Julio Daio Bløg

busca | avançada
57876 visitas/dia
2,4 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Projeto Nascentes Criativas promove ações culturais gratuitas no interior de Minas
>>> Pekka Pylkkänen (FIN) - Brazil Tour 2024
>>> Domingo, 19, 17h, tem 'Canta Teresa' - Roda Cultural com os rappers Ramonzin e Emitê OG
>>> HOJE E AMANHÃ - JÁ ESTAMOS BEM - IMPROVISO DE DANÇA ABORDA ADOECIMENTO HUMANO E PLANETÁRIO
>>> Selvageria synth pop no Pantera Clube
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Comfortably Numb por Jéssica di Falchi
>>> Scott Galloway e as Previsões para 2024
>>> O novo GPT-4o
>>> Scott Galloway sobre o futuro dos jovens (2024)
>>> Fernando Ulrich e O Economista Sincero (2024)
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
Últimos Posts
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Mário Faustino
>>> A dança das imagens de Murilo
>>> Desligando o Cartoon Network
>>> Leia de ouvido
>>> Cinema Independente (5.1)
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Walter Burkert (1931-2015)
>>> Os quadrinhos e o castelo do Graal
>>> Causos e coisas da internet
>>> 10º Búzios Jazz & Blues I
Mais Recentes
>>> As Muitas Mães de Ariel 10ª edição. de Mirna Pinsky (ilustrações Maria José Boaventura) pela Melhoramentos (1995)
>>> Incrível, mas Verdadeiro 2ª edição. de Irmã Claire Gagné pela Louva a Deus (1994)
>>> O Pilão da Madrugada um depoimento a José Louzeiro de Neiva Moreira pela Tereceiro Mundo (1989)
>>> Fronteiras, Passagens, Paisagens Na Literatura Canadense. de Maria Bernadette Porto pela Universidade Federal Fluminense. Uff (2000)
>>> Estudos Amazônicos - Coleção Amazônica - Série José Veríssimo de José Verissimo pela Ufc (1970)
>>> O Futuro Da Terra de Herch Moysés Nussenzveig pela Fgv (2011)
>>> A Parceria Estratégica Sino-brasileira : Origens, Evolução E Perspectivas (1993-2006). de Oswaldo Biato Junior pela Fundação Alexandre De Gusmão. Funag (2024)
>>> Aquele Anel Trouxe De Volta Meus Dedos de Frank Stiffel pela Exodus (1997)
>>> A Realeza de D. Miguel - resposta a um livro do Sr. Tomaz Ribeiro de D. Miguel Sotto-Mayor pela Livraria Atlântida (1929)
>>> Elon Musk de Ashlee Vance pela Intrinseca (2015)
>>> O Tesouro de Sierra Madre de B. Traven pela Paz e Terrra (1984)
>>> Corpo Sem Idade, Mente Sem Fronteiras de Deepak Chopra pela Rocco (1997)
>>> Diário Secular de Thomas Merton de Thomas Merton pela Vozes (1961)
>>> Estudos: 2a Série de Tristão de Athayde pela Terra de Sol (1928)
>>> Galo Das Trevas de Pedro Nava pela José Olympio (1981)
>>> Bau De Ossos de Pedro Nava pela José Olympio (1978)
>>> O Conto Ídiche de J. Guinsburg pela Perspectiva (1966)
>>> Grandes Esperanças de Charles Dickens pela Portugália (1969)
>>> Livro Olhos De Azeviche VOL 2 - Dez Escritoras Negras Que Estão Renovando a Literatura Brasileira de Wagner Amaro (org.) pela Secretaria Municipal da Cultura (2019)
>>> O Brasil e o Monte Castelo - por Quê? Como? para Quê? de Memória do Exército Brasileiro e do Jb pela Mab; Faap (2006)
>>> Livro John Lennon Nowhere Boy - The Story Of Jon Lennon (acompanha 2 CD)- Level 4 de Paul Shipton pela Moderna (2011)
>>> O Petróleo é Nosso de Maria Augusta Tibiriçá Miranda pela Ipsis (2004)
>>> 1944 (french Edition) de Alain Decaux pela Memorial Caen Normandie (1993)
>>> O Retrato de Jano de Paulo Elpídio de Menezes Neto pela Ufc (1996)
>>> O Princípio Da Totalidade. Uma Análise Do Processo De Energia Vital de Stephano Sabetti pela Summus (1991)
BLOGS

Sábado, 6/8/2016
Julio Daio Bløg
Julio Daio Borges
 
Sobre a Abertura das Olimpíadas do Rio em 2016

Acho que nunca vamos nos esquecer da "Copa das Copas". E daquela abertura nonsense, feita por um belga, que surgiu do além ― e que misturou Claudia Leitte com Jennifer Lopez e "Pitbull" (alguém se lembra desse sujeito?). Depois, no encerramento: Alexandre Pires, o pagodeiro, mais Carlinhos Brown e Santana ― num verdadeiro samba do crioulo doido. Total "vergonha alheia". Pensando bem, estava à altura do "7 a 1" ― a maior vergonha esportiva do Brasil em todos os tempos.

Fernando Meirelles, felizmente, seguiu uma linha ― e se apoiou na música brasileira. Acredito que fugir do verso "O Rio de Janeiro continua lindo" fosse, para ele, impossível ― e Meirelles decidiu, então, começar pelo mesmo. Mas escolheu uma versão não-óbvia de "Aquele Abraço", cantada por Luiz Melodia.

O Hino Nacional por Paulinho da Viola foi outro acerto. Fugiu daquelas execuções protocolares ― mas sem perder a solenidade do momento, com muita beleza e elegância. E Paulinho da Viola foi vingado, depois daquele Réveillon no Rio ― em que recebeu menos cachê do que os baianos...

Zeca Pagodinho e Marcelo D2 foram OK. Regina Casé foi uma forçação de barra e ela não deveria ter tentado passar nenhuma "mensagem" (ainda mais em inglês). Jorge Benjor: muito rouco, mas bem. O primeiro grande ausente foi Wilson Simonal, o verdadeiro responsável pelo sucesso de "País Tropical".

Agora, o grande momento, na imprensa internacional, até onde eu vi, foi o desfile de Gisele Bündchen. Daniel Jobim não fez feio, ao piano, mas não é páreo para Gisele. Ela ficou melhor se contrapondo a Tom Jobim, enquanto tocava "Garota de Ipanema". (Helô Pinheiro, a original ― que está muito bem na capa da "Caras" ― poderia ter feito uma aparição surpresa...)

Foi bonita a homenagem a Santos Dumont, um dos heróis da nossa mitologia, e combinou com o "Samba do Avião" (de novo, do Tom).

E por falar em mitologia, Fernando Meirelles não conseguiu fugir dos nossos "mitos fundadores": índios, portugueses, africanos, imigrantes etc. Mas foi, relativamente, breve, em sua abordagem. (Confesso que não tenho muita paciência para "alegorias" que precisam de muita explicação. Quando é preciso de semiótica e sociologia para entender uma cerimônia de abertura, significa que ela não funcionou...)

A "mensagem" sobre o aquecimento global me pareceu desatualizada. Mais apropriada à Eco-92. Fora que "Um Verdade Inconveniente", o documentário de Al Gore de 2006, já havia esgotado o assunto...

Original foi citar o poema de Drummond, um mineiro que adotou o Rio. Tirando Vinicius de Moraes, é raro que um poeta seja citado assim. E um poema não-óbvio: Meirelles resistiu ao apelo fácil da "pedra no caminho" e do "José". Fernanda Montenegro e Judi Dench foram mais dois acertos ― pena que pirotecnia tenha ofuscado suas palavras (e tenha ficado difícil de captar o sentido do que elas estavam declamando)...

Misturar Chico Buarque, de "Construção", mais Deborah Colker e o maestro Rogério Duprat foi outra boa ideia. (Eu não recomendaria, mas funcionou.)

Os desfiles das delegações dos países com os "ritmistas", como todos os locutores apontaram, foi um acerto grande. Deu um ar de "festa" à coisa toda. Afinal, o Brasil não é um país "sério" (no bom e no mau sentido)...

A entrada da delegação do Brasil, tocando "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, de fato, emocionou.

Wilson das Neves protagonizou sua própria versão do "Samba da Benção", de Vinicius de Moraes.

E o trio "Caetano, Gil e Annita" não soou estranho, ainda que o grande ausente, que consagrou "Isso aqui, ô, ô", tenha sido João Gilberto. É provável que, como Pelé, ele não tivesse "condições" de comparecer. Mas poderiam ter convidado Bebel Gilberto...

A parte do funk carioca, eu pulo ― porque dispenso. E quando pensamos no quanto eles poderiam ter errado nessa cerimônia de abertura ― e no quanto eles erraram *pouco* ―, foi um feito e tanto.

Fernando Meirelles pegou um Rio de Janeiro, literalmente, em estado de calamidade pública, com baixo orçamento, e fez uma cerimônia de abertura que uniu os brasileiros, de novo ― apesar de toda a desilusão da política... (Mais uma vez: não foi pouco.)

E se pudemos medir o fracasso da Copa de 2014 por aquela abertura, e se pudermos medir alguma coisa por essa do Fernando Meirelles, as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, serão um sucesso estrondoso ;-)

Para ir além
Compartilhar

[Comente este Post]

Postado por Julio Daio Borges
6/8/2016 às 13h05

 
Como um torcedor do Brasil em época de Copa

Sabe aquele sujeito que só torce pelo Brasil em época de Copa do Mundo?

Então. Sou eu...

Não tenho paciência para acompanhar futebol. Nunca tive. Nunca terei

Mas gosto de torcer pelo Brasil em época de Copa. Subitamente me interesso pelas seleções, pelos jogadores, até pelos técnicos

A impressão que tenho é que o talento se concentra (em época de Copa) - e o esporte tende a ser mais interessante...

Assim, o dia a dia - fora da Copa - eu acho "chato". Burocrático. Sem novidades

Pois é, não sou fã. Não sou fanático

Mas por que estou falando de futebol? Porque percebi que, em política, sou a mesma coisa:

Gosto de acompanhar em época de eleição. Os debates entre os candidatos. Até um programa eleitoral ou outro...

Mas o "dia a dia" da política não me interessa em nada. Acho chato. Burocrático. Sem novidades

Talvez por isso não vão me ver opinar sobre o dia a dia do novo governo...

Depois das "emoções" do impeachment - aquele tudo-ou-nada onde, de repente, poderíamos acordar na Venezuela ou em Cuba...

Depois disso, tudo ficou tedioso

E vamos procurar outras emoções... Talvez nas eleições dos EUA... Talvez nas eleições municipais (no segundo semestre)...

Por enquanto - se não houver nenhuma reviravolta -, eu me despeço da política e vou cuidar da vida

Admiro muito, mas não tenho a mesma vocação de uma Dora Krammer, de um Fernando Gabeira ou de um editorialista do Estadão

Nem, muito menos, o estômago de um Diogo Mainardi, de um Reinaldo Azevedo ou de um Marco Antonio Villa

Por fazer um acompanhamento "parcial" - só em época de eleição -, meus comentários estão condenados a cair na "vala comum" do torcedor-do-Brasil-em-época-de-Copa-do-Mundo...

Mas não importa. Prefiro conservar minhas emoções de "torcedor". Do que assumir aquele ar superior de "comentarista" vivido - que já viu de tudo...

O dia a dia, eu acompanho o da Catarina. O dos meus sites. O da minha família. E olhe lá

Para ir além
Compartilhar

[Comente este Post]

Postado por Julio Daio Borges
18/5/2016 às 09h33

 
Assistindo ao Super-Homem com a Catarina

Superman, o original, de 1978, foi um dos filmes que mais marcou a minha infância

Foi um dos primeiros filmes que vi no cinema, em 1979, quando tinha 5 anos. O Papai levou a mim e ao Diego. A Carolina devia ser recém-nascida e a Mamãe deve ter ficado em casa com ela

Esperei um pouco para ver com a Catarina. Porque, embora eu tenha visto com a idade dela, não é exatamente um filme infantil

Também porque: àqueles filmes que nos marcaram, às vezes a gente não quer rever - para não estragar aquela "imagem" gravada na memória...

Eu tinha, inclusive, o álbum de figurinhas do filme e outro dia até cruzei com ele

Vamos ao filme e às impressões da Catarina

Embora a cópia fosse em DVD, não tinha muita qualidade. Parecia um VHS daqueles mal copiados dos anos 80. Poderiam ter cuidado mais e feito uma versão "remasterizada"...

A estética do planeta Krypton me lembrou muito Guerra nas Estrelas, que devia ser a grande referência, na época, para "espaço" e a vida em outros planetas (fins da década de 70)

O que eu nunca entendi, em retrospecto, foi a presença do Marlon Brando no filme. Seria como ter, sei lá, Kenneth Brangh ou Laurence Olivier num filme de super-herói

Ele está engraçado com o cabelo à la Walmor Chagas e os penteados são algo que me chamou a atenção. O penteado, do próprio Super-Homem, com aquele "arrancacorazones", escorrendo pela testa, é algo a ser notado

A Catarina não entendeu muito bem os dilemas do planeta Krypton, o julgamento dos malfeitores e seu banimento através da galáxia. Não entendeu, sobretudo, como eles entraram naquele tipo de "espelho" - e ficaram girando pelo espaço...

Ela achou ruim que os pais do Super-Homem morreram na catástrofe. E quando ele atinge a maioriadade e sai andando pelo mundo, depois que o pai adotivo morre, ela comentou: "Sem pai, nem mãe, qual é a graça?"

Ela também queria que ele ficasse mais tempo como criança. Porque ele cresce muito rápido "e ele estava tão bonitinho, Papai" - como quando ergueu o carro (dessa cena, eu me lembrava)...

O que me espantou, particularmente, é que eu não achei a Lois Lane - a famosa Lois Lane - bonita. Um cabelo murcho, dentes escurecidos (de fumante?) e "media passadita" - como dizem lá na terra da Mamãe...

Mas a paixão do Super-Homem por ela é bonita. E quando ele faz a Terra girar ao contrário, para o tempo voltar, ainda é uma das cenas mais fortes do filme. Achei a cena da morte dela, sendo soterrada viva, muito forte para a Catarina. (No fim, há muitas mortes no filme...)

A famosa cena deles voando ficou um pouco ultrapassada, tecnologicamente falando. A gente percebe, hoje, a montagem. Até porque viu, muitas vezes, em estúdios e parques temáticos. Mas a Catarina gostou. E ela até erguia o bracinho, imitando o Super-Homem, naquele seu gesto característico...

Outra coisa ultrapassada é eles trabalharem num jornal. A redação é velha - mesmo para os padrões do anos 80 (que se seguiriam logo depois): a era do videogame e do computador pessoal. Uma redação cheia de máquinas de escrever e o fotógrafo, Jimmy Olsen, com uma daquelas câmeras antigas, tipo fotógrafo de casamento, com o flash à parte...

Gene Hackman talvez seja a melhor atuação do filme. Como "a maior mente criminosa de todos os tempos". Para variar, assessorado por um néscio e por uma secretária nada recatada, meio bobinha, que acaba gostando do Super-Homem, o ajudando e o beijando

O Super-Homem, como personagem, é ingênuo, de tanta bondade, e esse é, obviamente, seu ponto fraco

Fisicamente, chama a atenção, para nós hoje, que ele não seja "bombado". Ele é alto e magro, claro. Mas tem o físico mais parecido com o de um ciclista do que com o de um halterofilista (a maioria dos super-heróis hoje)

De tudo isso, o que sobreviveu melhor foi a trilha sonora, de John Williams, que ainda é espantosa. Os filmes dessa época, dos anos 80 em diante, são tanto dos diretores, como Spielberg, quanto o são de John Williams

Basta observar o quanto faz falta um John Williams hoje, com aquela "pegada" sinfônica, grandiosa, retumbante - que confere densidade à trama, como se o futuro da humanidade dependesse daquilo que se passa na tela e os personagens nos representassem (virando nossos heróis)

Christopher Reeve continua lindo. Talvez meio grande e meio bobo, vide Clark Kent - até porque ninguém pode ser tudo... E a gente não deixa de se lembrar como sua vida acabou, tragicamente, naquela cadeira de rodas... O arquétipo do homem superpoderoso entrevado até a morte

A Catarina ficou interessada em ver o Super-Homem II, mas não sei se vou ver com ela. Fico imaginando que a sequência, com aquelas lutas entre os "super-vilões", não seja muito indicada para ela...

Contudo, é sempre bom rever os filmes que nos marcaram com as pessoas que amamos ;-)

[Comente este Post]

Postado por Julio Daio Borges
3/5/2016 às 14h31

 
Prince

No início dos anos 90, eu tinha cabelo comprido e ouvia rock pesado, mas conversava com o Pedro Mariano, por causa de um amigo em comum (músico)

Um dia, entrando na escola, mostrei meu fichário, cheio de guitarristas de rock, e o Pedro me falou que o único que prestava ali era o Prince

Achei engraçado, o Pedro era arrogante, filho da Elis e do César Camargo Mariano, não aceitava discutir música com muitas pessoas (eu tinha paciência)

Não concordei com o Pedro na época. Era difícil, para mim, achar que algum guitarrista fosse melhor que o Steve Vai de Passion and Warfare (1991)

Mas fiquei com aquilo na cabeça. E hoje concordo com o Pedro. Não que Prince seja melhor *guitarrista* mas, sim, melhor músico

Ele foi - também - um grande guitarrista. E o solo de "Let's go crazy" é respeitável. (Não é de alguém que tem medo ou que não sabe o que está tocando)

E Prince foi um grande artista pop, na época em que Michael Jackson e Madonna estavam no auge - e ele conseguiu fazer frente aos dois. Não como bailarino, ou coreógrafo, mas como músico, e compositor

Apesar de bem-sucedido e consagrado, conseguia escrever sobre a dor da perda, e do abandono, em "Nothing compares 2 you" - que praticamente lançou Sinead O'Connor (que foi essa canção e nada mais)

Seu reinado foi até os anos 90, quando foi atropelado pelo rap e pelo hip-hop, cuja estrada, para o mainstream, ajudou a pavimentar. Prince era muito sofisticado, musicalmente, para o que veio depois

E numa evidente crise de identidade, se perdeu com aquele negócio de mudar de nome: primeiro para "Victor", depois para aquele símbolo hermafrodita. Acabou virando "Symbol"

Ultimamente, tentou se relançar. Mas passou muito tempo fora. E não entendia a internet - como muitos artistas de sua época, aliás

Para se ter uma ideia do tamanho do equívoco, basta procurar "Prince" no YouTube e no Spotify. No primeiro, só há vídeos "ao vivo" (de baixa qualidade). No segundo, um único álbum - e o Spotify informa que Prince é um dos artistas mais procurados...

Sua teimosia em resistir ao compartilhamento vai lhe cobrar um preço alto agora: se não estiver na internet, em pouco tempo sua memória irá se apagar

Tempos atrás, baixei sua discografia (apesar das proibições). É impressionantemente boa. Consistente. E envelheceu bem - ao contrário de muita coisa dos anos 80

Eu gosto de 1999 (1982) em diante. Purple Rain (1984) é um clássico. Sign O' Times (1987) entra numa fase mais conceitual. E eu me lembro muito de Lovesexy (1988), porque é da minha época, e do vídeo de "Alphabet Street" (lembro de ver com meus amigos)

Acho que Prince vai bem até Graffiti Bridge (1990) - que o Pedro Mariano tentava me impingir -, até Diamonds and Pearls (1991), que eu acho maravilhoso, desde a canção-título

Em meados dos anos 90, quando eu já estava no reino do jazz e da música clássica, ainda comprei uma coletânea do Prince, na saudosa Virgin Records, com "singles" e B-sides

Desde "When doves cry" ("Maybe I'm just like my mother/ She was never satisfied"), "I feel for you" ("I think I love you") até "Sexy M.F.", "Get off" ("22 positions in one night stand") e "Cream", que eu considero uma perfeição pop. Passando por "Thieves in the temple" ("Love comes quick/ Love comes in a hurry") e "Raspberry beret", que a gente dançava em festas

Entre os três maiores artistas pop oriundos dos anos 80, Prince é o meu favorito. O Michael Jackson não tem tantos discos bons (que você consiga ouvir de ponta a ponta). Nem a Madonna

[Comente este Post]

Postado por Julio Daio Borges
21/4/2016 às 18h29

 
Meu texto de aniversário

Como disse o Steve Jobs, naquele discurso de formatura, eu tive sorte

De nascer de uma mãe que me amou incondicionalmente e de um pai que, além de exemplo, sempre foi (e continua sendo) uma fonte inesgotável de apoio

De ter irmãos que me amaram e me estimularam, também, sempre. De ter avós, tios, primos e sobrinhos que me inspiraram, me formaram e me instigam. Em São Paulo, fora de São Paulo e fora do Brasil ;-)

De ter convivido com a Carol, e com a família dela. De ser pai da Catarina, a maior alegria da minha vida. Uma alegria que eu nem imaginei que existisse...

De ter encontrado vocês, cada um de vocês. Desde o primário, o ginásio, o colegial até o cursinho, até a faculdade, a vida com a Carol, a vida profissional e a vida com a Catarina

Cada um de vocês foi (e é) uma referência para mim, cada um a seu modo. Nós somos um conjunto de referências, eu acredito - e só nos damos conta disso quando perdemos alguém importante. Então toda referência é válida. Sempre

Tive sorte de poder estudar e entrei na USP duas vezes. Mas, mais do que isso, tive a sorte de encontrar professores e colegas que, além de me moldar, são lembranças para sempre

Tive sorte em meus estágios, em meu "programa de trainee" e tive sorte nos meus empregos. Trabalhei com gente brilhante, fui reconhecido, conheci o tal "espírito de equipe" e até encontrei pessoas que não admirei pelo caráter, mas que me serviram de exemplo, também

E tive a enorme sorte - e o enorme prazer - de criar o Digestivo. De poder realizar uma vocação. De ser um dos pioneiros da internet, no Brasil. E de ter conhecido - e convivido - com meus ídolos

De ter encontrado pessoas tão apaixonadas quanto eu pelo assunto. De ter revelado talentos. De ter criado uma referência. E até a sorte de poder deixar um legado - mesmo que tudo dê errado ;-)

E estou tendo sorte, de novo, com o Portal dos Livreiros. São mais de 500 vendedores já. Em pouco mais de seis meses. Já somos uma das principais referências, no Google, em matéria de livros. Chegamos a 1000 seguidores no Twitter. E, neste mês de Janeiro, ao recorde de 20 buscas por minuto (uma busca a cada 3 segundos)

Depois de tudo isso, eu gostaria de dizer que não sou pessimista - não tenho como ser. Nem com o Brasil...

O Millôr - que eu tive a honra de conhecer - diz que o pessimista ganha sempre: quando dá certo e quando dá errado. Mas eu prefiro ser otimista mesmo assim ;-)

Gostaria de terminar com três sugestões, para você que me leu até aqui:

Primeira: ame. Todo mundo tem amor para dar. E todo mundo merece receber amor. Todo mundo. Gosto de uma frase que diz: "Ser amado nos dá segurança. E amar nos dá coragem." (E o melhor: é grátis!)

Segunda: ame o que você faz. Ou, pelo menos, faça com amor. Voltando ao Steve Jobs: só quem *ama* o que faz, pode ser bom no que faz. ("Find what you love. Don't settle...")

Terceira e última coisa: faça agora - o que você pode e *com o que* você pode. Você sempre pode. Todo mundo sempre pode. E não precisa esperar. Faça agora

Não sou perfeito, cometi um monte de erros, mas tento amar, fazer o que eu amo e, sobretudo, tento fazer *alguma coisa* com o que eu tenho no momento

O aniversário é meu, mas o texto eu escrevi pra você - que me lê. Obrigado pelas curtidas e pelos comentários ao longo do ano ;-)

Para ir além
Compartilhar

[Comente este Post]

Postado por Julio Daio Borges
29/1/2016 às 15h40

 
Bowie, David

David Bowie não tinha fãs fanáticos. Li que era um artista conceitual. Eu prefiro pensar que era um artista completo. No sentido da "obra de arte total", de Wagner

Agora que morreu, surge toda a sua iconografia de uma vez - e é impressionante que tenha vivido tantas encarnações em uma só...

Fases dentro de fases. Cada uma com sua própria estética. David Bowie poderia ter sido artista plástico, se quisesse. Estilista de moda. Seus "looks" são parte de sua obra. Poderiam ser estudados "per se"

No rock, não lembro de ninguém com tanto estilo. Roqueiros se vestem mal. São descuidados, mal-ajambrados... De propósito. David Bowie, em suas aparições, humilhava a todos

Acho interessante sua androginia. Nunca me pareceu vulgar. Nunca soou agressiva. Não consta que tenha feito disso uma bandeira. Ele tinha muito bom gosto para se meter com política

Ouço que explorou, com humor, rumores de que fosse alienígena. "Space Oddity" foi seu primeiro hit. E "Ziggy Stardust", seu primeiro clássico. Disseram que não morreu, entrou numa espaçonave...

Em música, esteve entre os maiores de seu tempo. Cantou os Beatles e os Stones em "All the Young Dudes" - e gravou com eles. "Fame", com John Lennon. "Dancing in the Street", com Mick Jagger. Fez dueto com Freddy Mercury, em "Under Pressure". Foi homenageado pelo Nirvana, em seu acústico. E por Madonna, que o chamou de "gênio"

Sua esposa, Iman, foi Cleópatra, num clipe de Michael Jackson. Estava mais para Nefertiti. Até porque Cleópatra não era negra - como alardeiam. Era grega. Desde o nome. E branca

Apesar disso, não temos tantos escândalos "by" Bowie. Falam de drogas. Mas se for verdade, ele deve ter tido uma constituição "estilo" Keith Richards - porque produziu muito, e décadas a fio. Seu último álbum, lançado este ano, ainda soa interessante

Meu preferido ainda é "Let's Dance" - da minha adolescência; me marcou. Todo mundo da minha geração conhece, e canta, "Modern Love", "China Girl" - que, eu sei, é com Iggy Pop. Poderíamos explorar, ainda, suas relações com Lou Reed - e dizem que há um documentário, muito bom, sobre isso - mas meu texto não teria fim...

Para resumir: há uma coletânea muito boa, dos anos 90, "Sound & Vision". É de 1989, na verdade. Foi minha introdução ao Bowie. Sugiro fortemente para quem quiser começar. (Tem, inclusive, no Spotify.) É daquela época em que se faziam "caixas", na transição dos LPs para os CDs...

Felizmente, há muito David Bowie para se escutar ainda. Os grandes artistas são assim - inesgotáveis

Para ir além
Compartilhar

[Comente este Post]

Postado por Julio Daio Borges
21/1/2016 às 15h30

 
Narcos

Terminei de assistir Narcos ontem. Fui lento. Para os padrões

É uma excelente série. E gostaria de começar rebatendo as críticas

Achei uma bobagem, por exemplo, a implicância com a "voz de Deus". Aquela narração que fica "em off" - e que, supostamente, fez alguns pararem de assistir

Meus amigos, a trama é complicada. Não tem como narrar sem explicar quem são as pessoas, de onde elas vieram, porque são importantes etc.

Depois, reclamaram do espanhol do Wagner Moura. OK, não é perfeito. Ele é brasileiro! Mas não acho que prejudique a trama...

Ele está grandioso no papel de Pablo Escobar. Me arrisco a dizer que é o melhor papel dele

Muito bem caracterizado. Muito convincente. Quando Gustavo, o primo e principal sócio de Escobar, morre, a gente fica com dó dele...

Agora, falo dos paralelos com o Brasil de hoje (vamos ver se convenço você que não assistiu ainda...)

Escobar é um monstro. O mais perto que a Colômbia chegou de Hitler. Ou de Al Capote. Apesar de que não conheço a história da Colômbia para saber

O negócio de cocaína de Escobar e Gustavo, escoado em Miami, chega a faturar 5 bilhões de dólares por ano; depois, 60 milhões de dólares por dia. "Mais do que a General Motors", diz a voz em off

Um sujeito tão rico não combinava com a Colômbia. E os Estados Unidos vão atrás dele

Só que Escobar se crê - não por acaso - maior do que tudo. E não aceita ser perseguido ou, sequer, cerceado em seus movimentos

Como já era praticamente dono da Colômbia, entra na política, querendo ser presidente, mas é rechaçado, como deputado, tão logo assume

O ministro da Justiça, que o crítica, ele manda matar. O Supremo de lá - que, num dado momento, guarda provas materiais contra ele -, Escobar mandam invadir, com tanques - e incendiar

Um candidato a presidente que levanta a bandeira da extradição - para traficantes como ele -, Escobar mata (mesmo com colete à prova de balas). E o próximo candidato, que mantém a mesma posição, ele tenta explodir num avião (com a ajuda de um terrorista do ETA)

Eu sei que o Brasil é menos violento do que isso. Mas eu lembrei do Brasil várias vezes

As instituições são frágeis. Também, como no Brasil, a Colômbia depende de "heróis"

A corrupção é total. Desde a polícia - cujo paralelo está em Tropa de Elite, do mesmo Padilha - até quase toda a classe política

Escobar conhecia todos os policiais que poderiam interpelá-lo, suas famílias, suas vidas pessoais - e subornava todos (pagava salários)

O líder do partido "liberal" da Colômbia, ele transforma em seu moleque de recados. Seus capangas, do tráfico, não distinguem os políticos dos bandidos - têm de lhe perguntar ("qual a diferença?")

Uma das maiores lições, em Narcos, é sobre a dificuldade que é pegar um sujeito como Pablo Escobar:

Ele destrói as provas. Ele compra as autoridades. Sua milícia mete medo na polícia local

Num determinado momento, ele simplesmente foge. Se esconde. Quando fica sabendo que vai ser preso, é sempre informado, e muda de local

Instala a guerra civil na Colômbia. Bombardeia. Sequestra. Inclusive a principal âncora da TV. Filha de um ex-presidente... Que paga um preço

O problema do "mal" é que ele não tem limites. Quando ao "bem", tem de agir dentro da lei...

Por fim, Escobar negocia com o presidente Gaviria e se entrega. Mas constrói sua própria prisão. E não deixa ninguém chegar a menos de 3 Km sem a sua autorização...

A primeira temporada se encerra quando Escobar, naturalmente, viola os termos do acordo, sua prisão é invadida por forças especiais, e ele, mais uma vez, escapa por um túnel...

Eu me lembro quando Escobar foi morto, na década de 90. Mas, assistindo a Narcos, a gente percebe o quanto a caçada foi árdua: foram *anos*...

Sei que a história, no Brasil, não é a mesma. Mas ela vai acabar, no nosso país, também

Vale uma frase, do seriado, como alento: "Bandidos não podem fugir para sempre..."



Para ir além
Compartilhar

[Comente este Post]

Postado por Julio Daio Borges
1/11/2015 às 13h26

 
Debate Democrata na CNN

Assim como fiz com os pré-candidatos republicanos, assisti, ontem, ao debate dos pré-candidatos democratas à presidência dos EUA

Eu devia ser o único brasileiro que não estava assistindo ao jogo do Brasil, contra a Venezuela, no mesmo horário. Mas, depois de um dia trágico na política brasileira, eu precisava de um refresco

Depois de ficar bem impressionado com a Carly Fiorina, pelo lado dos republicanos, eu queria ver como estava a Hillary Clinton

Eu nunca tinha visto a Hillary num debate. Convivo com a Hillary, no noticiário, como todo mundo, desde que Bill Clinton foi presidente. Mas é diferente vê-la em ação, e sem o marido

Hillary teve uma ascensão, sozinha, já na campanha "contra" Obama (ou, talvez, até antes). Mas a comoção em torno de Obama foi tão grande, que ela abriu mão. E, graças a uma manobra inteligente dos dois, ela foi secretária de Estado, o equivalente ao ministro das Relações Exteriores, no Brasil

Bem, a Hillary é muito, muito inteligente. E me impressionou. Não que eu concorde 100% com ela. Hoje em dia, depois da experiência do PT, me alinho muito mais com os republicanos

Só que a Hillary está no seu momento, e temos de reconhecer isso. Ela mesma percebe que é a favorita há muito tempo. E domina a cena com muita tranquilidade

Fora que é muito preparada. Tem uma experiência, em política, como ninguém tem. Foi primeira-dama. Foi senadora. Trabalhou com Obama. "I've been in the situation room" (qualquer um que tenha visto seriados americanos onde o presidente aparece, sabe o que isso significa...)

Ela, obviamente, usa o fato de vir a ser a primeira mulher presidente. O que eu acho uma bobagem. (Vide o nosso exemplo aqui...) Mas, nos EUA, isso comove muita gente

Depois, ela usa o fato de ser muito atacada pelos republicanos - afinal está na frente -, brinca, faz piadas... E ataca de volta: como quando disse que os republicanos queriam ver os imigrantes pelas costas - mas que ela gostaria de colocar os filhos dos imigrantes ilegais na escola (desde que os estados aprovassem)...

As pautas dos democratas, que são a "esquerda" norte-americana, são diferentes das dos republicanos. Como se fosse outro debate. Como se fosse outro país

Bernie Sanders, por exemplo, que é uma espécie de senador hippie que deu certo, é total "Occupy Wall St". Para ele, o problema são os bilionários, e os milionários, que ficam com boa parte da riqueza. E acha que a solução, entre outras coisas, pode ser taxar mais...

Sanders não tem um bom discurso para a política externa, assunto que a Hillary naturalmente domina - mas se empolga ao dizer que as finanças estão corrompendo o processo eleitoral e que é preciso resgatar a "democracia vibrante" que vai redimir a classe média (que, segundo ele, está desaparecendo) e a classe trabalhadora...

Não me empolga. Mais impostos? Fora que no Brasil a gente não aguenta mais ouvir falar dos "trabalhadores" - e de um certo partido criado em nome deles... (Eu sei que os EUA não são o Brasil)

Um colega de Sanders, no lado oposto a Hillary, Jim Webb, resumiu bem a situação: "Bernie, eu gosto muito de você, mas a revolução não vai acontecer". Militarista, foi o único mais habilitado a falar de conflitos armados. Sanders, por exemplo, prefere uma "coalizão". Acontece que com o Estado Islâmico, por exemplo, não há diálogo (basta lembrar do "fora" que a Dilma deu na ONU)...

Para fechar o grupo, Martin O'Malley, que me lembra - não sei se estou enganado - John Kennedy. Tem aqueles mesmos olhos apertados. É bom moço, bem apessoado. E a Hillary - não sei se estou enganado novamente - parecia meio embevecida, pela sua figura, e quase que só concordou com ele... Imaginei que ela estivesse pensando em colocá-lo no seu governo - caso vencesse -, mas, apesar de ele falar bem, não tem chance...

O último que cito é Lincoln Chafee, que acabou fazendo mais um papel de bobo da corte. Não conseguiu nem se desvencilhar das perguntas do moderador. Quando este, por exemplo, questionou por que ele foi republicano, depois "independente" e, agora, democrata...

Hillary, enfim, surfa as ondas democratas com desenvoltura... Sanders empolga os mais desavisados, mas não acredito que seja uma ameaça a ela... Tem 74 anos e não tem a mesma energia de Hillary (apesar de ela não ser muito mais nova)

Aguardo o enfrentamento de Hillary com os republicanos. Não é por nada, mas acho a fauna republicana mais interessante. Deu para se divertir mais com o debate deles. (O debate democrata eu não aguentei ver todo...) Que venham Fiorina, Dr. Ben Carson, Trump e todos os outros. Que venham desmanchar o topete de Hillary Clinton. Mesmo porque, até agora, está muito fácil pra ela...

Para ir além
Compartilhar

[Comente este Post]

Postado por Julio Daio Borges
14/10/2015 às 10h25

 
Os Onassis - e os Kennedys

Confesso que, quando era mais jovem, não tinha muita paciência para a família Onassis

Via a minha mãe acompanhado as vidas deles, pelo jet set e por revistas de celebridades - e as aventuras deles não me interessavam em nada

Mas o livro de Peter Evans, Nêmesis, autor que escreveu a biografia de Aristóteles Onassis, e que eu comecei a folhear porque a editora me mandou, me pegou de jeito

Talvez porque eu tenha percebido que, por trás de toda grande celebridade, existe uma história de poder, e dinheiro - e essa história pode vir a me interessar

O livro tem a vantagem de não ser grande, então eu tinha a oportunidade de não perder muito tempo com ele - se o assunto se revelasse banal ou frívolo

Mas eu sabia que não seria, porque era muito bem escrito, desde o início. E aquela estrutura, tipo thriller, acabou me prendendo (eu só pensava em voltar para o livro)

Nêmesis, basicamente, revela que Aristóteles Onassis, o homem mais rico do mundo (e um dos mais poderosos) em seu tempo, financiou o assassinato de Robert F. Kennedy, irmão de John F. Kennedy, o célebre presidente dos EUA

E financiou porque queria se casar com Jacqueline Kennedy, a célebre viúva de JFK - e Bobby Kennedy sempre foi um obstáculo: porque Onassis não valia nada, e os Kennedys nunca aceitaram ele

Na verdade, o livro refaz a trajetória do ódio entre Onassis e Bobby, que é anterior a Jackie, e que é anterior à própria presidência de Jack Kennedy. ("Não há nada mais tenaz que um bom ódio", escreveu o nosso Machado)

A figura de Onassis é fascinante e eu confesso que fui seduzido por ela, também. É um mau-caráter no estilo Assis Chateaubriand (por mais que você saiba dos seus crimes, não tem como não sair embevecido da leitura de "Chatô")

Onassis fez de tudo na vida, foi um tremendo de um gângster, fez fortuna, foi amante de mulheres importantes - e abriu caminho até as mais altas rodas, à sua maneira

O romance com Jackie começou antes da morte de John Kennedy - e vale dizer que os casamentos, na alta sociedade, eram uma bandalheira (se é que não continuam sendo)

Além do presidente que todos conhecemos, JFK entrou para a História como um incorrigível mulherengo. Assim como seu pai, e seu irmão (esse um pouco menos). Os dois últimos dividiram Marilyn Monroe - e o livro dá a entender que ela foi "suicidada" por eles: pois ameaçava colocar a boca no mundo...

Acontece que Jacqueline não era nenhuma santa e não aguentou as humilhações passivamente. Quando aceitou o convite de Onassis para um cruzeiro em seu iate, foi um escândalo mundial - porque ela havia acabado de sofrer um aborto e estaria de consolando com "o grego" de má fama, longe dos EUA e do presidente...

Embora tenha ficado viúva logo depois, não podia se casar com Onassis imediatamente. Primeiro, porque o papel de viúva lhe caía bem. Segundo, porque ela recebia uma boa pensão. E terceiro porque, após a morte de JFK, se construiu o mito de "Camelot". E como uma princesa - dos EUA - iria se casar com um homem de tão baixa estirpe, como Ari, o grego?

Seria como se Lady Di se casasse com Pablo Escobar, mais ou menos. Considerando-se que Diana, embora fosse mais bonita, era menos interessante que Jacqueline. E Escobar, embora talvez mais rico, nunca se tornou um homem refinado, como Onassis

A história do assassinato de Bobby Kennedy - que protegeu Jackie de Onassis até o fim - é intrincada. Mas, basicamente, Onassis financiou um terrorista palestino que tinha ligação com outro terrorista - que acabou matando Bobby, quando ele fazia campanha para a presidência dos EUA e havia acabado de vencer as primárias na Califórnia

Assim, essa história de que "surge" um "maluco" que "de repente" mata uma pessoa importante, sozinho, sem nenhuma estrutura, não cola mais. Nunca colou, para mim. Agora, cola ainda menos. (Pense nos assassinatos de John Lennon e do próprio JFK...)

Enfim: Jackie saiu de uma família trágica para causar tragédia em outra. Depois que se casa com ela, Onassis perde: a cunhada, o filho, Alexander, e sua primeira mulher, Tina. Seus negócios começam a ir mal, ele adoece - e, em questão de meses, morre (aos 75 anos)

A batalha, então, começa pela herança. Desta vez, é Christina Onassis, a filha remanescente de Tina e Ari, tentando proteger o espólio... dos Kennedys! Afinal, Jackie sempre quis o dinheiro. E Aristóteles quis as vantagens comercias - de ser casado com uma ex-primeira dama dos EUA - embora não tenha conseguido obter tantos ganhos...

A história dos herdeiros não é tão interessante e o livro termina, basicamente, com o acordo entre Christina e Jackie. Segundo o qual, aliás, Jackeline foi obrigada - por Christina - a assinar "Onassis" para sempre

Se você quer se introduzir no mundo de Camelot, e na sua vasta bibliografia, Nêmesis poder ser uma boa porta de entrada. E eu confesso que fiquei com vontade de ler "Ari", sobre a vida desse mostro, ao mesmo tempo grotesco e sublime, chamado Aristóteles Sócrates Onassis

Para ir além
Compartilhar

[Comente este Post]

Postado por Julio Daio Borges
27/9/2015 às 11h55

 
O que me incomoda nos políticos, velhos e 'novos'

Eu não sei quanto a você, mas eu não acho que o problema seja só a Dilma

Nem só o PT. Nem só o Lula. Nem só os petistas

Eu não acho que o problema seja só a esquerda

Assim como eu não acho que o problema seja a direita (ou o que quer que isso seja, no Brasil)

Eu acho que o problema é o sistema inteiro

Não acredito mais que a oposição vai resolver (que oposição, aliás?)

Uma oposição que é governo, como o PMDB? Uma oposição que não fez praticamente nada em 12 anos, como o PSDB?

Não acho que o resto da oposição - um Ronaldo Caiado, por exemplo - tenha força

E também não acho que a solução esteja nesses movimentos, que surgiram desde o ano passado, e nem nos líderes deles

Eu queria ver alguém rompendo com o sistema e não vejo ninguém

Vejo, pelo contrário, as pessoas - que eram "contra o sistema" - aderindo ao sistema

Mas não com um discurso de mudar o sistema - mas com um discurso de, simplesmente, fazer parte dele

Outro dia me causou mal-estar saber que um desses líderes, desses novos movimentos, quer se candidatar a deputado (e ele ficou todo vaidoso quando anunciaram...)

Como disse o Daniel Piza (quando o Mangabeira Unger foi nomeado e veio correndo - de Oxford - beijar a mão do Lula): "O que todo intelectual quer é aderir ao poder"

Lembrei, de novo, dessa frase quando o Renato Janine Ribeiro foi todo subserviente atender ao chamado da Dilma...

E lembrei, antes, quando o Afif - que era um liberal nos anos 80 - foi igualmente lamber a mão da "presidenta"

Me lembra um pouco aquele pessoal que mal sai da faculdade e já vai correndo prestar concurso - porque não quer correr nenhum risco, não quer fazer nada de diferente

Bom, se uma pessoa jovem, na casa dos vinte anos, está acomodada desse jeito, o que esperar do resto da população?

Falo tudo isso porque vi o trecho de uma fala da Carly Fiorina, candidata republicana à presidência dos EUA, onde ela conclui: "A questão não é trocar 'esquerda' por 'direita'. A questão é trocar todo o sistema."

E eu acredito nisso. Nesse discurso. (Independente se ela vai conseguir implementar, ao pé da letra, ou não)

Alguém tem de *dizer* isso:

"O sistema está podre"

E eu não vejo ninguém dizendo isso no Brasil...

Eu acho o discurso da "nova política", da Marina Silva, por exemplo, uma piada

Porque o Walter Feldman - que era quem melhor reproduzia esse discurso, do "fim da polarização" - foi correndo aderir à CBF, que é uma instituições, politicamente, mais retrógradas, e mais corruptas, do Brasil

E, agora, o primeiro a se filiar ao partido Rede, na Câmara, é simplesmente o deputado com o maior número de mandatos acumulados na Casa. Ou seja: de *nova política*, ele não tem nada...

É uma piada

E o Partido Novo? Para começar que o nome é uma tremenda de uma falta de imaginação. Chamar alguma coisa de "nova" é o golpe publicitário mais velho que existe

Mas aí dizem: "é liberal"... "são empresários"...

Gente, já teve partido liberal no Brasil. Esqueceram? Na última versão, tinha até um livro do João Mellão Neto a respeito, que eu li há mais de 20 anos...

Esse partido liberal, o PL, do Valdemar Costa Neto... alguém se lembra o que aconteceu com ele? Foi condenado no julgamento do mensalão do PT!

E tinha gente, ideologicamente, muito mais equipada do que nesse Partido Novo... Como o próprio João Mellão

Vocês acham que colocar "liberal" no estatuto garante alguma coisa?

"Empresário", na política, também já teve. Esqueceram do Antonio Ermírio de Moraes, candidato a governador em 1986?

E o vice do Lula, era o quê? E o ministro Furlan, também no governo Lula, era o quê?

Como no caso da "nova" política, esse Partido... de *novo*, não tem nada

Talvez o que me incomode mais - como no caso do líder de movimento que fica envaidecido porque vai se candidatar a deputado - é ver as pessoas comemorando porque fundaram um novo partido...!

Nossa, eu acho que há alguma coisa profundamente errada nessa comemoração...

Porque todos querem virar políticos!

Os mesmos políticos que nos trouxeram à atual situação...

Enquanto não houver alguém querendo romper com o sistema - de verdade -, não vamos sair disto

Só vamos trocar os velhos políticos por "novos" políticos...

E os velhos partidos por "novos" partidos...

Para ir além
Compartilhar

[Comente este Post]

Postado por Julio Daio Borges
25/9/2015 às 15h59

Mais Posts >>>

Julio Daio Borges
Editor

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Filosofia O Príncipe
Nicolau Maquiavel
Principis
(2019)



Segredos Da Princesa De Cadignan A Mensagem
Balzac
Dpl
(2005)



Livro Administração A Reconstrução do Sistema Financeiro Global O mais importante livro que explica a atual crise mundial
Martin Wolf
Elsevier / Campus
(2009)



Fazes-me Falta
Inês Pedrosa
Alfaguara
(2010)



Nossos Filhos São Espiritos
Hermínio C. Miranda
Lachâtre
(2000)



Go Girl - Dormindo Fora - Vol 1
Rowan McAuley
Fundamento Educacional
(2010)



Meu Crespo é De Rainha 305
Bell Hooks
Boitatá



Livro Gibis Nana Volume 13
Ai Yazawa
Jbc
(2022)



O Espetáculo Carnívoro
Lemony Snicket
Seguinte
(2004)



Projetos para um Casamento Sólido
Dr. Steve Stephens
Cpad
(2010)




>>> Abrindo a Lata por Helena Seger
>>> A Lanterna Mágica
>>> Blog belohorizontina
>>> Blog da Mirian
>>> Blog da Monipin
>>> Blog de Aden Leonardo Camargos
>>> Blog de Alex Caldas
>>> Blog de Ana Lucia Vasconcelos
>>> Blog de Anchieta Rocha
>>> Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
>>> Blog de Angélica Amâncio
>>> Blog de Antonio Carlos de A. Bueno
>>> Blog de Arislane Straioto
>>> Blog de CaKo Machini
>>> Blog de Camila Oliveira Santos
>>> Blog de Carla Lopes
>>> Blog de Carlos Armando Benedusi Luca
>>> Blog de Cassionei Niches Petry
>>> Blog de Cind Mendes Canuto da Silva
>>> Blog de Cláudia Aparecida Franco de Oliveira
>>> Blog de Claudio Spiguel
>>> Blog de Diana Guenzburger
>>> Blog de Dinah dos Santos Monteiro
>>> Blog de Eduardo Pereira
>>> Blog de Ely Lopes Fernandes
>>> Blog de Expedito Aníbal de Castro
>>> Blog de Fabiano Leal
>>> Blog de Fernanda Barbosa
>>> Blog de Geraldo Generoso
>>> Blog de Gilberto Antunes Godoi
>>> Blog de Hector Angelo - Arte Virtual
>>> Blog de Humberto Alitto
>>> Blog de João Luiz Peçanha Couto
>>> Blog de JOÃO MONTEIRO NETO
>>> Blog de João Werner
>>> Blog de Joaquim Pontes Brito
>>> Blog de José Carlos Camargo
>>> Blog de José Carlos Moutinho
>>> Blog de Kamilla Correa Barcelos
>>> Blog de Lúcia Maria Ribeiro Alves
>>> Blog de Luís Fernando Amâncio
>>> Blog de Marcio Acselrad
>>> Blog de Marco Garcia
>>> Blog de Maria da Graça Almeida
>>> Blog de Nathalie Bernardo da Câmara
>>> Blog de onivaldo carlos de paiva
>>> Blog de Paulo de Tarso Cheida Sans
>>> Blog de Raimundo Santos de Castro
>>> Blog de Renato Alessandro dos Santos
>>> Blog de Rita de Cássia Oliveira
>>> Blog de Rodolfo Felipe Neder
>>> Blog de Sonia Regina Rocha Rodrigues
>>> Blog de Sophia Parente
>>> Blog de suzana lucia andres caram
>>> Blog de TAIS KERCHE
>>> Blog de Thereza Simoes
>>> Blog de Valdeck Almeida de Jesus
>>> Blog de Vera Carvalho Assumpção
>>> Blog de vera schettino
>>> Blog de Vinícius Ferreira de Oliveira
>>> Blog de Vininha F. Carvalho
>>> Blog de Wilson Giglio
>>> Blog do Carvalhal
>>> BLOG DO EZEQUIEL SENA
>>> Blog Ophicina de Arte & Prosa
>>> Cinema Independente na Estrada
>>> Consultório Poético
>>> Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
>>> Cultura Transversal em Tempo de Mutação, blog de Edvaldo Pereira Lima
>>> Escrita & Escritos
>>> Eugênio Christi Celebrante de Casamentos
>>> Flávio Sanso
>>> Fotografia e afins por Everton Onofre
>>> Githo Martim
>>> Impressões Digitais
>>> Me avise quando for a hora...
>>> Metáforas do Zé
>>> O Blog do Pait
>>> O Equilibrista
>>> Relivaldo Pinho
>>> Ricardo Gessner
>>> Sobre as Artes, por Mauro Henrique
>>> Voz de Leigo

busca | avançada
57876 visitas/dia
2,4 milhões/mês