele não é do sistema, entendeu?
- É quase um voto de protesto, então?
- E se ele não fosse tão louco, seria eleito!
* * *
- Tem de privatizar tudo mesmo: Anhembi, Pacaembu... Tem de mudar o Ceasa de lugar. Essas coisas precisam ser feitas, entendeu?
- E tem mais: se o João Doria fizer uma boa prefeitura, bobeou vira até presidente!
* * *
- Aquele negócio que o Kassab fez, foi muito feio. Quando ele virou ministro... eu não acreditei.
- Ele vai conforme o vento.
- Aquele negócio de sair de um governo, entrar no outro... Não dá!
* * *
- Ela trabalhou pro Russomanno, aí eu perguntei: "E agora?"
- O Russomanno deve tá p* da vida; tava na frente...
- Mas era esperado, né?
- É sempre assim: quem sai muito na frente...
* * *
- Agora, o pior é o Rio de Janeiro.
- Lá tem um bispo, da Universal... E lá tem esse Psol, que é a coisa mais retrógrada...
- Mas o carioca merece, né?
- Carioca gosta de contestar...
- Lá, ou é funcionário público, ou tá na praia.
* * *
- Esquerda festiva!
- Intelectual gosta disso.
- Gosta disso e gosta de viver bem, né? Gosta de Angra, gosta de Paris...
* * *
- E a juventude, agora, com o Che Guevara?
- Sanguinário!
- Que causa idealista, que nada.
- E ele gostava de poder, né?
* * *
- E a Dilma falando em "democracia"? Falando em "povo"...
- Ih, eles tão tudo milionário!
- Que democracia, que nada.
* * *
- O fato de um funcionário público - lá em Curitiba - montar uma operação dessas...
- Isso, sim, é democracia!
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Postado por Julio Daio Borges
8/10/2016 às 13h50
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A Doria, o que é de Doria
Votei na Marta. Era a minha candidata. Perdeu. Reconheço
Mas no segundo turno, como ela não ia passar, ia votar no João Doria. Nunca no Haddad. Nem no Russomanno
Eu achava a Marta a melhor escolha, porque ela já tinha experiência prévia da cidade. E, fora do PT, ela parecia ter se livrado daquele "ranço" esquerdista. Parecia mais amadurecida e mais disposta a deixar um "legado". E ela tinha o melhor vice, Andrea Matarazzo
Só que a Marta ficou indecisa. Mesmo ferida pelo PT, não conseguiu atacar seu partido de origem. E os paulistanos não perdoaram. No reduto-mor do antipetismo, terminou rechaçada
Já João Doria foi muito hábil em captar as intenções de voto do antipetismo, que era a força motriz destas eleições. Algo como um desdobramento "eleitoral" do impeachment, da Lava-Jato e das manifestações
Eu não gostava do João Doria no começo, achava ele muito "ensaiado". Como alguém que tinha acabado de decorar seu texto. Nunca me convencia muito nos debates
Também achava ele muito "engomado". Ainda acho. Uma espécie de prefeito dândi. Ou, como se dizia em português do século XIX, um "janota"
Uma vez encontramos ele na Livraria Cultura do shopping Iguatemi, num daqueles eventos infantis da Catarina. Ele parecia um boneco de cera, esticado desde a roupa e com aquela cor rosada de bronzeamento artificial
Não que isso diga muita coisa da sua capacidade política. Mas eu achava ele um candidato muito "montado"
Contudo, ele fez sua lição de casa
E sua capacidade de trabalhar sempre foi lendária (disso eu já tinha ouvido falar...)
Observando as taxas de rejeição dos demais candidatos, ontem ficou, para mim, claro que um "outsider" tinha grandes chances de levar. Além do antipetismo, existe hoje a enorme repulsa pelos políticos tradicionais. E o fato de ele ter brigado com a cúpula do PSDB - o partido da oposição bananeira - parece tê-lo impulsionado ainda mais (o Diego também observou isso ontem)
Só que, agora, ele vai ter de ser *político* da mesma forma...
Na verdade, acho que já está sendo. Me pareceu muito respeitoso no último debate, mesmo com figuras arcaicas, como Luiza Erundina. A Marta, inclusive, já parecida ter se rendido ao seu charme. E, como observou Reinaldo Azevedo, numa boa análise da campanha toda, ninguém conseguia mais atacá-lo
Quem assistiu ao seu discurso da vitória, deve ter percebido que ele fez questão de agradecer a praticamente todo o PSDB. Não só ao governador Geraldo Alckmin, mas à família Covas, que lhe forneceu um vice, ao clã dos Montoro, até ao senador José Serra... Só faltou, claro, FHC, Aécio Neves... E Andrea Matarazzo
Como um filho pródigo, retornava agora ao ninho tucano, o mesmo que, durante as prévias, ele havia desagregado...
Ia quase me esquecendo da gestão. "Sou um gestor", foi a melhor definição de si próprio
E, mais uma vez, veio a calhar. Pois, a última coisa que Dilma foi, desde 2010, foi gestora. Ela nunca foi "gerentona". Isso foi um engodo. E ficou no inconsciente de muitas pessoas. Sobretudo, na mente dos paulistanos...
Na cidade que nunca para, João Doria "acelerou". E seu jingle insistia no "João Doria trabalhador". Mas outro tipo de trabalhador - bem diferente daqueles "trabalhadores"...
"O PT é o partido dos intelectuais que não pensam e dos trabalhadores que não trabalham", profetizou Roberto Campos, que nos deixou há 15 anos
Que João Doria trabalhe, portanto. E consiga executar aquilo a que se propôs
É difícil agradar ao paulistano. E, desde que me entendo por gente, não me lembro de nenhum prefeito unânime...
Mas ele deve tentar. Quem sabe, se revele um fenômeno, como se revelou nestas eleições? ;-)
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Postado por Julio Daio Borges
3/10/2016 às 10h02
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A juventude piorou muito
Na segunda série, em 1982, a gente ria do Lula, que, na sua campanha para o governo do estado, incluía no currículo: "Ajudante de tintureiro"
- Nem tintureiro, ele consegue!
E ríamos às gargalhadas. Era um colégio de classe média. Família. Bem daquele tipo que a Marilena Chauí não gosta...
Hoje, a pessoa sai da faculdade votando no Haddad
Ou seja: a gente já praticamente entrava na escola sabendo que votar no PT era errado. E hoje as pessoas saem da faculdade achando que votar no PT é o certo (isso depois de tudo o que aconteceu!)
Começo a concordar com as críticas que fazem à Geração Y: é uma geração perdida; melhor focar nas próximas
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Postado por Julio Daio Borges
3/10/2016 às 09h57
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Último debate dos candidatos à prefeitura na Globo
Em primeiro lugar, um elogio à Globo, que consegue fazer o debate mais "clean", organizado e efetivo de todos. E ao César Tralli que, como jornalista, nestas eleições, foi o que mais se destacou
Como fiz no primeiro debate, na Bandeirantes, vou falar de cada candidato individualmente, sua evolução (ou involução) ao longo da eleição
Começo por Fernando Haddad, que encarnou a imagem da derrota. Como sempre, suado; mais descabelado do que o normal; e com o terno menos amarfanhado - mas abatido, prostrado, humilhado. O debate foi seu último suspiro. Acabou, Haddad
Em seguida, Erundina, que, tirando o aspecto risível de ser candidata por uma sigla que é uma piada, o PSOL, teve bons momentos como antagonista. Por exemplo, quando disse a Russomanno que a cidade não era feita apenas de "consumidores", mas, sim, de cidadãos. Ou como quando chamou a atenção de Doria, dizendo que ele fez política, sim, quando participou daquele movimento "Cansei" - e que ser "apolítico" era uma forma de fazer política também. A Erundina, embora seja uma vovozinha, de olhos cada vez mais fechados, teve os seus lampejos. Só levou o "troco" quando tentou jogar a crise na conta do governo Temer (Marta não perdoou)
Russomanno deixou de ser aquele candidato mais confiante do primeiro debate. Tropeçou nas palavras desde o começo, até o final. Teve boas altercações com Haddad, por exemplo, sobre o Uber. E pareceu visivelmente perturbado quando atacado por Marta. Contrariando as expectativas, contudo, ninguém o abordou, sem rodeios, sobre o tal Bar do Alemão...
Marta começou gaguejando de novo, mas, bloco a bloco, foi se firmando. A meu ver, é a mais sincera das candidaturas. Não insistiu tanto nos próprio erros, desta vez - o que foi um acerto. E, realmente, parece mais madura para um segundo mandato. (Sem promessas mirabolantes.) Inexplicavelmente, porém, foi muito condescendente com João Doria - e fez "par" com ele repetidas vezes... Se pretende enfrentá-lo no segundo turno, já deveria ter começado agora
E o João Doria, confesso, me surpreendeu (para bem). É o mais articulado de todos, não há como negar. Tem voz de locutor, não erra, não se perde nas falas. Às vezes, acelera demais, mas é uma metralhadora na argumentação - e está muito afiado. A campanha fez bem a ele (é nítido). E a estratégica de "atacar" a saúde... parece que funcionou. Como está na liderança, se mostrou o mais tranquilo de todos (inclusive, na postura)
Torço por um segundo turno entre Marta e Doria. Entre mortos e feridos, pelo menos ficamos livres do Haddad e do Russomanno. A Erundina entra para o folclore. E o Major Olimpio - nada contra ele como pessoa -, acho que não merece comentário
E, em novembro, que vença o melhor
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Postado por Julio Daio Borges
30/9/2016 às 10h06
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Sobre a Filosofia (obrigatória) no ensino médio
Tive Filosofia no ensino médio. Professor Beto. Meus colegas de Pueri Domus devem se lembrar
Era quase um estudo de figuras da linguagem. Pegávamos um discurso qualquer (poderia ser uma notícia de jornal) e ficávamos procurando coisas como "generalização apressada", por exemplo
Depois, no final da Poli, acompanhava as aulas do professor Roberto Bolzani Filho, que dava um curso sobre a "Metafísica", de Aristóteles. Começava com os pré-socráticos Heráclito e Parmênides e passava, claro, por Sócrates e Platão
Por causa desse curso, prestei Filosofia, no ano em que me formava na Poli, e passei, de novo, na USP. Mas nem cheguei a fazer um semestre, porque era à noite, eu trabalhava longe, fazia o Proficiency na Cultura, começava a escrever e a publicar na internet e começava a namorar a Carol ;-)
Mas li Filosofia o resto da vida. E, algumas vezes, escrevi sobre. Schopenhauer, Nietzsche, Heidegger e Wittgenstein. Cícero, Sêneca, Marco Aurélio. Maquiavel. Montaigne...
"A História da Filosofia Ocidental", do Bertrand Russell, é um dos meus livros de cabeceira. Às vezes pego um capítulo qualquer e leio
Até na Casa do Saber, eu aprendi Filosofia. Professor Pondé, que dava um curso de Filosofia da Religião, alguém conhece? ;-)
Mas não é coisa pra adolescente. Eu sei que Machado de Assis também não é. E tantas outras coisas - que são "ensinadas" - também não são
Acontece que ensinar Filosofia na escola é como ensinar Cálculo na escola. Estou lendo um livro que diz que Cálculo exige o domínio de quase toda a Matemática da escola. E é verdade. Eu gostava de Cálculo, na Poli, mas exige que você saiba álgebra, geometria, trigonometria, logaritmos...
Filosofia pode ser Lógica, o estudo dos discursos (como eu tive no ensino médio). Mas pode ser Ética. Pode ser Estética. Pode ser Política. Pode ser Epistemologia, o estudo dos "limites" do conhecimento. Pode ser História da Filosofia. Pode ser a Antiga, a Medieval, a Moderna...
Por mais que hoje as pessoas citem Nietzsche como quem cita Clarice Lispector (quase sempre erroneamente), Filosofia não é um assunto corriqueiro
Assim como não devemos obrigar ninguém a ter Cálculo ou Teoria da Relatividade no ensino médio, não acho que a Filosofia deva ser obrigatória no ensino médio
Seria como tentar ensinar Derivativos, para quem não vai seguir carreira em Finanças. Fisiologia, para quem não vai fazer Biológicas. Ou Buracos Negros, para quem não vai ser físico...
Quem tiver interesse, vai ter na faculdade, depois. Ou vai estudar por conta própria
Eu acho a discussão sobre "currículo" fascinante - e todo mundo tem uma opinião a respeito... (É quase como futebol, política e religião)
Mas, ao mesmo tempo, acho que nunca estamos "prontos", formados, "acabados". Evoluímos até a hora da morte
Fora que o mundo se transforma e nenhum "currículo" - por melhor que seja - consegue acompanhar
Também acho que esperamos demais da escola, da faculdade, dos professores, até dos "treinamentos" nas empresas (eu fui "trainee" do Itaú) - só que, hoje, acho que depende muito mais de nós...
A educação que a Catarina tem em casa é tão importante quanto a que ela tem na escola. Ou mais. Ou *muito* mais
Por fim, acho que esperamos demais do governo. Uns porque querem "mais" governo. Outros porque querem "menos" governo
Estamos sempre raciocinando em termos de "governo". O que é um problema até mais grave que o da educação - é um problema de *mentalidade*. E esta, para ser "reformada", custa muito mais...
Subdesenvolvimento, já dizia Tom Jobim, não é coisa que se improvisa - é obra de séculos...
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Postado por Julio Daio Borges
23/9/2016 às 11h06
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Bel Pesce, empreendedorismo e crowdfunding
Não vou falar da Bel Pesce especificamente, porque não a conheço (embora tenha amigos que a conheçam)
Nem vou falar do conteúdo que ela produz, porque nunca me embrenhei a fundo nele (não teria como avaliar)
Mas vou usar o exemplo da Bel Pesce para falar de "empreendedorismo" (essa "moda" de falar de empreendedorismo, na verdade); e de "crowdfunding" (ou, em português, financiamento coletivo)
O empreendedorismo virou um assunto de uns tempos pra cá, e, como todo modismo, cansou
Dizer que todo mundo pode ser empreendedor, é como dizer que todo mundo pode ser artista, coisa com a qual eu nunca concordei
Em ambos os casos, existe o fator talento, e ele não pode ser ensinado. Ou a pessoa tem, ou não tem
Depois, existe o fator sorte (sim, eu acredito em sorte). Concordo com Maquiavel que metade é "virtù" (talento) e outra metade é "fortuna" (sorte)
Sorte, em empreendedorismo, você pode traduzir por oportunidade
Oportunidade não dá em árvore. Ela surge ou não. Não pode ser "gerada"
A oportunidade pode ser percebida, sim. Mas, mesmo percebê-la, é um dom. E eu não acho que esse "dom" - ou senso de oportunidade - pode ser ensinado
Por último, existe a execução. Você pode ter o talento, a ideia (oportunidade) pode ser ótima, mas se a sua execução for ruim, não adianta nada
"Sua ideia é melhor que a minha. Minha execução é melhor que a sua. Eu ganho", tuitou, outro dia, o Tom Peters
E esse modismo de "financiamento coletivo" é bem isso. Muito barulho durante a captação. Uma vez captado o dinheiro, como fica a execução?
E mesmo depois de executado o projeto, quem avalia? Cumpriu com as expectativas dos financiadores?
Pergunta final para a Bel Pesce (e outros que rezam pela cartilha do "empreendedorismo serial"):
Se o projeto era tão bom assim, por que temos de financiar outro? E mais outro? E, ainda, outro?
É mais ou menos como pedir às pessoas que venham à sua festa de casamento - só que você se casa todo ano, com uma nova pessoa
Fora que vale aquela história da Lei Rouanet: vamos financiar quem precisa. Quem não precisa, não deveria pedir financiamento - não é mesmo?
Eu sei que no Brasil é tudo ao contrário e que os que mais se beneficiavam dos financiamentos do BNDES - o maior financiador do País -, eram os que menos precisavam...
Mas não deixa de ser um escândalo
E não deveríamos banalizar o uso do financiamento coletivo, que é uma boa ideia na origem
E nem o uso da palavra empreendedorismo, porque precisamos de empreendedores, no Brasil, sim
O que eu faria se fosse a Bel Pesce?
Não sei, ela se meteu numa errascada. Acabou virando bode expiatório - para essas práticas que eu listei acima, e que acabaram viciadas
Que o erro da Bel Pesce sirva, então, para refletirmos sobre uso que se faz do "financiamento coletivo" na internet - e do empreendedorismo em forma de autoajuda...
Eu sabia que essa bolha iria estourar, um dia. Vamos aproveitar para fazer uma correção de rota
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Postado por Julio Daio Borges
29/8/2016 às 09h49
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Primeiro Debate dos Candidatos à Prefeitura
Assisti mais por curiosidade. As eleições não estão longe, mas os escândalos no noticiário são tantos que querem adiar o assunto o mais que podem. Com o fim das Olimpíadas, porém, não têm como adiar mais
Me parece que todos os candidatos têm telhado de vidro e, mais uma vez, vamos votar "no menos pior". É lamentável, depois de tudo o que aconteceu na política desde a eclosão da Lava-Jato. Mas o fato é que a política brasileira não se renovou (como, aliás, é desejado desde as manifestações de 2013!)
Vale um puxão de orelha nos partidos novos - ou que se denominam assim - e nos movimentos de rua, que poderiam ter lançando um candidato próprio ou que até poderiam ter apoiado um candidato do establishment - mas não se pronunciaram e, hoje, deixam o eleitor sem opção, mais uma vez
Como foi o primeiro, me pareceu um debate "de aquecimento". Não vou entrar muito nos temas, porque considero que foram abordados superficialmente. Prefiro falar um pouco de cada candidato - do que imaginava de cada um; do que acabei vendo; e do que concluí a respeito
Começando pelo Major Olimpio. Você nunca deve ter ouvido falar nele (nem eu). Me pareceu o azarão do debate. Como não tem nada a perder, bate em quem é governo ou em quem está na frente, para ver se consegue algum Ibope. Agora, o interessante foi descobrir os "bolsonaristas" das redes sociais elogiando um candidado, no máximo, sofrível. Aí tem coisa. Mas não tem nenhuma chance. Não ameaça ninguém
Na sequência, o Haddad. Depois de uma gestão, diuturnamente, criticada, ou ele é muito sem noção (de se apresentar), ou é muito cara de pau mesmo. Quando perguntaram para ele do João Santana na sua campanha e ele não respondeu; ou quando veio falar que as multas não aumentaram e o auditório deu risada - você percebe que ele, simplesmente, adotou o padrão "PT" de negação da realidade. Parece um louco falando. Parece a "afastada" em seu delírio. Carta, provavelmente, fora do baralho. (Espero)
João Doria Jr. começou bem o debate, melhor do que eu imaginava. Mas sua postura muito ensaiada, querendo passar um excesso de informações, soou meio artificial. Vestido como um catálogo de moda, muito arrumadinho, não convence 100%. Parece "distante", não combina com o lado feio de São Paulo, por exemplo. (E sabemos que ele existe.) Precisa aprimorar sua "persona" política. Não foi dessa vez, Doria (não foi dessa vez, Alckmin)
Russomano, por incrível que pareça, me surpreendeu. Acho que está mais tranquilo, porque está na frente (não se sente na obrigação de bater em ninguém). Passa até uma certa serenidade. Mas, dele, devemos desconfiar bastante - veio da televisão, domina a linguagem etc. Foi o que melhor se saiu. Se não tivesse um lado obscuro - que ninguém explica (muito menos ele) -, convenceria muita gente... Quase ganhou a última eleição. Devemos ficar de olho. É perigoso
A Marta Suplicy começou mal. Acho que nervosa; enrolando a língua. De acordo com o que ela mesma revelou, apanhou muito com sua mudança de partido. E na internet, pelo visto, continua apanhando bastante. Abalou muito sua auto-estima - que era alta. Foi se saindo melhor à medida que o debate avançou... Ela conhece a cidade, sabe das limitações todas e me pareceu, depois de tudo, humilde. Prometeu não ser a Marta "das taxas", de novo. O problema é que tem um longo passado com o PT - e isso é difícil de se apagar na memória das pessoas... Vamos ver
Enfim, não enxergo muita escapatória. Ficamos entre o PSDB, oposição frouxa, e o PMDB, um poço de escândalos. Ou os evangélicos; ou a extrema direita. Ou o PT (sim, o PT). Lamentavelmente, esse é o cenário. Mais um ano sem renovação em São Paulo. Não anima. É uma pena. (Oremos)
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Postado por Julio Daio Borges
23/8/2016 às 10h34
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Sobre o Encerramento das Olimpíadas do Rio em 2016
Escrevo ainda sob o impacto da festa de encerramento das Olimpíadas 2016
Vai demorar um tempo, não sei quanto, para conseguirmos entender o que aconteceu no Rio de Janeiro em 2016
Eu confesso que não acreditava que o Brasil fosse capaz de sediar uma Olimpíada - mas isso acaba de acontecer
Quando o Rio foi anunciado como sede, em 2009, o clima era de megalomania - e eventos como a concessão do "grau de investimento", a descoberta da "camada pré-sal" e o Cristo Redentor "decolando" na capa da Economist se misturam, hoje, na minha cabeça
Depois que perdemos o grau de investimento, o pré-sal se tornou inviável, porque *a Petrobras* se tornou inviável, e o Cristo Redentor afundou, em parafuso, na capa da Economist, o último delírio que restava, de um certo ex-presidente, era a "Rio 2016" (porque "A Copa das Copas", bem, deu no que deu...)
Para completar o quadro, o Brasil vem de uma crise representativa desde 2013, com as primeiras manifestações; e vem de uma crise política, desde o Petrolão e a Lava-Jato - que já derrubou uma presidente, transformou um ex-presidente em "proscrito", ameaça cassar o registro de um certo partido, sem falar no resto do establishment político, respingando em quase todos os outros partidos, e em praticamente todos os demais poderes, Judiciário inclusive
Como se não bastasse, o governo do Rio de Janeiro decretou, semanas atrás, estado de calamidade pública...
Ou seja, vínhamos de um desilusão - os BRICs que não foram -; de uma crise de identidade - no fundo, uma crise liderança -; e de uma crise econômica - que, para nós, o único paralelo é a crise de 29...
Ou seja: não tinha como dar certo. E acho, até, que, no fundo, muitos de nós não queriam que desse certo... Como que para "purgar" a megalomania de 2009, um certo ex-presidente, um certo partido, todo o espectro de governo *a* oposição, todo um povo que "não aprende a votar" etc.
Mas um milagre aconteceu, no Rio de Janeiro, em agosto de 2016, e as Olimpíadas foram um retumbante sucesso, repercurtindo no mundo inteiro, contaminando o planeta com a chamada "brasilidade", e revelando uma cultura, pujante, que, no meio de tanta lama, de tanta vergonha e de tanto escracho, havíamos "esquecido" de que era nossa...
Esse "milagre" precisa ser estudado pelas próximas gerações (coloco entre aspas porque fomos nós que realizamos)
Mas, independente de qualquer coisa, ficam algumas lições:
A primeira é a de que "governo não é estado" e "estado não é nação"
Mais do que nunca, esses políticos *não nos representam*. A vergonha de os termos eleito, sim, é nossa - mas temos de virar essa página da nossa História. Porque a Rio 2016 demonstrou que a nossa História pode ser bem outra...
A segunda lição é de que "crise econômica" não é desculpa para deixar de fazer, para deixar de tentar e, mesmo, para deixar de fazer bem feito
Desde a abertura até o encerramento, não dava para fazer, poderíamos ter desistido e, sobretudo, poderíamos ter feito muito pior do que fizemos...
Só que acabamos fazendo, sem condições - e com muito brilho. O brasileiro é como aquele peixe, de Nelson Rodrigues, que, por viver nas profundezas, e na escuridão, emite luz própria...
A terceira lição é de que, no meio dos escombros, pode nascer um novo dia. A flor no asfalto, de Drummond
O Brasil não acabou. Não chegamos ao "fim do Brasil"
A Rio 2016 provou que podemos renascer das cinzas. Que existe um coração batendo ainda
Que existe uma cultura, exuberante, uma identidade, única, que é a nossa - e da qual não devemos nunca nos envergonhar
Repetindo:
Podemos fazer; podemos fazer *do nosso jeito*; e podemos fazer bem feito - sem ficar devendo nada para ninguém
As Olimpíadas de 2016 eternizaram o Rio. Que elas inaugurem uma nova era para o Brasil
Para ir além
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Postado por Julio Daio Borges
22/8/2016 às 10h10
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